Quando saí do banho, tinha o plano traçado na cabeça, e sabia que não tinha como dar errado. Gerard sempre teve ideias mirabolantes que nunca davam certo. E eu sabia que era mais inteligente do que ele para traçar meus planos. E no caso do bebê, ele tinha dado uma ideia ridícula muitos anos atrás e eu a transformei em uma coisa fantástica. E agora ele me lembrou dessa carta na manga.Nos meses seguintes, fiz tudo o que deveria fazer para engravidar de Danilo por FIV. Quando procurei o médico que nos atendeu, ele ficou muito contente que enfim iríamos usar as sementinhas congeladas. Todas as autorizações tinham sido assinadas, eles não precisavam nem do Danilo ali para fazer o nosso bebê.Eu realmente esperava que desse muito certo, porque o procedimento era extremamente caro e foi quase metade de tudo o que eu tinha conseguido guardar. Mas a primeira vez não deu certo. Nem todos os hormônios que usei, nem a fertilização.O médico me disse que essas coisas aconteciam, e que eu poderia
Encerrei o expediente e fui para casa bastante mal. Não sabia se eram os hormônios ou se realmente tinha ficado mole. Fato é que eu não gostaria de estar na pele do Danilo para dar a notícia a mulher que teria um filho fora do casamento.Eu não me considerava alguém ruim. Oportunista, sim, mas trabalhei com as armas que a vida me impôs. Com dezoito anos saí de uma casa super populada, conheci Gerard que não era boa companhia pra ninguém, menos ainda para uma mocinha com a cabeça virada. Depois comecei a sair com playboy por dinheiro e conheci o Danilo que, se fosse honesta, seria o meu porto seguro para sempre. Mas não dei essa oportunidade para nós e continuei me encontrando com Gerard, mesmo que já tivesse percebido que ele não valia nada e que eu não era mais o seu amor, ou nunca fui. Virei seu cofrinho pessoal e não me toquei que estava sendo usada por ele, igual fazia com as coroas da academia.Quando começou a pandemia e Danilo foi para o Brasil, achei que estava tudo bem coloca
Cheguei em casa sem um pingo de sangue no rosto. Precisava falar com a Isadora antes que aquela bomba estourasse. Ela não estava. Olhei no rastreador e vi que ela estava no estacionamento do shopping. Pensei que se ficasse olhando mais um pouco, veria o seu carro em movimento até em casa. Ela quase calculou bem a hora de voltar.Tomei um banho, olhei mais uma vez e vi que ela estava a cerca de vinte minutos de casa. Fui para o escritório, me servi de uma dose de whisky e fiquei pensando naquele dia, no mínimo desastroso.Quando vi a barriga de Juliete, primeiro pensei que estava feliz por ela ter se ajeitado na vida e encontrado alguém para formar uma família. Ainda me sentia terrivelmente culpado pelo ano que roubei de sua vida com o acidente.Depois, me lembrei de uma conversa que tive com Alain há mais de um ano. Eu exigi que Juliete fizesse exames regulares, a cada seis meses, para saber se o coma não produziu algum efeito tardio. Queria garantir que ela estava bem e se ela não fi
Nem me dei o luxo de pensar no problema que tinha para contar. Depois de uma sessão maravilhosa experimentando o presente, Isa saiu do banho em seu roupão, sentou na cama e falou:— Agora você pode me contar o que te aflige. E sem rodeios.— Juliete está grávida e o filho é meu.Danilo— Espere, quando foi que vocês se encontraram?— Hoje. Ela era secretária de Norbert, o CEO da Global aqui na França que já foi meu patrão. Quando voltou do Brasil, reassumiu seu posto e eu não sabia. Juro que nem lembrava mais que ela já tinha trabalhado lá e...— Cale a boca, Danilo. Pare de falar tudo no atropelo. Quero saber quando vocês se encontraram pra você colocar um filho nela. Foi aqui ou no Brasil? Foi durante alguma das minhas viagens? Você deixou nossa filha aos cuidados dos outros pra ficar de sacanagem com outra mulher, como fez comigo? Olhei para a Isadora como se ela fosse um ET, não entendendo nada do que ela estava falando. Logo a compreensão veio. Claro que a Isadora pensaria que e
Quando aquele ruivo, com uma barba grande apareceu em minha tela, fiquei pensando que o conhecia de algum lugar. Lembrei de tê-lo visto mais jovem, mas não recordava de onde.— Muito prazer. Doutor Aleksander, advogado corporativo.— Se é advogado corporativo, porque está nessa causa de família? Você representa Juliete? Ela já quer todas as minhas empresas?— Não represento Juliete, Danilo. Não suporto mulheres oportunistas. Mas acho que o senhor e seu CEO pegaram os últimos espécimes de mulheres perfeitas.Aleksander deu um sorriso, de cantos de olhos vi que o Danilo já fechou a cara na hora com a cantada barata pra cima de mim e Laila. Cravou os olhos em mim, mas eu estava mesmo vasculhando a mente atrás daquele rosto tão conhecido. E não demorou muito para descobrir. Soltei um gritinho, pegando a todos de surpresa.— Príncipe Harry.Ninguém entendeu nada, a não ser Aleksander que manteve a postura e revirou os olhos.— Sim, as pessoas costumam me comparar com ele mesmo.— Nossa, ma
Acordei no dia seguinte logo cedo, vi que o Danilo dormia ao meu lado e me lembrei da noite difícil que tive. Eu sabia que ele estava preocupado, e que parte disso se devia a mim.Danilo sempre quis ter família grande, muitos filhos. Quando fui atacada por Thomas e perdi os gêmeos, sofri tanto que achei que nunca mais conseguiria olhar para o Danilo. Me afastei e só consegui voltar a falar com ele dois meses depois, quando Eleanor entrou em trabalho de parto e exigiu que eu a acompanhasse. Eleanor morreu na mesa de parto devido a complicações que sofremos. No meu caso, e infelizmente, os bebês foram os mais prejudicados e o médico optou por me induzir ao parto normal para não romper o meu útero por causa dos chutes que levei. Depois do parto, ainda sofri muita dor para fazer duas crianças mortas saírem de dentro de mim, mas eu me recuperei bem. Enquanto isso, Eleanor deu sequência na gravidez com as carnes rasgadas por dentro. A bebê não sofreu nenhum dano, mas mesmo com a correria, f
Quando saí do banho, Isadora me esperava com uma bandeja com croissant, torradas, geleia, frios e suco de laranja. E um bule com café fumegante.Me sentei, dei um selinho em minha mulher que já estava passando geleia em uma torrada para mim. Enquanto mordia, A Isadora começou:— Precisamos definir qual vai ser o teor da conversa com a Juliete, hoje.— Achei que tínhamos combinado tudo com os advogados ontem.— Combinamos sim, toda a parte jurídica da coisa está bem definida pra primeira tentativa. Eu quero conversar com você como casal. Nós precisamos definir isso como casal, Danilo. Não é só questão de tirar seu filho da Juliete. É se nós vamos ter condições de cuidar dele, e se estamos dispostos a adiar os nossos planos como casal para encaixar outra criança em nossas vidas. Porque quanto mais crianças temos, mais longe fica o dia que eu vou engravidar.— Você está me dizendo que se pegarmos o filho da Juliete, não vamos ter o nosso?— Não. Estou dizendo que vai ficar mais longe. Pa
Passei pelo portão de entrada da casa da Juliete com o coração na boca. Sabia que não seria uma conversa fácil nem amigável. Por um momento, pensei que deveria ter trazido Lissandra, e não deixado com a babá para o Danilo resolver umas coisas por mim. Lis era um foguetinho, seria bom pra Juliete saber o que lhe esperava com a presepada que armou.Estacionei na frente da casa, respirei fundo e me revesti da mulher poderosa que engole o choro e toda a emoção, e desci do carro. Passou um lampejo de surpresa pelo olhar de Juliete que estava me esperando, mas ela controlou.E para mim, saboreei muitas emoções, mesmo que tenha tentado controlar. Ver a barriga da Juliete, com mais de sete meses, não foi fácil como imaginei durante todo o caminho. Ali, na barriga de outra mulher, tinha o bebê do Danilo. A barriga dela estava do mesmo tamanho ou maior quando Thomas ceifou a vida dos meus filhos. Aquele bebê sobreviveria, seria amado tanto quanto Lissandra. Os meus eram anjinhos. Mais uma vez r