Capitulo 4

Isabella Moretti

Alessandro terminou o dever de casa e, com os olhos brilhando de entusiasmo, virou-se para mim:

— Você quer conhecer a mansão toda, Isabella?

Sorri, incapaz de resistir ao convite. Eu estava curiosa, afinal.

— Claro, por que não? — respondi, rindo. Ele parecia tão animado que era impossível recusar.

Caminhamos por todos os cômodos, explorando cada detalhe. O Alessandro conhecia o lugar como a palma da mão, e sua alegria ao me mostrar tudo me fazia esquecer por um tempo onde eu estava. Passamos pelos quartos dos tios dele, que, claro, ele fez questão de me mostrar, rindo e contando histórias sobre cada um deles. Mas foi quando chegamos ao quarto do Giovanni que as coisas saíram de controle.

— Esse é o quarto do meu pai — Alessandro disse, abrindo a porta devagar, como se estivesse revelando um segredo.

Era um espaço impecável, organizado, e, para ser honesta, a cara do Giovanni: sério, imponente, cheio de objetos luxuosos. Eu estava distraída, olhando em volta, quando ouvi o som de vidro quebrando.

Alessandro tinha derrubado dois perfumes e um dos relógios de Giovanni, espalhando cacos de vidro por todo o chão.

— Alessandro! — exclamei, correndo até ele.

O levantei do chão imediatamente, segurando-o nos braços.

— Você está bem? — perguntei, o medo tomando conta de mim ao pensar que ele poderia ter se machucado.

Ele olhou para mim com os olhos cheios de preocupação.

— Meu pai vai ficar furioso — sussurrou, a voz tremendo um pouco.

Segurei seu rosto entre as mãos, tentando tranquilizá-lo.

— Não se preocupe, eu vou cuidar disso, ok? — disse, tentando soar o mais calma possível.

Levei-o rapidamente para o quarto dele e pedi que ficasse lá brincando por um tempo.

— Deixa comigo. Vou arrumar tudo — prometi, fechando a porta atrás de mim enquanto ele assentia, ainda nervoso.

Voltei ao quarto de Giovanni e, com pressa, comecei a limpar os cacos de vidro. Meu coração batia rápido, não por medo do que Giovanni diria, mas por Alessandro. Não queria que ele se sentisse culpado por um acidente tão pequeno. Comecei a recolher os pedaços de vidro, mas, no processo, um deles me cortou na mão.

Senti a dor aguda e olhei para o corte, vendo o sangue escorrer lentamente. Foi nesse momento que minha mente viajou, me levando de volta à minha infância. Lembranças de um passado que eu preferia esquecer começaram a inundar meus pensamentos.

Eu me vi novamente, pequena e indefesa, com o meu pai bêbado. Ele sempre ficava violento depois de beber, e eu tinha cicatrizes, tanto físicas quanto emocionais, para provar isso. Lembro de uma vez em que ele me feriu com um objeto de vidro, semelhante ao que agora segurava em minhas mãos. Naquela época, eu suportava tudo em silêncio, até o dia em que fugi, correndo por quilômetros, desesperada para escapar daquela casa, daquele homem.

Fechei os olhos, sentindo o peso daquela lembrança me sufocar, e por um momento, esqueci onde estava. Esqueci que havia escapado daquele pesadelo. Foi apenas quando ouvi uma voz me chamando que voltei à realidade.

— Isabella...

Abri os olhos, ainda atordoada, e olhei na direção da voz. Giovanni estava ali, parado à minha frente, com uma expressão que eu não esperava ver. Preocupação.

Ele se agachou ao meu lado, estendendo a mão para mim.

— Está tudo bem? — ele perguntou, a voz baixa e cuidadosa.

Assustada, me levantei de repente, tropeçando nas minhas próprias emoções, mas Giovanni foi rápido e segurou minha mão com firmeza, sem machucar.

Com delicadeza, ele retirou um pedaço de vidro que ainda estava preso na minha mão.

— Você está machucada — disse ele, mais para si mesmo do que para mim.

— Me desculpe… — sussurrei, tentando me recompor. — Eu vou pagar pelos perfumes e pelo relógio. Não devia ter deixado isso acontecer.

Giovanni balançou a cabeça, descartando minha preocupação.

— Isso não importa — disse ele, sua voz séria, mas suave. — Mas você não precisa limpar isso. Não é seu trabalho.

Olhei para ele, surpresa. O tom autoritário de sempre estava ali, mas havia algo a mais. Algo que fez meu coração disparar. Seu olhar estava fixo no meu, e a preocupação em seus olhos era palpável.

— Eu só… tentei dar um jeito— murmurei, tentando quebrar o silêncio que parecia sufocar o ambiente.

Giovanni assentiu, ainda segurando minha mão, o toque dele firme, mas gentil. E por algum motivo, naquele momento, o que mais me perturbou não foi a lembrança do meu passado, mas o fato de meu coração estar batendo mais rápido por causa dele.

Giovanni Romano

Eu a observei em silêncio por alguns segundos, absorvendo o que tinha acabado de presenciar. Isabella estava ali, com o olhar distante, como se lutasse contra fantasmas que eu não podia ver. O sangue escorrendo da mão dela me chamou de volta à realidade.

— Isabella... — chamei, minha voz mais baixa do que o normal, enquanto me agachava ao seu lado.

Ela sobressaltou-se, levantando-se de repente, como se estivesse tentando fugir de algo que não fosse só o vidro espalhado pelo chão. Segurei sua mão antes que ela fizesse algo pior, antes que fugisse de novo. Havia algo nela que eu não entendia, mas não conseguia ignorar.

— Está tudo bem? — perguntei, retirando o pedaço de vidro da sua mão com cuidado.

Ela balbuciou algo, se desculpando, oferecendo-se para pagar pelos perfumes e o relógio. Não pude deixar de rir um pouco por dentro. Como se o dinheiro fosse o problema.

— Não importa — eu disse, mantendo minha voz controlada. — Não é seu trabalho limpar isso.

Mas então percebi algo. O que ela estava fazendo aqui? No meu quarto? Curiosidade ou…?

— Isabella, o que você fazia aqui? — perguntei, mantendo o olhar fixo no dela. — Precisava de algo ou... estava curiosa?

Ela ficou um pouco mais tensa, seu olhar desviando por um segundo, mas não teve tempo de responder. Matteo apareceu na porta com seu típico sorriso provocador.

— Estou atrapalhando algo? — ele perguntou, claramente se divertindo com a situação.

Isabella rapidamente saiu do quarto, talvez aliviada pela interrupção, deixando-me sozinho com meu irmão.

— Sabe, Giovanni, estou começando a achar que você está sentindo algo pela babá. — Matteo lançou a frase como se estivesse comentando sobre o tempo, mas eu sabia onde ele queria chegar.

— Está delirando, Matteo — rebati, sem sequer me dar ao trabalho de encará-lo.

— Delirando? Acho que o delírio não vem de mim. — Ele sorriu, aquele sorriso irritante, antes de completar: — Melhor tomar cuidado, mano.

Minha paciência esgotou-se de repente.

— Quem deve tomar cuidado é você, Matteo — falei, mais irritado do que pretendia. — Isabella não é mulher fácil de lidar.

— Eu estava falando do vidro no chão, Giovanni, não da babá. — Ele riu, e dessa vez eu quis socá-lo.

Peguei os documentos que tinha deixado na cama, o coração acelerado, e saí do quarto.

Fui direto para o quarto do Alessandro, onde o encontrei conversando com Isabella.

— Eu sinto muito por ter quebrado os perfumes e o relógio do papai — ele dizia, a voz carregada de arrependimento.

Senti o sangue ferver de novo, mas dessa vez não pelo vidro.

— Já está na hora de parar com isso, Alessandro. A Isabella não vai se demitir só porque você quer!—Falei irritado com todas provocações que o Alessandro já havia feito com inúmeras babás no último mês.

Antes que eu pudesse reagir, Isabella me deu um tapa no rosto. O quarto ficou em silêncio. Até o meu filho ficou com um olhar perplexo com a atitude de Isabella.

— Não seja arrogante com seu próprio filho, Giovanni — ela disse, os olhos fixos nos meus. — Alessandro não quebrou nada para me prejudicar ou fazer com que eu desistisse. Foi um acidente.

Fiquei sem palavras por um segundo. Meu sangue fervia, não só pelo tapa, mas por ela ter ousado me enfrentar... na frente do meu filho.

— Está demitida! — gritei, a raiva escorrendo pelas palavras.

Isabella me olhou surpresa, mas foi Alessandro quem caiu de joelhos diante de mim.

— Por favor, papai, não demita a Isa! Eu prometo me comportar. Vou tirar as melhores notas, vou fazer tudo que você quiser, só… por favor, não a demita.

Olhei para ele, confuso, minha raiva oscilando. Mas a súplica de meu filho me atingiu de uma maneira que eu não esperava.

continua...

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