3.

Lilly respirou fundo antes de entrar no escritório. O ambiente era tão impecável quanto esperava: amplo, sofisticado, com móveis de madeira escura e uma grande janela panorâmica que exibia a vista da cidade. Mas o que realmente chamava sua atenção era o homem sentado atrás da mesa.

James Carter.

Ele vestia um terno escuro, sem um único amassado, e observava-a com olhos atentos, avaliando-a sem pressa.

— Senhorita Harper. — Sua voz era firme, autoritária. — Sente-se.

Ela obedeceu, mantendo a postura ereta.

— Você tem experiência como babá? — James perguntou sem rodeios, entrelaçando os dedos sobre a mesa.

— Tenho experiência com crianças. Já trabalhei como voluntária em creches e dou aulas particulares para ajudar a pagar minha faculdade de Pedagogia.

Ele ergueu levemente a sobrancelha, como se analisasse a resposta.

— Mas nunca trabalhou como babá.

— Nunca formalmente, mas cuidei de primos mais novos e filhos de amigos da família.

James assentiu devagar.

— Minha filha tem cinco anos. Está acostumada a uma rotina específica. É uma criança doce, mas sente muito a minha ausência.

Havia um resquício de emoção em sua voz, algo quase imperceptível, mas Lilly captou.

— Entendo. E como o senhor espera que eu ajude nisso?

Um leve brilho de interesse cruzou os olhos de James. Ele gostava de objetividade.

— Quero alguém que possa estar presente para ela. Não apenas fisicamente, mas que realmente se importe. Que seja paciente, mas que também imponha limites quando necessário.

Lilly assentiu, pensativa.

— Crianças precisam de estabilidade. Se Emily sente sua falta, é importante que ela tenha alguém em quem possa confiar e se apegar.

James não esperava essa resposta. Ele analisou-a por alguns instantes, e Lilly sustentou o olhar. Havia algo na maneira como ela falava – um misto de segurança e gentileza – que o fez acreditar que talvez ela fosse a escolha certa.

— Sabe que esse trabalho exigirá comprometimento total? Morar aqui, estar disponível quando necessário.

— Sim. Estou disposta a isso.

Por um breve segundo, um silêncio se instalou. James não era um homem que se deixava impressionar facilmente, mas algo em Lilly o fazia sentir que ela seria eficiente no trabalho.

— E o que a faz querer esse emprego? — Ele perguntou.

— Além da necessidade financeira, eu realmente gosto de crianças. Quero ser professora e esse trabalho pode me dar mais experiência direta com elas.

James notou a forma como os olhos dela brilharam ao falar sobre seu futuro. Ela parecia genuinamente apaixonada pelo que fazia.

Ele desviou o olhar por um instante, recompondo-se.

— Muito bem, senhorita Harper.

Lilly sentiu que estava indo bem. Apesar da postura fria e rígida de James, havia algo na forma como ele escutava que mostrava que ele a levava a sério.

Foi então que a porta do escritório se abriu.

— Papai!

Uma garotinha de cabelos castanhos claros entrou correndo, seus pequenos pés batendo no chão de madeira polida. Atrás dela, vinha uma senhora de meia-idade, a governanta, que observava a cena com um sorriso discreto.

James ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços.

— Emily, quantas vezes já falei para bater antes de entrar?

— Mas eu queria te ver! — Emily sorriu e, ao notar Lilly, arregalou os olhos curiosos. — Quem é ela?

Lilly se inclinou um pouco, sorrindo.

— Oi, Emily. Eu sou Lilly.

A menina piscou algumas vezes antes de correr até Lilly e parar na frente dela, analisando-a atentamente, como se estivesse tentando decifrar um enigma.

— Você é bonita — disse Emily, sem rodeios.

Lilly soltou uma risadinha surpresa.

— Obrigada! Você também é.

Emily sorriu, satisfeita, e então olhou para o pai.

— Ela é legal, papai! Podemos ficar com ela?

James observava a interação em silêncio. Ele já tinha visto sua filha interagir com outras babás antes, sempre com certa reserva, nunca demonstrando tanto entusiasmo de imediato. Mas com Lilly… foi diferente.

Havia algo natural na forma como conversavam, como se já se conhecessem há tempos.

— Não sei se Lilly quer ficar, — disse James, voltando o olhar para ela. — Isso ainda não foi decidido.

Lilly sustentou seu olhar firme, mantendo o sorriso.

— Eu adoraria.

Emily bateu palminhas, animada.

— Então você vai brincar comigo?

— Sempre que puder.

— E vai me contar histórias antes de dormir?

— As melhores que eu conhecer.

Emily deu um pulinho de alegria antes de se virar para a governanta.

— Eu gostei dela!

— Vamos para o quarto, querida? Deixe seu pai terminar o trabalho — sugeriu a governanta, segurando sua mão.

Emily olhou mais uma vez para Lilly antes de sair, ainda sorrindo.

James permaneceu em silêncio por um instante, então inclinou-se levemente na cadeira, tamborilando os dedos sobre a mesa.

— Parece que Emily gostou de você.

— Isso é um bom sinal, não é? — Lilly perguntou, tentando esconder a leve ansiedade na voz.

James assentiu lentamente.

— Sim. Isso significa que você está contratada.

Lilly sentiu um alívio imediato. Finalmente, um emprego que poderia ajudá-la a pagar sua faculdade.

James pegou um contrato já preparado e deslizou-o sobre a mesa na direção dela.

— Aqui estão os termos. Você morará na casa para facilitar sua rotina com Emily. Seu salário e benefícios estão detalhados nas cláusulas.

Ela pegou a caneta e começou a ler as linhas do contrato, seus olhos percorrendo os detalhes com atenção. Mas, por um breve instante, enquanto se concentrava nos termos, James a observou sem que ela percebesse.

Seus traços eram delicados, mas havia algo marcante nela. Os olhos verdes pareciam conter uma intensidade que contrastava com sua postura gentil. O cabelo castanho caía em ondas leves sobre os ombros, e seus lábios…

James franziu a testa, desviando o olhar imediatamente.

O que diabos ele estava fazendo?

Não deveria estar analisando a aparência da babá de sua filha. Isso não era aceitável.

Ele se xingou mentalmente por ter se permitido sequer um segundo de distração. Não podia permitir que isso acontecesse de novo.

Lilly terminou de assinar e entregou o contrato de volta a ele, sem notar seu breve momento de contemplação.

— Acho que está tudo certo.

James pegou os papéis, empilhando-os sem expressão.

— Ótimo. Você começa amanhã.

Seu tom de voz era frio, profissional. Ele havia tomado uma decisão.

Lilly seria apenas uma funcionária.

Nada mais do que isso.

Ele não daria atenção a ela, não mostraria qualquer gentileza ou proximidade. Ela trabalharia para ele, cuidaria de Emily e seguiria sua vida.

Não havia espaço para distrações. Não havia espaço para sentimentos.

E James Carter nunca quebrava suas próprias regras.

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