Cheguei em casa sem um pingo de sangue no rosto. Precisava falar com a Isadora antes que aquela bomba estourasse. Ela não estava. Olhei no rastreador e vi que ela estava no estacionamento do shopping. Pensei que se ficasse olhando mais um pouco, veria o seu carro em movimento até em casa. Ela quase calculou bem a hora de voltar.Tomei um banho, olhei mais uma vez e vi que ela estava a cerca de vinte minutos de casa. Fui para o escritório, me servi de uma dose de whisky e fiquei pensando naquele dia, no mínimo desastroso.Quando vi a barriga de Juliete, primeiro pensei que estava feliz por ela ter se ajeitado na vida e encontrado alguém para formar uma família. Ainda me sentia terrivelmente culpado pelo ano que roubei de sua vida com o acidente.Depois, me lembrei de uma conversa que tive com Alain há mais de um ano. Eu exigi que Juliete fizesse exames regulares, a cada seis meses, para saber se o coma não produziu algum efeito tardio. Queria garantir que ela estava bem e se ela não fi
Nem me dei o luxo de pensar no problema que tinha para contar. Depois de uma sessão maravilhosa experimentando o presente, Isa saiu do banho em seu roupão, sentou na cama e falou:— Agora você pode me contar o que te aflige. E sem rodeios.— Juliete está grávida e o filho é meu.Danilo— Espere, quando foi que vocês se encontraram?— Hoje. Ela era secretária de Norbert, o CEO da Global aqui na França que já foi meu patrão. Quando voltou do Brasil, reassumiu seu posto e eu não sabia. Juro que nem lembrava mais que ela já tinha trabalhado lá e...— Cale a boca, Danilo. Pare de falar tudo no atropelo. Quero saber quando vocês se encontraram pra você colocar um filho nela. Foi aqui ou no Brasil? Foi durante alguma das minhas viagens? Você deixou nossa filha aos cuidados dos outros pra ficar de sacanagem com outra mulher, como fez comigo? Olhei para a Isadora como se ela fosse um ET, não entendendo nada do que ela estava falando. Logo a compreensão veio. Claro que a Isadora pensaria que e
Quando aquele ruivo, com uma barba grande apareceu em minha tela, fiquei pensando que o conhecia de algum lugar. Lembrei de tê-lo visto mais jovem, mas não recordava de onde.— Muito prazer. Doutor Aleksander, advogado corporativo.— Se é advogado corporativo, porque está nessa causa de família? Você representa Juliete? Ela já quer todas as minhas empresas?— Não represento Juliete, Danilo. Não suporto mulheres oportunistas. Mas acho que o senhor e seu CEO pegaram os últimos espécimes de mulheres perfeitas.Aleksander deu um sorriso, de cantos de olhos vi que o Danilo já fechou a cara na hora com a cantada barata pra cima de mim e Laila. Cravou os olhos em mim, mas eu estava mesmo vasculhando a mente atrás daquele rosto tão conhecido. E não demorou muito para descobrir. Soltei um gritinho, pegando a todos de surpresa.— Príncipe Harry.Ninguém entendeu nada, a não ser Aleksander que manteve a postura e revirou os olhos.— Sim, as pessoas costumam me comparar com ele mesmo.— Nossa, ma
Acordei no dia seguinte logo cedo, vi que o Danilo dormia ao meu lado e me lembrei da noite difícil que tive. Eu sabia que ele estava preocupado, e que parte disso se devia a mim.Danilo sempre quis ter família grande, muitos filhos. Quando fui atacada por Thomas e perdi os gêmeos, sofri tanto que achei que nunca mais conseguiria olhar para o Danilo. Me afastei e só consegui voltar a falar com ele dois meses depois, quando Eleanor entrou em trabalho de parto e exigiu que eu a acompanhasse. Eleanor morreu na mesa de parto devido a complicações que sofremos. No meu caso, e infelizmente, os bebês foram os mais prejudicados e o médico optou por me induzir ao parto normal para não romper o meu útero por causa dos chutes que levei. Depois do parto, ainda sofri muita dor para fazer duas crianças mortas saírem de dentro de mim, mas eu me recuperei bem. Enquanto isso, Eleanor deu sequência na gravidez com as carnes rasgadas por dentro. A bebê não sofreu nenhum dano, mas mesmo com a correria, f
Quando saí do banho, Isadora me esperava com uma bandeja com croissant, torradas, geleia, frios e suco de laranja. E um bule com café fumegante.Me sentei, dei um selinho em minha mulher que já estava passando geleia em uma torrada para mim. Enquanto mordia, A Isadora começou:— Precisamos definir qual vai ser o teor da conversa com a Juliete, hoje.— Achei que tínhamos combinado tudo com os advogados ontem.— Combinamos sim, toda a parte jurídica da coisa está bem definida pra primeira tentativa. Eu quero conversar com você como casal. Nós precisamos definir isso como casal, Danilo. Não é só questão de tirar seu filho da Juliete. É se nós vamos ter condições de cuidar dele, e se estamos dispostos a adiar os nossos planos como casal para encaixar outra criança em nossas vidas. Porque quanto mais crianças temos, mais longe fica o dia que eu vou engravidar.— Você está me dizendo que se pegarmos o filho da Juliete, não vamos ter o nosso?— Não. Estou dizendo que vai ficar mais longe. Pa
Passei pelo portão de entrada da casa da Juliete com o coração na boca. Sabia que não seria uma conversa fácil nem amigável. Por um momento, pensei que deveria ter trazido Lissandra, e não deixado com a babá para o Danilo resolver umas coisas por mim. Lis era um foguetinho, seria bom pra Juliete saber o que lhe esperava com a presepada que armou.Estacionei na frente da casa, respirei fundo e me revesti da mulher poderosa que engole o choro e toda a emoção, e desci do carro. Passou um lampejo de surpresa pelo olhar de Juliete que estava me esperando, mas ela controlou.E para mim, saboreei muitas emoções, mesmo que tenha tentado controlar. Ver a barriga da Juliete, com mais de sete meses, não foi fácil como imaginei durante todo o caminho. Ali, na barriga de outra mulher, tinha o bebê do Danilo. A barriga dela estava do mesmo tamanho ou maior quando Thomas ceifou a vida dos meus filhos. Aquele bebê sobreviveria, seria amado tanto quanto Lissandra. Os meus eram anjinhos. Mais uma vez r
Estava digitando apressadamente em meu PC na sala da presidência. Às 4 da manhã, a Isadora me ligou porque teve uma ideia. Levei um bom tempo para conseguir acordar e entrar no modo advogada. Depois que entrei, puta que pariu. A Isadora era a minha ídola, e eu seguiria aquela mente brilhante e maldosa até o inferno. Que ideia do caralho, que ia colocar a Juliete debaixo do chinelo. Tive pouco mais de uma hora para checar a probabilidade jurídica dos planos da Isadora. Depois que dei o aval, a Isadora foi se encontrar com Juliete, e eu fui redigir tudo o que precisava. Como se já não tivesse serviço suficiente, aquela vaca da Juliete ainda arrumava mais coisas para eu fazer.Escutei uma batida seca na porta, levantei a cabeça e vi Leandro ali, me encarando:— Vamos almoçar?— Hoje? Impossível.— Você precisa comer, Laila. — Você podia buscar um sanduíche e um suco de acerola pra mim. Não posso sair daqui. Estou atolada — O que a Isadora aprontou dessa vez?— Isadora não. Danilo.— O
Estava em meu apartamento andando de um lado para o outro. Custava acreditar que tinha me metido em uma rede tão costurada.Quando comecei a preparar a forma como Danilo iria tomar o bebê da Juliete, e proteger o seu patrimônio, foi com base nos acontecimentos da vida do casal, que eu acompanhava. Danilo era uma potência avassaladora no mundo da programação. Mesmo sempre muito discreto, a história do sequestro de sua esposa e a morte dos bebês que ela esperava foi algo que chocou o mundo, e muito noticiado na França, já que ele tinha uma empresa de sucesso por lá. Mais do que isso, a forma como a doce Isadora, sua esposa, lidou com tudo e transformou em amor todo o mal que lhe foi lançado, transformou a moça em uma princesinha.Era um casal lindo que conquistava corações pela sua humildade, bondade para com o próximo e discrição. Eu já era apaixonado por esse casal que nunca esteve envolvido em nenhum escândalo, fosse fiscal, financeiro ou pessoal. Eles eram o que eram e trabalhavam