A tempestade estava dentro de mim. Cada batida do meu coração parecia um tambor de guerra, cada respiro, um lembrete de que eu estava a um passo de explodir. Elena havia se entregado para aquele desgraçado, e agora eu não podia mais esperar.O ar estava carregado de tensão quando entramos no carro. Matia e Pietro estavam ao meu lado, seus olhos refletindo a mesma raiva e urgência que eu sentia. Atrás de nós, nossos soldados estavam prontos, armas em punho, esperando apenas meu comando para fazer o inferno desabar sobre quem quer que tentasse nos impedir.— Já temos a localização exata? — perguntei, minha voz um tom abaixo de um rosnado.— Sim — respondeu Pietro. — Um armazém nos arredores da cidade. Segurança reforçada. Aslan estava esperando uma movimentação nossa.— E ele vai ter — murmurei, apertando o volante. — Mas não do jeito que ele imagina.Matia passou um maço de papéis para mim. Mapas do local, esquemas de vigilância, câmeras de segurança. Tudo detalhado.— Se entrarmos pel
O frio da sala me envolvia como uma jaula invisível. O ar carregado com o cheiro de tabaco e couro, misturado ao perfume amadeirado de Aslan, fazia minha pele arrepiar. Eu estava sentada em uma poltrona de couro escuro, diante dele, com um copo de vodka intocado sobre a mesa. Meu estômago revirava com a tensão, mas eu mantinha minha expressão impassível.Aslan me observava com olhos predatórios, um sorriso preguiçoso brincando em seus lábios. Ele se recostou na cadeira, cruzando os dedos sobre a mesa.— Você é mais corajosa do que imaginei, devo admitir — ele murmurou, inclinando levemente a cabeça. — Eu esperava que Luca fosse te trancar em uma jaula de ouro. Mas você veio sozinha.Cruzei os braços, sustentando seu olhar.— Eu vim porque essa guerra precisa acabar. Você já conseguiu o que queria. Agora, solte a mãe de Luca.Aslan riu, um som grave e carregado de desprezo. Ele se levantou, caminhando lentamente ao redor da mesa. Cada passo seu ressoava como um aviso.— Você ainda não
O motor do carro rugia conforme eu cortava as ruas escuras, meu peito queimando com uma raiva que beirava o incontrolável. A mensagem de Aslan ainda piscava na tela do celular ao meu lado, o endereço onde ele mantinha Elena e minha mãe prisioneiras. Meu maxilar estava travado, meus dedos brancos de tanto apertar o volante.Pietro e Matia estavam comigo, ambos silenciosos, mas prontos para matar. O silêncio dentro do carro era ensurdecedor, carregado de tensão e promessas de sangue derramado.— Temos que ser rápidos — disse Matia, quebrando o silêncio. — Se Aslan quiser usá-las para firmar a linhagem da Bratva, ele não vai esperar muito.— Eu não vou deixar ele encostar nelas — rosnei, minha voz tão afiada quanto uma lâmina. — Se ele quiser uma guerra, eu vou dar a ele.Pietro assentiu, carregando sua arma com um clique metálico. — Se for uma armadilha?Eu ri, um som seco e sombrio. — Então matamos todos eles.O local indicado na mensagem era um casarão antigo nos arredores da cidade,
O quarto estava envolto em uma penumbra suave, apenas a luz do luar entrando pelas cortinas, criando sombras dançantes nas paredes. Luca fechou a porta atrás de nós, e o som do trinco ecoou como um ponto final no caos que havíamos deixado para trás. Ele virou-se para mim, seus olhos escuros brilhando com uma mistura de alívio e culpa.— Elena — ele começou, sua voz rouca, carregada de emoção. — Eu... eu não deveria ter deixado isso acontecer. Eu devia ter te protegido.Eu abri a boca para responder, mas ele não me deu chance. Em dois passos, ele estava diante de mim, suas mãos firmes, mas gentis, segurando meu rosto. Seus olhos percorreram meu rosto, como se estivesse memorizando cada detalhe, como se precisasse se certificar de que eu estava realmente ali, inteira, viva.— Luca, eu estou bem — eu sussurrei, mas ele balançou a cabeça, seus dedos tremendo levemente contra minha pele.— Não, você não está bem. Você foi tirada de mim, e eu... — sua voz falhou, e ele fechou os olhos por u
Seis anos antes...A catedral estava mergulhada na penumbra, iluminada apenas pelas velas que tremulavam em um ritmo irregular. O som dos meus passos ecoava pelo chão de mármore, cada batida lembrando que, a partir desta noite, minha vida não era mais minha. Era da Cosa Nostra.Olhei ao redor, permitindo que meus olhos percorressem cada banco. Todos os rostos estavam voltados para mim — aliados, cúmplices, homens e mulheres que deviam suas vidas e fortunas à minha família. Cada um deles estava aqui para testemunhar minha ascensão, para ver o filho de Salvatore De Luca tomar o lugar de seu pai.Meu olhar parou nos últimos bancos, onde estavam os Santoros. Sempre tão distintos, sempre escondidos sob a fachada impecável de uma família nobre, mas nós dois sabíamos o que eles realmente eram. O patriarca deles me lançou um breve aceno de cabeça, mas meu interesse não estava nele. Estava na garota ao seu lado.Ela estava parcialmente escondida pela escuridão, o rosto iluminado apenas pela lu
O silêncio dentro do carro é opressor.Os bancos de couro creme refletem a luz suave que entra pelas janelas, mas nada ali consegue aquecer a sensação de vazio que me toma. Meu pai está ao volante, os olhos fixos na estrada, sua expressão intransigente como sempre. Minha mãe, ao meu lado, olha pela janela, como se estivesse distante, em outro lugar. Em algum lugar onde a dor do momento não fosse tão real.Eu, por outro lado, não consigo desviar o olhar da barra do meu vestido azul. A delicadeza do tecido contra a minha pele parece quase zombar da minha incapacidade de escolher o próprio futuro. Cada fibra, cada detalhe cuidadosamente escolhido para ser a perfeita apresentação do que sou — uma obra de arte, mas apenas para ser admirada, não tocada.Hoje, meu futuro marido finalmente me verá. A imagem que sempre me foi vendida, o homem que todas as lendas falam. Mas para mim, ele não é mais do que uma sombra. Uma promessa de um destino que não escolhi.Os cabelos loiros, cuidadosamente
O avião toca o solo de Palermo com uma suavidade que quase passa despercebida pela minha mente, atolada em pensamentos sombrios. Quando as portas do jato se abrem, uma brisa fresca da Sicília invade o ambiente, mas não é o suficiente para afastar o peso em meu peito. O cheiro do mar, misturado com a terra quente, faz minha cabeça girar por um instante, como se o futuro me puxasse para uma realidade que eu nunca quis.Matia, o subchefe da Cosa Nostra, espera por nós na pista, um homem de presença imponente e olhos calculistas. Ao seu lado, estão os soldados, homens com rostos duros, tatuagens visíveis, sempre em alerta. Eles nos recebem com um cumprimento formal, mas nenhum deles oferece um sorriso. Somos guiados até uma grande limusine preta, a qual nos leva em silêncio por ruas estreitas e sinuosas até a base da montanha.A mansão do Don, erguida sobre a rocha, parece surgir do próprio coração da terra. Uma construção maciça, imponente, com paredes de pedra que parecem ser parte da p
Eu estava diante do espelho, ajustando o nó da gravata, quando minha mãe, Athena, entrou no quarto com aquele olhar de quem sabe o que está acontecendo antes mesmo de acontecer.— Se você mexer mais uma vez nessa gravata, Luca — ela disse, sua voz firme, quase um comando, "arrancarei sua mão." Não havia dúvida em suas palavras, nem mesmo em seu tom.Mamma era a única pessoa no mundo que ainda conseguia mandar em mim aos 34 anos de idade, com a autoridade de um império. Ela não tolerava desatenção, especialmente em momentos como aquele.Ajeitei o colarinho e dei uma última olhada em minha roupa. O terno estava perfeito, cortado sob medida, como sempre. Mas o maldito maluco no porto me fazia querer sair dali e resolver as coisas à força. Eu detestava lidar com traidores, mas Mamma sempre dizia: "O verdadeiro poder é silencioso, Luca. Não se perde tempo com gritos."Ainda inquieto, me virei para ela, buscando algum tipo de conselho ou distração.— Eu detesto esses malditos jantares. — mu