Acordei com a claridade entrando pela minha janela. Minha mente estava letárgica, mas não era uma sensação ruim. Meu corpo embora parecesse lento demais para se mover, não era como se estivesse sonolenta ou cansada com os membros pesados demais. Eu me sentia o oposto disso, eu estava descansada como nunca antes.
O ar parecia deslizar graciosamente pelos meus pulmões, minha cabeça não estava cheia com pensamentos demais, eu sequer senti a necessidade de me espreguiçar.
Foi o melhor sono da minha vida!
O relógio no meu celular marcava seis da manhã, eu costumava acordar às sete e sempre com cada pedaço do meu corpo e mente reclamando. Eu não só tinha acordado bem e disposta como tinha despertado antes do meu horário.
Me levantei da cama e procurei por Draco. Não o encontrei de pé na janela, ou na poltrona do outro lado do quarto. Não estava sentado na minha escrivaninha de estudo também. Onde ele tinha se enfiado?
Será que eu tinha sonhado com ele? Não, foi real. Eu não sou maluca.
Tentei imaginar o que ele poderia ter feito. Saído pela floresta talvez, mas não faria sentido já que ele me pediu para se esconder no meu quarto por um tempo. Será que ele estava em outro cômodo da casa? Ele não faria isso, eu o mataria.
Caminhei até meu armário que ficava ao lado da minha cama para pegar meu uniforme da escola e ir tomar meu banho, o chuveiro me ajudaria a pensar no que fazer. Com as minhas roupas na mão e pronta para sair do quarto, meu coração parou de bater e quase saiu pela minha garganta quando uma mão fria agarrou meu calcanhar.
Fiquei tão em choque que não consegui gritar, apenas olhei para baixo e encontrei a mão de Draco saindo de debaixo da cama para me segurar. Numa cena bizarra e caricata, digna de um filme de terror ruim, a cabeça de Draco saiu pela beirada da cama para me encarar com um sorriso maníaco no rosto.
— Te assustei?
Desgraçado.
— Sim, pra caralho.
— Que boca suja.
O chutei porque ele ainda estava segurando minha perna. Nos meus braços eu segurava minhas roupas como se fosse um tesouro, ou algo que traria proteção.
— O que você está fazendo aí embaixo?
Ele apontou para a janela.
— O sol nasceu.
— Você poderia apenas ter fechado as cortinas, elas são blecaute e fica super escuro aqui dentro.
De acordo com ele mesmo o sol não o feria, então ele não teria problema em acionar o blecaute para descer pela janela.
— Se eu fizesse isso você não acordaria.
— Meu celular desperta às sete todos os dias. — Expliquei, Draco ainda estava falando comigo com o corpo quase inteiro embaixo da cama e eu não sabia porque.
— A técnica que usei para te fazer dormir só te acordaria com o sol.
— Técnica?
Era algo que me fez ter um sono incrível com toda certeza, mas falando desse jeito parecia que ele tinha feito alguma hipnose ou algo pior em mim.
— É uma forma de chamar.
— E a correta seria?
Ele sorriu e desconcertou como sempre fazia. O que me lembrou que eu precisava ir tomar banho para pensar.
— Um dia talvez eu conte, é um segredo de família.
Sempre prometendo falar e a lista de perguntas só aumentava.
— Vou tomar banho, quer que feche a janela? Assim você pode sair de debaixo da cama. Ou posso encontrar um caixão para você dormir Drácula!
Ele revirou aqueles olhos dourados que brilhavam como sol aquela manhã, mas sorriu depois. Tomei o sorriso como um sim e desci o blecaute na janela enchendo meu quarto de escuridão, então fui tomar meu banho.
Se o banho era pra me ajudar a pensar serviu de nada, porque minha mente estava tão relaxada que nem o susto idiota de Draco conseguiu tirar minha paz. Quando voltei para o quarto minha cama estava arrumada e ele estava jogado sobre ela.
— Não sei se agradeço por ter arrumado minha cama ou se fico incomodada por estar tão confortável nela.
Draco apenas levantou a cabeça, os olhos pesados e levemente avermelhados. Ele parecia… com sono.
— Posso voltar para debaixo dela se preferir, só preciso descansar.
— Você estava falando sério sobre sentir sono de dia, vocês realmente dormem quando o sol nasce?
Peguei minha mochila na cadeira da escrivaninha e comecei a arrumar os livros e cadernos que precisava levar para as aulas do dia.
— Se estivermos seguros, sim, dormimos durante o dia. Não o dia todo, mas a maior parte sim. Nosso corpo pede por isso, nos deixando mais fracos e lentos.
— Isso é interessante. O sol é tipo sua kryptonita.
— Quase isso.
Draco permaneceu deitado, a cabeça aninhada nos meus travesseiros. Era um abuso da parte dele, mas de uma forma combinava com sua postura. Enquanto ele tinha toda a opulência de um predador com seu tamanho, músculos e beleza irreal, quanto mais eu conversava com ele mais ele parecia um garoto para mim. Um da minha idade, algo que com certeza ele não era.
— Você precisa tomar cuidado, vou deixar meu quarto trancado e sei que minha mãe costuma respeitar minha privacidade, mas depois de ontem não garanto que ela não tente entrar aqui.
Ele arregalou os olhos, mas foi bem rápido por logo ele jogou a cabeça no travesseiro novamente como um cachorrinho cansado.
— Vou tentar manter minha mente acordada.
— Ela deve sair de tarde para fazer as atividades dela, você pode aproveitar essa hora para ir ao quarto dela buscar umas roupas. No guarda roupa do quarto dela tem umas roupas antigas do meu pai que devem caber em você.
Eu já estava calçando os sapatos quando senti o peso do olhar de Draco em mim e o encarei.
— Porque você não pega as roupas para mim, é mais seguro.
O jeito que ele sugeriu, com o olhar penetrante e atento em mim, me dizia que ele sabia muito bem a resposta e estava me testando. Ele deve ter escutado minha conversa com a minha mãe ontem a noite, ou parte dela pelo menos. Eu não iria naquele quarto, não tocaria nas roupas do meu pai que ainda tinham seu cheiro amadeirado.
Mas eu não diria isso ao Draco.
— Não sou sua empregada e já estou fazendo muito por você. Se quiser ficar com essas roupas sujas e rasgadas o problema é seu.
Ele cruzou os braços sobre o peito, mas deitado e sonolento como estava a pose era uma versão cômica de alguém irritado.
— Só estou com essas roupas por respeito a você, dormiria de cueca feliz. Talvez eu faça isso depois que sair.
Ai meu Deus!
Minha mente foi vergonhosamente inundada por imagens dele usando apenas boxers deitado na minha cama, não sabia se ele era como Edward e podia ler mentes, mas o sorriso malicioso nos lábios de Draco me deixou com dúvidas seríssimas.
— Não fique pelado nos meus lençóis — exigi com o dedo apontado para seu rosto e saí batendo o pé.
Miserável.
Quando desci as escadas esperava encontrar minha mãe no mesmo lugar que a cumprimentava todas as manhãs: jogada no sofá depois de passar a noite bebendo seu estoque secreto na sala. Para a minha surpresa ela estava acordada e de pé na entrada da cozinha, os braços cruzados e o rosto sério.
— Que bom que acordou cedo — me recebeu ela. — Precisamos ter uma conversa muito séria.
Merda.
— O que você quer? — perguntei. — Diminua esse tom ao falar comigo — exigiu minha mãe. Eu tinha dezessete anos, muitos hormônios e revolta dentro de mim, mas eu sabia que deveria respeitá-la. Só que era complicado fazer isso quando ela tornava tudo tão difícil. — Agora lembrou que é mãe? Que tem uma filha para cuidar e não uma que cuida de você? — Calliope! Chega disso. — Ela respirou fundo e apontou para o sofá na sala — quero ter uma conversa importante com você. Por favor! Uma parte de mim temia sobre o que ela queria falar, se tinha algo a ver com a noite anterior. Outra parte desejava que não fosse a ladainha de sempre. “Vou mudar agora, sem mais bebida.” “ Vamos voltar a ser uma família.” Nunca durava mais que alguns dias suas promessas. Ainda assim fiz o que ela pediu e fui para a sala, nossa casa não era enorme, mas grande o suficiente. A sala era aberta para a cozinha, um sofá de três lugares confortável ficava embaixo de uma das janelas, a estante com TV de frente par
Os olhos castanhos claros de Lion me encaravam com atenção enquanto eu vomitava tudo que havia acontecido na noite anterior. Nesse ponto já estávamos perto da escola, mas havíamos parado na calçada e sentado no meio fio para que eu terminasse de contar sobre a aventura no meu quarto. — Um vampiro? — Questionou Lion, parecendo em choque. — Tem um vampiro nesse exato momento dentro do seu quarto? Ele ainda estava me encarando com os olhos levemente arregalados, me senti um pouco louca para ser honesta. Falar em voz alta sobre isso para outra pessoa fez tudo parecer surreal demais. E talvez realmente fosse.— A não ser que você tenha me pregado uma peça realmente no fim das contas, sim. Tem um vampiro no meu quarto.Eu esperava que meu amigo risse da minha cara. Que zombasse da minha sanidade, mas o que ele fez acendeu um alerta escondido dentro de mim. Ele ficou puto. — Você está louca? O que você pensa que está fazendo Calíope? Você abrigou a porra de um vampiro? — Ele se levanto
— Como assim tudo? Lion me encarou como se não quisesse responder, mas sua boca se moveu mesmo assim. — Me ensinaram desde criança tudo o que é preciso saber sobre vampiros. Então eu apenas sei. Cali… — Me conta o que sabe — pedi, na verdade, meu tom de exigência. Como assim ele foi ensinado? Lion nunca aparentou sequer acreditar em seres sobrenaturais, e agora estava me dizendo que é formado em vampirismo? — Eles são perigosos — Lion respondeu enquanto pegava o celular e mandava mensagem para alguém — São fortes, poderosos física e politicamente no mundo e extremamente persuasivos. São como cobras e você não pode confiar nele, Cali. Meu amigo guardou o celular e seu olhar se perdeu à nossa volta, como se ele estivesse procurando algo ou alguém, mas então o que ele disse penetrou minha mente. — Nele? Você sabe sobre o Draco? Sabia antes de eu te contar? — Lion começa a se balançar parecendo ficar mais nervoso — pra quem você estava mandando mensagem? Antes que ele respondesse
Eu não era uma garota de me intimidar, mas também nunca fui um exemplo de coragem. Minha regra sempre foi: não incomode e não será incomodada. Isso valia para mim e para quem me incomodasse também. E era por isso que meus dias naquele lugar eram sempre neutros e tediosos. A chuva fina caía tão suavemente que parecia neve através da janela do refeitório, eu costumava almoçar lá fora, embaixo da amendoeira no fim do pátio e início do parque florestal. Com a chuva fui obrigada a ficar dentro desse hospício chamado escola, que eu não via a hora de me livrar. Os outros adolescentes gritavam e riam, alguns se pegavam descaradamente, não é como se alguém fosse impedi-los. Até nossas inspetoras eram preguiçosas demais para isso. Todos nessa cidade eram preguiçosos demais. Eu ansiava em viver uma aventura, qualquer coisa seria uma aventura nessa cidade até andar a cavalo na rodovia principal, ou fazer uma trilha a noite… não, isso eu já tentei e não me rendeu nenhuma história legal para
Pude perceber o momento exato em que o homem no meu quarto notou minha presença. Assim que as palavras deixaram meus lábios todo o corpo dele parou de uma forma que deveria ser impossível. Nenhum ser vivo consegue ficar tão imovel como ficou naquele momento, nem seu peito se movia com respiração, ou seus olhos vagueavam como estava fazendo antes. Ele parecia um animal, um predador prestes a atacar. Os segundos que o estranho passou parado foram o suficiente para que eu prestasse mais atenção a sua fisionomia, ele estava agachado mas podia dizer que suas pernas eram longas então ele deveria ser alto. Nem seu cabelo curto e prateado se movia com o vento que entrava pela janela e gelava meus ossos. Os olhos dele estavam vidrados na parede oposta, eu dei um passo a frente para tentar me colocar à frente dele e conseguir enxergá-lo melhor, mas então ele se moveu. Foi muito rápido. Impossivelmente veloz. O tempo que demorei para dar um passo ele já estava de pé na minha frente com toda sua
Começou com uma vontade no meu cérebro e então começou a borbulhar no meu estômago, a gargalhada saiu da garganta com tanta força que tive que cobrir a boca para não chamar a atenção da minha mãe. — O que está fazendo? — perguntou Draco com o olhar perdido. Eu não conseguia parar de rir. Tudo fazia sentido, eu reclamava tanto de tédio que o Lion armou essa para mim. Meu Deus, ele deve ter feito a professora Dembry me prender na escola para dar tempo de fazer tudo isso. Eu ia matar ele. — Eu vou ligar para o Lion — falei para Draco indo em direção ao meu telefone — foi uma ótima sacada da parte dele, quase caí nessa. Vampiro, essa foi boa. Se não fosse essa fala dramática eu teria acreditado, mas vampiro? Por favor né. Quando cheguei na minha mochila para pegar meu telefone Draco surgiu na minha frente e puxou-a da minha mão. A velocidade impressionante como antes. — Você é atleta? Porque deveria ser, é muito rápido para uma pessoa normal. Draco ignorou minha pergunta. — Não v
A cena no meu quarto era assoladora, tinha um animal morto aos pés da minha cama. Tinha um vampiro ensaguentado e machucado sujando minha cama e me sacudindo. Então tinha minha mãe batendo loucamente na porta do meu quarto aos gritos querendo saber o que estava acontecendo, mas eu responderia se nem eu mesma sabia? Meu corpo não queria se mover, apenas meus olhos vagavam pelo meu quarto e para o olhar dourado de Draco a fim de tentar entender o que estava acontecendo. Ele estava falando algo, eu via sua boca se mexer mas não conseguia entender o que falava acima do zumbido da adrenalina e do escândalo que minha mãe fazia na porta. Tentei me concentrar para voltar a realidade e escutá-lo. — Cali, você precisa tirar sua mãe daqui, ela não pode ver o que aconteceu… Cali reage merda! Porra eu vou ter que te dar um choque… — Não, calma — gritei para ele, talvez alto demais — estou aqui, voltei a mim. — Fala com a sua mãe, vou dar um jeito no lobo. — Que? — De repente a realidade bat
Enquanto Draco limpava o sangue do meu quarto me toquei que minha mãe deveria ter visto o sangue em direção ao meu quarto pela casa, talvez por isso ela estivesse tão nervosa, não apenas pelo barulho. Amanhã teria que inventar uma desculpa para aquilo, ou não na verdade. Poderia misturar verdade com mentira e contar sobre o lobo que encontrei na floresta, então inventar que me sujei no seu sangue. Faria Draco limpar aquele sangue também. — Você deveria dormir — falou Draco enquanto passava o pano molhado pelo chão e o torcia no balde que peguei para ele. — Enquanto um vampiro assassino reside sob o mesmo teto que eu? Não acho uma boa ideia. Ele riu. Eu estava deitada na minha cama depois de tomar outro banho, embaixo das cobertas como se elas fossem me proteger do mal quando o próprio mal encarnado estava passando pano no meu chão. — Eu não sou um assassino — sua voz saiu baixa, quase amedrontadora, porém mais como se ele não quisesse falar aquilo. — Você acabou de tirar uma