Lilly respirou fundo antes de entrar no escritório. O ambiente era tão impecável quanto esperava: amplo, sofisticado, com móveis de madeira escura e uma grande janela panorâmica que exibia a vista da cidade. Mas o que realmente chamava sua atenção era o homem sentado atrás da mesa.
James Carter. Ele vestia um terno escuro, sem um único amassado, e observava-a com olhos atentos, avaliando-a sem pressa. — Senhorita Harper. — Sua voz era firme, autoritária. — Sente-se. Ela obedeceu, mantendo a postura ereta. — Você tem experiência como babá? — James perguntou sem rodeios, entrelaçando os dedos sobre a mesa. — Tenho experiência com crianças. Já trabalhei como voluntária em creches e dou aulas particulares para ajudar a pagar minha faculdade de Pedagogia. Ele ergueu levemente a sobrancelha, como se analisasse a resposta. — Mas nunca trabalhou como babá. — Nunca formalmente, mas cuidei de primos mais novos e filhos de amigos da família. James assentiu devagar. — Minha filha tem cinco anos. Está acostumada a uma rotina específica. É uma criança doce, mas sente muito a minha ausência. Havia um resquício de emoção em sua voz, algo quase imperceptível, mas Lilly captou. — Entendo. E como o senhor espera que eu ajude nisso? Um leve brilho de interesse cruzou os olhos de James. Ele gostava de objetividade. — Quero alguém que possa estar presente para ela. Não apenas fisicamente, mas que realmente se importe. Que seja paciente, mas que também imponha limites quando necessário. Lilly assentiu, pensativa. — Crianças precisam de estabilidade. Se Emily sente sua falta, é importante que ela tenha alguém em quem possa confiar e se apegar. James não esperava essa resposta. Ele analisou-a por alguns instantes, e Lilly sustentou o olhar. Havia algo na maneira como ela falava – um misto de segurança e gentileza – que o fez acreditar que talvez ela fosse a escolha certa. — Sabe que esse trabalho exigirá comprometimento total? Morar aqui, estar disponível quando necessário. — Sim. Estou disposta a isso. Por um breve segundo, um silêncio se instalou. James não era um homem que se deixava impressionar facilmente, mas algo em Lilly o fazia sentir que ela seria eficiente no trabalho. — E o que a faz querer esse emprego? — Ele perguntou. — Além da necessidade financeira, eu realmente gosto de crianças. Quero ser professora e esse trabalho pode me dar mais experiência direta com elas. James notou a forma como os olhos dela brilharam ao falar sobre seu futuro. Ela parecia genuinamente apaixonada pelo que fazia. Ele desviou o olhar por um instante, recompondo-se. — Muito bem, senhorita Harper. Lilly sentiu que estava indo bem. Apesar da postura fria e rígida de James, havia algo na forma como ele escutava que mostrava que ele a levava a sério. Foi então que a porta do escritório se abriu. — Papai! Uma garotinha de cabelos castanhos claros entrou correndo, seus pequenos pés batendo no chão de madeira polida. Atrás dela, vinha uma senhora de meia-idade, a governanta, que observava a cena com um sorriso discreto. James ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços. — Emily, quantas vezes já falei para bater antes de entrar? — Mas eu queria te ver! — Emily sorriu e, ao notar Lilly, arregalou os olhos curiosos. — Quem é ela? Lilly se inclinou um pouco, sorrindo. — Oi, Emily. Eu sou Lilly. A menina piscou algumas vezes antes de correr até Lilly e parar na frente dela, analisando-a atentamente, como se estivesse tentando decifrar um enigma. — Você é bonita — disse Emily, sem rodeios. Lilly soltou uma risadinha surpresa. — Obrigada! Você também é. Emily sorriu, satisfeita, e então olhou para o pai. — Ela é legal, papai! Podemos ficar com ela? James observava a interação em silêncio. Ele já tinha visto sua filha interagir com outras babás antes, sempre com certa reserva, nunca demonstrando tanto entusiasmo de imediato. Mas com Lilly… foi diferente. Havia algo natural na forma como conversavam, como se já se conhecessem há tempos. — Não sei se Lilly quer ficar, — disse James, voltando o olhar para ela. — Isso ainda não foi decidido. Lilly sustentou seu olhar firme, mantendo o sorriso. — Eu adoraria. Emily bateu palminhas, animada. — Então você vai brincar comigo? — Sempre que puder. — E vai me contar histórias antes de dormir? — As melhores que eu conhecer. Emily deu um pulinho de alegria antes de se virar para a governanta. — Eu gostei dela! — Vamos para o quarto, querida? Deixe seu pai terminar o trabalho — sugeriu a governanta, segurando sua mão. Emily olhou mais uma vez para Lilly antes de sair, ainda sorrindo. James permaneceu em silêncio por um instante, então inclinou-se levemente na cadeira, tamborilando os dedos sobre a mesa. — Parece que Emily gostou de você. — Isso é um bom sinal, não é? — Lilly perguntou, tentando esconder a leve ansiedade na voz. James assentiu lentamente. — Sim. Isso significa que você está contratada. Lilly sentiu um alívio imediato. Finalmente, um emprego que poderia ajudá-la a pagar sua faculdade. James pegou um contrato já preparado e deslizou-o sobre a mesa na direção dela. — Aqui estão os termos. Você morará na casa para facilitar sua rotina com Emily. Seu salário e benefícios estão detalhados nas cláusulas. Ela pegou a caneta e começou a ler as linhas do contrato, seus olhos percorrendo os detalhes com atenção. Mas, por um breve instante, enquanto se concentrava nos termos, James a observou sem que ela percebesse. Seus traços eram delicados, mas havia algo marcante nela. Os olhos verdes pareciam conter uma intensidade que contrastava com sua postura gentil. O cabelo castanho caía em ondas leves sobre os ombros, e seus lábios… James franziu a testa, desviando o olhar imediatamente. O que diabos ele estava fazendo? Não deveria estar analisando a aparência da babá de sua filha. Isso não era aceitável. Ele se xingou mentalmente por ter se permitido sequer um segundo de distração. Não podia permitir que isso acontecesse de novo. Lilly terminou de assinar e entregou o contrato de volta a ele, sem notar seu breve momento de contemplação. — Acho que está tudo certo. James pegou os papéis, empilhando-os sem expressão. — Ótimo. Você começa amanhã. Seu tom de voz era frio, profissional. Ele havia tomado uma decisão. Lilly seria apenas uma funcionária. Nada mais do que isso. Ele não daria atenção a ela, não mostraria qualquer gentileza ou proximidade. Ela trabalharia para ele, cuidaria de Emily e seguiria sua vida. Não havia espaço para distrações. Não havia espaço para sentimentos. E James Carter nunca quebrava suas próprias regras.Lilly respirou fundo antes de sair do táxi. O portão imponente da mansão Carter se erguia à sua frente, e ela sentiu um misto de ansiedade e empolgação. Era sua primeira manhã oficialmente trabalhando para James Carter e cuidando da pequena Emily. O emprego era um grande passo para sua estabilidade financeira, mas também algo totalmente novo em sua vida.Enquanto puxava sua mala em direção à entrada, a porta da casa se abriu. James saía apressado, ajustando o relógio de pulso, com a expressão séria de sempre. Ele vestia um terno impecável e segurava uma pasta de couro em uma das mãos. Ao notar Lilly, parou por um instante.— Você chegou cedo. — Sua voz era firme, sem traço de emoção.— Achei melhor não me atrasar no primeiro dia. — Ela sorriu, tentando amenizar a tensão natural que sempre sentia perto dele.James apenas assentiu, lançando um olhar breve para sua mala antes de olhar para o relógio novamente.— A governanta vai te mostrar tudo. Preciso sair agora. — Ele se virou em dire
Lilly ajudou Emily a entrar no banheiro e a menina começou a falar sem parar sobre a escola, os amigos e as atividades que gostava de fazer. Enquanto lavava o cabelo de Emily com cuidado, Lilly ria das histórias exageradas que a garotinha contava.— E então, a professora disse que meu desenho era o mais bonito! — Emily disse, orgulhosa.— Aposto que sim! Você parece ser muito talentosa. — Lilly sorriu, enxaguando os fios castanhos da menina.Depois do banho, Lilly ajudou Emily a se vestir, escolhendo um vestido azul claro e um casaquinho combinando. A menina parecia animada por ter alguém ali para ajudá-la, e Lilly percebeu o quanto Emily sentia falta de uma presença mais próxima no dia a dia.Quando desceram as escadas, a governanta já as esperava na porta.— O motorista já está pronto para levá-las. — informou, entregando a mochila de Emily para Lilly.— Motorista? — Lilly franziu o cenho.— Sim, o senhor Carter deixou um carro à sua disposição para que possa levar e buscar Emily qu
James chegou cedo ao escritório, como sempre. Seu dia começou com uma reunião de diretoria, onde discutiam novas estratégias para expandir o mercado internacional da empresa. Como CEO da Carter Pharmaceuticals, sua presença era indispensável em cada decisão importante. Ele analisava relatórios, revisava contratos e respondia a e-mails, mantendo-se totalmente focado no trabalho. Ou, pelo menos, tentava.De tempos em tempos, sua mente vagava para a imagem de Lilly. O jeito que ela sorria para Emily, a forma como sua voz suave preenchia os espaços da casa. Era irritante perceber que uma simples funcionária estava conseguindo invadir seus pensamentos dessa maneira.— James, você tá me ouvindo? — A voz de Fabrício o tirou de seus devaneios.James piscou e voltou a atenção para seu amigo e sócio, que o olhava com uma sobrancelha arqueada.— Sim, claro. Você estava falando sobre a campanha do novo medicamento. — Ele tentou retomar o foco.— Na verdade, eu estava perguntando se você quer almo
Quando James estacionou o carro na garagem, Emily saltou do banco de trás animada, correndo para dentro de casa. Ele a seguiu com passos mais lentos, sentindo o peso do dia de trabalho ainda sobre seus ombros. Assim que entrou, o cheiro delicioso de comida recém-preparada invadiu seus sentidos, despertando uma sensação de conforto que ele não experimentava há muito tempo.— Você está cozinhando? — Ele perguntou ao ver Lilly na cozinha, de avental, retirando uma pizza do forno.Lilly se virou para encará-lo, um sorriso leve nos lábios.— Sim. Emily disse que adorava pizza caseira, então achei que seria uma boa ideia. Espero que não se importe. — respondeu, colocando a travessa sobre a bancada.James observou-a por um momento. O avental um pouco sujo de farinha, os cabelos presos de qualquer jeito, o brilho nos olhos ao falar de Emily… Tudo nela parecia transmitir uma calma que ele não estava acostumado a ter em sua casa.— Desde que não tenha colocado veneno na massa, acho que podemos
Lilly despertou no meio da madrugada, ainda sentindo o calor do corpinho de Emily ao seu lado. A menina dormia profundamente, os pequenos braços soltos sobre os lençóis. Com cuidado, Lilly deslizou para fora da cama e ajeitou as cobertas sobre a menina. Ao sair do quarto, percebeu um brilho fraco vindo do andar de baixo. A luz do escritório de James estava acesa.Curiosa, desceu silenciosamente, passando pelo corredor até a porta entreaberta. Espiou para dentro e encontrou James de pé, perto da janela, segurando um copo de whisky na mão. A noite estava clara, iluminada pela lua cheia, e a vasta extensão do jardim se estendia sob as estrelas.— Está acordado tarde, senhor Carter. — Lilly quebrou o silêncio, dando um passo à frente.James virou-se devagar, o olhar analítico recaindo sobre ela. Ele parecia menos impenetrável naquele momento, talvez pelo efeito da bebida ou pelo cansaço do dia.— Não costumo dormir cedo. — respondeu, levando o copo aos lábios. — E você? Achei que estivess
James Carter estava em seu escritório, sentado atrás da enorme mesa de carvalho enquanto analisava documentos com um semblante sério. Do outro lado da linha, a voz irritada de um fornecedor ecoava pelo viva-voz.— O lote simplesmente não pode ser entregue no prazo que combinamos, senhor Carter. Houve um problema com a logística, e levaremos pelo menos mais uma semana.James cerrou a mandíbula, contendo a frustração. Aquele atraso poderia custar milhões à empresa e prejudicar negociações importantes.— Uma semana não é aceitável. Já temos distribuidores esperando esse produto, e qualquer atraso compromete contratos que levamos meses para fechar. Quero uma solução. Agora.Do outro lado, o fornecedor gaguejou algo sobre tentar agilizar o processo, mas James já estava impaciente.— Espero uma nova previsão até o fim do dia. E que seja viável. Caso contrário, reconsideraremos nosso contrato com vocês. — Ele encerrou a ligação com um suspiro pesado.Fabrício, que estava sentado à frente del
Lilly sentou-se no jardim com Emily, o sol poente lançando tons dourados sobre o gramado. A menina ainda fungava, segurando as mãozinhas no colo, os olhos vermelhos de tanto chorar. Lilly passou a mão com delicadeza pelos cabelos da garotinha, esperando que ela estivesse pronta para falar.— Querida, pode me contar o que aconteceu? Por que chegou tão triste? — perguntou com doçura.Emily balançou as perninhas, hesitante. Olhou para Lilly como se estivesse decidindo se podia confiar nela com seu pequeno coração ferido. Finalmente, respirou fundo e começou a falar.— Na escola… tem uma menina… a Isabela. Ela fica rindo de mim já faz um tempo. Me chama de “menina sem mãe” e agora… — a voz embargou, e ela abaixou a cabeça. — Agora que vai ter a apresentação do Dia das Mães, ela disse que eu não posso participar porque… porque eu não tenho mamãe.Lilly sentiu o peito apertar. Emily começou a chorar baixinho novamente, e Lilly a puxou para um abraço apertado.— Isso não é verdade, meu amor.
Por um instante, apenas o som suave da noite preenchia a varanda.Lilly ainda segurava uma canetinha nas mãos, seus dedos entrelaçados no papel colorido. Emily sorria, divagando inocentemente sobre como seria maravilhoso se Lilly se tornasse sua nova mãe.E então ela o viu.James estava parado na soleira da porta, uma sombra alta e imponente contra a iluminação suave da casa. Seus olhos, sempre tão controlados, estavam fixos nela, e Lilly sentiu um frio na espinha ao perceber que ele ouvira cada palavra.Seus olhares se encontraram.James engoliu em seco, seu maxilar se retesando. Por um segundo, ele pareceu perdido entre o impacto do que ouvira e a necessidade urgente de disfarçar qualquer emoção. Lilly, por sua vez, ficou imóvel, seu coração disparado, surpresa e envergonhada pela conversa que James claramente não deveria ter escutado.O tempo pareceu se alongar entre os dois, um fio invisível e tenso ligando seus olhares. Nenhum deles sabia o que dizer.Antes que qualquer um pudess