Lilly respirou fundo antes de sair do táxi. O portão imponente da mansão Carter se erguia à sua frente, e ela sentiu um misto de ansiedade e empolgação. Era sua primeira manhã oficialmente trabalhando para James Carter e cuidando da pequena Emily. O emprego era um grande passo para sua estabilidade financeira, mas também algo totalmente novo em sua vida.
Enquanto puxava sua mala em direção à entrada, a porta da casa se abriu. James saía apressado, ajustando o relógio de pulso, com a expressão séria de sempre. Ele vestia um terno impecável e segurava uma pasta de couro em uma das mãos. Ao notar Lilly, parou por um instante. — Você chegou cedo. — Sua voz era firme, sem traço de emoção. — Achei melhor não me atrasar no primeiro dia. — Ela sorriu, tentando amenizar a tensão natural que sempre sentia perto dele. James apenas assentiu, lançando um olhar breve para sua mala antes de olhar para o relógio novamente. — A governanta vai te mostrar tudo. Preciso sair agora. — Ele se virou em direção ao carro que já o aguardava na entrada. — Bem-vinda, Lilly. — disse por fim, antes de entrar no veículo e desaparecer pela longa estrada que levava ao portão principal. Lilly soltou um suspiro e se virou para a casa, sentindo-se um pouco mais à vontade sem a presença intimidadora de James. Antes que pudesse tocar na maçaneta, a porta se abriu de supetão, e uma garotinha de cabelos castanhos claros surgiu diante dela, os olhos brilhando de animação. — Você veio! — Emily exclamou, um sorriso largo estampado no rosto. O coração de Lilly aqueceu com a recepção calorosa. — Vim sim! — respondeu, abaixando-se para ficar na altura da menina. — Você estava me esperando? — Sim! Eu acordei cedo porque a governanta disse que você chegaria hoje. Queria te mostrar tudo! — Emily pegou sua mão sem hesitar. — Vem, quero te levar para ver o seu quarto! Lilly riu e olhou para a governanta, que agora estava parada na porta, observando a cena com um sorriso suave. — Bom dia, senhorita Harper. Sou a senhora Carter, a governanta da casa. — A mulher, de aparência elegante e idade avançada, fez um gesto indicando que poderia segui-las. — Emily está ansiosa desde ontem. Lilly caminhou pela ampla entrada da casa, observando os detalhes luxuosos do interior. Era ainda mais impressionante do que imaginava. Emily, sem soltar sua mão, a puxou escada acima. — Seu quarto é bem bonito! Acho que você vai gostar. — a menina disse, animada. Ao chegarem ao segundo andar, a governanta abriu uma porta dupla e Lilly entrou, surpreendendo-se ao ver o espaço que agora seria seu. O quarto era enorme, com um design sofisticado e acolhedor. Havia uma grande cama de dossel com lençóis macios, uma escrivaninha elegante próxima à janela e um armário embutido de madeira escura. — Uau... — Lilly sussurrou, olhando ao redor. — Isso é incrível. — Eu te disse! — Emily bateu palminhas. — Você gostou? — Muito! Eu nunca tive um quarto tão bonito assim. A menina sorriu, parecendo satisfeita. — Agora que você mora aqui, podemos brincar sempre que eu não estiver na escola? Lilly sentou-se na beira da cama e olhou para a pequena. — Claro! O que você gosta de brincar? — Bonecas! Eu tenho várias e podemos inventar histórias juntas! — Emily pegou a mão de Lilly novamente. — Vamos para o meu quarto, vou te mostrar. Lilly olhou para a governanta, que assentiu com um pequeno sorriso. — Acho que você foi oficialmente convocada para uma manhã de brincadeiras, senhorita Harper. — a mulher comentou, com humor. Rindo, Lilly se levantou e seguiu Emily até seu quarto. Era um ambiente encantador, com tons suaves de rosa e branco, repleto de brinquedos organizados cuidadosamente em prateleiras. No meio do tapete macio havia um pequeno castelo de bonecas e uma fileira de pequenas princesas esperando por suas aventuras. — Vamos fazer um baile! — Emily decidiu, pegando duas bonecas e entregando uma a Lilly. — Essa pode ser a princesa e essa o príncipe. Lilly segurou os bonecos e sorriu. — Tudo bem. E qual será a história? — A princesa estava triste porque seu pai sempre estava ocupado, mas então ela encontrou uma fada que fez ela se sentir feliz de novo! — Emily explicou, ajeitando a saia de uma das bonecas. Lilly sentiu o coração apertar levemente. Era impossível não perceber que a história era inspirada em sua própria vida. — Essa fada é uma ótima amiga. — Lilly comentou, começando a movimentar as bonecas. — Talvez ela e a princesa possam se divertir juntas sempre que precisarem sorrir. — Sim! E o príncipe pode dançar com elas no baile! — Emily riu, fazendo a boneca rodopiar no tapete. Elas passaram um tempo brincando, conversando sobre histórias, filmes e as coisas que Emily mais gostava. Lilly já começava a entender a personalidade doce da menina, seu jeito sonhador e a carência que, embora mascarada por sua animação, ficava evidente em pequenos gestos. O tempo passou rapidamente, e logo a governanta bateu na porta. — Senhorita Emily, está na hora de se arrumar para a escola. — Ahhh, mas eu queria brincar mais um pouco! — Emily fez um biquinho, olhando para Lilly. — Podemos brincar mais quando você voltar. — Lilly prometeu, ajeitando o cabelo da menina. — Jura? — Claro. E se quiser, eu posso te contar uma história antes de dormir também. Os olhos de Emily brilharam de felicidade. — Combinado! — ela sorriu, antes de correr até o banheiro para se trocar. A governanta olhou para Lilly com um olhar de aprovação. — Ela realmente gostou de você. Lilly sorriu, sentindo-se mais à vontade. — E eu gostei dela. Acho que vamos nos dar muito bem. A governanta assentiu antes de se retirar, deixando Lilly sozinha por um momento. Ela olhou ao redor e soltou um longo suspiro. Estava oficialmente começando uma nova fase da sua vida. Agora, Lilly Harper fazia parte da casa Carter.Lilly ajudou Emily a entrar no banheiro e a menina começou a falar sem parar sobre a escola, os amigos e as atividades que gostava de fazer. Enquanto lavava o cabelo de Emily com cuidado, Lilly ria das histórias exageradas que a garotinha contava.— E então, a professora disse que meu desenho era o mais bonito! — Emily disse, orgulhosa.— Aposto que sim! Você parece ser muito talentosa. — Lilly sorriu, enxaguando os fios castanhos da menina.Depois do banho, Lilly ajudou Emily a se vestir, escolhendo um vestido azul claro e um casaquinho combinando. A menina parecia animada por ter alguém ali para ajudá-la, e Lilly percebeu o quanto Emily sentia falta de uma presença mais próxima no dia a dia.Quando desceram as escadas, a governanta já as esperava na porta.— O motorista já está pronto para levá-las. — informou, entregando a mochila de Emily para Lilly.— Motorista? — Lilly franziu o cenho.— Sim, o senhor Carter deixou um carro à sua disposição para que possa levar e buscar Emily qu
James chegou cedo ao escritório, como sempre. Seu dia começou com uma reunião de diretoria, onde discutiam novas estratégias para expandir o mercado internacional da empresa. Como CEO da Carter Pharmaceuticals, sua presença era indispensável em cada decisão importante. Ele analisava relatórios, revisava contratos e respondia a e-mails, mantendo-se totalmente focado no trabalho. Ou, pelo menos, tentava.De tempos em tempos, sua mente vagava para a imagem de Lilly. O jeito que ela sorria para Emily, a forma como sua voz suave preenchia os espaços da casa. Era irritante perceber que uma simples funcionária estava conseguindo invadir seus pensamentos dessa maneira.— James, você tá me ouvindo? — A voz de Fabrício o tirou de seus devaneios.James piscou e voltou a atenção para seu amigo e sócio, que o olhava com uma sobrancelha arqueada.— Sim, claro. Você estava falando sobre a campanha do novo medicamento. — Ele tentou retomar o foco.— Na verdade, eu estava perguntando se você quer almo
Quando James estacionou o carro na garagem, Emily saltou do banco de trás animada, correndo para dentro de casa. Ele a seguiu com passos mais lentos, sentindo o peso do dia de trabalho ainda sobre seus ombros. Assim que entrou, o cheiro delicioso de comida recém-preparada invadiu seus sentidos, despertando uma sensação de conforto que ele não experimentava há muito tempo.— Você está cozinhando? — Ele perguntou ao ver Lilly na cozinha, de avental, retirando uma pizza do forno.Lilly se virou para encará-lo, um sorriso leve nos lábios.— Sim. Emily disse que adorava pizza caseira, então achei que seria uma boa ideia. Espero que não se importe. — respondeu, colocando a travessa sobre a bancada.James observou-a por um momento. O avental um pouco sujo de farinha, os cabelos presos de qualquer jeito, o brilho nos olhos ao falar de Emily… Tudo nela parecia transmitir uma calma que ele não estava acostumado a ter em sua casa.— Desde que não tenha colocado veneno na massa, acho que podemos
Lilly despertou no meio da madrugada, ainda sentindo o calor do corpinho de Emily ao seu lado. A menina dormia profundamente, os pequenos braços soltos sobre os lençóis. Com cuidado, Lilly deslizou para fora da cama e ajeitou as cobertas sobre a menina. Ao sair do quarto, percebeu um brilho fraco vindo do andar de baixo. A luz do escritório de James estava acesa.Curiosa, desceu silenciosamente, passando pelo corredor até a porta entreaberta. Espiou para dentro e encontrou James de pé, perto da janela, segurando um copo de whisky na mão. A noite estava clara, iluminada pela lua cheia, e a vasta extensão do jardim se estendia sob as estrelas.— Está acordado tarde, senhor Carter. — Lilly quebrou o silêncio, dando um passo à frente.James virou-se devagar, o olhar analítico recaindo sobre ela. Ele parecia menos impenetrável naquele momento, talvez pelo efeito da bebida ou pelo cansaço do dia.— Não costumo dormir cedo. — respondeu, levando o copo aos lábios. — E você? Achei que estivess
James Carter estava em seu escritório, sentado atrás da enorme mesa de carvalho enquanto analisava documentos com um semblante sério. Do outro lado da linha, a voz irritada de um fornecedor ecoava pelo viva-voz.— O lote simplesmente não pode ser entregue no prazo que combinamos, senhor Carter. Houve um problema com a logística, e levaremos pelo menos mais uma semana.James cerrou a mandíbula, contendo a frustração. Aquele atraso poderia custar milhões à empresa e prejudicar negociações importantes.— Uma semana não é aceitável. Já temos distribuidores esperando esse produto, e qualquer atraso compromete contratos que levamos meses para fechar. Quero uma solução. Agora.Do outro lado, o fornecedor gaguejou algo sobre tentar agilizar o processo, mas James já estava impaciente.— Espero uma nova previsão até o fim do dia. E que seja viável. Caso contrário, reconsideraremos nosso contrato com vocês. — Ele encerrou a ligação com um suspiro pesado.Fabrício, que estava sentado à frente del
Lilly sentou-se no jardim com Emily, o sol poente lançando tons dourados sobre o gramado. A menina ainda fungava, segurando as mãozinhas no colo, os olhos vermelhos de tanto chorar. Lilly passou a mão com delicadeza pelos cabelos da garotinha, esperando que ela estivesse pronta para falar.— Querida, pode me contar o que aconteceu? Por que chegou tão triste? — perguntou com doçura.Emily balançou as perninhas, hesitante. Olhou para Lilly como se estivesse decidindo se podia confiar nela com seu pequeno coração ferido. Finalmente, respirou fundo e começou a falar.— Na escola… tem uma menina… a Isabela. Ela fica rindo de mim já faz um tempo. Me chama de “menina sem mãe” e agora… — a voz embargou, e ela abaixou a cabeça. — Agora que vai ter a apresentação do Dia das Mães, ela disse que eu não posso participar porque… porque eu não tenho mamãe.Lilly sentiu o peito apertar. Emily começou a chorar baixinho novamente, e Lilly a puxou para um abraço apertado.— Isso não é verdade, meu amor.
Por um instante, apenas o som suave da noite preenchia a varanda.Lilly ainda segurava uma canetinha nas mãos, seus dedos entrelaçados no papel colorido. Emily sorria, divagando inocentemente sobre como seria maravilhoso se Lilly se tornasse sua nova mãe.E então ela o viu.James estava parado na soleira da porta, uma sombra alta e imponente contra a iluminação suave da casa. Seus olhos, sempre tão controlados, estavam fixos nela, e Lilly sentiu um frio na espinha ao perceber que ele ouvira cada palavra.Seus olhares se encontraram.James engoliu em seco, seu maxilar se retesando. Por um segundo, ele pareceu perdido entre o impacto do que ouvira e a necessidade urgente de disfarçar qualquer emoção. Lilly, por sua vez, ficou imóvel, seu coração disparado, surpresa e envergonhada pela conversa que James claramente não deveria ter escutado.O tempo pareceu se alongar entre os dois, um fio invisível e tenso ligando seus olhares. Nenhum deles sabia o que dizer.Antes que qualquer um pudess
Os olhos de Lilly e James se encontraram por um instante. Havia uma tensão estranha naquele olhar. O dele carregava uma mistura de surpresa e algo indefinido, enquanto o dela parecia preso entre o choque e o embaraço. James engoliu em seco, os ombros enrijecidos, mas antes que qualquer palavra pudesse ser dita, Emily correu até ele, abraçando-o pela cintura com força.— Papai! — exclamou, sua voz doce e cansada ao mesmo tempo.James piscou, como se despertasse de um transe, e sorriu para a filha, abaixando-se para pegá-la no colo.— Que foi, minha pequena? Ainda acordada a essa hora?— Estava com a Lilly... a gente tava desenhando — ela respondeu, esfregando os olhos.Ele lançou um breve olhar a Lilly, que ainda estava parada na varanda, tentando se recompor. Ela esboçou um sorriso tenso, o coração ainda apertado pela conversa de mais cedo e agora, por James ter escutado tudo.— Está na hora de dormir — ele disse à filha, voltando a encará-la com ternura.Sem dizer mais nada, ele levo