Capítulo 6: Elena Santoro

A noite caía sobre Palermo, tingindo o céu com tons de violeta e dourado. Da sacada do meu quarto, eu observava os jardins iluminados por pequenas lanternas penduradas nos galhos das oliveiras, onde homens engravatados e mulheres em vestidos refinados se moviam como sombras dançando sob a luz. Todas as famílias aliadas à Cosa Nostra estavam ali para prestigiar a assinatura do contrato de casamento. A união que selaria um pacto de sangue, de poder. E a mim, caberia o papel da noiva obediente.

Minha mãe trabalhava nos últimos retoques do meu cabelo, suas mãos precisas prendendo uma mecha solta atrás da orelha, enquanto uma das empregadas subia o zíper do vestido de seda branca. O tecido era frio contra minha pele, pesado de significados que eu ainda não ousava nomear.

— Você está perfeita, Elena — disse minha mãe, sua voz baixa, como um sussurro que apenas nós duas poderíamos ouvir. Mas eu sabia que seu olhar analisava mais do que minha aparência. Ela queria ter certeza de que eu me lembrava do meu dever.

Antes que eu pudesse responder, a porta do quarto se abriu, e meu pai entrou sem cerimônia. O silêncio se instaurou, e as outras mulheres entenderam o comando implícito. Sem hesitar, minha mãe se afastou e fez um sinal para que todas saíssem. A porta se fechou atrás delas, deixando-me a sós com ele.

Meu pai era um homem de presença imponente, os cabelos grisalhos bem penteados, o terno escuro sem um único vinco fora do lugar. Caminhou até mim, suas mãos às costas, e se posicionou diante da sacada, seus olhos percorrendo a cena lá embaixo antes de finalmente pousarem sobre mim.

— É um grande dia para você — ele disse, sua voz carregada de uma calma calculada. — Para todos nós.

Eu apenas assenti. Ele nunca foi um homem de palavras desnecessárias. Se estava ali, era porque queria dizer algo que realmente importava.

— Você se tornará a matriarca da máfia mais poderosa do mundo esta noite — continuou ele. — Mas nunca se esqueça de onde está sua verdadeira lealdade.

Eu prendi a respiração por um segundo. Já sabia o que viria a seguir. Ainda assim, ouvir as palavras era diferente de apenas carregá-las no pensamento.

— A sua fidelidade pertence à coroa — ele prosseguiu. — O sangue real francês sempre prevalece. É o que somos. O que sempre fomos. Luca pode pensar que conquistou algo esta noite, mas no final, o verdadeiro poder ainda será nosso.

Fechei os dedos ao redor da grade da sacada, sentindo o ferro frio contra minha pele quente. Sabia o que esperavam de mim. Meu casamento era apenas o primeiro passo. O verdadeiro plano já estava traçado.

— Após a cerimônia, você deve seguir o plano — meu pai continuou, sem hesitação. — Luca deve morrer. E quando isso acontecer, eu assumirei o poder da Cosa Nostra.

Aquelas palavras pairaram no ar entre nós, pesadas, irreversíveis.

Matar Luca.

Sabia o que isso significava. Uma traição como essa não passaria impune. A Cosa Nostra nunca perdoava. A única punição para a deslealdade era a morte. E ainda assim, qual escolha eu tinha?

Olhei para meu pai, para o homem que moldou meu destino desde o meu nascimento. Eu podia sentir a expectativa em seu olhar, a certeza de que eu cumpriria meu dever sem questionar.

— Você entende, Elena? — ele perguntou, e dessa vez, sua voz soou quase gentil.

Engoli seco e assenti.

— Sim, papai. Serei fiel a você.

Ele pareceu satisfeito com minha resposta. Tocou meu rosto de leve, como se quisesse reforçar sua confiança em mim. Mas assim que ele se virou para sair, senti algo apertar dentro de mim. Uma verdade incômoda que eu ainda não havia confessado nem para mim mesma.

Porque, no fundo do meu coração, eu queria buscar proteção em Luca. Eu sabia que esse casamento poderia ser a minha ruína, minha morte e a minha ascensão como uma traídora, mas também poderia ser a minha liberdade.

Eu me tornaria a matriarca da família mais poderosa do mundo, minha lealdade seria do meu marido e a dele me pertenceria. Luca poderia ser a minha salvação se eu fosse digna de sua confiança. Eu desejava isso, pela primeira vez ser algo além da filha que meus pais geraram por um acordo.

Desejava a confiança de alguém.

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