Assistia a uma reportagem, bem desinteressado, quando ouvi o nome de Isadora. Passei a prestar atenção e soube que naquele dia, sua advogada e amiga estava em uma festa de inauguração de um projeto bem bacana em que orientavam e davam acompanhamento jurídico, psicológico e financeiro para adolescentes na criminalidade. Revirei os olhos e pensei que isso era um problema estrutural e que nada adiantava injetar dinheiro nessas comunidades se não houvesse uma mudança de atitude. Resolvi apenas ouvir enquanto procurava uma roupa para tomar banho. Mas voltei a minha atenção para a tela do notebook quando ouvi uma voz feminina respondendo ao meu pensamento negativo:— Muitos podem achar que o projeto é uma utopia, já que a criminalidade infantil é um problema estrutural, principalmente nas comunidades do Brasil com os ditos aviõezinhos, e que injetar dinheiro nesse problema seria como financiar o crime, e no problema de natalidade na adolescência, seria como incentivar meninas a engravidar.
Apaguei a tela do celular e fiz uma busca entre a multidão, encontrei com os olhos Leandro, que já estava vindo em minha direção.— Você não vai acreditar com quem eu estava ao telefone.Quando contei toda a conversa que tive com o suposto Aleksander, Leandro me perguntou:— Você acha que pode ser verdade? — Não sei. Era a voz dele. Mas posso ter sido enganada.— Vamos checar, pelo menos. Vou pedir a Elza e ao Eduardo para terminar de conduzir a inauguração. Você já discursou mesmo.Leandro tomou as rédeas da situação. Saímos do local e volta para casa, fui dirigindo. Eu queria mesmo ir direto para Mairiporã — Não podemos, se tivermos que ir para o Havaí, o jatinho está em São Paulo. Precisamos otimizar o tempo.— Tem razão. Seria perda do tempo que já não temos. — Acelerei o carro.Ainda a caminho de casa, Leandro ligou para o Danilo e acionou o viva-voz.— Não, Leandro. Diz pra Laila que ainda não temos notícia diferente de uma hora atrás. Juliete não está sentindo dores.— Coloc
Quando cheguei em Mairiporã, encontrei uma Isa nervosa e apavorada.— Alain me retornou. Gerard vive com essa mulher que faz os gostos dele. Ela está aguardando uma chamada de vídeo nossa, só esperando você chegar.— Mas é madrugada na França agora...— Ela sabe e mesmo assim está aguardando.Depois que fizemos a chamada, vimos chegar na tela uma senhora de uns 50 anos, bem vestida, conservada, com um olhar perdido.— Boa noite, sou Henrieta. Alain me adiantou o assunto, mais ou menos. De verdade, o que vocês esperam que eu saiba?— Henrieta, me desculpe te incomodar uma hora dessas, mas é realmente assustador tudo o que está acontecendo. Você já ouviu falar de Juliete?— Não, mas Gerard era obcecado pela Duex e o CEO, o senhor Danilo. Ele dizia que queria ter sido programador e eu até sugeri ele voltar a estudar, mas ele disse que o tempo dele passou.— Porque vocês foram para o Havaí?— Ele sugeriu termos uma viagem nossa, disse que gostaria de conhecer o Havaí. Ele programou tudo.
Quando descemos do avião, Danilo e eu, já sabíamos o endereço e novo nome de Aleksander. Alain e Leandro conseguiram levantar a nova ficha dele. Ele estava trabalhando como ajudante geral em obras. Vivia com uma mulher chamada Vaitiari, que tinha um filho de 8 anos chamado Joseph. Supostamente era um rapaz em situação de rua itinerante, que vivia viajando entre as ilhas para pedir esmolas para os turistas, e estava em Lahaina quando houve a tragédia. Vaitiari assumiu a responsabilidade por informar os dados dele para um novo documento.— Cara, esse Aleksander é um chato em qualquer vida, você é louco — disse depois de ler as informações sobre a nova vida que Aleks estava vivendo. — É sério? O cara tem uma nova chance, um apagão total de tudo o que fez e viveu, e ele assume mulher e filho e vai fazer serviço braçal?— Laila, pare de fazer piada que tudo é muito sério. Sabemos que esse novo estilo de vida foi implantado por Gerard, que enganou Henrieta esse tempo todo, e disse que está
Quando cheguei na maternidade, a Juliete já estava de camisola e com a bunda de fora. O médico tinha pedido a hidromassagem para acelerar o parto, pois ela estava com dois dedos de dilatação.Juliete sofria, suada e pálida, mas quando entrei em seu campo de visão, perguntou logo:— O que aconteceu?— Porque você supõe que algo aconteceu? — Danilo quem ia assistir, e é a mão dele que vou tentar quebrar dessa vez.— E se por acaso eu que decidi ver agora? Ele já viu um parto seu, e eu que quero acompanhar dessa vez...— Corta essa, Isadora. O combinado foi você ficar com as crianças, e você não é tão sentimental desse jeito. Cadê o Alejandro? Pode me falar qualquer coisa, eu aguento. Estou com dois dedos de dilatação e contrações com espaçamento de quase uma hora. Só vim porque a bolsa está rota e estou com medo de Alexia ficar seca lá dentro antes de dilatar tudo. Vamos, me diga, cadê o Danilo?— Está bem, Juliete. Você sabe que sou uma mulher prática e meias verdades não combinam mui
Era uma data especial. Eu estava nervosa, porque hoje era dia de coquetel de renascimento na casa da Juliete, como festejamos há 17 anos. Desde o dia em que Aleksander voltou para nós. Me lembrava bem daquele dia, e sentia uma necessidade grande de me conectar com qualquer ser sobrenatural que nos deram aquele milagre. Eu não era religiosa, mesmo que a minha mãe tenha me criado indo às missas aos domingos. Mas fazendo um balanço geral de tudo o que vivi, sabia que sim. Deveria ter um ser superior que olhava pelos humanos e intercedesse por nós. Porque eu passei muita coisa ruim, mas tenho muito mais a agradecer do que reclamar. Os meus pais, que eram meu porto seguro e cuidavam de mim com amor e paciência, morreram em um acidente de carro. Mas dessa tragédia, veio o Danilo, que causou o acidente e se tornou o amor da minha vida. Também veio a percepção de que Tomás, o tio querido que era o melhor amigo do meu pai, era um psicopata maluco com dupla personalidade. Mesmo sendo triste
Pedro e Alexa também eram jovens muito bons, o Aleksander e a Juliete não tinham problemas com eles. Aliás, desde que o Aleksander recuperou a memória no parto de Eduardo, Tamires e Breno, eles vivam uma eterna lua de mel. Joseph vinha de Washington para o Brasil duas vezes por ano, ficava na casa de Laila que se apaixonou pelo menino que a ajudou a resgatar o Aleks. A outra metade do ano, passava na casa da Juliete. Ele optou por voltar a morar com o pai, quando descobriu a verdade. Que Vaitiari não era mãe dele e que o usava como um cofrinho. No resgate de Aleks, que o Leandro teve a ideia de Henrieta ligar por chamada de vídeo pra conseguir tirar Gerard da casa, quando invadiram Vaitiari ameaçou o Aleks com uma faca, e foi Joseph quem pediu pra ela não fazer aquilo. Ela gritou com o menino que nem era mãe dele, para ele apelar pro sentimental e ele deu um chute no braço dela, fazendo-a largar a faca e dando tempo para a Laila dar uns boxes nela. Os dois foram presos e Laila até que
O Thomas era um miserável e começou a tentar fazer da minha vida um inferno depois da morte dos meus pais, para me ter em seus braços. Em pouco tempo de luto, fiquei sem dinheiro para pagar as despesas do apartamento, para a faculdade e até para colocar combustível no meu carro. Então pedi a Laila pra me arranjar um emprego com a família dela. Ela disse que até poderia, mas que eu jamais teria um salário que cobrisse todas as minhas despesas, e me aconselhou a vender o carro e o apartamento e me mudar para um lugar menor. Coloquei o apartamento à venda, e com o dinheiro que consegui do carro, aluguei uma kitnet e comecei a trabalhar como assistente do pai de Laila. Três dias depois, descobri que o dinheiro do carro sumiu da minha conta, antes de eu pagar a mensalidade da faculdade. Laila sugeriu que eu chamasse a polícia, mas sabia que isso seria inútil. Thomas era muito esperto e não teria deixado rastros. Envolver a polícia só faria com que eu parecesse louca e manchasse ainda m