Giovanni Rommano
A vida nunca foi fácil para mim, mas aprendi a lidar com os desafios cedo. Sou o mais velho e tenho três irmãos, todos moramos juntos e isso sempre veio com uma responsabilidade extra para mim. Dante, Matteo e Vittorio meus irmãos mais novos, sempre puderam contar comigo. E eu sempre pude contar com eles, especialmente depois que nossa mãe morreu. Ela era o coração da nossa família, o elo que nos mantinha unidos. Quando ela se foi, tudo mudou. Eu tive que assumir a posição de líder da família Romano. Dante administra o cassino da família e se envolve com os negócios mais arriscados. Vittorio é mais metódico, cuida das finanças e de várias empresas que acumulamos ao longo dos anos. Matteo é o mais detalhista e cuida de todas papeladas de estoque, compra e venda de todos nossos negócios.Cada um seguiu seu próprio caminho nos negócios, mas eu sempre fui o que mantinha todos na linha. Entre administrar empresas e lidar com negociações intermináveis, pensei que poderia lidar com qualquer coisa. Mas nada me preparou para ser pai. Quando Alessandro nasceu, tudo mudou. Minha ex-mulher, Valey, morreu no parto, e desde então, cuidar dele passou a ser a minha única prioridade. A dor da perda me endureceu, e o peso de ser pai solo, sem Valey , tornou-se uma batalha diária. Alessandro é tudo o que eu mais tenho de valioso... Desde que perdi a minha mãe, ele tem sido um garoto difícil. Não o culpo. O mundo dele desmoronou antes mesmo de começar a entendê-lo, e ele tinha uma ligação amável com sua avó paterna. Mas isso não muda o fato de que ele está me enlouquecendo. Eu tentei de tudo, babás, tutores, psicólogos. Todas as babás desistem. Nenhuma consegue aguentar mais do que três dias . Ele testa os limites de todas elas até que pedem demissão. Minha vida virou um caos. Entre os negócios e Alessandro, sinto que estou perdendo o controle do meu próprio filho. Meu filho precisa de ajuda, e eu também. Preciso de alguém que consiga lidar com ele, que não desista na primeira dificuldade. Alguém que tenha a coragem que a maioria não tem. Entrei no bar do cassino do meu irmão, Dante, tentando limpar a mente. Um drink talvez não resolvesse, mas quem sabe ajudasse a organizar os pensamentos. O ambiente estava agitado como sempre, mas eu não estava interessado no jogo ou no entretenimento naquela noite. Só queria um pouco de paz, longe dos problemas. Não estava acostumado a ser derrotado — nem nos negócios, nem na vida pessoal — mas ultimamente, parecia que eu não tinha controle sobre nada. Nem sobre Alessandro. Enquanto tomava meu whisky no balcão, algo chamou minha atenção. Uma funcionária, uma das garçonetes, estava lidando com um cliente que claramente havia passado dos limites. Ele estava sendo desrespeitoso, com uma das garçonetes, o tipo de comportamento que qualquer outra pessoa ignoraria ou tentaria evitar. Mas ela, não. — Vai pedir desculpas agora — disse ela, com uma firmeza que eu não esperava. Ela não gritou, nem perdeu o controle, mas sua autoridade era inegável. O cliente, um homem alto e robusto, abaixou a cabeça e murmurou um pedido de desculpas, para a garçonete que estava trabalhando com ela, visivelmente o homem estava constrangido. Ela fez parecer fácil. Fiquei observando a cena, impressionado. Aquela mulher sabia se impor, e não era qualquer uma que conseguia aquilo. Uma ideia começou a se formar na minha cabeça. Essa mulher poderia dar conta de Alessandro. Passei o resto da noite pensando nisso. Assim que a garçonete terminou seu turno e saiu do bar, algo em mim decidiu que eu tinha que conhecê-la. Paguei a conta e a segui. Ela saiu de moto, o que apenas aumentou minha curiosidade. Era ousada, isso eu já podia ver. Dirigi devagar, mantendo uma certa distância para não ser notado, mas sem perder o rastro. Ela dirigia rápido, com segurança e sem hesitação, como se soubesse exatamente onde estava indo. Quando ela chegou em um prédio simples e estacionou a moto, eu parei o carro um pouco mais atrás, observando enquanto ela subia as escadas e desaparecia pela porta. Fiquei ali, pensando em como abordá-la, quando, de repente, a porta do carro se abriu com um tranco. Antes que eu pudesse reagir, senti algo frio encostar no meu pescoço. Uma faca. — Por que está me seguindo? — A voz dela era baixa, mas ameaçadora. Eu olhei para o lado, e lá estava ela, de pé ao lado do carro, com a faca apontada para mim. A luz fraca da rua iluminava seu rosto, e eu percebi que ela não estava brincando. — Calma — murmurei, levantando as mãos. — Eu não queria assustá-la. — Então, por que está me seguindo? — Ela repetiu, sem tirar a faca do meu pescoço. Respirei fundo, tentando manter a calma. Ela era ainda mais intensa do que eu imaginava. — Eu só queria conversar. Preciso de alguém como você... para cuidar do meu filho. Ela franziu a testa, como se não estivesse acreditando em uma palavra do que eu dizia. — Eu pareço babá para você? Sorri, apesar da faca ainda estar muito perto de algo vital. — Não. Mas você parece ser a única pessoa capaz de lidar com alguém tão difícil quanto ele. Ela ficou em silêncio por um momento, sem tirar os olhos de mim, como se estivesse me analisando, tentando decidir se eu era uma ameaça ou apenas um idiota. Depois de um longo segundo, ela afastou a faca, mas não se moveu. — Vai ter que me dar um bom motivo para isso — disse ela, cruzando os braços. — E eu duvido que consiga. Continua...Giovanni Rommano Isabella abaixou a faca com um sorriso de canto de boca, entrando no carro e cruzando as pernas. Ela me olhou de cima a baixo, claramente calculando o tipo de homem que eu era.— Seu filho deve ser um verdadeiro pestinha, se você está tão desesperado — ela provocou, sem desviar o olhar.Soltei um suspiro, ainda um pouco tenso, mas aliviado por não ter mais a lâmina no meu pescoço.— Alessandro passou por muito. Ele perdeu a mãe no parto... E desde então, ele tem agido assim. Não é um mau garoto. Ele só precisa de alguém firme. Alguém que consiga lidar com ele sem fugir no terceiro dia — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava. Lembrar de Valey e de como tudo desmoronou após sua morte sempre me atingia como um soco no estômago.Ela ficou em silêncio por um momento, e seus olhos suavizaram. Talvez houvesse algo de humano ali, por trás da fachada dura. Mas Isabella logo voltou ao seu jeito impassível e prático.— Isso não é algo fácil de lidar Mas... — Ela sorriu
Isabella MorettiEu entreguei o prato com o pedaço de bolo ao Giovanni, e ele o aceitou com um breve aceno de cabeça. No entanto, ao contrário dos outros, ele não deu uma única mordida. Sua expressão estava neutra, mas algo em seus olhos me dizia que ele estava, no mínimo, desconfiado.— O que foi? — perguntei, arqueando uma sobrancelha. — Acha que envenenei o bolo?Giovanni ergueu os olhos para mim, seus lábios curvando-se em um meio sorriso, mas ele continuou sem tocar no bolo. Matteo, que estava sentado do outro lado da mesa, soltou uma risada baixa, quebrando o silêncio.— Na verdade, Isabella — Matteo disse, ainda com aquele sorriso divertido no rosto —, meu irmão não pode comer chocolate. Para ele, é como veneno, literalmente. Ele tem alergia.Olhei para o bolo em mãos, sentindo o calor subir às minhas bochechas. Então, sem hesitar, levei o garfo à boca e provei um pedaço.— Bom, então eu vou ter que comer — declarei, com um sorriso atrevido. — Esse bolo está tão delicioso quant
Isabella MorettiAlessandro terminou o dever de casa e, com os olhos brilhando de entusiasmo, virou-se para mim:— Você quer conhecer a mansão toda, Isabella?Sorri, incapaz de resistir ao convite. Eu estava curiosa, afinal.— Claro, por que não? — respondi, rindo. Ele parecia tão animado que era impossível recusar.Caminhamos por todos os cômodos, explorando cada detalhe. O Alessandro conhecia o lugar como a palma da mão, e sua alegria ao me mostrar tudo me fazia esquecer por um tempo onde eu estava. Passamos pelos quartos dos tios dele, que, claro, ele fez questão de me mostrar, rindo e contando histórias sobre cada um deles. Mas foi quando chegamos ao quarto do Giovanni que as coisas saíram de controle.— Esse é o quarto do meu pai — Alessandro disse, abrindo a porta devagar, como se estivesse revelando um segredo.Era um espaço impecável, organizado, e, para ser honesta, a cara do Giovanni: sério, imponente, cheio de objetos luxuosos. Eu estava distraída, olhando em volta, quando
Giovanni Rommano Eu olhei para Alessandro, ainda ajoelhado, com o rosto manchado pelas lágrimas. Respirei fundo, tentando controlar a raiva que ainda queimava dentro de mim, mas não era com ele que eu estava irritado.— Levante-se, Alessandro — falei, minha voz mais suave desta vez. — Me desculpe... Eu fui arrogante.Ele me abraçou imediatamente, apertando meu corpo com força, como se estivesse com medo de que eu o afastasse. Eu o segurei também, o cheiro do perfume infantil misturado ao meu fez algo dentro de mim, para me acalmar. Ele implorou de novo, desta vez mais baixo, quase num sussurro:— Por favor, papai, não demita a Isabella.Levantei o olhar para ela, ainda parada ao lado da porta. Os olhos de Isabella me encaravam com uma firmeza inesperada, sem qualquer sinal de arrependimento pelo tapa que tinha me dado.Antes que eu pudesse falar, ela tomou a iniciativa:— Peço desculpas por ter dado o tapa, Giovanni, mas não me arrependo. Não vou permitir que você, nem ninguém, seja
Isabella Moretti Assim que chegamos na mansão, Alessandro subiu para tomar banho, e eu também fui ao meu quarto para me refrescar. Após um banho rápido, desci para a cozinha, onde a senhora Luci ainda estava terminando de preparar o jantar. O aroma delicioso preenchia o ambiente, mas meu pensamento estava longe. Algo me incomodava, a culpa ainda pesava sobre mim pelo tapa que dei em Giovanni. Decidi que precisava fazer algo para me redimir. Os irmãos Romano estavam sentados a mesa e todos jantaram em silêncio, pareciam estar mantendo distância de mim e foi então que minha ficha caiu que eu não deveria ter dado o tapa no Giovanni. Todos após o jantar subiram para seus quartos, o clima da mansão estava tenso, o Alessandro me desejou boa noite e após deixar ele no quarto dele dormindo, decidi fazer algo. "Devo me desculpar", pensei, enquanto chegava na cozinha.Um pedido de desculpas simples não parecia suficiente, então resolvi preparar algo especial. Um gesto que demonstrasse minha s
Isabella Moretti Giovanni me seguiu até a sala e, com a expressão mais calma, veio falar comigo. — Isabella, amanhã preciso que você acompanhe Alessandro a um aniversário de uma colega da escola. O motorista vai levá-los, mas eu não vou poder estar presente. Vou viajar no sábado e não chegarei a tempo para a festa. Espero que não se importe. — Não tem problema, Giovanni — respondi, sem hesitar. — Eu me sinto bem com o Alessandro, e não estava planejando tirar folga mesmo. Giovanni então puxou algo do bolso e me entregou um cartão platinado. — Pode comprar o presente da aniversariante e roupas, sapatos, o que precisar para você também. Quero que gaste o máximo que puder. Quero que se sinta à vontade para comprar o que precisar. Eu o olhei confusa, sem saber se era uma brincadeira ou uma ordem. — O que há de errado com as minhas roupas? — perguntei, um sorriso leve no rosto. — Nada. Eu só quero que você tenha o suficiente para preencher o closet do seu quarto ao ponto de não ha
Isabella Moretti Passei a noite inquieta, revirando-me na cama, tentando esquecer o que havia acontecido, mas o beijo continuava voltando à minha mente. Eu precisava de espaço, precisava pensar. No dia seguinte, o sol invadia meu quarto e me lembrava que eu tinha um compromisso com Alessandro. A festa da amiga dele, Giovana, seria na piscina, e eu precisava focar nisso, não em Giovanni. Tomei um banho longo, vestindo algo leve e apropriado para a ocasião, e desci para encontrar Alessandro. Ele estava animado, mal conseguia conter a alegria de ver a amiga. Quando chegamos à festa, as crianças corriam pela área da piscina, e a música suave tocava ao fundo. Alessandro correu até Giovana com o presente em mãos, e eu sorri ao ver a felicidade no rosto dele. Estava tentando me distrair quando alguém se aproximou de mim. — Isabella? — uma voz familiar me chamou. Virei-me e fiquei boquiaberta. Meu coração acelerou ao ver o homem parado à minha frente. — Alberto? — exclamei, sem ac
Giovanni Rommano Havia algo no seu olhar, uma hesitação, uma expectativa. E então, percebi. Isabella estava esperando por alguém. Minhas suspeitas se confirmaram quando um carro de luxo esportivo parou em frente à mansão. Senti um aperto no peito, algo que eu não queria reconhecer, mas que era impossível ignorar. Ela iria sair, e não era comigo. — Pode deixar o carro entrar, Isabella — pedi, tentando manter o tom casual, apesar do nó na garganta. Ela parecia constrangida, o que só aumentava minha curiosidade e... ciúmes. Logo, o motorista saiu do carro. Um homem mais novo, com um sorriso confiante. Algo dentro de mim se partiu naquele instante. Eu já sabia que aquela noite não seria fácil. — Este é Alberto — disse ela, me apresentando. Minha mente girava em círculos. Um homem mais jovem, mais confiante, talvez uns três anos mais novo que eu. A sensação de estar perdendo algo — ou alguém — era quase insuportável. — De onde vocês se conhecem? — perguntei, tentando disfarçar o tom