Isabella Moretti
Eu entreguei o prato com o pedaço de bolo ao Giovanni, e ele o aceitou com um breve aceno de cabeça. No entanto, ao contrário dos outros, ele não deu uma única mordida. Sua expressão estava neutra, mas algo em seus olhos me dizia que ele estava, no mínimo, desconfiado. — O que foi? — perguntei, arqueando uma sobrancelha. — Acha que envenenei o bolo? Giovanni ergueu os olhos para mim, seus lábios curvando-se em um meio sorriso, mas ele continuou sem tocar no bolo. Matteo, que estava sentado do outro lado da mesa, soltou uma risada baixa, quebrando o silêncio. — Na verdade, Isabella — Matteo disse, ainda com aquele sorriso divertido no rosto —, meu irmão não pode comer chocolate. Para ele, é como veneno, literalmente. Ele tem alergia. Olhei para o bolo em mãos, sentindo o calor subir às minhas bochechas. Então, sem hesitar, levei o garfo à boca e provei um pedaço. — Bom, então eu vou ter que comer — declarei, com um sorriso atrevido. — Esse bolo está tão delicioso quanto os irmãos Romano, senhor Giovanni. —Se quiser eu deixo você provar também de mim— disse Matteo com um sorriso que me deixou sem graça. Giovanni me lançou um olhar sério, mas havia algo mais ali, um brilho de desafio em seus olhos que parecia crescer com cada palavra que eu dizia. Antes que eu pudesse entender, ele me pegou pelo braço, com firmeza, mas sem machucar, e me puxou para fora da sala. — Com licença, pessoal — ele disse calmamente, mas com autoridade, enquanto me levava em direção ao escritório. As portas se fecharam atrás de nós com um clique quase audível. Giovanni se afastou, soltando meu braço e caminhando até sua mesa, como se estivesse organizando os pensamentos antes de falar. — Há algo que não contei — ele começou, sem se virar para me encarar diretamente. — Agora que você conheceu meus irmãos, quero deixar algo claro: está proibida de se envolver com qualquer um deles. Eu respirei fundo, contendo a vontade de rir da audácia dele. Proibida? Era assim que ele pensava que as coisas funcionavam? — Senhor Giovanni — comecei com calma, mas o sarcasmo era inegável. — Como diz minha rainha das palavras, Jane Austen: "Não é aquilo que dizemos ou pensamos que nos define, mas o que fazemos." E você, com todo o respeito, não vai me dizer o que fazer ou não, ou com quem posso me envolver. Se um dos seus irmãos me deixar apaixonada a ponto de me envolver, eu não irei abrir mão disso por causa de um pedido seu sem pé nem cabeça. Ele se virou, e dessa vez, havia um sorriso brincando nos cantos de seus lábios. Era o tipo de sorriso que não alcançava os olhos, como se ele estivesse se divertindo com a minha resposta, mas ainda assim querendo manter o controle da situação. — Você não me parece ser o tipo de mulher que se apaixona facilmente — ele comentou, o tom desafiador. — E você não me parece ser o tipo de patrão que quer saber dos gostos pessoais da sua empregada — retruquei, cruzando os braços e encarando-o de volta. — Então, se me der licença, preciso voltar para a cozinha. Está bem quente por lá, como o sol do verão do Brasil. Giovanni riu, um som baixo e rouco, mas havia algo calculado em seu riso. Ele deu um passo à frente, me encarando como se estivesse prestes a dizer algo mais, mas apenas balançou a cabeça. — Não se esqueça do que lhe disse — ele falou, a voz firme. Eu sorri, mantendo meu tom desafiador, e respondi enquanto já me virava para sair: — Estou aqui para ser babá do seu filho, Giovanni. Quanto à minha vida pessoal, você não tem nada a ver com isso. Saí do escritório, o coração ainda batendo acelerado, mas com a sensação clara de que a batalha entre Giovanni e eu estava apenas começando. Giovanni Romano Sentei-me na cadeira do meu escritório e, por um momento, não pude evitar rir sozinho. A audácia da nova babá do meu filho me divertia mais do que eu gostaria de admitir. Isabella tinha uma presença que não podia ser ignorada, e a maneira como me desafiava, citando Jane Austen, só tornava tudo mais intrigante. Ainda rindo, tentei voltar ao trabalho, mas a imagem dela continuava me assombrando. Era irritante e, ao mesmo tempo, fascinante. Estava prestes a me concentrar novamente quando ouvi batidas na porta. — Entre — respondi, tentando retomar a compostura. Dante entrou no escritório, com a expressão de quem tinha algo em mente. — Giovanni, o que diabos aquela funcionária do cassino está fazendo aqui? — ele perguntou direto, sentando-se à minha frente sem esperar convite. Suspirei e me recostei na cadeira. — Isabella é a nova babá do Alessandro. Quando a vi ontem, imaginei que seria a mais viável para o meu filho — expliquei. Dante franziu a testa, me analisando com uma curiosidade que eu conhecia muito bem. — Só isso? Você pensou nela apenas para ser a babá do Alessandro? — perguntou, com aquele tom insinuante que ele usava quando achava que algo estava fora do lugar. Eu o encarei por um momento, sem entender muito bem onde ele queria chegar. — Por que essa pergunta, Dante? O que você está sugerindo? Ele suspirou e balançou a cabeça, como se estivesse tentando me ensinar algo. — Giovanni, eu já estava tentando há quase seis meses chamar a Bella para sair comigo — ele disse, os olhos se estreitando ligeiramente. — Desde o primeiro dia em que ela entrou no cassino procurando emprego, eu me senti atraído por ela. E como te conheço como ninguém, quero deixar claro que desejo chamá-la para sair. A expressão de Dante era séria, mas aquilo me pegou de surpresa. Ele teve seis meses e não fez nada? E agora, com ela tão perto do meu filho, ele queria cruzar essa linha? — Você teve seis meses para convidá-la e não a chamou — retruquei, mantendo a calma. — Agora você não pode. Ela é a babá do Alessandro, e pela primeira vez, vi meu filho feliz com alguém que ele mal conhece há 24 horas. Não estrague isso. E se não a chamou antes, não a chame agora. Dante suspirou, derrotado, mas eu sabia que ele entendia. Ele saiu do escritório sem dizer mais nada, mas eu me sentia inquieto. Peguei um copo de whisky e o preparei, tentando me acalmar. Talvez eu tivesse sido arrogante com meu irmão, afinal. Ele sempre foi mais impulsivo do que eu, e talvez eu devesse ter abordado isso de uma maneira diferente. Com o copo na mão, decidi ir até ele, mas, ao sair do escritório, ouvi Dante rindo com Vittorio. Me aproximei sem que eles me vissem, e então ouvi o que diziam. — Giovanni já está apaixonado pela Isabella — Dante riu, e Vittorio concordou, ecoando a risada. Senti uma mistura de irritação e divertimento. Eles realmente achavam que eu estava apaixonado por Isabella? Saí dali antes que me vissem, rindo internamente de como os dois perdiam tempo com essas bobagens. Caminhei até a sala e vi Isabella com Alessandro, ajudando-o com o dever de casa. Ela estava concentrada, e Alessandro parecia à vontade demais, o que, confesso, me pegou de surpresa. Meu filho raramente se abria com facilidade para alguém. Pigarreei para chamar a atenção deles. — Eu já estou saindo para o trabalho — disse, enquanto me preparava para ir em direção à porta. — Vittorio e Matteo, vocês me acompanham? Eles assentiram e caminharam até a porta comigo, mas Dante permaneceu sentado ao lado de Isabella, claramente confortável. Foi então que, antes de sair, decidi jogar uma última provocação. — Isabella — comecei, olhando diretamente para ela —, o Dante gosta de você. Então, em breve, esteja pronta para quando ele te convidar para jantar com ele. Para minha surpresa, Isabella soltou um sorriso, olhando diretamente para Dante. — Você é lindo, Dante, e fico agradecida por gostar de mim, mas prefiro os mais novinhos — ela disse, sem hesitar. — E, além disso, o Matteo faz mais o meu tipo. Olhei para ela, incrédulo. O que ela tinha acabado de dizer? Matteo? Ela já tinha até um "tipo" e era o Matteo, o mais novo dos meus irmãos? Sai, ainda processando aquilo, e entrei no carro. Durante o trajeto, não consegui evitar comentar com Vittorio sobre o que Isabella tinha dito. — A audácia dessa mulher... — murmurei, ainda rindo. Vittorio, sempre sagaz, apenas me olhou de lado e respondeu: — Se eu não te conhecesse tão bem, Giovanni, diria que você ficou com inveja do Matteo por ser o "tipo" da Isabella e você não. Fiquei em silêncio por um momento, mas logo soltei uma risada baixa. Vittorio podia estar brincando, mas ele não sabia o quanto aquelas palavras tinham mexido comigo. continua...Isabella MorettiAlessandro terminou o dever de casa e, com os olhos brilhando de entusiasmo, virou-se para mim:— Você quer conhecer a mansão toda, Isabella?Sorri, incapaz de resistir ao convite. Eu estava curiosa, afinal.— Claro, por que não? — respondi, rindo. Ele parecia tão animado que era impossível recusar.Caminhamos por todos os cômodos, explorando cada detalhe. O Alessandro conhecia o lugar como a palma da mão, e sua alegria ao me mostrar tudo me fazia esquecer por um tempo onde eu estava. Passamos pelos quartos dos tios dele, que, claro, ele fez questão de me mostrar, rindo e contando histórias sobre cada um deles. Mas foi quando chegamos ao quarto do Giovanni que as coisas saíram de controle.— Esse é o quarto do meu pai — Alessandro disse, abrindo a porta devagar, como se estivesse revelando um segredo.Era um espaço impecável, organizado, e, para ser honesta, a cara do Giovanni: sério, imponente, cheio de objetos luxuosos. Eu estava distraída, olhando em volta, quando
Giovanni Rommano Eu olhei para Alessandro, ainda ajoelhado, com o rosto manchado pelas lágrimas. Respirei fundo, tentando controlar a raiva que ainda queimava dentro de mim, mas não era com ele que eu estava irritado.— Levante-se, Alessandro — falei, minha voz mais suave desta vez. — Me desculpe... Eu fui arrogante.Ele me abraçou imediatamente, apertando meu corpo com força, como se estivesse com medo de que eu o afastasse. Eu o segurei também, o cheiro do perfume infantil misturado ao meu fez algo dentro de mim, para me acalmar. Ele implorou de novo, desta vez mais baixo, quase num sussurro:— Por favor, papai, não demita a Isabella.Levantei o olhar para ela, ainda parada ao lado da porta. Os olhos de Isabella me encaravam com uma firmeza inesperada, sem qualquer sinal de arrependimento pelo tapa que tinha me dado.Antes que eu pudesse falar, ela tomou a iniciativa:— Peço desculpas por ter dado o tapa, Giovanni, mas não me arrependo. Não vou permitir que você, nem ninguém, seja
Isabella Moretti Assim que chegamos na mansão, Alessandro subiu para tomar banho, e eu também fui ao meu quarto para me refrescar. Após um banho rápido, desci para a cozinha, onde a senhora Luci ainda estava terminando de preparar o jantar. O aroma delicioso preenchia o ambiente, mas meu pensamento estava longe. Algo me incomodava, a culpa ainda pesava sobre mim pelo tapa que dei em Giovanni. Decidi que precisava fazer algo para me redimir. Os irmãos Romano estavam sentados a mesa e todos jantaram em silêncio, pareciam estar mantendo distância de mim e foi então que minha ficha caiu que eu não deveria ter dado o tapa no Giovanni. Todos após o jantar subiram para seus quartos, o clima da mansão estava tenso, o Alessandro me desejou boa noite e após deixar ele no quarto dele dormindo, decidi fazer algo. "Devo me desculpar", pensei, enquanto chegava na cozinha.Um pedido de desculpas simples não parecia suficiente, então resolvi preparar algo especial. Um gesto que demonstrasse minha s
Isabella Moretti Giovanni me seguiu até a sala e, com a expressão mais calma, veio falar comigo. — Isabella, amanhã preciso que você acompanhe Alessandro a um aniversário de uma colega da escola. O motorista vai levá-los, mas eu não vou poder estar presente. Vou viajar no sábado e não chegarei a tempo para a festa. Espero que não se importe. — Não tem problema, Giovanni — respondi, sem hesitar. — Eu me sinto bem com o Alessandro, e não estava planejando tirar folga mesmo. Giovanni então puxou algo do bolso e me entregou um cartão platinado. — Pode comprar o presente da aniversariante e roupas, sapatos, o que precisar para você também. Quero que gaste o máximo que puder. Quero que se sinta à vontade para comprar o que precisar. Eu o olhei confusa, sem saber se era uma brincadeira ou uma ordem. — O que há de errado com as minhas roupas? — perguntei, um sorriso leve no rosto. — Nada. Eu só quero que você tenha o suficiente para preencher o closet do seu quarto ao ponto de não ha
Isabella Moretti Passei a noite inquieta, revirando-me na cama, tentando esquecer o que havia acontecido, mas o beijo continuava voltando à minha mente. Eu precisava de espaço, precisava pensar. No dia seguinte, o sol invadia meu quarto e me lembrava que eu tinha um compromisso com Alessandro. A festa da amiga dele, Giovana, seria na piscina, e eu precisava focar nisso, não em Giovanni. Tomei um banho longo, vestindo algo leve e apropriado para a ocasião, e desci para encontrar Alessandro. Ele estava animado, mal conseguia conter a alegria de ver a amiga. Quando chegamos à festa, as crianças corriam pela área da piscina, e a música suave tocava ao fundo. Alessandro correu até Giovana com o presente em mãos, e eu sorri ao ver a felicidade no rosto dele. Estava tentando me distrair quando alguém se aproximou de mim. — Isabella? — uma voz familiar me chamou. Virei-me e fiquei boquiaberta. Meu coração acelerou ao ver o homem parado à minha frente. — Alberto? — exclamei, sem ac
Giovanni Rommano Havia algo no seu olhar, uma hesitação, uma expectativa. E então, percebi. Isabella estava esperando por alguém. Minhas suspeitas se confirmaram quando um carro de luxo esportivo parou em frente à mansão. Senti um aperto no peito, algo que eu não queria reconhecer, mas que era impossível ignorar. Ela iria sair, e não era comigo. — Pode deixar o carro entrar, Isabella — pedi, tentando manter o tom casual, apesar do nó na garganta. Ela parecia constrangida, o que só aumentava minha curiosidade e... ciúmes. Logo, o motorista saiu do carro. Um homem mais novo, com um sorriso confiante. Algo dentro de mim se partiu naquele instante. Eu já sabia que aquela noite não seria fácil. — Este é Alberto — disse ela, me apresentando. Minha mente girava em círculos. Um homem mais jovem, mais confiante, talvez uns três anos mais novo que eu. A sensação de estar perdendo algo — ou alguém — era quase insuportável. — De onde vocês se conhecem? — perguntei, tentando disfarçar o tom
Isabella Moretti Enquanto eu ajustava o vestido e saía pela porta, uma sensação estranha me percorreu. Algo não estava certo. Quando o carro de Alberto parou em frente à mansão, eu já sentia a presença de Giovanni, mesmo que ele ainda estivesse longe de ser visto. O olhar atento dele sempre me seguia, fosse no trabalho, fosse em momentos como aquele. — Boa noite! — murmurei, tentando esconder o constrangimento. Sabia que Giovanni estava lá fora, no jardim, observando. Era óbvio. Quando entrei no carro com Alberto, uma rápida olhada pelo espelho retrovisor confirmou minhas suspeitas: Giovanni nos seguia. — Você está bem? — Alberto perguntou, com a testa franzida, enquanto acelerava pelas ruas tranquilas. — Sim, só... — hesitei. — Giovanni está nos seguindo. Alberto soltou uma risada leve, mas seus olhos não escondiam a preocupação. — Algo está acontecendo entre vocês? Suspirei, sabendo que não havia como esconder nada de Alberto. Ele me conhecia melhor do que qualquer outra pesso
Isabella MorettiEle então sai em direção a porta emeu celular tocou, Giovanni, observando de perto, soltou uma provocação:— Não vai atender? Deve ser seu namorado.— É só uma mensagem — respondi, sentindo uma leve irritação. Antes que eu pudesse me afastar, ele segurou meu braço, o toque firme, mas ao mesmo tempo delicado.— Eu não tenho namorado, nem quero ter um. O Alberto é meu melhor amigo desde a infância — disse, tentando deixar claro, mas a tensão no ar estava crescendo.Ele arqueou uma sobrancelha, o olhar penetrante.— Entendo. Já notei que você tem o costume de beijar amigos.A provocação nas palavras dele me fez sentir um frio na barriga. O desejo que eu tentava esconder ardia sob a superfície. Ele estava tão perto, o calor do corpo dele quase me envolvendo. A luta interna se tornava insuportável.— E se eu disser que não quero ser apenas um amigo seu? — a sua voz era baixa, quase um sussurro.Senti meu coração acelerar. Cada palavra dele me atraía mais para um abismo qu