Lilly ajudou Emily a entrar no banheiro e a menina começou a falar sem parar sobre a escola, os amigos e as atividades que gostava de fazer. Enquanto lavava o cabelo de Emily com cuidado, Lilly ria das histórias exageradas que a garotinha contava.
— E então, a professora disse que meu desenho era o mais bonito! — Emily disse, orgulhosa. — Aposto que sim! Você parece ser muito talentosa. — Lilly sorriu, enxaguando os fios castanhos da menina. Depois do banho, Lilly ajudou Emily a se vestir, escolhendo um vestido azul claro e um casaquinho combinando. A menina parecia animada por ter alguém ali para ajudá-la, e Lilly percebeu o quanto Emily sentia falta de uma presença mais próxima no dia a dia. Quando desceram as escadas, a governanta já as esperava na porta. — O motorista já está pronto para levá-las. — informou, entregando a mochila de Emily para Lilly. — Motorista? — Lilly franziu o cenho. — Sim, o senhor Carter deixou um carro à sua disposição para que possa levar e buscar Emily quando necessário. — A governanta apontou para um carro preto estacionado na entrada, com um motorista à espera. Lilly piscou algumas vezes, surpresa com a comodidade inesperada. Não estava acostumada com esse tipo de luxo, mas resolveu não questionar. Pegou a mão de Emily e seguiu até o carro. No caminho até a escola, Emily pediu para que colocassem músicas animadas, e logo as duas estavam cantando e rindo juntas. Lilly percebeu como pequenos momentos como aquele faziam Emily brilhar de felicidade, e isso aqueceu seu coração. Quando chegaram, a menina se despediu com um abraço apertado e correu para encontrar os amigos. Lilly voltou para casa sentindo-se mais à vontade, e resolveu explorar a mansão um pouco. Os corredores eram extensos e bem decorados, com móveis refinados e quadros de paisagens elegantes. Ao passar por uma sala mais reservada, notou uma estante cheia de porta-retratos. Aproximou-se, curiosa, e viu diversas fotos de família. James aparecia ao lado de uma mulher linda, de sorriso radiante. Em algumas imagens, ele segurava um bebê – claramente Emily. Era impossível não notar a felicidade estampada em seus olhos. Mas o que mais chamou a atenção de Lilly foi como James parecia completamente diferente do homem frio e distante que ela conhecia agora. Naquelas fotos, ele era alguém apaixonado, realizado. — Suzana era uma mulher encantadora. — A voz da governanta soou atrás dela, fazendo-a se virar. — Suzana... — Lilly murmurou, olhando para a foto novamente. — Esposa do senhor Carter. Emily se parece muito com ela. — A governanta se aproximou e ajeitou um dos porta-retratos. — Eles eram uma família feliz. James a amava profundamente. Lilly notou a maneira como a governanta falava com um tom nostálgico, quase triste. — O que aconteceu com ela? — Lilly perguntou, hesitante. A governanta abriu a boca para responder, mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouviu-se uma chamada vinda de outra parte da casa. — Preciso ver isso. — ela disse, lançando um olhar rápido para Lilly. — Mas, um dia, talvez você descubra. E com isso, ela saiu, deixando Lilly sozinha diante das fotografias. Lilly ficou olhando para as imagens por mais alguns minutos, pensando em como aquela família fora tão feliz e em como tudo parecia ter se desfeito com a morte de Suzana. Ela suspirou, sentindo uma pontada de compaixão por James e Emily. Por trás da frieza de James, havia um homem que já amara intensamente. E agora, Emily crescia sem a presença da mãe e com um pai distante, perdido em seu trabalho. Decidida, Lilly prometeu a si mesma que faria de tudo para trazer mais alegria para aquela casa novamente.James chegou cedo ao escritório, como sempre. Seu dia começou com uma reunião de diretoria, onde discutiam novas estratégias para expandir o mercado internacional da empresa. Como CEO da Carter Pharmaceuticals, sua presença era indispensável em cada decisão importante. Ele analisava relatórios, revisava contratos e respondia a e-mails, mantendo-se totalmente focado no trabalho. Ou, pelo menos, tentava.De tempos em tempos, sua mente vagava para a imagem de Lilly. O jeito que ela sorria para Emily, a forma como sua voz suave preenchia os espaços da casa. Era irritante perceber que uma simples funcionária estava conseguindo invadir seus pensamentos dessa maneira.— James, você tá me ouvindo? — A voz de Fabrício o tirou de seus devaneios.James piscou e voltou a atenção para seu amigo e sócio, que o olhava com uma sobrancelha arqueada.— Sim, claro. Você estava falando sobre a campanha do novo medicamento. — Ele tentou retomar o foco.— Na verdade, eu estava perguntando se você quer almo
Quando James estacionou o carro na garagem, Emily saltou do banco de trás animada, correndo para dentro de casa. Ele a seguiu com passos mais lentos, sentindo o peso do dia de trabalho ainda sobre seus ombros. Assim que entrou, o cheiro delicioso de comida recém-preparada invadiu seus sentidos, despertando uma sensação de conforto que ele não experimentava há muito tempo.— Você está cozinhando? — Ele perguntou ao ver Lilly na cozinha, de avental, retirando uma pizza do forno.Lilly se virou para encará-lo, um sorriso leve nos lábios.— Sim. Emily disse que adorava pizza caseira, então achei que seria uma boa ideia. Espero que não se importe. — respondeu, colocando a travessa sobre a bancada.James observou-a por um momento. O avental um pouco sujo de farinha, os cabelos presos de qualquer jeito, o brilho nos olhos ao falar de Emily… Tudo nela parecia transmitir uma calma que ele não estava acostumado a ter em sua casa.— Desde que não tenha colocado veneno na massa, acho que podemos
Lilly despertou no meio da madrugada, ainda sentindo o calor do corpinho de Emily ao seu lado. A menina dormia profundamente, os pequenos braços soltos sobre os lençóis. Com cuidado, Lilly deslizou para fora da cama e ajeitou as cobertas sobre a menina. Ao sair do quarto, percebeu um brilho fraco vindo do andar de baixo. A luz do escritório de James estava acesa.Curiosa, desceu silenciosamente, passando pelo corredor até a porta entreaberta. Espiou para dentro e encontrou James de pé, perto da janela, segurando um copo de whisky na mão. A noite estava clara, iluminada pela lua cheia, e a vasta extensão do jardim se estendia sob as estrelas.— Está acordado tarde, senhor Carter. — Lilly quebrou o silêncio, dando um passo à frente.James virou-se devagar, o olhar analítico recaindo sobre ela. Ele parecia menos impenetrável naquele momento, talvez pelo efeito da bebida ou pelo cansaço do dia.— Não costumo dormir cedo. — respondeu, levando o copo aos lábios. — E você? Achei que estivess
James Carter estava em seu escritório, sentado atrás da enorme mesa de carvalho enquanto analisava documentos com um semblante sério. Do outro lado da linha, a voz irritada de um fornecedor ecoava pelo viva-voz.— O lote simplesmente não pode ser entregue no prazo que combinamos, senhor Carter. Houve um problema com a logística, e levaremos pelo menos mais uma semana.James cerrou a mandíbula, contendo a frustração. Aquele atraso poderia custar milhões à empresa e prejudicar negociações importantes.— Uma semana não é aceitável. Já temos distribuidores esperando esse produto, e qualquer atraso compromete contratos que levamos meses para fechar. Quero uma solução. Agora.Do outro lado, o fornecedor gaguejou algo sobre tentar agilizar o processo, mas James já estava impaciente.— Espero uma nova previsão até o fim do dia. E que seja viável. Caso contrário, reconsideraremos nosso contrato com vocês. — Ele encerrou a ligação com um suspiro pesado.Fabrício, que estava sentado à frente del
Lilly sentou-se no jardim com Emily, o sol poente lançando tons dourados sobre o gramado. A menina ainda fungava, segurando as mãozinhas no colo, os olhos vermelhos de tanto chorar. Lilly passou a mão com delicadeza pelos cabelos da garotinha, esperando que ela estivesse pronta para falar.— Querida, pode me contar o que aconteceu? Por que chegou tão triste? — perguntou com doçura.Emily balançou as perninhas, hesitante. Olhou para Lilly como se estivesse decidindo se podia confiar nela com seu pequeno coração ferido. Finalmente, respirou fundo e começou a falar.— Na escola… tem uma menina… a Isabela. Ela fica rindo de mim já faz um tempo. Me chama de “menina sem mãe” e agora… — a voz embargou, e ela abaixou a cabeça. — Agora que vai ter a apresentação do Dia das Mães, ela disse que eu não posso participar porque… porque eu não tenho mamãe.Lilly sentiu o peito apertar. Emily começou a chorar baixinho novamente, e Lilly a puxou para um abraço apertado.— Isso não é verdade, meu amor.
Por um instante, apenas o som suave da noite preenchia a varanda.Lilly ainda segurava uma canetinha nas mãos, seus dedos entrelaçados no papel colorido. Emily sorria, divagando inocentemente sobre como seria maravilhoso se Lilly se tornasse sua nova mãe.E então ela o viu.James estava parado na soleira da porta, uma sombra alta e imponente contra a iluminação suave da casa. Seus olhos, sempre tão controlados, estavam fixos nela, e Lilly sentiu um frio na espinha ao perceber que ele ouvira cada palavra.Seus olhares se encontraram.James engoliu em seco, seu maxilar se retesando. Por um segundo, ele pareceu perdido entre o impacto do que ouvira e a necessidade urgente de disfarçar qualquer emoção. Lilly, por sua vez, ficou imóvel, seu coração disparado, surpresa e envergonhada pela conversa que James claramente não deveria ter escutado.O tempo pareceu se alongar entre os dois, um fio invisível e tenso ligando seus olhares. Nenhum deles sabia o que dizer.Antes que qualquer um pudess
Os olhos de Lilly e James se encontraram por um instante. Havia uma tensão estranha naquele olhar. O dele carregava uma mistura de surpresa e algo indefinido, enquanto o dela parecia preso entre o choque e o embaraço. James engoliu em seco, os ombros enrijecidos, mas antes que qualquer palavra pudesse ser dita, Emily correu até ele, abraçando-o pela cintura com força.— Papai! — exclamou, sua voz doce e cansada ao mesmo tempo.James piscou, como se despertasse de um transe, e sorriu para a filha, abaixando-se para pegá-la no colo.— Que foi, minha pequena? Ainda acordada a essa hora?— Estava com a Lilly... a gente tava desenhando — ela respondeu, esfregando os olhos.Ele lançou um breve olhar a Lilly, que ainda estava parada na varanda, tentando se recompor. Ela esboçou um sorriso tenso, o coração ainda apertado pela conversa de mais cedo e agora, por James ter escutado tudo.— Está na hora de dormir — ele disse à filha, voltando a encará-la com ternura.Sem dizer mais nada, ele levo
Na manhã seguinte, Lilly acordou antes do despertador tocar. Seus olhos estavam abertos, mas sua mente parecia longe dali, presa a lembranças e dores que ainda eram difíceis de acreditar. Havia se passado apenas algumas horas desde aquela ligação, mas tudo parecia diferente. O céu ainda estava azul, o canto dos pássaros ainda invadia a janela... e, no entanto, o mundo parecia mais cinza.Na cozinha, ela tentava disfarçar o abatimento enquanto preparava o café da manhã ao lado da governanta. Cortava frutas com a precisão de sempre, mas com uma expressão distante.James desceu as escadas poucos minutos depois. Seus olhos buscaram Lilly imediatamente, e ele percebeu o leve inchaço ao redor dos olhos dela, o tom pálido da pele, a rigidez dos ombros. Ela estava se esforçando para parecer bem — e isso só tornava mais evidente que não estava.Seus olhares se encontraram por um breve instante. O dele era sério, analitico. O dela, evasivo.— Bom dia. — Lilly disse, com um sorriso fraco, abaixa