Giovanni Rommano
Isabella abaixou a faca com um sorriso de canto de boca, entrando no carro e cruzando as pernas. Ela me olhou de cima a baixo, claramente calculando o tipo de homem que eu era. — Seu filho deve ser um verdadeiro pestinha, se você está tão desesperado — ela provocou, sem desviar o olhar. Soltei um suspiro, ainda um pouco tenso, mas aliviado por não ter mais a lâmina no meu pescoço. — Alessandro passou por muito. Ele perdeu a mãe no parto... E desde então, ele tem agido assim. Não é um mau garoto. Ele só precisa de alguém firme. Alguém que consiga lidar com ele sem fugir no terceiro dia — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava. Lembrar de Valey e de como tudo desmoronou após sua morte sempre me atingia como um soco no estômago. Ela ficou em silêncio por um momento, e seus olhos suavizaram. Talvez houvesse algo de humano ali, por trás da fachada dura. Mas Isabella logo voltou ao seu jeito impassível e prático. — Isso não é algo fácil de lidar Mas... — Ela sorriu de forma enigmática, inclinando-se levemente em minha direção. — Eu posso fazer o trabalho, desde que tenha as condições certas. Levantei uma sobrancelha. Estava claro que ela sabia o valor que tinha. E eu não estava em posição de discutir. Meu desespero não me permitia negociar. — Diga o preço. O salário que quiser, o plano de saúde que desejar. Dou todos os benefícios que precisar. — Eu estava disposto a pagar o que fosse para ter alguém capaz de colocar ordem na vida de Alessandro. Ela arqueou as sobrancelhas, como se estivesse impressionada com a minha prontidão. Mas Isabella não parecia o tipo de pessoa que se deixava impressionar tão facilmente. — O melhor plano de saúde, todos os benefícios possíveis e imagináveis. — Ela enumerou com um tom desafiador. — Quanto ao salário... só direi depois de um mês trabalhando. Aí veremos o quanto seu filho me dá trabalho e o valor será na mesma medida. Eu a olhei nos olhos, percebendo que ela estava falando sério. Era ousada. E eu gostava disso. — Isso não importa. — Respondi. — Você pode começar agora. Pegue suas coisas, vai morar na minha mansão. E terá um dia de folga por semana, a sua escolha. Ela riu suavemente, como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo. — Morar na sua mansão? — Ela sacudiu a cabeça, ainda sorrindo. — Acho que isso pode ser interessante. Sem mais perguntas, Isabella saiu do carro e subiu de volta ao prédio onde morava. Poucos minutos depois, ela voltou, carregando uma única mala. Aquela cena me fez pensar sobre o que mais ela guardava naquela vida, que parecia tão compacta. Tudo que ela possuía cabia em uma mala. Era claro que Isabella não era o tipo de pessoa que se apegava a coisas materiais. Ela abriu a porta do carro e jogou a mala no banco de trás. — Tudo pronto. — Ela disse, fechando a porta com um estalo. — Vamos ver se seu filho é mesmo tão terrível quanto você diz, Giovanni Romano. Eu sorri de volta. Isabella era diferente de qualquer pessoa que eu já conheci. Talvez ela fosse exatamente o que Alessandro precisava. Ou talvez, ela fosse exatamente o que eu precisava. Isabella Moretti Nunca imaginei que minha vida daria essa guinada tão inesperada. Quando Giovanni Romano me ofereceu aquele trabalho, parecia bom demais para ser verdade. Mas lá estava eu, sentada no banco do passageiro de um carro luxuoso, com uma mala que continha tudo o que eu tinha no mundo. Ao chegar à mansão, meus olhos se arregalaram. A imponência do lugar era indescritível. “Eu só podia estar sonhando”, pensei, enquanto saía do carro e olhava para aquele palácio. A fachada era tão impecável que parecia ter saído de uma revista de luxo, com jardins perfeitamente cuidados e uma entrada grandiosa, como se cada detalhe gritasse poder e riqueza. Giovanni me guiou pela casa com naturalidade, sem dar muita importância ao luxo que me cercava. Para ele, aquilo era normal. Para mim, era surreal. Quando finalmente chegamos ao quarto que seria o meu, me senti um peixe fora d’água. O quarto era três vezes maior que o meu antigo apartamento inteiro. A cama parecia um pedaço do céu, tão macia que eu sabia que poderia me perder em seus lençóis. Giovanni ficou parado na porta, me observando enquanto eu explorava o espaço. — É aqui que você vai ficar — disse ele. — Se precisar de alguma coisa, pode me avisar. Deitei na cama, afundando nos lençóis e suspirei, satisfeita. Olhei para ele e sorri. — Pode ir agora. Amanhã estarei de pé cedo para lidar com o mini Giovanni. Ele sorriu de volta, um sorriso quase divertido, e se retirou, fechando a porta atrás de si. Quando fiquei sozinha, deixei escapar um suspiro longo. Eu mal conseguia acreditar em tudo aquilo. A verdade é que o momento não poderia ter sido mais oportuno. Eu estava prestes a ser despejada do meu apartamento, não conseguia manter os custos do hospital para pagar minhas medicações para diabetes, e agora, de repente, estava aqui, nesse luxo todo. Se aquilo não fosse uma resposta às minhas orações, eu não sabia o que seria. Mas, no fundo, eu sabia que essa aparente solução trazia um novo desafio. “Melhor dormir”, pensei. Amanhã eu enfrentaria um pesadelo — o famoso mini Giovanni. Alessandro não parecia ser um garoto fácil, mas algo me dizia que eu estava pronta para o que viesse. Na manhã seguinte, acordei com o sol entrando pelas cortinas, algo que raramente acontecia no meu antigo quarto minúsculo. Depois de um banho revigorante, onde cada toalha e cada sabonete parecia ter sido feito de algodão e seda, desci para a cozinha. O piso era tão macio que meus pés deslizavam, como se eu estivesse caminhando sobre nuvens. Preparei um café da manhã simples, mas acolhedor. Panquecas e um bolo de chocolate. Talvez alimentar a fera com algo doce pudesse ajudar. Se Alessandro fosse realmente um mini-Giovanni, eu precisaria de toda a ajuda possível. Assim que terminei de organizar a mesa, ouvi passos e me virei. A cozinheira entrou, com os olhos arregalados, como se estivesse surpresa por me ver ali. — Quem é você? — ela perguntou, hesitante. — Isabella — respondi, sorrindo. — A nova babá. Decidi fazer o café da manhã. Antes que a cozinheira pudesse responder, a porta da cozinha se abriu e, para minha surpresa, dois homens entraram. Ambos lindos, de fazer qualquer um perder o fôlego. Seus sorrisos eram carismáticos, e seus olhos brilhavam com curiosidade. Meus olhos se arregalaram, e por um segundo, pensei que estivesse sonhando de novo. “Será que já estou no céu?” — Olá, prazer — me apresentei, tentando soar casual. — Sou Isabella, mas podem me chamar de nuvem, porque ainda estou flutuando. Eles riram, claramente encantados com a minha reação. Mas antes que eu pudesse me recompor, outro homem entrou. Dessa vez, meu coração quase parou. Três deuses gregos na minha frente. Eu só podia estar delirando. Foi então que ouvi uma voz mais baixa e cheia de autoridade. — Tio Dante, o papai vai brigar com o senhor por trazer uma mulher novamente para casa. Virei-me, e lá estava ele. Alessandro, o famoso mini-Giovanni. Ele me encarava com um olhar travesso, como se já soubesse que eu seria o próximo alvo de suas provocações. Eu sorri para ele, disposta a entrar no jogo. — Na verdade, não foi seu tio Dante que me trouxe, Alessandro. Foi o seu pai. — Cruzei os braços, com um sorriso desafiador. O garoto estreitou os olhos, claramente tentando decidir o que fazer com aquela informação. Ele não esperava por isso, e eu sabia que já tinha ganhado a primeira rodada.O jogo estava só começando. —Então você é a nova babá?—perguntou ele, não podia negar, o pimentinha era inteligente, mas eu sou mais. —Por acaso acha que tenho cara de quem cuida de criança?—falei e ele me olhou com curiosidade. A cozinheira retirou meu bolo do forno e o Alessandro desviou o olhar de mim e olhou para o bolo, mas antes que ele fosse pegar um pedaço, eu o parei e segurei em sua mão e disse: —Ainda não está pronto e se quiser comer ele, terá que me ajudar. Peguei a calda que estava na panela e duas colheres e ele me ajudou a espalhar ela pelo bolo, em seguida pedi a cozinheira para trazer confeitos e ela me entregou e eu dei a ele, logo ele colocou no bolo todo e depois eu parti o pedaço do bolo e dei a ele. Os tios gostosos dele ficou me encarando e eu claro me senti a mulher mais sortuda com três homens lindos me encarando. —Eu não mordo, podem provar também. os três pegaram pedaços e começaram a comer os quatro na mesa da cozinha, eles pareciam perplexos e surpresos a cada mordida, e do nada Alessandro começou a chorar e eu já estava pensando que ele já havia começado a fazer birra, quando o Dante o abraçou e também chorou dizendo que também lembrou da vovó. —O seu bolo, Isabella, é idêntico ao que minha mãe fazia—disse Vittorio surpreso. Naquele momento fiquei os observando acabar com o bolo em questão de minutos, não imaginei que a receita que a senhora que sempre me visitava no orfanato na minha adolescência e me ensinava a cozinhar, agora seria uma lembrança de alguém que eles amavam. Alessandro me olhou e veio até mim e após me encarar, me abraçou e me agradeceu, naquele momento o Giovanni entrou na cozinha e nos olhou completamente surpreso. continua....Isabella MorettiEu entreguei o prato com o pedaço de bolo ao Giovanni, e ele o aceitou com um breve aceno de cabeça. No entanto, ao contrário dos outros, ele não deu uma única mordida. Sua expressão estava neutra, mas algo em seus olhos me dizia que ele estava, no mínimo, desconfiado.— O que foi? — perguntei, arqueando uma sobrancelha. — Acha que envenenei o bolo?Giovanni ergueu os olhos para mim, seus lábios curvando-se em um meio sorriso, mas ele continuou sem tocar no bolo. Matteo, que estava sentado do outro lado da mesa, soltou uma risada baixa, quebrando o silêncio.— Na verdade, Isabella — Matteo disse, ainda com aquele sorriso divertido no rosto —, meu irmão não pode comer chocolate. Para ele, é como veneno, literalmente. Ele tem alergia.Olhei para o bolo em mãos, sentindo o calor subir às minhas bochechas. Então, sem hesitar, levei o garfo à boca e provei um pedaço.— Bom, então eu vou ter que comer — declarei, com um sorriso atrevido. — Esse bolo está tão delicioso quant
Isabella MorettiAlessandro terminou o dever de casa e, com os olhos brilhando de entusiasmo, virou-se para mim:— Você quer conhecer a mansão toda, Isabella?Sorri, incapaz de resistir ao convite. Eu estava curiosa, afinal.— Claro, por que não? — respondi, rindo. Ele parecia tão animado que era impossível recusar.Caminhamos por todos os cômodos, explorando cada detalhe. O Alessandro conhecia o lugar como a palma da mão, e sua alegria ao me mostrar tudo me fazia esquecer por um tempo onde eu estava. Passamos pelos quartos dos tios dele, que, claro, ele fez questão de me mostrar, rindo e contando histórias sobre cada um deles. Mas foi quando chegamos ao quarto do Giovanni que as coisas saíram de controle.— Esse é o quarto do meu pai — Alessandro disse, abrindo a porta devagar, como se estivesse revelando um segredo.Era um espaço impecável, organizado, e, para ser honesta, a cara do Giovanni: sério, imponente, cheio de objetos luxuosos. Eu estava distraída, olhando em volta, quando
Giovanni Rommano Eu olhei para Alessandro, ainda ajoelhado, com o rosto manchado pelas lágrimas. Respirei fundo, tentando controlar a raiva que ainda queimava dentro de mim, mas não era com ele que eu estava irritado.— Levante-se, Alessandro — falei, minha voz mais suave desta vez. — Me desculpe... Eu fui arrogante.Ele me abraçou imediatamente, apertando meu corpo com força, como se estivesse com medo de que eu o afastasse. Eu o segurei também, o cheiro do perfume infantil misturado ao meu fez algo dentro de mim, para me acalmar. Ele implorou de novo, desta vez mais baixo, quase num sussurro:— Por favor, papai, não demita a Isabella.Levantei o olhar para ela, ainda parada ao lado da porta. Os olhos de Isabella me encaravam com uma firmeza inesperada, sem qualquer sinal de arrependimento pelo tapa que tinha me dado.Antes que eu pudesse falar, ela tomou a iniciativa:— Peço desculpas por ter dado o tapa, Giovanni, mas não me arrependo. Não vou permitir que você, nem ninguém, seja
Isabella Moretti Assim que chegamos na mansão, Alessandro subiu para tomar banho, e eu também fui ao meu quarto para me refrescar. Após um banho rápido, desci para a cozinha, onde a senhora Luci ainda estava terminando de preparar o jantar. O aroma delicioso preenchia o ambiente, mas meu pensamento estava longe. Algo me incomodava, a culpa ainda pesava sobre mim pelo tapa que dei em Giovanni. Decidi que precisava fazer algo para me redimir. Os irmãos Romano estavam sentados a mesa e todos jantaram em silêncio, pareciam estar mantendo distância de mim e foi então que minha ficha caiu que eu não deveria ter dado o tapa no Giovanni. Todos após o jantar subiram para seus quartos, o clima da mansão estava tenso, o Alessandro me desejou boa noite e após deixar ele no quarto dele dormindo, decidi fazer algo. "Devo me desculpar", pensei, enquanto chegava na cozinha.Um pedido de desculpas simples não parecia suficiente, então resolvi preparar algo especial. Um gesto que demonstrasse minha s
Isabella Moretti Giovanni me seguiu até a sala e, com a expressão mais calma, veio falar comigo. — Isabella, amanhã preciso que você acompanhe Alessandro a um aniversário de uma colega da escola. O motorista vai levá-los, mas eu não vou poder estar presente. Vou viajar no sábado e não chegarei a tempo para a festa. Espero que não se importe. — Não tem problema, Giovanni — respondi, sem hesitar. — Eu me sinto bem com o Alessandro, e não estava planejando tirar folga mesmo. Giovanni então puxou algo do bolso e me entregou um cartão platinado. — Pode comprar o presente da aniversariante e roupas, sapatos, o que precisar para você também. Quero que gaste o máximo que puder. Quero que se sinta à vontade para comprar o que precisar. Eu o olhei confusa, sem saber se era uma brincadeira ou uma ordem. — O que há de errado com as minhas roupas? — perguntei, um sorriso leve no rosto. — Nada. Eu só quero que você tenha o suficiente para preencher o closet do seu quarto ao ponto de não ha
Isabella Moretti Passei a noite inquieta, revirando-me na cama, tentando esquecer o que havia acontecido, mas o beijo continuava voltando à minha mente. Eu precisava de espaço, precisava pensar. No dia seguinte, o sol invadia meu quarto e me lembrava que eu tinha um compromisso com Alessandro. A festa da amiga dele, Giovana, seria na piscina, e eu precisava focar nisso, não em Giovanni. Tomei um banho longo, vestindo algo leve e apropriado para a ocasião, e desci para encontrar Alessandro. Ele estava animado, mal conseguia conter a alegria de ver a amiga. Quando chegamos à festa, as crianças corriam pela área da piscina, e a música suave tocava ao fundo. Alessandro correu até Giovana com o presente em mãos, e eu sorri ao ver a felicidade no rosto dele. Estava tentando me distrair quando alguém se aproximou de mim. — Isabella? — uma voz familiar me chamou. Virei-me e fiquei boquiaberta. Meu coração acelerou ao ver o homem parado à minha frente. — Alberto? — exclamei, sem ac
Giovanni Rommano Havia algo no seu olhar, uma hesitação, uma expectativa. E então, percebi. Isabella estava esperando por alguém. Minhas suspeitas se confirmaram quando um carro de luxo esportivo parou em frente à mansão. Senti um aperto no peito, algo que eu não queria reconhecer, mas que era impossível ignorar. Ela iria sair, e não era comigo. — Pode deixar o carro entrar, Isabella — pedi, tentando manter o tom casual, apesar do nó na garganta. Ela parecia constrangida, o que só aumentava minha curiosidade e... ciúmes. Logo, o motorista saiu do carro. Um homem mais novo, com um sorriso confiante. Algo dentro de mim se partiu naquele instante. Eu já sabia que aquela noite não seria fácil. — Este é Alberto — disse ela, me apresentando. Minha mente girava em círculos. Um homem mais jovem, mais confiante, talvez uns três anos mais novo que eu. A sensação de estar perdendo algo — ou alguém — era quase insuportável. — De onde vocês se conhecem? — perguntei, tentando disfarçar o tom
Isabella Moretti Enquanto eu ajustava o vestido e saía pela porta, uma sensação estranha me percorreu. Algo não estava certo. Quando o carro de Alberto parou em frente à mansão, eu já sentia a presença de Giovanni, mesmo que ele ainda estivesse longe de ser visto. O olhar atento dele sempre me seguia, fosse no trabalho, fosse em momentos como aquele. — Boa noite! — murmurei, tentando esconder o constrangimento. Sabia que Giovanni estava lá fora, no jardim, observando. Era óbvio. Quando entrei no carro com Alberto, uma rápida olhada pelo espelho retrovisor confirmou minhas suspeitas: Giovanni nos seguia. — Você está bem? — Alberto perguntou, com a testa franzida, enquanto acelerava pelas ruas tranquilas. — Sim, só... — hesitei. — Giovanni está nos seguindo. Alberto soltou uma risada leve, mas seus olhos não escondiam a preocupação. — Algo está acontecendo entre vocês? Suspirei, sabendo que não havia como esconder nada de Alberto. Ele me conhecia melhor do que qualquer outra pesso