TIMOTHY
Sinto um misto de raiva e satisfação ao sentir que estamos próximos ao endereço do maldito rato.Samuel Weels pensou que poderia me roubar e não sofrer nenhuma consequência?Eu faria o desgraçado devolver tudo que me pertencia. E de agora em diante ele pensaria duas vezes antes de fazer algo assim. Isso se eu o deixasse vivo.O homem era um fracassado. Viciado em jogo e bebida. Meus homens estavam a dois atrás do filho da puta, que parecia ter se enfiado em buraco.Ontem de madrugada conseguiram encontrá-lo, mas o maldito rato conseguiu escapar. Mas foi burro o suficiente para voltar para sua casa. Lugar para onde estávamos indo.Não envolveria a polícia nisso. Como o filho da puta era ex-policial, não que eles aliviariam para ele, já que tinha sido expulso da corporação, mas com a polícia envolvida eu não poderia dar o corretivo que ele merecia.— Ele não é da equipe de segurança? Quem contratou esse cara mesmo? — Carl pergunta bocejando em seguida.Respiro fundo, tendo a certeza de que ele não ouviu nada do que eu disse. Ele está de ressaca. E como não estaria depois da noite anterior. Ele com certeza aproveitou bastante.Seus cabelos ruivos estavam desalinhados e sua cara ainda estava amassada, e a barba por fazer completa a sua aparência de boêmio.— Sua mãe! Quem mais séria?Carl é filho da minha governanta. Diria que Catarina é mais que isso, pois praticamente me criou, e o fato de ser muito próxima da minha mãe era um fator que nunca conseguiria tirá-la da minha vida. E Carl estava no pacote, é o meu único amigo, não vou perder tempo negando que ele é importante para mim.Pois o filho da puta é uma das poucas pessoas que suporto. Ele é o oposto de mim, e isso mantém nossos laços estreitos.— Minha mãe não costuma julgar errado as pessoas — volta a bocejar.— Tudo tem uma primeira vez Carl, e o filho da puta fez um drama. Disse que tinha quatro filhos e que precisava muito do trabalho. Mas não passa de um bêbado viciado em aposta — cerro o punho, rangendo os dentes.Ele parece procurar por algo no celular.— Ele tem filhos. Pelo menos aqui diz isso — mostra a ficha do cara.Sim, de acordo com a ficha o desgraçado tem filhos. Mas ele não pensou nem um pouco neles quando decidiu me roubar.— E se os filhos do cara estiverem lá quando chegarmos? — pergunta.Dou de ombros.— Não me importo. Vai servir para os filhos não seguir o exemplo do pai — reviro os olhos.Eu realmente não me importava. Mas não sou insensível a ponto de fazer algo que vá traumatizar os filhos do cara.— Ainda bem que vim com você — dá um sorriso amarelo.— Não precisava ter vindo Carl, não vou cometer um assassinato — digo o encarando.Ele torce o nariz e dá um sorrisinho.— Estou aqui para que isso não aconteça — diz convicto.— Me poupe Carl — bufo, batendo com os dedos na tela do meu celular.Mesmo sabendo que o desgraçado merecia morrer, não seria eu a tirar a sua vida. Mesmo tendo pensado e desejado isso desde o momento em que soube o ele tinha feito.— Pensei que a festa de ontem te faria relaxar. Mas estou vendo que não.— Não funcionou — bufo, fecho os olhos e forço a cabeça contra o encosto do banco.— Você vai acabar infartando se continuar se estressando dessa forma. Já está cheio de cabelo branco — estala a língua.— Cale a boca Carl — murmuro mantendo os olhos fechados.Os olhos gentis e assustados da garota da noite anterior vêm a minha mente, a sua boca carnuda em um tom rosa naturalmente aveludado. Não entendo porquê alguém tão comum chamou tanto a minha atenção.Talvez ela não seja tão comum assim.— Precisa mesmo disso? — Carl pergunta, olho em sua direção e ele vira o queixo mostrando o carro com mais dois seguranças nos seguindo.Talvez não precisasse, mas de certa forma queria deixar o rato filho da puta aterrorizado.Não respondo a sua pergunta e passo a observar os pequenos prédios e casas com pinturas gastas separadas por árvores altas. Não imaginava que essa parte da cidade tivesse tanto verde. Talvez seja para compensar as moradias modestas demais.— Estamos chegando senhor Ritkson! — Frédéric avisa sem tirar os olhos da rua.Vejo Carl abrir a garrafa de água, jogando dois comprimidos na boca em seguida.— Dor de cabeça do caralho — bufa.— Deveria aprender a se divertir sem beber feito um gamba ou usar drogas como um universitário. Não é mais um garoto — Meu tom de voz é firme e pelo seu semelhante acho que cutuquei na ferida.Ele é cinco anos mais novo que eu, mas isso não quer dizer que ele tenha que agir de maneira inconsequente. Não me preocupo com muitas pessoas, e me irrita ter que me preocupar com um homem de trinta e seis anos.— Chegamos senhor Ritkson! — Frédéric diz parando o carro em seguida — De acordo com as informações a casa é aquela — aponta para a casa com muro baixo de cor indefinida já que é sem dúvida com a pintura mais gasta, algumas rachaduras no muro mostra os tijolos. O portão baixo com grades enferrujadas dá um pequeno vislumbre de algo que parece ser um pequeno jardim. Sem dúvida é a pior casa daqui, não que as outras sejam grande coisa.— Não vai fazer...— Cale a boca Carl! — rosno, abrindo a porta e saindo rapidamente.Ouço Carl dizer algo para Frédéric atrás de mim, mas não faço questão de saber o que é. Meus passos são largos, deixo toda raiva que sinto tomar o controle, empurro o portão com força, e sigo em direção a porta, sem pensar duas vezes uso toda minha força para arrebentá-la com apenas um chute, sem me preocupar se machucaria quem estivesse do outro lado.Tenho um vislumbre de algo que seria uma sala, já que o cômodo não tem os móveis que compõem uma. Então vejo o desgraçado, mas ele não está sozinho...Minha mente só poderia estar me pregando uma peça, e eu estava vendo coisas.TIMOTHYA mulher da noite anterior, estava ali. Ao lado do maldito rato. Poderia ser alguém parecida, mas acredito que não exista outra como ela. A boca entreaberta, os olhos arregalados, a expressão assustada. O que difere é a ausência da roupa de copeira, pois agora está usando alguma espécie de conjunto em moletom que já viu dias melhores.Era algum tipo de piada? Alucinação?— Se...senhor Ritkson? Eu... — a voz trêmula de Samuel me trás de volta à realidade, me lembrando o real motivo de eu estar ali.Meu olhar carregado de ódio se volta para ele, que dá alguns passos ficando no meio do cômodo. O cheiro de bebida barata que emana dele, faz meu estômago embrulhar. Mas não me impede de partir para cima do maldito agarrando-o pelo colarinho.— Achou que podia me roubar e ficar por isso mesmo? — digo entredentes.Posso sentir o seu corpo tremer, não é capaz de erguer sua cabeça, não consegue me encarar. Ele está um caco, cabelos desgrenhados, com a roupa visivelmente suja.— Eu não qu
Isabella Tomas está parado na porta que liga a sala ao corredor, a forma como ele olha para toda cena corta o meu coração. — Tomas querido está tudo bem! Volta para o quarto! — peço, tentando me soltar.— Esses homens são maus? — pergunta com os olhinhos assustados, apertando o dinossauro de pelúcia com força.— Que droga! De onde esse moleque saiu? — ele pergunta em um rosnado, olhando para Tomas .— Ei carinha! E aí? — o ruivo que até o momento é o único simpático tenta uma aproximação.— Soltem a minha irmã! — ele aponta para os dois brutamontes.— Está tudo bem querido — minto.— Eu falei para você não sair pirralho... — Emilie surge com metade do cabelo loiro enrolado — O que está acontecendo aqui? — olha ao redor.— Emilie tira o Tomas daqui — peço.— Que merda! O que esse bêbado fez dessa vez? — olha com nojo na direção do meu pai, que sequer consegue deixar de encará-la já que o braço do maldito em seu pescoço o impede. Seu olhar reflete um misto de medo e vergonha.— TIRA O
IsabellaA qualquer sinal de desatenção desses brutamontes eu daria um jeito de sair desse maldito carro, onde eu estava enfiada.Parei de me debater, eu precisava poupar minhas forças minha garganta estava doendo pelos gritos.Estou aterrorizada. Fui jogada dentro desse maldito carro, e não consigo sequer assimilar os meus pensamentos. Pelo menos aquele homem não estava aqui. Imagino que deva esteja em outro carro junto ao homem dos cabelos ruivos e olhos gentis.Não quero estar em sua presença, tudo nele me causa arrepios.Eu não estava pensando direito quando disse que trabalharia para ele. Também não esperava que ele faria algo assim, me arrastando contra minha vontade.Tomas não pode ficar sozinho com as gêmeas ou meu pai, Emilie e Emma não conseguem ficar quinze minutos sem gritar com ele, e meu pai mal consegue falar com ele.Não podia ficar longe do meu irmãozinho. Os seus olhinhos assustados acabaram comigo. Ele não tinha que passar isso. Ele não tem que pagar pelos erros do
Timothy De alguma forma o percurso até minha casa estava demorando mais que o normal.O moralismo velado de Carl me irritou o suficiente, não aguento mais nenhum minuto dentro desse carro com ele. Ele pode ser extremamente insuportável quando quer, e parece que ele estava muito afim de me tirar do sério.Respiro aliviado ao ver os portões serem abertos.Sequestro? Não tinha nada haver com sequestro. A garota iria trabalhar para pagar a dívida do pai.Não sou politicamente correto, estou longe de ser.Busco conter a euforia instalada dentro de mim. Não tem motivo para que me sinta dessa forma. Não estou fazendo uma loucura, tenha total consciência dos meus atos, e não vou me arrepender deles. O roubo daquele homem, não iria ficar impune, ainda mais com o infeliz, tendo sumido com as joias. O viciado deve ter perdido ao apostar em algum dos seus jogos.Ter sua filha trabalhando em minha casa não era nada perto do que ele merecia.Vejo o carro com os seguranças e a estacionar ao lado do
Isabella Definitivamente esse homem não tem coração. E nada do que eu disser vai fazê-lo mudar de ideia. Segue caminhando com altivez em direção a porta da mansão. Diminui meus passos para manter uma distância segura para não voar no pescoço dele.Denzel e o filho da puta que machucou o meu pai me seguem praticamente colados a mim.Fugir? Não, eu não vou fazer isso agora. E nem se eu quisesse conseguiria. Preciso estudar esse lugar, ver a melhor maneira de sair e pedir ajuda. De nada adiantaria fugir e voltar para casa, ele iria me encontrar, e com toda certeza deixaria tudo ainda pior. Precisava de contatar Ben, Silvie e Eden, eles me ajudariam a sair daqui.Não menti quando prometi que se me deixasse ir embora eu viria trabalhar todos os dias, eu daria um jeito. Mas é claro que o poderoso Timothy Ritkson não facilitaria para mim.Respiro fundo olhando para o céu azul claro. Rezar e pedir uma solução para Deus agora adiantaria? Mas é bem provável que Ele esteja ocupado.Se meu pai
Isabella O nó na minha garganta me sufoca. Sinto uma lágrima escorregar pelo meu rosto. Abaixo a cabeça rapidamente para que ele não me veja chorar.Ele disse que machucaria a minha família. Que tipo de monstro ele é?Não tinha dúvidas sobre ele ser uma pessoa perigosa. Mas agora sei que ele não é só perigoso, ele é cruel.Olho sua mão circulando o meu pulso, e sentindo minha pele sendo queimada ao seu toque. Tamanho o pavor que sinto nesse momento.— Você ouviu o que eu disse? — pergunta.Não consigo formular uma frase.— Não me faça perguntar de novo — rosna.— S...sim, eu ouvi — balbucio, sem encara-lo.Ele solta o meu braço e se afasta sem dizer mais nada.Sou tomada por uma sensação de alívio. Seguro o meu pulso, vejo que não ficou nenhuma marca.— Eu sinto muito por isso querida — Ouço a mulher dizer, e olho em sua direção, tendo o vislumbre de Timothy de costas chegando ao topo da escada.Me esforço para não desabar em lágrimas. Ensaio um sorriso falso antes de dizer para ela
Timothy Eu não quero descansar. Se quer estou cansado.Não digeri toda essa merda. Trazer aquela garota não me acalmou nenhum um pouco. E como se a presença dela me deixasse ainda mais irritado.Isabella! O que essa ratinha tem de especial? Nada, não passa de uma golpista assim como o pai.Olho para a tela do celular esperando uma resposta de Doug sobre tudo que ele conseguir encontrar sobre Samuel Weels e em especial o que encontrar sobre a ratinha.Não tinha acreditado na história dos filhos. Tudo que recebi a respeito desse homem estava incompleto, precisava saber mais. Até para conseguir recuperar as joias mais rápido.Aperto o punho olha do jardim pela janela.Meus domingos não costumam ser tão agitados, odeio domingos. Odeio finais de semana. Odeio estar em casa.Me sinto tentado em descer para ver o que a ratinha está fazendo.Será que ela sabe fazer algum serviço doméstico? Claro, alguém desprovida de educação e condições financeiras deve no mínimo saber fazer algo assim.Po
Isabella Limpo as lágrimas com as costas das mãos. Não consigo conter o choro ao contar tudo que aconteceu para Catarina. A lembrança de meu pai caído desacordado, os olhinhos de Tomas. Me sinto lixo por ter permitido que me arrastassem para longe deles.Sinto que estou vivendo tudo de novo, em casa palavra que disse a Catarina.O nó em minha garganta me sufoca e tenho que fazer um esforço para respirar.Catarina é gentil, me disse que ela tinha dado a oportunidade do meu pai trabalhar ali, que ele disse que precisava do trabalho para cuidar dos filhos. Mas ele não cuidou. Se ele tivesse cuidado eu não estaria aqui.Me dói ver que tudo chegou a esse ponto. Dói tanto.— Querida, não chore. Eu sei que tudo isso é demais para digerir. Timothy estava muito nervoso, acredito que nem pensou direito quando te trouxe — diz fazendo o carinho na minha mão.Respiro fundo. Pensar que Tomas está longe me desespera. Será que ele tomou café da manhã? Será que ele almoçou? E se ele estiver com fom