Capítulo 3: Luca Grecco

Eu estava diante do espelho, ajustando o nó da gravata, quando minha mãe, Athena, entrou no quarto com aquele olhar de quem sabe o que está acontecendo antes mesmo de acontecer.

— Se você mexer mais uma vez nessa gravata, Luca — ela disse, sua voz firme, quase um comando, "arrancarei sua mão." Não havia dúvida em suas palavras, nem mesmo em seu tom.

Mamma era a única pessoa no mundo que ainda conseguia mandar em mim aos 34 anos de idade, com a autoridade de um império. Ela não tolerava desatenção, especialmente em momentos como aquele.

Ajeitei o colarinho e dei uma última olhada em minha roupa. O terno estava perfeito, cortado sob medida, como sempre. Mas o maldito maluco no porto me fazia querer sair dali e resolver as coisas à força. Eu detestava lidar com traidores, mas Mamma sempre dizia: "O verdadeiro poder é silencioso, Luca. Não se perde tempo com gritos."

Ainda inquieto, me virei para ela, buscando algum tipo de conselho ou distração.

— Eu detesto esses malditos jantares. — murmurei, tentando deixar a raiva fluir para fora de mim. — Não sei como aguento.

Athena, no entanto, não me olhou. Seus olhos estavam fixos em algum ponto distante, como se sentisse algo antes de qualquer um de nós. A sala estava em silêncio, exceto pelo suave som de Matia, nosso subchefe, fazendo alguns ajustes na mesa de jantar. Ele nunca falava muito, mas sua presença sempre carregava uma tensão calma, uma vigilância silenciosa, como um lobo esperando para atacar.

De repente, minha mãe se levantou, com a postura que só ela tinha. Sua leveza era quase ameaçadora. Ela olhou para a escada, como se soubesse que o momento estava prestes a chegar. Eu segui seu olhar, e então os vi: os pais de Elena, a rainha e o rei. Eles desciam pela escada com uma graça de quem sabe que está jogando seu maior trunfo.

A formalidade deles era palpável, mas eu estava mais interessado no que viria a seguir.

E então, ela apareceu.

Eu me vi paralisado por um segundo.

Elena. A última vez que a vi, ela ainda era uma garota, com um semblante inocente, olhos brilhando de curiosidade, e aquele corpo ainda em formação. Mas agora... agora ela era uma mulher. Uma mulher que me deixou sem palavras.

O vestido azul que ela usava se ajustava perfeitamente ao seu corpo, realçando suas curvas de forma quase dolorosa para os meus olhos. O tecido drapeado parecia feito para ela, caindo delicadamente sobre sua pele, como se o próprio vestido estivesse ciente de sua elegância. Os cabelos loiros, agora mais longos, caíam em ondas suaves, quase tocando suas costas, e seus lábios rosados, bem definidos, pareciam um convite silencioso.

Eu não me lembrava da mulher deslumbrante que ela se tornara. Eu sabia que ela estava crescendo, claro, mas nunca imaginei que fosse se transformar em algo assim. Algo tão... tentador.

Minha garganta se apertou e, por um momento, esqueci o motivo de estar ali, de como essa noite era importante para os negócios, para a família. Tudo o que eu conseguia pensar era no fato de que, por um breve instante, eu realmente queria saber como seria tê-la ao meu lado. Não como esposa. Mas como... algo mais.

Eu me forçava a lembrar de onde estava e do que devia ser feito. Mas aquele momento... aquela visão dela, com os olhos azuis fixos em mim, sentindo o peso da situação como eu, mas de uma maneira diferente, me fez questionar tudo. A resposta para a pergunta que jamais deveria fazer pairava no ar. E eu sabia que essa noite, tudo poderia mudar.

Eu não disse nada. Não precisava. Os olhos de Elena estavam nos meus agora, e a tensão no ar era palpável. A mulher diante de mim estava mais do que apenas uma moeda de troca. Ela era um enigma que eu não sabia se queria desvendar ou ignorar.

Mas por agora, ela estava ali. E por agora, o que importava era o que faria depois que nos cruzássemos pela primeira vez.

Minha mãe me cutuca levemente com o cotovelo, e eu percebo que estou parado, absorvido demais pela visão de Elena. Ela me olha com uma expressão que mistura curiosidade e apreensão, mas o que realmente importa agora é o que minha mãe está me dizendo sem palavras: "Se mova, Luca."

Eu limpo a garganta, tentando recuperar o controle. Não posso me deixar perder em pensamentos tolos. Não agora. Não diante dela.

Ajeito os ombros e dou um passo à frente, indo em direção ao rei e à rainha. Curvo-me levemente, com a reverência que o momento exige, mas sem perder minha postura de Don. O rei, com seu olhar pesado e imponente, acena com a mão, e o som profundo de sua voz ressoa pela sala.

— Não é necessário, Don Grecco — diz ele, seu tom formal, mas com uma leve nota de desdém. Eu sabia o que ele pensava de mim. E, por um momento, pude sentir o peso da sua autoridade, como se estivesse me avaliando minuciosamente.

Eu me viro então, sentindo o ar entre nós mudar, como se tudo ao redor parasse. Elena está ali, à minha frente, sua postura ereta e impecável. Ela estende a mão, e eu, sem pensar duas vezes, a tomo.

O toque dela é suave, quase etéreo, e, instintivamente, me inclino para beijar o dorso de sua mão. O contato é leve, quase um sussurro contra sua pele macia, mas é o suficiente para eu sentir algo que jamais deveria sentir: um estremecer em meus dedos, uma reação involuntária que me faz questionar minha própria calma.

Quando meus lábios tocam sua pele, seus olhos se arregalam por um breve momento, e algo sutil, quase imperceptível, passa entre nós. Ela recua a mão com um movimento quase imperceptível, mas os olhos dela não deixam os meus. Eu vejo o medo lá, escondido por baixo da superfície, mas também algo mais... algo que eu não consigo identificar ainda.

— É um prazer finalmente conhecê-la, Elena — digo, minha voz mais suave do que eu gostaria. —Estou encantado em conhecer minha noiva.

Ela me observa, os olhos azuis brilhando em sua feição tão bem treinada.

— A honra é minha, Don Grecco — ela responde, sua voz calma, mas com um toque de reverência.

Eu percebo como ela se esforça para manter a postura, para não se perder em um momento de vulnerabilidade. Mas por baixo da máscara de esposa perfeita, há algo que ela não está dizendo. E é isso que me intriga.

Antes que eu possa dizer mais alguma coisa, minha mãe, Athena, faz seu movimento. Ela interrompe a interação, como sempre faz, com sua presença imponente e uma calma gelada.

— Vamos todos para a sala de jantar — ela diz com uma autoridade que todos obedecem imediatamente. — O jantar será servido.

Sem mais palavras, começamos a caminhar para a sala. Elena segue à frente, acompanhada de seus pais, e eu fico para trás por um momento, meu olhar preso nela. Eu sei que minha mãe me observa de perto, como se estivesse esperando que eu seguisse o protocolo, que me comportasse da maneira esperada. Mas, no fundo, minha mente ainda está ali, no toque suave de Elena, no que aquele pequeno gesto significou, no que ela não disse, mas o que seus olhos deixaram transparecer.

Enquanto atravessamos o corredor, a atmosfera densa da mansão envolve todos nós, como uma sombra que esconde segredos. Eu sei que a noite está apenas começando, e o que está por vir será mais complicado do que qualquer um pode imaginar.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App