O sol ainda surgia tímido no céu quando Lilly saiu do quarto, com os olhos pesados e o corpo em ritmo automático. A noite mal tinha lhe dado descanso. A ligação do dia anterior ecoava como um tambor em sua mente, relembrando a todo instante que seu pai se fora, e que agora sua mãe e sua irmã mais nova estavam completamente sozinhas.O mundo parecia o mesmo por fora, mas algo dentro dela estava diferente — mais denso, mais cansado.Desceu as escadas em silêncio, indo direto para a cozinha. Dona Marlene já estava organizando o café da manhã, com a habilidade de sempre. Ao ver Lilly entrar, sorriu com carinho.— Bom dia, minha flor. Dormiu bem?Lilly hesitou por um instante, mas assentiu.— Dormi sim… só um pouco cansada.— Você anda com essa carinha de preocupação desde ontem. Está tudo bem mesmo?Lilly pegou uma xícara e serviu café para si mesma, tentando disfarçar o tremor leve nas mãos.— Só algumas coisas da faculdade. Mas vai se resolver.Marlene não acreditou muito na resposta, m
James terminava de revisar um relatório no escritório quando a imagem de Lilly sentada no jardim mais cedo voltou à sua mente. Havia algo no modo como ela encarava o chão, como se estivesse tentando manter-se firme por dentro, mesmo que estivesse se partindo. Ele não conseguia afastar aquela imagem, nem a inquietação que o acompanhava desde então.Levantou-se da cadeira e, ao passar pelo corredor, encontrou Dona Marlene organizando os arranjos de flores da sala.— Marlene — chamou, mantendo a voz baixa, quase contida.Ela o olhou com curiosidade.— Pois não, senhor James?— A Lilly... — começou, hesitando mais do que gostaria. — Você notou algo diferente nela nos últimos dias?A governanta pareceu surpresa com a pergunta. Colocou o vaso no aparador e cruzou os braços.— Notei sim. Desde ontem ela anda com o olhar distante, mais calada. Eu perguntei, mas ela disse que era coisa da faculdade. Mas tem algo a mais, eu sinto.James assentiu lentamente, seu olhar perdido no chão de madeira
Lilly Harper estava acostumada a se virar sozinha. Desde que deixou a pequena cidade onde cresceu para estudar Pedagogia em São Paulo, aprendeu rapidamente que a vida na capital exigia mais do que apenas determinação – exigia sacrifícios.Aos vinte e cinco anos, morava sozinha em um apartamento modesto, com paredes finas demais e um aluguel que consumia quase tudo o que ganhava no café onde trabalhava meio período. O espaço era pequeno, mas era dela, e isso significava liberdade. Liberdade para construir seu próprio caminho, ainda que com dificuldades.Era magra, de estatura mediana, com longos cabelos castanhos que quase sempre usava presos em um coque desajeitado. Os olhos verdes eram vivos, cheios de sonhos que pareciam cada vez mais distantes conforme a realidade a empurrava para preocupações mais imediatas – como pagar a mensalidade atrasada da faculdade ou decidir entre jantar e economizar para o transporte.O trabalho no café era exaustivo. O turno começava cedo, e ela passava
James Carter não gostava de imprevistos. Sua vida era regida pela rotina, planejada nos mínimos detalhes para garantir que cada minuto fosse produtivo. Ele não era apenas um empresário de sucesso – era o CEO de uma das maiores empresas farmacêuticas do país, a Carter Pharmaceuticals, uma potência no setor de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos.Seus dias começavam cedo, antes mesmo do sol nascer. Após uma hora de treino intenso em sua academia particular, onde alternava entre musculação e corrida, tomava um banho frio e vestia um de seus ternos impecáveis. Cada peça era feita sob medida, sem rugas, sem falhas – assim como ele preferia manter sua vida.O café da manhã era sempre o mesmo: café preto sem açúcar e uma omelete leve, enquanto lia relatórios financeiros e respondia e-mails. Tudo em sua rotina era otimizado para eficiência.Às sete em ponto, o motorista já o esperava do lado de fora da mansão. Durante o trajeto até a sede da Carter Pharmaceuticals, localizada em um dos
Lilly respirou fundo antes de entrar no escritório. O ambiente era tão impecável quanto esperava: amplo, sofisticado, com móveis de madeira escura e uma grande janela panorâmica que exibia a vista da cidade. Mas o que realmente chamava sua atenção era o homem sentado atrás da mesa. James Carter. Ele vestia um terno escuro, sem um único amassado, e observava-a com olhos atentos, avaliando-a sem pressa. — Senhorita Harper. — Sua voz era firme, autoritária. — Sente-se. Ela obedeceu, mantendo a postura ereta. — Você tem experiência como babá? — James perguntou sem rodeios, entrelaçando os dedos sobre a mesa. — Tenho experiência com crianças. Já trabalhei como voluntária em creches e dou aulas particulares para ajudar a pagar minha faculdade de Pedagogia. Ele ergueu levemente a sobrancelha, como se analisasse a resposta. — Mas nunca trabalhou como babá. — Nunca formalmente, mas cuidei de primos mais novos e filhos de amigos da família. James assentiu devagar. — Minha
Lilly respirou fundo antes de sair do táxi. O portão imponente da mansão Carter se erguia à sua frente, e ela sentiu um misto de ansiedade e empolgação. Era sua primeira manhã oficialmente trabalhando para James Carter e cuidando da pequena Emily. O emprego era um grande passo para sua estabilidade financeira, mas também algo totalmente novo em sua vida.Enquanto puxava sua mala em direção à entrada, a porta da casa se abriu. James saía apressado, ajustando o relógio de pulso, com a expressão séria de sempre. Ele vestia um terno impecável e segurava uma pasta de couro em uma das mãos. Ao notar Lilly, parou por um instante.— Você chegou cedo. — Sua voz era firme, sem traço de emoção.— Achei melhor não me atrasar no primeiro dia. — Ela sorriu, tentando amenizar a tensão natural que sempre sentia perto dele.James apenas assentiu, lançando um olhar breve para sua mala antes de olhar para o relógio novamente.— A governanta vai te mostrar tudo. Preciso sair agora. — Ele se virou em dire
Lilly ajudou Emily a entrar no banheiro e a menina começou a falar sem parar sobre a escola, os amigos e as atividades que gostava de fazer. Enquanto lavava o cabelo de Emily com cuidado, Lilly ria das histórias exageradas que a garotinha contava.— E então, a professora disse que meu desenho era o mais bonito! — Emily disse, orgulhosa.— Aposto que sim! Você parece ser muito talentosa. — Lilly sorriu, enxaguando os fios castanhos da menina.Depois do banho, Lilly ajudou Emily a se vestir, escolhendo um vestido azul claro e um casaquinho combinando. A menina parecia animada por ter alguém ali para ajudá-la, e Lilly percebeu o quanto Emily sentia falta de uma presença mais próxima no dia a dia.Quando desceram as escadas, a governanta já as esperava na porta.— O motorista já está pronto para levá-las. — informou, entregando a mochila de Emily para Lilly.— Motorista? — Lilly franziu o cenho.— Sim, o senhor Carter deixou um carro à sua disposição para que possa levar e buscar Emily qu
James chegou cedo ao escritório, como sempre. Seu dia começou com uma reunião de diretoria, onde discutiam novas estratégias para expandir o mercado internacional da empresa. Como CEO da Carter Pharmaceuticals, sua presença era indispensável em cada decisão importante. Ele analisava relatórios, revisava contratos e respondia a e-mails, mantendo-se totalmente focado no trabalho. Ou, pelo menos, tentava.De tempos em tempos, sua mente vagava para a imagem de Lilly. O jeito que ela sorria para Emily, a forma como sua voz suave preenchia os espaços da casa. Era irritante perceber que uma simples funcionária estava conseguindo invadir seus pensamentos dessa maneira.— James, você tá me ouvindo? — A voz de Fabrício o tirou de seus devaneios.James piscou e voltou a atenção para seu amigo e sócio, que o olhava com uma sobrancelha arqueada.— Sim, claro. Você estava falando sobre a campanha do novo medicamento. — Ele tentou retomar o foco.— Na verdade, eu estava perguntando se você quer almo