Capítulo 6

Isabella Moretti

Assim que chegamos na mansão, Alessandro subiu para tomar banho, e eu também fui ao meu quarto para me refrescar. Após um banho rápido, desci para a cozinha, onde a senhora Luci ainda estava terminando de preparar o jantar. O aroma delicioso preenchia o ambiente, mas meu pensamento estava longe. Algo me incomodava, a culpa ainda pesava sobre mim pelo tapa que dei em Giovanni. Decidi que precisava fazer algo para me redimir.

Os irmãos Romano estavam sentados a mesa e todos jantaram em silêncio, pareciam estar mantendo distância de mim e foi então que minha ficha caiu que eu não deveria ter dado o tapa no Giovanni. Todos após o jantar subiram para seus quartos, o clima da mansão estava tenso, o Alessandro me desejou boa noite e após deixar ele no quarto dele dormindo, decidi fazer algo.

"Devo me desculpar", pensei, enquanto chegava na cozinha.Um pedido de desculpas simples não parecia suficiente, então resolvi preparar algo especial. Um gesto que demonstrasse minha sinceridade.

Preparei um bolo, usando a mesma receita que fiz para Alessandro, mas dessa vez, substituí o chocolate por alfarroba,pesquisei um pouco sobre o Alfarroba e ele podia ser substituído pelo cacau. Um ingrediente que eu sabia que Giovanni poderia comer. Depois de pronto, limpei a bagunça na cozinha e fiquei com o bolo nas mãos, hesitante. Eu deveria levar para ele agora?

Antes que pudesse tomar uma decisão, Giovanni apareceu. Seu olhar era difícil de decifrar, mas havia uma calma contida que me fez respirar fundo.

— Fiz esse bolo especialmente para você — disse, colocando o prato diante dele.

Ele arqueou uma sobrancelha e, com um meio sorriso, perguntou:

— Sabe que tenho alergia a chocolate. Por que quer que eu coma?

— Eu fiz o bolo com a mesma receita que fiz para da última vez, mas esse é só para você. Não tem cacau, apenas alfarroba.

Giovanni observou o bolo por um instante, depois pegou um pedaço e provou. Eu observava ansiosa, tentando interpretar sua expressão. Quando ele pegou o segundo pedaço, percebi que gostou. Ele comeu em silêncio, até que, após o quarto pedaço, comentou, sua voz tranquila:

— Como não tem chocolate? Esse bolo me fez lembrar da minha infância, quando eu ainda podia comer chocolate sem problemas. É um gosto que não sinto há muito tempo.

Havia uma nostalgia em sua voz, algo que suavizou a tensão entre nós. Eu sabia que era o momento certo para pedir desculpas.

— Giovanni... — comecei, hesitante. — Eu sinto muito pelo tapa. Não deveria ter feito aquilo, fui impulsiva e... me arrependi logo depois de ver você hoje com o rosto vermelho.

Ele me encarou por um longo momento, como se estivesse pesando minhas palavras, antes de balançar a cabeça levemente.

— Já disse que não precisa se preocupar com isso. Aconteceu. Mas entendo seu pedido de desculpas.

Ele sorriu, e algo em seu semblante parecia mais relaxado. Sua boca estava levemente suja com um pouco da cobertura do bolo, e sem pensar, apontei.

— Sua boca... ainda está suja.

Giovanni passou a mão no rosto, mas a cobertura teimava em ficar ali. Não resisti. Com delicadeza, aproximei-me e, lentamente, passei o dedo pela lateral da boca dele, limpando o que restava.

O toque foi mais íntimo do que eu planejei, e quando percebi que meus dedos tocavam seus lábios, senti uma onda de calor subir por meu corpo. Nossos olhares se encontraram, e por um breve momento, fiquei presa naquele olhar intenso. Meu coração disparou, e rapidamente recuei, retirando a mão como se tivesse sido queimada.

— Desculpa... — sussurrei, desviando o olhar, sentindo minhas bochechas esquentarem.

Giovanni não disse nada de imediato, mas o silêncio entre nós era pesado, carregado de algo não dito. Aquele simples toque pareceu quebrar uma barreira invisível, mas ao mesmo tempo, ergueu outra. Eu não sabia o que esperar daquele momento.

Ele se levantou, pegou mais um pedaço do bolo, e com um meio sorriso, disse:

— Obrigado pelo bolo, Isabella. Boa noite.

E, sem mais uma palavra, ele saiu da cozinha, deixando-me sozinha com o som suave da noite que caía sobre a mansão.

Giovanni Romano

Carregando o pedaço de bolo na mão, caminhei até o quarto, sentindo o peso do toque de Isabella nos meus lábios ainda me acompanhar. A casa estava mergulhada no silêncio, mas minha mente parecia gritar, cada pensamento ecoando e se repetindo. Assim que entrei no quarto, fui direto para a varanda, na esperança de que o ar fresco da noite acalmasse o tumulto que sentia por dentro.

Sentei-me na poltrona de couro, ainda segurando o bolo. Coloquei o prato ao lado e me encostei, deixando meus olhos vagarem pelo horizonte escuro. O vento leve bagunçava meus cabelos, mas nada podia aliviar a sensação que percorria meu corpo desde o momento em que senti o toque dos dedos de Isabella nos meus lábios. Como algo tão simples pôde ter tanto impacto?

Sem me dar conta, levei os dedos até a boca, tocando o lugar exato onde ela havia passado os dela. O calor daquele breve toque ainda estava ali, como uma marca invisível, impossível de ignorar. Fechei os olhos por um segundo, tentando me concentrar, tentando afastar o que estava crescendo dentro de mim.

— Isso não pode acontecer — murmurei, balançando a cabeça em negação, mas a verdade era que já estava acontecendo.

Cada detalhe daquela noite parecia intensificar algo que eu não queria admitir. Isabella, com sua teimosia e coragem, havia atravessado barreiras que eu sempre mantive erguidas. Ela era uma funcionária, eu me repetia, mas no fundo, sabia que essa desculpa já não servia mais.

Olhei para o bolo. As mordidas que dei me transportaram para memórias antigas, da minha infância, quando eu ainda podia comer chocolate sem preocupação. O sabor da alfarroba era uma substituição distante, mas suficiente para trazer de volta sentimentos que eu já havia enterrado. Sentimentos que Isabella parecia trazer à tona, mesmo sem saber.

Levantei-me da cadeira, incapaz de ficar parado, e comecei a andar de um lado para o outro. O que mais me irritava era o fato de que eu não conseguia controlar isso. Eu sempre controlei tudo na minha vida, negócios, relacionamentos, a maneira como o mundo me via. Mas com Isabella, parecia que eu estava perdendo o controle, e essa sensação me deixava agitado.

Passei as mãos pelos cabelos, frustrado. "Ela é só a babá de Alessandro", tentei me convencer, mas cada vez que repetia isso, parecia mais vazio. Havia algo em Isabella que me desafiava, que me provocava, e por mais que eu quisesse lutar contra isso, sabia que era inútil. Ela havia se infiltrado nas minhas defesas, e eu não sabia como reverter isso.

A noite foi longa. Meus pensamentos giravam em círculos, sempre voltando para aquele momento na cozinha, para aquele toque inesperado. Não conseguia dormir. Cada vez que fechava os olhos, via o rosto dela, os olhos surpresos, o toque tímido, mas cheio de significado. Eu sabia que aquilo não era algo que poderia ser facilmente ignorado.

Finalmente, sentei-me na cama, esfregando o rosto com as mãos. Era inútil tentar dormir. Isabella estava em todos os meus pensamentos, e a tensão que sentia no meu corpo só aumentava.

Mas uma coisa era clara: isso não podia continuar. Eu não podia deixar que Isabella me afetasse dessa forma. Precisava manter a distância, precisava manter o controle. Mesmo que, no fundo, já soubesse que estava prestes a perder essa batalha.

Com um suspiro profundo, voltei à varanda e olhei para o céu. A noite estava calma, ao contrário de mim. Sorri amargamente, balançando a cabeça.

— Isso não pode acontecer... — repeti, mas já sabia que era tarde demais.

Continua...

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