TIMOTHY
A mulher da noite anterior, estava ali. Ao lado do maldito rato. Poderia ser alguém parecida, mas acredito que não exista outra como ela. A boca entreaberta, os olhos arregalados, a expressão assustada. O que difere é a ausência da roupa de copeira, pois agora está usando alguma espécie de conjunto em moletom que já viu dias melhores.Era algum tipo de piada? Alucinação?— Se...senhor Ritkson? Eu... — a voz trêmula de Samuel me trás de volta à realidade, me lembrando o real motivo de eu estar ali.Meu olhar carregado de ódio se volta para ele, que dá alguns passos ficando no meio do cômodo. O cheiro de bebida barata que emana dele, faz meu estômago embrulhar. Mas não me impede de partir para cima do maldito agarrando-o pelo colarinho.— Achou que podia me roubar e ficar por isso mesmo? — digo entredentes.Posso sentir o seu corpo tremer, não é capaz de erguer sua cabeça, não consegue me encarar. Ele está um caco, cabelos desgrenhados, com a roupa visivelmente suja.— Eu não queria...— murmura.Como Catarina pode acreditar que um homem como esse poderia cuidar da segurança da casa.— Não queria me roubar?! — grito, o sacudindo.Estou cego pela raiva.— Vai com calma Timothy — Ouço Carl dizer ao meu lado.— Você vai me devolver tudo que roubou! Tudo! — ele se encolhe — ESTÁ ME OUVINDO? — grito a pleno pulmões.Sinto o corpo do homem ser puxado para trás, a aqueles olhos que paralisantes tomar o meu campo de visão. Mas agora eles não parecem nem um pouco gentis, ou assustados.— Quem é você? O que quer com o meu pai? — pergunta, erguendo o queixo, me enfrentando. A voz combina estranhamente com ela.Papai? Estou ouvindo certo? Ela não pode ser filha desse traste!Carl e Frédéric dizem algo que não entendo e não faço questão de entender.— Você está me ouvindo? Quem você pensa que é para invadir a minha casa e falar com meu pai desse Jeito? — seu tom de voz é firme.Mesmo pequena e franzina, ela se mantém firme, o queixo erguido e os olhos fixos aos meus. O canalha está tremendo, escondido atrás dela como uma bichinho acuado. Covarde.Ouço os meus homens entrarem e se posicionarem atrás de Frédéric e Carl.Sorrio, com a sua audácia. Será que ela faz ideia de com quem está falando?— Então você é filha desse rato imundo? — busco não analisar o seu rosto bonito, conheço esse tipo de mulher, e se tratando da filha de um ladrão, no mínimo é como ele.— Quem você pensa que é para falar assim do meu pai? — pergunta entredentes.Noto as suas narinas inflação, ela está furiosa, mas o lábio inferior trêmulo mostra que também está assustada.— Alguém que foi roubado por ele — respondo, minha voz sai calma, acompanhada de um sorriso frio que nasce com desejo de destruir essa ratinha junto com o maldito do pai.ISABELLAEra para ser só uma manhã comum. Mas agora eu estou encarando o homem que imaginei nunca mais veria na vida. Porque ele simplesmente arrebentou a porta da sala dizendo que meu pai roubou algo dele.Quem era ele? O que meu pai tinha roubado?Meu pai passou em se meter em encrenca depois da morte da mamãe, mas nunca aconteceu algo assim. Pelo olhar periférico vejo a porta arrebentada no chão. Como consertaria isso?Por que tem seis homens enfiados na minha sala, nos olhando como se fossemos criminosos?Mesmo que meu pai tenha feito algo de errado, jamais permitiria que o machucassem.O sorriso frio, combina com o seu olhar, me fazendo sentir um frio na espinha.Ele é tão alto, tão forte, não pude notar esses atributos ontem a noite. E não porque eu estar pensando nisso.As roupas pretas bem cortadas, o cabelo perfeitamente alinhado, agora de perto consigo e na luz dia enxergo perfeitamente suas feições, o rosto quadrado, mandíbula trincada coberta pela barba escura, lábios grossos, pequenas rugas e marcas de expressões. Ele transpira autoridade e poder.Está claro que ele não é uma boa pessoa, a forma como tratou meu pai, o seu olhar repleto de ódio.Torço para que meus irmãos não tenha ouvido nada. Eu saberia o que fazer se eles surgissem.Posso sentir o suor escorrendo pelos dedos das mãos, enquanto aperto ainda mais forte os punhosEu não queria admitir, mas eu estou com medo. Dou dois passos curtos para trás buscando um pouco mais de distância.— Senhor Ritkson eu sinto... — meu pai diz ao ficar do meu lado.Ele une as mãos como se o gesto causasse alguma comoção no homem, que sorri mais uma vez, seus dentes são tão brancos.— Vai dizer que sente muito Samuel? Que não queria ter me roubado? — pergunta se voltando para o meu pai.— Eu vou devolver....eu... — meu pai tenta dizer, mas aquele homem volta a segurá-lo pelo colarinho.— É claro que vai, se tiver o mínimo de amor a sua vida miserável é isso que fará — rosna praticamente.Meu pai está apavorado, nunca o vi nesse estado. Com a pouca coragem que me resta, ou burrice. Agarro o pulso do homem para fazer com solte o meu pai.Mas ele se desvencilha praticamente me empurrando em safanão.— Não se meta ratinha — diz me olhando friamente, sem soltar meu pai.— Timothy vamos pegar tudo e ir embora — o homem ruivo com a cara amassada usando roupas informais pede, mas é ignorado.Timothy , esse era o nome dele. Espera... Ritkson? Ele era Timothy Ritkson o magnata da marca luxuosa de perfumes. Ele é podre de rico. Por que está aqui? Que droga!Os demais caras, todos uns brutamontes que se vestem iguais, todos estão com ternos pretos, semelhantes ao que meu pai usava em seus trabalhos como segurança, não dizem nada. Apenas olham tudo, como se esperassem alguma ordem ou algo do tipo. Eles são tão parecidos, tem até o mesmo corte de cabelo. Não preciso ser um gênio para saber que estão armados e isso me deixa ainda mais apreensiva.— Onde estão as joias e o meu dinheiro seu rato filho da puta? — sacode meu pai, que fecha os olhos e se encolhe.— Meu pai não está com nada seu — falo, sem acreditar de verdade nas minhas palavras.— Tem certeza? — pergunta se virando para mim.— Eu não...— Você não o que? — volta a encarar o meu pai.— Eu... não estou com o dinheiro... — gagueja.Meu corpo todo treme, e um gigantesco se forma em minha garganta.— É claro que você não está! — dá risada sem humor, que me trás ainda mais calafrios.— Timothy esquece o dinheiro só pegue as joias. Não é isso que realmente importa? — o ruivo diz se aproximando dele.— Cale a boca Carl! Não se meta! — eleva a voz.Ele abaixa a cabeça e a balança em negativa, isso sem soltar o meu pai.— Timothy ?? — o ruivo faz menção de tocá-lo mas desiste.— Onde estão as joias seu rato de merda? — pergunta entredentes.Meu pai tenta se soltar dando um passo para trás, mas é impedido.— Ficou surdo? ONDE ESTÃO AS JOIAS? — grita.Meu pai fecha os olhos.O que meu tinha feito? Meu Deus! Cubro o rosto com as mãos.— Eu as perdi...— meu pai diz tão baixo que quase não ouço.Sua fala é a confirmação de que ele tinha roubado aquele homem.— VOCÊ O QUE? — ele grita, jogando meu pai na parede, pressionando o seu pescoço com o braço.Corro até eles tentando puxar o homem, mas meus braços são agarrados pelos dois brutamontes.— Pare você está o machucando! — elevo a voz tentando me soltar.— CALE A BOCA GAROTA! — grita me fuzilando com os olhos.— Eu vou chamar a polícia!— A polícia não vai poder ajudar — permanece me olhando — No mínimo vai levar esse lixo preso. Afinal a vítima de roubo sou eu. Fique à vontade, se isso fizer você se sentir melhor — sorri.Esse seria um momento perfeito para Benjamin estar em casa. Droga!Respiro fundo, tentando pensar em uma solução para toda essa situação.— Bella o que tá acontecendo? — o que eu mais temia acontece.Isabella Tomas está parado na porta que liga a sala ao corredor, a forma como ele olha para toda cena corta o meu coração. — Tomas querido está tudo bem! Volta para o quarto! — peço, tentando me soltar.— Esses homens são maus? — pergunta com os olhinhos assustados, apertando o dinossauro de pelúcia com força.— Que droga! De onde esse moleque saiu? — ele pergunta em um rosnado, olhando para Tomas .— Ei carinha! E aí? — o ruivo que até o momento é o único simpático tenta uma aproximação.— Soltem a minha irmã! — ele aponta para os dois brutamontes.— Está tudo bem querido — minto.— Eu falei para você não sair pirralho... — Emilie surge com metade do cabelo loiro enrolado — O que está acontecendo aqui? — olha ao redor.— Emilie tira o Tomas daqui — peço.— Que merda! O que esse bêbado fez dessa vez? — olha com nojo na direção do meu pai, que sequer consegue deixar de encará-la já que o braço do maldito em seu pescoço o impede. Seu olhar reflete um misto de medo e vergonha.— TIRA O
IsabellaA qualquer sinal de desatenção desses brutamontes eu daria um jeito de sair desse maldito carro, onde eu estava enfiada.Parei de me debater, eu precisava poupar minhas forças minha garganta estava doendo pelos gritos.Estou aterrorizada. Fui jogada dentro desse maldito carro, e não consigo sequer assimilar os meus pensamentos. Pelo menos aquele homem não estava aqui. Imagino que deva esteja em outro carro junto ao homem dos cabelos ruivos e olhos gentis.Não quero estar em sua presença, tudo nele me causa arrepios.Eu não estava pensando direito quando disse que trabalharia para ele. Também não esperava que ele faria algo assim, me arrastando contra minha vontade.Tomas não pode ficar sozinho com as gêmeas ou meu pai, Emilie e Emma não conseguem ficar quinze minutos sem gritar com ele, e meu pai mal consegue falar com ele.Não podia ficar longe do meu irmãozinho. Os seus olhinhos assustados acabaram comigo. Ele não tinha que passar isso. Ele não tem que pagar pelos erros do
Timothy De alguma forma o percurso até minha casa estava demorando mais que o normal.O moralismo velado de Carl me irritou o suficiente, não aguento mais nenhum minuto dentro desse carro com ele. Ele pode ser extremamente insuportável quando quer, e parece que ele estava muito afim de me tirar do sério.Respiro aliviado ao ver os portões serem abertos.Sequestro? Não tinha nada haver com sequestro. A garota iria trabalhar para pagar a dívida do pai.Não sou politicamente correto, estou longe de ser.Busco conter a euforia instalada dentro de mim. Não tem motivo para que me sinta dessa forma. Não estou fazendo uma loucura, tenha total consciência dos meus atos, e não vou me arrepender deles. O roubo daquele homem, não iria ficar impune, ainda mais com o infeliz, tendo sumido com as joias. O viciado deve ter perdido ao apostar em algum dos seus jogos.Ter sua filha trabalhando em minha casa não era nada perto do que ele merecia.Vejo o carro com os seguranças e a estacionar ao lado do
Isabella Definitivamente esse homem não tem coração. E nada do que eu disser vai fazê-lo mudar de ideia. Segue caminhando com altivez em direção a porta da mansão. Diminui meus passos para manter uma distância segura para não voar no pescoço dele.Denzel e o filho da puta que machucou o meu pai me seguem praticamente colados a mim.Fugir? Não, eu não vou fazer isso agora. E nem se eu quisesse conseguiria. Preciso estudar esse lugar, ver a melhor maneira de sair e pedir ajuda. De nada adiantaria fugir e voltar para casa, ele iria me encontrar, e com toda certeza deixaria tudo ainda pior. Precisava de contatar Ben, Silvie e Eden, eles me ajudariam a sair daqui.Não menti quando prometi que se me deixasse ir embora eu viria trabalhar todos os dias, eu daria um jeito. Mas é claro que o poderoso Timothy Ritkson não facilitaria para mim.Respiro fundo olhando para o céu azul claro. Rezar e pedir uma solução para Deus agora adiantaria? Mas é bem provável que Ele esteja ocupado.Se meu pai
Isabella O nó na minha garganta me sufoca. Sinto uma lágrima escorregar pelo meu rosto. Abaixo a cabeça rapidamente para que ele não me veja chorar.Ele disse que machucaria a minha família. Que tipo de monstro ele é?Não tinha dúvidas sobre ele ser uma pessoa perigosa. Mas agora sei que ele não é só perigoso, ele é cruel.Olho sua mão circulando o meu pulso, e sentindo minha pele sendo queimada ao seu toque. Tamanho o pavor que sinto nesse momento.— Você ouviu o que eu disse? — pergunta.Não consigo formular uma frase.— Não me faça perguntar de novo — rosna.— S...sim, eu ouvi — balbucio, sem encara-lo.Ele solta o meu braço e se afasta sem dizer mais nada.Sou tomada por uma sensação de alívio. Seguro o meu pulso, vejo que não ficou nenhuma marca.— Eu sinto muito por isso querida — Ouço a mulher dizer, e olho em sua direção, tendo o vislumbre de Timothy de costas chegando ao topo da escada.Me esforço para não desabar em lágrimas. Ensaio um sorriso falso antes de dizer para ela
Timothy Eu não quero descansar. Se quer estou cansado.Não digeri toda essa merda. Trazer aquela garota não me acalmou nenhum um pouco. E como se a presença dela me deixasse ainda mais irritado.Isabella! O que essa ratinha tem de especial? Nada, não passa de uma golpista assim como o pai.Olho para a tela do celular esperando uma resposta de Doug sobre tudo que ele conseguir encontrar sobre Samuel Weels e em especial o que encontrar sobre a ratinha.Não tinha acreditado na história dos filhos. Tudo que recebi a respeito desse homem estava incompleto, precisava saber mais. Até para conseguir recuperar as joias mais rápido.Aperto o punho olha do jardim pela janela.Meus domingos não costumam ser tão agitados, odeio domingos. Odeio finais de semana. Odeio estar em casa.Me sinto tentado em descer para ver o que a ratinha está fazendo.Será que ela sabe fazer algum serviço doméstico? Claro, alguém desprovida de educação e condições financeiras deve no mínimo saber fazer algo assim.Po
Isabella Limpo as lágrimas com as costas das mãos. Não consigo conter o choro ao contar tudo que aconteceu para Catarina. A lembrança de meu pai caído desacordado, os olhinhos de Tomas. Me sinto lixo por ter permitido que me arrastassem para longe deles.Sinto que estou vivendo tudo de novo, em casa palavra que disse a Catarina.O nó em minha garganta me sufoca e tenho que fazer um esforço para respirar.Catarina é gentil, me disse que ela tinha dado a oportunidade do meu pai trabalhar ali, que ele disse que precisava do trabalho para cuidar dos filhos. Mas ele não cuidou. Se ele tivesse cuidado eu não estaria aqui.Me dói ver que tudo chegou a esse ponto. Dói tanto.— Querida, não chore. Eu sei que tudo isso é demais para digerir. Timothy estava muito nervoso, acredito que nem pensou direito quando te trouxe — diz fazendo o carinho na minha mão.Respiro fundo. Pensar que Tomas está longe me desespera. Será que ele tomou café da manhã? Será que ele almoçou? E se ele estiver com fom
Isabella Saio do quarto olhando ao redor, conferindo o caminho para não correr o risco de me perder, já que esse lugar é imenso. Fico aliviada ao entrar na cozinha que está vazia.Fico quieta, não vou me mover para não correr risco de quebrar algo e piorar ainda mais a minha situação. Sinto um cheiro de comida e meu estômago ronca. Não tenho vontade de comer nada, mas meu corpo não pensa da mesma maneira.Volto a pensar em Tomas e se ele comeu. As meninas brigam com ele por um pacote de biscoitos. Me dói pensar neles.— AAAAAH! — dou um pulo ao ouvir o grito e me viro dando de cara com a autora dele.Uma mulher um pouco mais jovem que Catarina, de pele clara, rosto marcante, usando um uniforme idêntico ao meu, me olha assustada com a mão no peito.— Oi? — digo levantando a mão.— Meu Deus garota! Quase me matou de susto. Te vi parada aí e pensei que fosse uma alma penada — ela fala muito rápido e a sua faz anasalada torna a situação engraçada.— Desculpa?— Você é garota que o senho