Os olhos de Lilly e James se encontraram por um instante. Havia uma tensão estranha naquele olhar. O dele carregava uma mistura de surpresa e algo indefinido, enquanto o dela parecia preso entre o choque e o embaraço. James engoliu em seco, os ombros enrijecidos, mas antes que qualquer palavra pudesse ser dita, Emily correu até ele, abraçando-o pela cintura com força.— Papai! — exclamou, sua voz doce e cansada ao mesmo tempo.James piscou, como se despertasse de um transe, e sorriu para a filha, abaixando-se para pegá-la no colo.— Que foi, minha pequena? Ainda acordada a essa hora?— Estava com a Lilly... a gente tava desenhando — ela respondeu, esfregando os olhos.Ele lançou um breve olhar a Lilly, que ainda estava parada na varanda, tentando se recompor. Ela esboçou um sorriso tenso, o coração ainda apertado pela conversa de mais cedo e agora, por James ter escutado tudo.— Está na hora de dormir — ele disse à filha, voltando a encará-la com ternura.Sem dizer mais nada, ele levo
Na manhã seguinte, Lilly acordou antes do despertador tocar. Seus olhos estavam abertos, mas sua mente parecia longe dali, presa a lembranças e dores que ainda eram difíceis de acreditar. Havia se passado apenas algumas horas desde aquela ligação, mas tudo parecia diferente. O céu ainda estava azul, o canto dos pássaros ainda invadia a janela... e, no entanto, o mundo parecia mais cinza.Na cozinha, ela tentava disfarçar o abatimento enquanto preparava o café da manhã ao lado da governanta. Cortava frutas com a precisão de sempre, mas com uma expressão distante.James desceu as escadas poucos minutos depois. Seus olhos buscaram Lilly imediatamente, e ele percebeu o leve inchaço ao redor dos olhos dela, o tom pálido da pele, a rigidez dos ombros. Ela estava se esforçando para parecer bem — e isso só tornava mais evidente que não estava.Seus olhares se encontraram por um breve instante. O dele era sério, analitico. O dela, evasivo.— Bom dia. — Lilly disse, com um sorriso fraco, abaixa
O céu ainda era escuro quando Lilly despertou. A luz tênue da manhã filtrava-se pelas cortinas de seu quarto, mas ela já estava desperta há algum tempo, os olhos abertos, encarando o teto. A ligação da noite anterior ainda ecoava em sua mente. Cada palavra, cada tom de voz do outro lado da linha havia deixado uma marca. Sua mãe estava desesperada — as dívidas estavam se acumulando, e o seguro de vida do pai, inexistente, não aliviaria a situação.Lilly se sentia como um nó mal amarrado: presa entre o passado e o presente, entre a família e a nova vida que estava construindo com esforço. Era jovem, sonhadora, mas agora o peso da realidade lhe dobrava os ombros.Levantou-se com o rosto sério e foi até o banheiro, onde lavou o rosto com água fria. Precisava manter a compostura, especialmente diante de Emily. A menina não merecia mais preocupações.Desceu para a cozinha e encontrou a governanta organizando a mesa do café. Sorriu para ela, como se estivesse tudo bem. Era uma máscara que já
A luz suave da manhã entrava pelas janelas enormes da mansão quando Lilly desceu as escadas com o celular em mãos e o coração apertado. Na tela, a confirmação do protocolo de solicitação de transferência da faculdade para a modalidade a distância piscava em azul. Um passo difícil, mas necessário.Sentia-se um pouco derrotada por abrir mão das aulas presenciais — adorava o ambiente acadêmico, as conversas nos corredores, os debates em sala —, mas sabia que aquela era a escolha certa no momento. A mensalidade mais baixa significava que poderia ajudar sua mãe com as contas em casa, agora que o pai não estava mais lá para segurar tudo. E ainda que doesse, Lilly já começava a entender que crescer era mesmo uma sucessão de renúncias.Na cozinha, a governanta terminava de preparar o café da manhã. Emily ainda não havia descido, mas Lilly já ouvia o barulho da água correndo no banheiro do andar de cima. Respirou fundo, guardou o celular no bolso e sorriu, forçando leveza no rosto.— Bom dia,
Lilly Harper estava acostumada a se virar sozinha. Desde que deixou a pequena cidade onde cresceu para estudar Pedagogia em São Paulo, aprendeu rapidamente que a vida na capital exigia mais do que apenas determinação – exigia sacrifícios.Aos vinte e cinco anos, morava sozinha em um apartamento modesto, com paredes finas demais e um aluguel que consumia quase tudo o que ganhava no café onde trabalhava meio período. O espaço era pequeno, mas era dela, e isso significava liberdade. Liberdade para construir seu próprio caminho, ainda que com dificuldades.Era magra, de estatura mediana, com longos cabelos castanhos que quase sempre usava presos em um coque desajeitado. Os olhos verdes eram vivos, cheios de sonhos que pareciam cada vez mais distantes conforme a realidade a empurrava para preocupações mais imediatas – como pagar a mensalidade atrasada da faculdade ou decidir entre jantar e economizar para o transporte.O trabalho no café era exaustivo. O turno começava cedo, e ela passava
James Carter não gostava de imprevistos. Sua vida era regida pela rotina, planejada nos mínimos detalhes para garantir que cada minuto fosse produtivo. Ele não era apenas um empresário de sucesso – era o CEO de uma das maiores empresas farmacêuticas do país, a Carter Pharmaceuticals, uma potência no setor de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos.Seus dias começavam cedo, antes mesmo do sol nascer. Após uma hora de treino intenso em sua academia particular, onde alternava entre musculação e corrida, tomava um banho frio e vestia um de seus ternos impecáveis. Cada peça era feita sob medida, sem rugas, sem falhas – assim como ele preferia manter sua vida.O café da manhã era sempre o mesmo: café preto sem açúcar e uma omelete leve, enquanto lia relatórios financeiros e respondia e-mails. Tudo em sua rotina era otimizado para eficiência.Às sete em ponto, o motorista já o esperava do lado de fora da mansão. Durante o trajeto até a sede da Carter Pharmaceuticals, localizada em um dos
Lilly respirou fundo antes de entrar no escritório. O ambiente era tão impecável quanto esperava: amplo, sofisticado, com móveis de madeira escura e uma grande janela panorâmica que exibia a vista da cidade. Mas o que realmente chamava sua atenção era o homem sentado atrás da mesa. James Carter. Ele vestia um terno escuro, sem um único amassado, e observava-a com olhos atentos, avaliando-a sem pressa. — Senhorita Harper. — Sua voz era firme, autoritária. — Sente-se. Ela obedeceu, mantendo a postura ereta. — Você tem experiência como babá? — James perguntou sem rodeios, entrelaçando os dedos sobre a mesa. — Tenho experiência com crianças. Já trabalhei como voluntária em creches e dou aulas particulares para ajudar a pagar minha faculdade de Pedagogia. Ele ergueu levemente a sobrancelha, como se analisasse a resposta. — Mas nunca trabalhou como babá. — Nunca formalmente, mas cuidei de primos mais novos e filhos de amigos da família. James assentiu devagar. — Minha
Lilly respirou fundo antes de sair do táxi. O portão imponente da mansão Carter se erguia à sua frente, e ela sentiu um misto de ansiedade e empolgação. Era sua primeira manhã oficialmente trabalhando para James Carter e cuidando da pequena Emily. O emprego era um grande passo para sua estabilidade financeira, mas também algo totalmente novo em sua vida.Enquanto puxava sua mala em direção à entrada, a porta da casa se abriu. James saía apressado, ajustando o relógio de pulso, com a expressão séria de sempre. Ele vestia um terno impecável e segurava uma pasta de couro em uma das mãos. Ao notar Lilly, parou por um instante.— Você chegou cedo. — Sua voz era firme, sem traço de emoção.— Achei melhor não me atrasar no primeiro dia. — Ela sorriu, tentando amenizar a tensão natural que sempre sentia perto dele.James apenas assentiu, lançando um olhar breve para sua mala antes de olhar para o relógio novamente.— A governanta vai te mostrar tudo. Preciso sair agora. — Ele se virou em dire