Isabella Moretti
Alessandro terminou o dever de casa e, com os olhos brilhando de entusiasmo, virou-se para mim: — Você quer conhecer a mansão toda, Isabella? Sorri, incapaz de resistir ao convite. Eu estava curiosa, afinal. — Claro, por que não? — respondi, rindo. Ele parecia tão animado que era impossível recusar. Caminhamos por todos os cômodos, explorando cada detalhe. O Alessandro conhecia o lugar como a palma da mão, e sua alegria ao me mostrar tudo me fazia esquecer por um tempo onde eu estava. Passamos pelos quartos dos tios dele, que, claro, ele fez questão de me mostrar, rindo e contando histórias sobre cada um deles. Mas foi quando chegamos ao quarto do Giovanni que as coisas saíram de controle. — Esse é o quarto do meu pai — Alessandro disse, abrindo a porta devagar, como se estivesse revelando um segredo. Era um espaço impecável, organizado, e, para ser honesta, a cara do Giovanni: sério, imponente, cheio de objetos luxuosos. Eu estava distraída, olhando em volta, quando ouvi o som de vidro quebrando. Alessandro tinha derrubado dois perfumes e um dos relógios de Giovanni, espalhando cacos de vidro por todo o chão. — Alessandro! — exclamei, correndo até ele. O levantei do chão imediatamente, segurando-o nos braços. — Você está bem? — perguntei, o medo tomando conta de mim ao pensar que ele poderia ter se machucado. Ele olhou para mim com os olhos cheios de preocupação. — Meu pai vai ficar furioso — sussurrou, a voz tremendo um pouco. Segurei seu rosto entre as mãos, tentando tranquilizá-lo. — Não se preocupe, eu vou cuidar disso, ok? — disse, tentando soar o mais calma possível. Levei-o rapidamente para o quarto dele e pedi que ficasse lá brincando por um tempo. — Deixa comigo. Vou arrumar tudo — prometi, fechando a porta atrás de mim enquanto ele assentia, ainda nervoso. Voltei ao quarto de Giovanni e, com pressa, comecei a limpar os cacos de vidro. Meu coração batia rápido, não por medo do que Giovanni diria, mas por Alessandro. Não queria que ele se sentisse culpado por um acidente tão pequeno. Comecei a recolher os pedaços de vidro, mas, no processo, um deles me cortou na mão. Senti a dor aguda e olhei para o corte, vendo o sangue escorrer lentamente. Foi nesse momento que minha mente viajou, me levando de volta à minha infância. Lembranças de um passado que eu preferia esquecer começaram a inundar meus pensamentos. Eu me vi novamente, pequena e indefesa, com o meu pai bêbado. Ele sempre ficava violento depois de beber, e eu tinha cicatrizes, tanto físicas quanto emocionais, para provar isso. Lembro de uma vez em que ele me feriu com um objeto de vidro, semelhante ao que agora segurava em minhas mãos. Naquela época, eu suportava tudo em silêncio, até o dia em que fugi, correndo por quilômetros, desesperada para escapar daquela casa, daquele homem. Fechei os olhos, sentindo o peso daquela lembrança me sufocar, e por um momento, esqueci onde estava. Esqueci que havia escapado daquele pesadelo. Foi apenas quando ouvi uma voz me chamando que voltei à realidade. — Isabella... Abri os olhos, ainda atordoada, e olhei na direção da voz. Giovanni estava ali, parado à minha frente, com uma expressão que eu não esperava ver. Preocupação. Ele se agachou ao meu lado, estendendo a mão para mim. — Está tudo bem? — ele perguntou, a voz baixa e cuidadosa. Assustada, me levantei de repente, tropeçando nas minhas próprias emoções, mas Giovanni foi rápido e segurou minha mão com firmeza, sem machucar. Com delicadeza, ele retirou um pedaço de vidro que ainda estava preso na minha mão. — Você está machucada — disse ele, mais para si mesmo do que para mim. — Me desculpe… — sussurrei, tentando me recompor. — Eu vou pagar pelos perfumes e pelo relógio. Não devia ter deixado isso acontecer. Giovanni balançou a cabeça, descartando minha preocupação. — Isso não importa — disse ele, sua voz séria, mas suave. — Mas você não precisa limpar isso. Não é seu trabalho. Olhei para ele, surpresa. O tom autoritário de sempre estava ali, mas havia algo a mais. Algo que fez meu coração disparar. Seu olhar estava fixo no meu, e a preocupação em seus olhos era palpável. — Eu só… tentei dar um jeito— murmurei, tentando quebrar o silêncio que parecia sufocar o ambiente. Giovanni assentiu, ainda segurando minha mão, o toque dele firme, mas gentil. E por algum motivo, naquele momento, o que mais me perturbou não foi a lembrança do meu passado, mas o fato de meu coração estar batendo mais rápido por causa dele. Giovanni Romano Eu a observei em silêncio por alguns segundos, absorvendo o que tinha acabado de presenciar. Isabella estava ali, com o olhar distante, como se lutasse contra fantasmas que eu não podia ver. O sangue escorrendo da mão dela me chamou de volta à realidade. — Isabella... — chamei, minha voz mais baixa do que o normal, enquanto me agachava ao seu lado. Ela sobressaltou-se, levantando-se de repente, como se estivesse tentando fugir de algo que não fosse só o vidro espalhado pelo chão. Segurei sua mão antes que ela fizesse algo pior, antes que fugisse de novo. Havia algo nela que eu não entendia, mas não conseguia ignorar. — Está tudo bem? — perguntei, retirando o pedaço de vidro da sua mão com cuidado. Ela balbuciou algo, se desculpando, oferecendo-se para pagar pelos perfumes e o relógio. Não pude deixar de rir um pouco por dentro. Como se o dinheiro fosse o problema. — Não importa — eu disse, mantendo minha voz controlada. — Não é seu trabalho limpar isso. Mas então percebi algo. O que ela estava fazendo aqui? No meu quarto? Curiosidade ou…? — Isabella, o que você fazia aqui? — perguntei, mantendo o olhar fixo no dela. — Precisava de algo ou... estava curiosa? Ela ficou um pouco mais tensa, seu olhar desviando por um segundo, mas não teve tempo de responder. Matteo apareceu na porta com seu típico sorriso provocador. — Estou atrapalhando algo? — ele perguntou, claramente se divertindo com a situação. Isabella rapidamente saiu do quarto, talvez aliviada pela interrupção, deixando-me sozinho com meu irmão. — Sabe, Giovanni, estou começando a achar que você está sentindo algo pela babá. — Matteo lançou a frase como se estivesse comentando sobre o tempo, mas eu sabia onde ele queria chegar. — Está delirando, Matteo — rebati, sem sequer me dar ao trabalho de encará-lo. — Delirando? Acho que o delírio não vem de mim. — Ele sorriu, aquele sorriso irritante, antes de completar: — Melhor tomar cuidado, mano. Minha paciência esgotou-se de repente. — Quem deve tomar cuidado é você, Matteo — falei, mais irritado do que pretendia. — Isabella não é mulher fácil de lidar. — Eu estava falando do vidro no chão, Giovanni, não da babá. — Ele riu, e dessa vez eu quis socá-lo. Peguei os documentos que tinha deixado na cama, o coração acelerado, e saí do quarto. Fui direto para o quarto do Alessandro, onde o encontrei conversando com Isabella. — Eu sinto muito por ter quebrado os perfumes e o relógio do papai — ele dizia, a voz carregada de arrependimento. Senti o sangue ferver de novo, mas dessa vez não pelo vidro. — Já está na hora de parar com isso, Alessandro. A Isabella não vai se demitir só porque você quer!—Falei irritado com todas provocações que o Alessandro já havia feito com inúmeras babás no último mês. Antes que eu pudesse reagir, Isabella me deu um tapa no rosto. O quarto ficou em silêncio. Até o meu filho ficou com um olhar perplexo com a atitude de Isabella. — Não seja arrogante com seu próprio filho, Giovanni — ela disse, os olhos fixos nos meus. — Alessandro não quebrou nada para me prejudicar ou fazer com que eu desistisse. Foi um acidente. Fiquei sem palavras por um segundo. Meu sangue fervia, não só pelo tapa, mas por ela ter ousado me enfrentar... na frente do meu filho. — Está demitida! — gritei, a raiva escorrendo pelas palavras. Isabella me olhou surpresa, mas foi Alessandro quem caiu de joelhos diante de mim. — Por favor, papai, não demita a Isa! Eu prometo me comportar. Vou tirar as melhores notas, vou fazer tudo que você quiser, só… por favor, não a demita. Olhei para ele, confuso, minha raiva oscilando. Mas a súplica de meu filho me atingiu de uma maneira que eu não esperava. continua...Giovanni Rommano Eu olhei para Alessandro, ainda ajoelhado, com o rosto manchado pelas lágrimas. Respirei fundo, tentando controlar a raiva que ainda queimava dentro de mim, mas não era com ele que eu estava irritado.— Levante-se, Alessandro — falei, minha voz mais suave desta vez. — Me desculpe... Eu fui arrogante.Ele me abraçou imediatamente, apertando meu corpo com força, como se estivesse com medo de que eu o afastasse. Eu o segurei também, o cheiro do perfume infantil misturado ao meu fez algo dentro de mim, para me acalmar. Ele implorou de novo, desta vez mais baixo, quase num sussurro:— Por favor, papai, não demita a Isabella.Levantei o olhar para ela, ainda parada ao lado da porta. Os olhos de Isabella me encaravam com uma firmeza inesperada, sem qualquer sinal de arrependimento pelo tapa que tinha me dado.Antes que eu pudesse falar, ela tomou a iniciativa:— Peço desculpas por ter dado o tapa, Giovanni, mas não me arrependo. Não vou permitir que você, nem ninguém, seja
Isabella Moretti Assim que chegamos na mansão, Alessandro subiu para tomar banho, e eu também fui ao meu quarto para me refrescar. Após um banho rápido, desci para a cozinha, onde a senhora Luci ainda estava terminando de preparar o jantar. O aroma delicioso preenchia o ambiente, mas meu pensamento estava longe. Algo me incomodava, a culpa ainda pesava sobre mim pelo tapa que dei em Giovanni. Decidi que precisava fazer algo para me redimir. Os irmãos Romano estavam sentados a mesa e todos jantaram em silêncio, pareciam estar mantendo distância de mim e foi então que minha ficha caiu que eu não deveria ter dado o tapa no Giovanni. Todos após o jantar subiram para seus quartos, o clima da mansão estava tenso, o Alessandro me desejou boa noite e após deixar ele no quarto dele dormindo, decidi fazer algo. "Devo me desculpar", pensei, enquanto chegava na cozinha.Um pedido de desculpas simples não parecia suficiente, então resolvi preparar algo especial. Um gesto que demonstrasse minha s
Isabella Moretti Giovanni me seguiu até a sala e, com a expressão mais calma, veio falar comigo. — Isabella, amanhã preciso que você acompanhe Alessandro a um aniversário de uma colega da escola. O motorista vai levá-los, mas eu não vou poder estar presente. Vou viajar no sábado e não chegarei a tempo para a festa. Espero que não se importe. — Não tem problema, Giovanni — respondi, sem hesitar. — Eu me sinto bem com o Alessandro, e não estava planejando tirar folga mesmo. Giovanni então puxou algo do bolso e me entregou um cartão platinado. — Pode comprar o presente da aniversariante e roupas, sapatos, o que precisar para você também. Quero que gaste o máximo que puder. Quero que se sinta à vontade para comprar o que precisar. Eu o olhei confusa, sem saber se era uma brincadeira ou uma ordem. — O que há de errado com as minhas roupas? — perguntei, um sorriso leve no rosto. — Nada. Eu só quero que você tenha o suficiente para preencher o closet do seu quarto ao ponto de não ha
Isabella Moretti Passei a noite inquieta, revirando-me na cama, tentando esquecer o que havia acontecido, mas o beijo continuava voltando à minha mente. Eu precisava de espaço, precisava pensar. No dia seguinte, o sol invadia meu quarto e me lembrava que eu tinha um compromisso com Alessandro. A festa da amiga dele, Giovana, seria na piscina, e eu precisava focar nisso, não em Giovanni. Tomei um banho longo, vestindo algo leve e apropriado para a ocasião, e desci para encontrar Alessandro. Ele estava animado, mal conseguia conter a alegria de ver a amiga. Quando chegamos à festa, as crianças corriam pela área da piscina, e a música suave tocava ao fundo. Alessandro correu até Giovana com o presente em mãos, e eu sorri ao ver a felicidade no rosto dele. Estava tentando me distrair quando alguém se aproximou de mim. — Isabella? — uma voz familiar me chamou. Virei-me e fiquei boquiaberta. Meu coração acelerou ao ver o homem parado à minha frente. — Alberto? — exclamei, sem ac
Giovanni Rommano Havia algo no seu olhar, uma hesitação, uma expectativa. E então, percebi. Isabella estava esperando por alguém. Minhas suspeitas se confirmaram quando um carro de luxo esportivo parou em frente à mansão. Senti um aperto no peito, algo que eu não queria reconhecer, mas que era impossível ignorar. Ela iria sair, e não era comigo. — Pode deixar o carro entrar, Isabella — pedi, tentando manter o tom casual, apesar do nó na garganta. Ela parecia constrangida, o que só aumentava minha curiosidade e... ciúmes. Logo, o motorista saiu do carro. Um homem mais novo, com um sorriso confiante. Algo dentro de mim se partiu naquele instante. Eu já sabia que aquela noite não seria fácil. — Este é Alberto — disse ela, me apresentando. Minha mente girava em círculos. Um homem mais jovem, mais confiante, talvez uns três anos mais novo que eu. A sensação de estar perdendo algo — ou alguém — era quase insuportável. — De onde vocês se conhecem? — perguntei, tentando disfarçar o tom
Isabella Moretti Enquanto eu ajustava o vestido e saía pela porta, uma sensação estranha me percorreu. Algo não estava certo. Quando o carro de Alberto parou em frente à mansão, eu já sentia a presença de Giovanni, mesmo que ele ainda estivesse longe de ser visto. O olhar atento dele sempre me seguia, fosse no trabalho, fosse em momentos como aquele. — Boa noite! — murmurei, tentando esconder o constrangimento. Sabia que Giovanni estava lá fora, no jardim, observando. Era óbvio. Quando entrei no carro com Alberto, uma rápida olhada pelo espelho retrovisor confirmou minhas suspeitas: Giovanni nos seguia. — Você está bem? — Alberto perguntou, com a testa franzida, enquanto acelerava pelas ruas tranquilas. — Sim, só... — hesitei. — Giovanni está nos seguindo. Alberto soltou uma risada leve, mas seus olhos não escondiam a preocupação. — Algo está acontecendo entre vocês? Suspirei, sabendo que não havia como esconder nada de Alberto. Ele me conhecia melhor do que qualquer outra pesso
Isabella MorettiEle então sai em direção a porta emeu celular tocou, Giovanni, observando de perto, soltou uma provocação:— Não vai atender? Deve ser seu namorado.— É só uma mensagem — respondi, sentindo uma leve irritação. Antes que eu pudesse me afastar, ele segurou meu braço, o toque firme, mas ao mesmo tempo delicado.— Eu não tenho namorado, nem quero ter um. O Alberto é meu melhor amigo desde a infância — disse, tentando deixar claro, mas a tensão no ar estava crescendo.Ele arqueou uma sobrancelha, o olhar penetrante.— Entendo. Já notei que você tem o costume de beijar amigos.A provocação nas palavras dele me fez sentir um frio na barriga. O desejo que eu tentava esconder ardia sob a superfície. Ele estava tão perto, o calor do corpo dele quase me envolvendo. A luta interna se tornava insuportável.— E se eu disser que não quero ser apenas um amigo seu? — a sua voz era baixa, quase um sussurro.Senti meu coração acelerar. Cada palavra dele me atraía mais para um abismo qu
Isabella MorettiEra domingo de manhã e a luz do sol entrava pela janela, iluminando meu quarto com um calor acolhedor. Levantei, tentando afastar os pensamentos da noite anterior. O que Giovanni havia dito ainda ecoava em minha mente, mas eu precisava focar em aproveitar o dia.Desci as escadas e, ao chegar ao jardim, o clima era festivo. A família Romanno estava reunida em torno da piscina, rindo e se divertindo. Giovanni estava lá, brincando com Alessandro, e a visão deles juntos trazia um sorriso ao meu rosto.Matteo, sempre brincalhão, me chamou:— Isabella! Coloque um biquíni e venha aproveitar a manhã!Relutante, mas cativada pela ideia de me refrescar, fui até meu quarto e vesti um biquíni. Ao descer novamente, todos os olhares se voltaram para mim, e o meu coração disparou ao encontrar os olhos de Giovanni. Ele me observava com um olhar que fazia meu estômago revirar, uma mistura de desejo e expectativa.Entrei na piscina, sentindo a água fria e revigorante. Brinquei com Ales