Isabella MorettiO silêncio na sala era palpável, cortado apenas pelo som irregular da minha respiração. Ian não se mexia, os olhos dele eram fixos nos meus como se desafiasse minha determinação. Apertei o cabo da arma com mais força. Eu estava tão perto de perder o controle que quase deixava o dedo escorregar no gatilho.Mas antes que eu pudesse agir, uma porta ao fundo da sala se abriu, e Alessandro foi trazido por dois capangas. Ele parecia assustado, mas quando seus olhos se encontraram com os meus, senti uma onda de alívio percorrer meu corpo.— Mamãe! — gritou Alessandro, tentando se soltar das mãos dos homens.— Deixe-o ir — ordenei, minha voz firme, mesmo que por dentro eu estivesse à beira de um colapso.Ian ergueu a mão, sinalizando para os capangas soltarem Alessandro. Ele correu até mim, e eu o abracei com força, sentindo o pequeno corpo tremer contra o meu. Olhei para Giovanni, que estava a poucos metros de nós, ainda esperando o sinal. Mas eu sabia que a hora havia chega
Isabella MorettiEu assenti, respirando fundo. Saí do carro e caminhei em direção à porta, minhas mãos suadas de nervosismo. Toquei a campainha, e o som ecoou pela casa silenciosa. Após alguns segundos que pareceram uma eternidade, a porta se abriu.Uma mulher apareceu. Seus cabelos eram grisalhos, e seus olhos tinham uma tristeza profunda. Mas o que mais me chocou foi o quanto ela se parecia comigo.— Isabella? — sua voz era suave, como um sussurro.Meu coração parou. Era ela. Minha mãe. A mulher que eu nem sabia que existia de verdade.— Você... — minha voz falhou. Eu não sabia o que dizer.Ela deu um passo para trás, quase como se estivesse com medo de mim.— Eu... Eu sabia que esse dia chegaria — disse ela, suas mãos trêmulas. — Eu só não sabia como te encarar, depois de tudo.As lágrimas que eu segurava começaram a cair silenciosamente. Giovanni se aproximou, ficando ao meu lado, sua presença me dando a força que eu precisava.— Por quê? — finalmente perguntei. — Por que me deixo
Isabella Moretti RommanoHavia se passado meses desde o meu casamento, eu observava Giovanni ao lado de Alessandro, os dois brincando no jardim enquanto o sol dourado começava a se pôr. Era um momento simples, mas carregado de significado. Depois de tudo que eu havia enfrentado, as dores, os confrontos, as lutas contra meus próprios medos, ver Giovanni sorrindo para Alessandro, com uma paz genuína no olhar, me enchia de uma gratidão imensa.Aproximando-me deles, senti a brisa suave tocar meu rosto, como se o universo estivesse sussurrando que finalmente estávamos onde deveríamos estar. Giovanni olhou para mim e abriu um sorriso sereno, estendendo a mão para que eu me juntasse a eles. Eu me sentei ao lado deles, e Alessandro imediatamente correu para o meu colo, como sempre fazia, ele havia ralado o joelho e eu sempre dizia que ao se machucar, o amor que eu sentia por ele sempre curaria todos machucados dele.—Mamãe, acha que o amor pode mesmo curar tudo?– perguntou ele, com aquele
Giovanni Rommano A vida nunca foi fácil para mim, mas aprendi a lidar com os desafios cedo. Sou o mais velho e tenho três irmãos, todos moramos juntos e isso sempre veio com uma responsabilidade extra para mim. Dante, Matteo e Vittorio meus irmãos mais novos, sempre puderam contar comigo. E eu sempre pude contar com eles, especialmente depois que nossa mãe morreu. Ela era o coração da nossa família, o elo que nos mantinha unidos. Quando ela se foi, tudo mudou. Eu tive que assumir a posição de líder da família Romano. Dante administra o cassino da família e se envolve com os negócios mais arriscados. Vittorio é mais metódico, cuida das finanças e de várias empresas que acumulamos ao longo dos anos. Matteo é o mais detalhista e cuida de todas papeladas de estoque, compra e venda de todos nossos negócios.Cada um seguiu seu próprio caminho nos negócios, mas eu sempre fui o que mantinha todos na linha. Entre administrar empresas e lidar com negociações intermináveis, pensei que poderi
Giovanni Rommano Isabella abaixou a faca com um sorriso de canto de boca, entrando no carro e cruzando as pernas. Ela me olhou de cima a baixo, claramente calculando o tipo de homem que eu era.— Seu filho deve ser um verdadeiro pestinha, se você está tão desesperado — ela provocou, sem desviar o olhar.Soltei um suspiro, ainda um pouco tenso, mas aliviado por não ter mais a lâmina no meu pescoço.— Alessandro passou por muito. Ele perdeu a mãe no parto... E desde então, ele tem agido assim. Não é um mau garoto. Ele só precisa de alguém firme. Alguém que consiga lidar com ele sem fugir no terceiro dia — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava. Lembrar de Valey e de como tudo desmoronou após sua morte sempre me atingia como um soco no estômago.Ela ficou em silêncio por um momento, e seus olhos suavizaram. Talvez houvesse algo de humano ali, por trás da fachada dura. Mas Isabella logo voltou ao seu jeito impassível e prático.— Isso não é algo fácil de lidar Mas... — Ela sorriu
Isabella MorettiEu entreguei o prato com o pedaço de bolo ao Giovanni, e ele o aceitou com um breve aceno de cabeça. No entanto, ao contrário dos outros, ele não deu uma única mordida. Sua expressão estava neutra, mas algo em seus olhos me dizia que ele estava, no mínimo, desconfiado.— O que foi? — perguntei, arqueando uma sobrancelha. — Acha que envenenei o bolo?Giovanni ergueu os olhos para mim, seus lábios curvando-se em um meio sorriso, mas ele continuou sem tocar no bolo. Matteo, que estava sentado do outro lado da mesa, soltou uma risada baixa, quebrando o silêncio.— Na verdade, Isabella — Matteo disse, ainda com aquele sorriso divertido no rosto —, meu irmão não pode comer chocolate. Para ele, é como veneno, literalmente. Ele tem alergia.Olhei para o bolo em mãos, sentindo o calor subir às minhas bochechas. Então, sem hesitar, levei o garfo à boca e provei um pedaço.— Bom, então eu vou ter que comer — declarei, com um sorriso atrevido. — Esse bolo está tão delicioso quant
Isabella MorettiAlessandro terminou o dever de casa e, com os olhos brilhando de entusiasmo, virou-se para mim:— Você quer conhecer a mansão toda, Isabella?Sorri, incapaz de resistir ao convite. Eu estava curiosa, afinal.— Claro, por que não? — respondi, rindo. Ele parecia tão animado que era impossível recusar.Caminhamos por todos os cômodos, explorando cada detalhe. O Alessandro conhecia o lugar como a palma da mão, e sua alegria ao me mostrar tudo me fazia esquecer por um tempo onde eu estava. Passamos pelos quartos dos tios dele, que, claro, ele fez questão de me mostrar, rindo e contando histórias sobre cada um deles. Mas foi quando chegamos ao quarto do Giovanni que as coisas saíram de controle.— Esse é o quarto do meu pai — Alessandro disse, abrindo a porta devagar, como se estivesse revelando um segredo.Era um espaço impecável, organizado, e, para ser honesta, a cara do Giovanni: sério, imponente, cheio de objetos luxuosos. Eu estava distraída, olhando em volta, quando
Giovanni Rommano Eu olhei para Alessandro, ainda ajoelhado, com o rosto manchado pelas lágrimas. Respirei fundo, tentando controlar a raiva que ainda queimava dentro de mim, mas não era com ele que eu estava irritado.— Levante-se, Alessandro — falei, minha voz mais suave desta vez. — Me desculpe... Eu fui arrogante.Ele me abraçou imediatamente, apertando meu corpo com força, como se estivesse com medo de que eu o afastasse. Eu o segurei também, o cheiro do perfume infantil misturado ao meu fez algo dentro de mim, para me acalmar. Ele implorou de novo, desta vez mais baixo, quase num sussurro:— Por favor, papai, não demita a Isabella.Levantei o olhar para ela, ainda parada ao lado da porta. Os olhos de Isabella me encaravam com uma firmeza inesperada, sem qualquer sinal de arrependimento pelo tapa que tinha me dado.Antes que eu pudesse falar, ela tomou a iniciativa:— Peço desculpas por ter dado o tapa, Giovanni, mas não me arrependo. Não vou permitir que você, nem ninguém, seja