Capítulo 7

Isabella

Tomas está parado na porta que liga a sala ao corredor, a forma como ele olha para toda cena corta o meu coração.

— Tomas querido está tudo bem! Volta para o quarto! — peço, tentando me soltar.

— Esses homens são maus? — pergunta com os olhinhos assustados, apertando o dinossauro de pelúcia com força.

— Que droga! De onde esse moleque saiu? — ele pergunta em um rosnado, olhando para Tomas .

— Ei carinha! E aí? — o ruivo que até o momento é o único simpático tenta uma aproximação.

— Soltem a minha irmã! — ele aponta para os dois brutamontes.

— Está tudo bem querido — minto.

— Eu falei para você não sair pirralho... — Emilie surge com metade do cabelo loiro enrolado — O que está acontecendo aqui? — olha ao redor.

— Emilie tira o Tomas daqui — peço.

— Que merda! O que esse bêbado fez dessa vez? — olha com nojo na direção do meu pai, que sequer consegue deixar de encará-la já que o braço do maldito em seu pescoço o impede. Seu olhar reflete um misto de medo e vergonha.

— TIRA O TOMAS DAQUI! — Grito em desespero.

Eu não quero que isso cause um trauma em Tomas .

Ela arregala os olhos, surpresa com minha reação. Todos estão em silêncio.

— Vem pirralho — agarra Tomas o erguendo do chão e o arrastando dali.

— Eu não quero ir, eu não quero tenho que salvar a Bella e o papai — diz se debatendo.

— Cale a boca pirralho — ralha o carregando dali.

Respiro aliviada em vê-los cruzar a porta.

— Onde estávamos? Ah me lembrei. Esse verme tinha dito que perdeu as joias — parece aumentar o aperto no pescoço do meu pai, pois o mesmo geme de dor.

— Eu vou recuperá-las. Eu...eu juro — tosse.

— Como exatamente você as perdeu? — o ruivo pergunta se aproximando.

— Eu apostei, eu ia ganhar. Eu tinha certeza que ia ganhar, mas eu... eu perdi.

Timothy desfere um soco no rosto do meu pai fazendo-o cair no chão.

— NÃO! — grito tentando me soltar.

Ele tira meu pai do chão e volta a socá-lo.

— Solta ele! Você vai matá-lo seu desgraçado!

Ele me ignora, dando outro soco, fazendo meu pai cuspir sangue.

— Você tem ideia do que aquelas joias significavam para mim seu verme? — segura meu pai pelo colarinho.

— Eu vou recuperá-las! — diz com uma certa dificuldade.

— Eu poderia matá-lo agora sabia?

— Pare com isso por favor — peço, sentindo as lágrimas escorregarem pelo meu rosto.

— Por favor! Não! — meu pai pede.

— Timothy já chega. Podemos tentar recuperar as joias — o único que parece ter um coração ali é o ruivo.

— E deixar esse rato viver? Ele me deve Carl, ele entrou na minha casa, me roubou. E ainda por cima perdeu as joias que eram da minha mãe — seu rosto é puro ódio, seus olhos se tornam ainda mais assustadores.

— Eu...eu vou recuperar tudo, eu pago por tudo — meu pai diz cuspindo sangue.

— Como vai pagar? Você mal consegue se aguentar em pé? Você não passa de um viciado de merda — suas mãos cobrem o pescoço do meu pai, que começa a se debater — Você não pode me pagar.

— POR FAVOR NÃO! — Grita usando toda força que tenho para me soltar e correr até ele, empurrando-o com a força que ainda me resta fazendo-o soltar meu pai.

Em menos de um segundo suas mãos grandes estão segurando firme os meus antebraços me colocando de frente para ele.

— Deixe o em paz. Por favor! — imploro tentando não olhar para o mar de escuridão que são os teus olhos.

— Você acha que pode fazer algo para me impedir de acabar com a raça do seu pai ratinha? — sua boca se curva em um sorriso maléfico.

Tento respirar o mais fundo que consigo. Tento pensar em algo. Fecho os olhos, sentindo os dedos do homem afundados na minha pele. Só queria que isso fosse um pesadelo e que ao abrir os olhos eu estivesse deitada sobre minha cama.

— Me ouviu ratinha?

— Eu posso pagar pelo que meu pai fez. Eu posso trabalhar para o senhor, eu sei fazer serviços domésticos. Eu posso fazer isso — digo, sem pensar nas consequências das minhas palavras.

Ele levanta a sobrancelha grossa. E curva os lábios.

—.E quem me garante que você não vai me roubar?

— Eu juro que não farei isso. Eu juro que vou trabalhar dia e noite para pagar pelos atos do meu pai — digo, abaixando a cabeça para não o encarar.

No fundo eu não sei se poderia realmente fazer isso, mas eu diria qualquer coisa para que ele não ferisse mais o meu pai.

Sinto seu olhar descer pelo meu corpo e engulo em seco.

— Timothy você não está pensando....

— Não se meta Carl! EU FALEI PARA NÃO SE METER! — Grita, e fecho os olhos me encolhendo.

— Filha você não... — meu pai diz limpando o sangue no rosto com a manga da blusa — Não pode fazer...

Ele olha para o meu pai, que se cala e encolhe. Quando foi que meu pai se tornou tão covarde?

Noto as lágrimas brotarem em seus olhos. Meu coração está em pedaços.

— Então você quer trabalhar para pagar pelo que seu pai roubou? — pergunta, com o cenho franzido.

Assinto com a cabeça.

— Faz ideia do valor daquelas joias garota?

Nego com a cabeça, seu rosto está tão perto do meu que sinto o calor da sua respiração. Seus olhos brilham como o de uma fera selvagem espreitando a sua presa. Não consigo formular uma frase se quer.

— Deixe minha filha senhor Ritkson. Eu posso recuperar as joias. Ela não pode trabalhar naquela casa — a voz do meu pai está embargada.

Ele volta a olhar na direção do meu pai, mas antes disso, curva os lábios em um sorriso maléfico, como se estivesse se deliciando com o nosso desespero.

— Está preocupado com a sua filha? — pergunta.

Meu pai não responde, limpa as lágrimas com as costas das mãos.

Timothy ri olhando para o teto.

— A garota vai com a gente — diz, me arrastando pelo braço em direção a porta.

— Tem certeza disso Senhor Ritkson? — um dos brutamontes pergunta, mas não é respondido.

Ele aperta mais forte o meu braço.

— Você está me machucando — digo.

Ele não pode estar querendo levar isso a diante. Eu não posso deixar Tomas . Eu não posso. Tento me soltar e ele aperta ainda mãos o meu braço.

— Eu não vou permitir que a leve — meu pai diz parando na nossa frente com os braços abertos, talvez pensando que poderia impedir que ele me arrastasse para fora dali.

— Você vai me impedir?

— Ela não tem que pagar pelos meus erros.

— Mas ela vai, vai trabalhar dia e noite sem descanso. Eu me encarregarei pessoalmente para que isso aconteça — diz pausadamente em tom sarcástico.

— O senhor não pode fazer isso — afirma.

Ouço-o suspirar.

— Eu posso fazer tudo que eu quiser. E eu vou fazer.

— Eu não vou permitir.

— Você não passa de um viciado, que mal consegue cuidar de si. Devia ter pensado nisso antes de me roubar. Vou cuidar dessa ratinha da forma que ela merece — me olha de cima a baixo.

— DESGRAÇADO! — Meu pai grita avançando sobre ele em seguida.

Ele me solta e vejo a oportunidade de correr, mas sou impedida por um dos projetos de MIB, que me segura e faz com que me vire, vendo meu pai cair desfalecido no chão após receber uma coronhada na cabeça.

— PAPAI! — Grito me jogando no chão, tocando seu rosto, machucado.

— Levem a garota — Ouço o maldito dizer.

— Timothy isso já é demais. Ela não tem nada haver com isso — alguém diz, mas estou desesperada demais para prestar atenção.

Meu coração b**e tão rápido e sinto como se meu corpo estivesse se dissolvendo.

— Fale comigo papai! Acorda por favor! Fala comigo — peço, mas ele não reage.

Ele precisa acordar, eu não posso perdê-lo também.

Sou levantada do chão, enquanto uso toda força que me resta para me debater em busca de me soltar, mas eu não consigo. Vejo o corpo do meu caído no chão, enquanto sou arrastada dali, grito, esperneio.

E então vejo Tomas no corredor, olhando para mim. Ele tenta correr em minha direção, mas é impedido por Emilie, enquanto Emma corre até o meu desacordado.

Fecho os olhos, me agarrando a última partícula de esperança de que tudo seja um maldito pesadelo. Mas ao abri-los, vejo a minha casa, a minha vida ficando para trás enquanto sou praticamente jogada dentro de um carro.

***

Timothy

Não consigo assimilar tudo que está acontecendo.

Sinto uma raiva fora do comum. Uma raiva que não consigo controlar. Queria cometer um crime.

O desgraçado perdeu as joias que minha mãe amava, que eram uma das maiores lembranças que eu tinha dela em vida. O colar de pérola que usou no meu oitavo aniversário, no brinco de rubis que usava em todos os natais. Agora eu não fazia ideia de onde estavam, tudo porque um viciado achou que poderia se dar bem as minhas custas.

— AAAAAH! — grito socando o banco da frente.

— Timothy se controle. Podemos encontrar as joias — a voz de Carl me irrita.

Agarro pela gola da camiseta.

— Quem você pensa que é para questionar as minhas decisões? Quem você pensa que é para me dizer o que eu posso ou não fazer?

Frédéric diminui a velocidade do carro, mas o meu olhar de ódio refletido no espelho do retrovisor faz com que mantenha a velocidade anterior.

Carl passou dos limites, interferindo nas minhas ações. Porra, o cara tinha sumido com algo importante para mim. Ele não tinha que sentir pena de um rato de merda.

— Timothy você está descontrolado. Não viu o que acabou de fazer? — o filho da mãe sequer treme.

Ele não me viu descontrolado de verdade. Se ele visse ele ficaria assustado.

— Eu fiz o que tinha que fazer — afirmo, sem soltá-lo.

— Você quase matou aquele homem — diz erguendo o corpo para trás se soltando e ajeitando a gola da camiseta.

Tenho vontade de soca-lo, mas me contenho. Descontaria enquanto estivéssemos treinando no ringue. Tenho raiva de me importar com esse filho da mãe.

— Eu devia tê-lo matado — bufo, voltando para o meu lugar.

— Meu Deus Timothy ! Você está se ouvindo? Sabe que pode recuperar as joias.

— Você acha que é simples assim?

— Teria sido mais simples se tivesse acionado a droga da polícia — gesticula.

Dou de ombros.

— E você acha que a polícia resolveria? Faça meu favor Carl!

— É claro que resolveria.

— Cale a boca Carl! — Como pode ser tão insuportável?

Ouço-o respirar fundo, batendo com a cabeça no encosto do banco.

— Você está sequestrando uma pessoa Timothy — pontua.

Ainda não assimilei o fato de estar levando a filha do desgraçado. Olho para o carro atrás de nós.

Mas era o mínimo. Ver o desgraçado apavorado por eu levar a filhinha dele, foi revigorante. E foi uma sugestão dela. Ela disse que trabalharia e pagaria a dívida do pai. Rio, da sua ingenuidade. No mesmo instante em que lembro que se tratando de quem ela é filha, ela não seria nada ingênua.

No mínimo era uma oportunista. É aquele teatrinho na hora de ir embora, não me convenceu.

Me certificaria de que a ratinha trabalharia dia e noite, ela estaria pagando por me desafiar, por querer defender o filho da puta ladrão que é o seu pai, por ter me olhado como olhou e por ter despertado um interesse, que não deveria.

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