ISABELLA
Acordo com um aperto estranho no peito. Algo como um mal pressentimento.Ainda não tinha nenhum sinal do meu pai. E eu estava ainda mais angustiada. Mesmo depois anos com ele ficando dias fora de casa, eu acho que nunca me acostumaria.Tento desviar os meus pensamentos, e preencher o meu dia com tudo que eu havia planejado.Por sorte Emma e Emilie saíram cedo, indo em uma excursão do colégio ou algo do tipo. Elas estavam no último ano, e não queria pensar em como faríamos para arcar com a faculdade das duas.Decido começar cuidando do pequeno jardim que fiz no quintal, enquanto Tomas toma café da manhã. Sou apaixonada por plantas, por flores para ser mais especificas, paixão essa que herdei da minha mãe. Quando eu era criança ela sempre dizia que o seu sonho era ter um enorme jardim, onde ela pudesse plantar rosas de todas as cores.Queria ser capaz de realizar os sonhos dela.Termino de regar as plantas, e vejo Ben do outro lado da rua. Ele dá um tchauzinho e eu não tenho outra escolha se não responder.Noto que ele pretende vir até mim e me apresso em entrar batendo com a poeta praticamente na cara dele.Não quero mais ouvir ele dizendo que gosta de mim nunca mais. Só consigo pensar em como Eden ficaria magoada, se eu se quer pensasse em aceitar o convite dele para sair.Eu não estou pensando. Eca, ele é como um irmão mais velho.Me pergunto se ele chegou a falar sobre isso com meu pai. Espero que não, porque na cabeça do meu pai ele é o homem perfeito, e com certeza seria o genro perfeito.Reviro os olhos fazendo uma careta, indo na ponta do pé na janela espiar se ele já tinha ido embora.Respiro aliviada ao vê-lo saindo na sua viatura.Ouço a notificação de mensagem no meu celular e abro vendo a mensagem de Eden dizendo para eu ficar pronto as seis. Aparentemente ela não está chateada.Aproveito e tento novamente falar com meu pai.— Bella estou com fome — Tomas diz atrás de mim e dou um pulo assustada.Como não ouvi ele chegar?— Com fome? Você não acabou de tomar café da manhã? — pergunto franzindo as sobrancelhas.— Estou com fome de almoço.Dou uma gargalhada. Tenho sorte por Tomas não ter nenhuma seletividade alimentar, ele come de tudo e come muito.— Então o que acha de me ajudar com o almoço? — pergunto e ele dá um sorrisinho concordando.A geladeira e a dispensa estavam praticamente vazias, mas eu daria um jeito de fazer o suficiente para pelo menos Tomas comer. Comeria as sobras do jantar.Aproveitaria para ficar Tomas , e depois desenharia um pouco, me distrair para não pensar no sumiço do meu pai. Ele já havia sumido outras vezes e em todas elas estavam em encrenca. Ele parecia tão feliz com o emprego novo, eu não devia ter criado expectativas.***Precisava de sapatos novos. Os scarpins da minha mãe estavam machucando os meus pés. A pequena caminhada até a casa de Eden e Silvie foi o suficiente para deixá-los com calos e latejando. De acordo com Eden, o ligar onde iremos trabalhar essa noite é extremamente chique e não dá para eu trabalhar com tênis ou sandálias sem salto usando o uniforme. E não sou nem boba de não a ouvir, quanto mais chique o evento, mais eu ganho.Martha ficaria com Tomas até que ele dormisse.Depois de ontem não iria nem cogitar pedir algo a minhas irmãs. Elas se quer notaram a falta da presença do nosso pai. Também elas só falavam com ele para pedir dinheiro ou ofendê-lo.Avisto a casa das minhas amigas e tento caminhar mais rápido, mas não obtenho sucesso e quase me espatifo no chão.Chego na porta, a van que usam para ir para os eventos está estacionada, espero que não esteja atrasada.Envio uma mensagem para as meninas e me sento na calçada tirando os sapatos para ter um alívio momentâneo, ainda precisava me trocar e colocar o uniforme que usaria durante o trabalho.Estou cansada. Se meu pai tivesse voltado para casa, eu até pensaria na possibilidade de ficar em casa e descansar, mas agora se quer tenho certeza de que ele ainda tem trabalho. Temia ter que tirá-lo de algum problema, e justo agora que estamos quase sem nenhum dinheiro.***O local onde iriamos trabalhar era completamente afastado. Era uma espécie de castelo medieval, em uma estrutura de pedra, consigo imaginar o quanto aquele lugar deveria ser lindo durante o dia. Sempre fui encantada por esse tipo de arquitetura.As vezes passa pela minha cabeça o desejo de ter nascido na época em que castelos, carruagens e espartilhos, mas daí me lembro que a mulher não era tratada com o mínimo de respeito, que não tinha privada e o quanto espartilhos parecem ser são desconfortáveis, o desejo para em um piscar de olhos. Os séculos passados só são bonitos nos romances de época.O deslumbre pelos séculos passados que Julia Quinn construiu Diana Gabaldon destruiu. Mesmo assim sigo amando Outlander.Prefiro encontrar o meu príncipe nesse século.Assim que entro na cozinha do lugar, quase caio para trás, nunca vi algo tão magnífico. Tenho certeza de que só a cozinha é maior que toda minha casa.— Esse lugar parece o castelo do drácula! — Silvie faz uma careta, ajeitando a gola da camisa.— Meninas fique na cozinha. Só saiam daqui quando for solicitado — Penélope mãe das meninas diz em uma expressão fechada.Eden me toca com o ombro, me fazendo olhar para ela.— Eu disse que eles são estranhos.— Não vamos ter servir? — a pergunta de Silvie soa como uma comemoração.— Eles terão pessoas para isso — Penélope responde e vejo algumas mulheres vestidas em sensuais lingeries pretas de renda, todas pareciam ter saído de um desfile da Victoria Secrets, ao todo são dez, não conseguiria dizer qual delas é a mais bonita.Um milhão de perguntas fervilham na minha cabeça, e não posso negar que estou um pouco assustada.— As garotas irão servir as bebidas — Penélope se dirige às moças e enquanto Arturo o pai das meninas e seu marido tenta controlar uma crise de tosse, depois de levar um olhar fuzilante da esposa.Elas iriam servir as bebidas seminuas? Que tipo de evento é esse?— Sim! — Eden diz baixinho.— O que?— O que você pensou. Elas vão servir as bebidas “assim” — frisa o assim. Com tanto tempo De amizade criamos uma conexão que as vezes sabíamos o que a outra pensava.Abro a boca e não faço menção nenhuma de fechá-la ou disfarçar meu espanto.— Eu disse que são excêntricos — dá de ombros.ISABELLA Mesmo não tendo que servir as bebidas e ficando só na cozinha, eu estava exausta. Ao menos a presença das minhas amigas deixava tudo mais leve. Eu estava com as bochechas doendo de tanto rir do que falamos enquanto enchíamos as taças e montávamos os canapés.Pelo que entendi o evento era organizado por um casal bilionário, tudo ali girava em torno de sexo, se tratava de uma orgia de ricos. Não me daria o trabalho de imaginar o que estavam fazendo no salão onde as garotas serviam as bebidas. Posso ser virgem, mas não sou leiga quando o assunto é sexo, sou leitora assídua de livros de romance do gênero hot, e também já vi um vídeo ou outro. Uma coisa é ler e ver pela tela, não tenho interesse algum em ver ao vivo. Não sou curiosa a esse ponto.Não via a hora de ir embora e dormir um pouco. Meus pés já estavam em carne viva e eu estava quase fazendo xixi na roupa porque Silvie resolveu ter uma DR com a namorada dentro do banheiro que podíamos usar.— Que cara é essa? — Eden per
TIMOTHYO cheiro de perfume se mistura ao da bebida e a dos charutos. Mulheres seminuas desfilam com bandejas cheias de taças de champanhe. Um verdadeiro banquete. Não é a primeira vez que frequento uma festa dos Bolths, eles conseguem fazer as melhores.Não gosto de participar desse tipo de festinha. Não precisa disso para foder quantas bocetas eu aguentar. Mas Carl insistiu muito para que eu o acompanhasse, e sabendo que se tratava de uma festa organizada pelos Bolths não poderia ser ruim.Tive um dia de merda, extravasar seria bom.Olho para as duas loiras gostosas conversando próximas a enorme escada. Elas percebem o meu olhar e sorriem, como se soubessem das obscenidades que fariam com elas assim que terminasse a minha bebida.Devido a minha posição e ao dinheiro que tinha, as mulheres praticamente se jogavam na minha cama. E eu não podia reclamar.Passo a mão pelo bolso, sentindo a ausência do celular, são estritamente proibido o uso de qualquer aparelho nesse tipo de festa.Pre
ISABELLA Cada centímetro do meu corpo doía. Mesmo exausta não consegui dormir direito, os calos no meu pé não pararam de doer e agora estão em carne viva.Ao menos o dinheiro que recebi pelo trabalho vai dar para conseguir comprar comida e guardar um pouco. Olho para a cama de Tomas que dorme um sono pesado. Ainda são sete da manhã, e não tenho força alguma para me levantar da cama. Pego meu celular e tento ligar para o meu pai, mas vai direto para a caixa postal.— Onde você se meteu papai? Mesmo sem força, me obrigo a levantar. Preciso comprar ovos, pão e leite, pois não tem nada para o café da manhã. Lavo o rosto, escovo os dentes e passo antisséptico nos calos. Procuro por um curativo, mas não encontro nenhum.A cada passo que dou sinto vontade chorar. Visto um conjunto de moletom surrado, pego minha bolsa, e tento andar o mais rápido que posso para sair e voltar antes que Tomas acorde. Assim que passo pela porta e atravesso o jardim tenho uma infeliz surpresa. Ben escorand
TIMOTHYSinto um misto de raiva e satisfação ao sentir que estamos próximos ao endereço do maldito rato.Samuel Weels pensou que poderia me roubar e não sofrer nenhuma consequência?Eu faria o desgraçado devolver tudo que me pertencia. E de agora em diante ele pensaria duas vezes antes de fazer algo assim. Isso se eu o deixasse vivo.O homem era um fracassado. Viciado em jogo e bebida. Meus homens estavam a dois atrás do filho da puta, que parecia ter se enfiado em buraco.Ontem de madrugada conseguiram encontrá-lo, mas o maldito rato conseguiu escapar. Mas foi burro o suficiente para voltar para sua casa. Lugar para onde estávamos indo.Não envolveria a polícia nisso. Como o filho da puta era ex-policial, não que eles aliviariam para ele, já que tinha sido expulso da corporação, mas com a polícia envolvida eu não poderia dar o corretivo que ele merecia.— Ele não é da equipe de segurança? Quem contratou esse cara mesmo? — Carl pergunta bocejando em seguida.Respiro fundo, tendo a cer
TIMOTHYA mulher da noite anterior, estava ali. Ao lado do maldito rato. Poderia ser alguém parecida, mas acredito que não exista outra como ela. A boca entreaberta, os olhos arregalados, a expressão assustada. O que difere é a ausência da roupa de copeira, pois agora está usando alguma espécie de conjunto em moletom que já viu dias melhores.Era algum tipo de piada? Alucinação?— Se...senhor Ritkson? Eu... — a voz trêmula de Samuel me trás de volta à realidade, me lembrando o real motivo de eu estar ali.Meu olhar carregado de ódio se volta para ele, que dá alguns passos ficando no meio do cômodo. O cheiro de bebida barata que emana dele, faz meu estômago embrulhar. Mas não me impede de partir para cima do maldito agarrando-o pelo colarinho.— Achou que podia me roubar e ficar por isso mesmo? — digo entredentes.Posso sentir o seu corpo tremer, não é capaz de erguer sua cabeça, não consegue me encarar. Ele está um caco, cabelos desgrenhados, com a roupa visivelmente suja.— Eu não qu
Isabella Tomas está parado na porta que liga a sala ao corredor, a forma como ele olha para toda cena corta o meu coração. — Tomas querido está tudo bem! Volta para o quarto! — peço, tentando me soltar.— Esses homens são maus? — pergunta com os olhinhos assustados, apertando o dinossauro de pelúcia com força.— Que droga! De onde esse moleque saiu? — ele pergunta em um rosnado, olhando para Tomas .— Ei carinha! E aí? — o ruivo que até o momento é o único simpático tenta uma aproximação.— Soltem a minha irmã! — ele aponta para os dois brutamontes.— Está tudo bem querido — minto.— Eu falei para você não sair pirralho... — Emilie surge com metade do cabelo loiro enrolado — O que está acontecendo aqui? — olha ao redor.— Emilie tira o Tomas daqui — peço.— Que merda! O que esse bêbado fez dessa vez? — olha com nojo na direção do meu pai, que sequer consegue deixar de encará-la já que o braço do maldito em seu pescoço o impede. Seu olhar reflete um misto de medo e vergonha.— TIRA O
IsabellaA qualquer sinal de desatenção desses brutamontes eu daria um jeito de sair desse maldito carro, onde eu estava enfiada.Parei de me debater, eu precisava poupar minhas forças minha garganta estava doendo pelos gritos.Estou aterrorizada. Fui jogada dentro desse maldito carro, e não consigo sequer assimilar os meus pensamentos. Pelo menos aquele homem não estava aqui. Imagino que deva esteja em outro carro junto ao homem dos cabelos ruivos e olhos gentis.Não quero estar em sua presença, tudo nele me causa arrepios.Eu não estava pensando direito quando disse que trabalharia para ele. Também não esperava que ele faria algo assim, me arrastando contra minha vontade.Tomas não pode ficar sozinho com as gêmeas ou meu pai, Emilie e Emma não conseguem ficar quinze minutos sem gritar com ele, e meu pai mal consegue falar com ele.Não podia ficar longe do meu irmãozinho. Os seus olhinhos assustados acabaram comigo. Ele não tinha que passar isso. Ele não tem que pagar pelos erros do
Timothy De alguma forma o percurso até minha casa estava demorando mais que o normal.O moralismo velado de Carl me irritou o suficiente, não aguento mais nenhum minuto dentro desse carro com ele. Ele pode ser extremamente insuportável quando quer, e parece que ele estava muito afim de me tirar do sério.Respiro aliviado ao ver os portões serem abertos.Sequestro? Não tinha nada haver com sequestro. A garota iria trabalhar para pagar a dívida do pai.Não sou politicamente correto, estou longe de ser.Busco conter a euforia instalada dentro de mim. Não tem motivo para que me sinta dessa forma. Não estou fazendo uma loucura, tenha total consciência dos meus atos, e não vou me arrepender deles. O roubo daquele homem, não iria ficar impune, ainda mais com o infeliz, tendo sumido com as joias. O viciado deve ter perdido ao apostar em algum dos seus jogos.Ter sua filha trabalhando em minha casa não era nada perto do que ele merecia.Vejo o carro com os seguranças e a estacionar ao lado do