James Carter estava em seu escritório, sentado atrás da enorme mesa de carvalho enquanto analisava documentos com um semblante sério. Do outro lado da linha, a voz irritada de um fornecedor ecoava pelo viva-voz.— O lote simplesmente não pode ser entregue no prazo que combinamos, senhor Carter. Houve um problema com a logística, e levaremos pelo menos mais uma semana.James cerrou a mandíbula, contendo a frustração. Aquele atraso poderia custar milhões à empresa e prejudicar negociações importantes.— Uma semana não é aceitável. Já temos distribuidores esperando esse produto, e qualquer atraso compromete contratos que levamos meses para fechar. Quero uma solução. Agora.Do outro lado, o fornecedor gaguejou algo sobre tentar agilizar o processo, mas James já estava impaciente.— Espero uma nova previsão até o fim do dia. E que seja viável. Caso contrário, reconsideraremos nosso contrato com vocês. — Ele encerrou a ligação com um suspiro pesado.Fabrício, que estava sentado à frente del
Lilly sentou-se no jardim com Emily, o sol poente lançando tons dourados sobre o gramado. A menina ainda fungava, segurando as mãozinhas no colo, os olhos vermelhos de tanto chorar. Lilly passou a mão com delicadeza pelos cabelos da garotinha, esperando que ela estivesse pronta para falar.— Querida, pode me contar o que aconteceu? Por que chegou tão triste? — perguntou com doçura.Emily balançou as perninhas, hesitante. Olhou para Lilly como se estivesse decidindo se podia confiar nela com seu pequeno coração ferido. Finalmente, respirou fundo e começou a falar.— Na escola… tem uma menina… a Isabela. Ela fica rindo de mim já faz um tempo. Me chama de “menina sem mãe” e agora… — a voz embargou, e ela abaixou a cabeça. — Agora que vai ter a apresentação do Dia das Mães, ela disse que eu não posso participar porque… porque eu não tenho mamãe.Lilly sentiu o peito apertar. Emily começou a chorar baixinho novamente, e Lilly a puxou para um abraço apertado.— Isso não é verdade, meu amor.
Por um instante, apenas o som suave da noite preenchia a varanda.Lilly ainda segurava uma canetinha nas mãos, seus dedos entrelaçados no papel colorido. Emily sorria, divagando inocentemente sobre como seria maravilhoso se Lilly se tornasse sua nova mãe.E então ela o viu.James estava parado na soleira da porta, uma sombra alta e imponente contra a iluminação suave da casa. Seus olhos, sempre tão controlados, estavam fixos nela, e Lilly sentiu um frio na espinha ao perceber que ele ouvira cada palavra.Seus olhares se encontraram.James engoliu em seco, seu maxilar se retesando. Por um segundo, ele pareceu perdido entre o impacto do que ouvira e a necessidade urgente de disfarçar qualquer emoção. Lilly, por sua vez, ficou imóvel, seu coração disparado, surpresa e envergonhada pela conversa que James claramente não deveria ter escutado.O tempo pareceu se alongar entre os dois, um fio invisível e tenso ligando seus olhares. Nenhum deles sabia o que dizer.Antes que qualquer um pudess
Os olhos de Lilly e James se encontraram por um instante. Havia uma tensão estranha naquele olhar. O dele carregava uma mistura de surpresa e algo indefinido, enquanto o dela parecia preso entre o choque e o embaraço. James engoliu em seco, os ombros enrijecidos, mas antes que qualquer palavra pudesse ser dita, Emily correu até ele, abraçando-o pela cintura com força.— Papai! — exclamou, sua voz doce e cansada ao mesmo tempo.James piscou, como se despertasse de um transe, e sorriu para a filha, abaixando-se para pegá-la no colo.— Que foi, minha pequena? Ainda acordada a essa hora?— Estava com a Lilly... a gente tava desenhando — ela respondeu, esfregando os olhos.Ele lançou um breve olhar a Lilly, que ainda estava parada na varanda, tentando se recompor. Ela esboçou um sorriso tenso, o coração ainda apertado pela conversa de mais cedo e agora, por James ter escutado tudo.— Está na hora de dormir — ele disse à filha, voltando a encará-la com ternura.Sem dizer mais nada, ele levo
Na manhã seguinte, Lilly acordou antes do despertador tocar. Seus olhos estavam abertos, mas sua mente parecia longe dali, presa a lembranças e dores que ainda eram difíceis de acreditar. Havia se passado apenas algumas horas desde aquela ligação, mas tudo parecia diferente. O céu ainda estava azul, o canto dos pássaros ainda invadia a janela... e, no entanto, o mundo parecia mais cinza.Na cozinha, ela tentava disfarçar o abatimento enquanto preparava o café da manhã ao lado da governanta. Cortava frutas com a precisão de sempre, mas com uma expressão distante.James desceu as escadas poucos minutos depois. Seus olhos buscaram Lilly imediatamente, e ele percebeu o leve inchaço ao redor dos olhos dela, o tom pálido da pele, a rigidez dos ombros. Ela estava se esforçando para parecer bem — e isso só tornava mais evidente que não estava.Seus olhares se encontraram por um breve instante. O dele era sério, analitico. O dela, evasivo.— Bom dia. — Lilly disse, com um sorriso fraco, abaixa
O céu ainda era escuro quando Lilly despertou. A luz tênue da manhã filtrava-se pelas cortinas de seu quarto, mas ela já estava desperta há algum tempo, os olhos abertos, encarando o teto. A ligação da noite anterior ainda ecoava em sua mente. Cada palavra, cada tom de voz do outro lado da linha havia deixado uma marca. Sua mãe estava desesperada — as dívidas estavam se acumulando, e o seguro de vida do pai, inexistente, não aliviaria a situação.Lilly se sentia como um nó mal amarrado: presa entre o passado e o presente, entre a família e a nova vida que estava construindo com esforço. Era jovem, sonhadora, mas agora o peso da realidade lhe dobrava os ombros.Levantou-se com o rosto sério e foi até o banheiro, onde lavou o rosto com água fria. Precisava manter a compostura, especialmente diante de Emily. A menina não merecia mais preocupações.Desceu para a cozinha e encontrou a governanta organizando a mesa do café. Sorriu para ela, como se estivesse tudo bem. Era uma máscara que já
A luz suave da manhã entrava pelas janelas enormes da mansão quando Lilly desceu as escadas com o celular em mãos e o coração apertado. Na tela, a confirmação do protocolo de solicitação de transferência da faculdade para a modalidade a distância piscava em azul. Um passo difícil, mas necessário.Sentia-se um pouco derrotada por abrir mão das aulas presenciais — adorava o ambiente acadêmico, as conversas nos corredores, os debates em sala —, mas sabia que aquela era a escolha certa no momento. A mensalidade mais baixa significava que poderia ajudar sua mãe com as contas em casa, agora que o pai não estava mais lá para segurar tudo. E ainda que doesse, Lilly já começava a entender que crescer era mesmo uma sucessão de renúncias.Na cozinha, a governanta terminava de preparar o café da manhã. Emily ainda não havia descido, mas Lilly já ouvia o barulho da água correndo no banheiro do andar de cima. Respirou fundo, guardou o celular no bolso e sorriu, forçando leveza no rosto.— Bom dia,
Lilly Harper estava acostumada a se virar sozinha. Desde que deixou a pequena cidade onde cresceu para estudar Pedagogia em São Paulo, aprendeu rapidamente que a vida na capital exigia mais do que apenas determinação – exigia sacrifícios.Aos vinte e cinco anos, morava sozinha em um apartamento modesto, com paredes finas demais e um aluguel que consumia quase tudo o que ganhava no café onde trabalhava meio período. O espaço era pequeno, mas era dela, e isso significava liberdade. Liberdade para construir seu próprio caminho, ainda que com dificuldades.Era magra, de estatura mediana, com longos cabelos castanhos que quase sempre usava presos em um coque desajeitado. Os olhos verdes eram vivos, cheios de sonhos que pareciam cada vez mais distantes conforme a realidade a empurrava para preocupações mais imediatas – como pagar a mensalidade atrasada da faculdade ou decidir entre jantar e economizar para o transporte.O trabalho no café era exaustivo. O turno começava cedo, e ela passava