Maldição

Enquanto Draco limpava o sangue do meu quarto me toquei que minha mãe deveria ter visto o sangue em direção ao meu quarto pela casa, talvez por isso ela estivesse tão nervosa, não apenas pelo barulho. Amanhã teria que inventar uma desculpa para aquilo, ou não na verdade. Poderia misturar verdade com mentira e contar sobre o lobo que encontrei na floresta, então inventar que me sujei no seu sangue. 

Faria Draco limpar aquele sangue também. 

— Você deveria dormir — falou Draco enquanto passava o pano molhado pelo chão e o torcia no balde que peguei para ele. 

— Enquanto um vampiro assassino reside sob o mesmo teto que eu? Não acho uma boa ideia. 

Ele riu. Eu estava deitada na minha cama depois de tomar outro banho, embaixo das cobertas como se elas fossem me proteger do mal quando o próprio mal encarnado estava passando pano no meu chão.

— Eu não sou um assassino — sua voz saiu baixa, quase amedrontadora, porém mais como se ele não quisesse falar aquilo.

— Você acabou de tirar uma vida e está limpando o sangue dela.

Ta de brincadeira né?

— Lobos são como inimigos comuns, eu não tiro vidas que não me pertence.

— E porque você acha que a vida daquele animal te pertencia? Só por ser um animal e não um ser humano não significa que a vida dele não deva ser respeitada.

Se ele fosse o tipo que maltrata animais o expulsaria do meu quarto sem pestanejar.

— Não é porque ele era um animal, mas sim pela sua espécie. Eles não se sentem culpados por matar vampiros também, acredite. E eu não o ataquei, eu só me defendi. 

Isso era verdade pelo menos, o lobo chegou o atacando e não pararia a não ser que o Draco o forçasse a isso, o que fez tirando sua vida.

— Porque vocês são inimigos? Tipo aquela velha lenda de vampiro vs lobisomem mesmo? 

Draco se ergueu e levou os itens de limpeza até a minha porta. Olhei para o chão e parecia suficientemente limpo, ele havia me pedido mais do que água sanitária para limpar o sangue e no fim meu chão estava sem resquícios de sangue. 

— Eu preciso me limpar também — resmungou olhando para suas roupas rasgadas e o sangue que o sujava também. 

— Vai ser perigoso te levar ao banheiro sem que minha mãe perceba. E não tenho como pegar roupas para você, talvez amanhã depois que minha mãe sair para o trabalho você possa pegar umas roupas que ela guarda do meu pai ainda.

Ele pareceu pensativo por um momento e então pareceu aceitar a situação caminhando para minha cama, mas ao invés de sentar nela, ele sentou no chão e apoiou suas costas no lado da cama. 

— Não existe lobisomem — começou ele a responder minha pergunta — não como os humanos pensam que são, nem vampiros desse modo também. Mas é difícil te explicar sem contar nossa história do início. Apenas saiba que eles existem, assim como eu existo e eu estou fugindo deles e de outros tipos de monstros também.

Eu deveria insistir que ele contasse essa história toda, mas ele parecia cabisbaixo e honestamente eu tinha outras curiosidades para sanar.

— Como eu sei que você é realmente um vampiro e não um maluco apenas?

— A luta que presenciou não foi o suficiente?

Havia sido sim, mas eu precisava de mais informações para garantir que eu não estava alucinando.

Deitei de bruço na cama com a cabeça ao lado de onde ele estava sentado.

— Me mostra seus dentes de vampiro — pedi como uma criança pede um pirulito.

Ele riu parecendo não acreditar, mas percebeu que eu falava sério e cedeu. Draco retraiu os lábios e me mostrou seus dentes. Primeiro eles pareceram normais, mas então suas pontas adiaram sozinhas e desceram mais pela sua gengiva. Era assustador e fascinante na mesma proporção.

— Como faz isso? — perguntei.

— Instinto, apenas faço. 

— Mas como? Tipo, eles estão normais e de repente se afiam e então voltam ao normal?

Ele me encarou como se algo estivesse errado comigo, e talvez tivesse, e então balançou a cabeça rindo.

— Se um dia eu encontrar um vampiro cientista, irei perguntar a ele como isso funciona biologicamente.

Será que existiam vampiros cientistas? Enfim…

— Ta bom, seus dentes mágicos provam que pelo menos humano você não é. Mas e quanto a sua alimentação?

Ele sabia o que eu queria dizer.

— Quer saber se está em perigo com essa veia no seu pescoço pulsando tão perto dos meus dentes mágicos? — Sua voz saiu grave de um jeito sensual, quase hipnotizante.

Por um momento me imaginei sendo mordida por ele, bem ali no pescoço onde ele disse. Doeria? Ele me mataria? Eu estava louca de pensar nessa possibilidade como algo divertido de se testar e não algo super perigoso?

— Você me mataria se eu permitisse que me mordesse? 

Draco ficou sério como não tinha visto desde o momento que o encontrei no meu quarto. Ele me encarou de um jeito que meu pai me encarava quando eu fazia uma merda muito feia.

— Cali, você não é tão inconsequente a ponto de oferecer sua veia para um vampiro, é?

Dei de ombros sem saber o que responder.

— Você conseguiria parar ou seria tipo o Stefan Salvatore sem controle?

Ele revirou os olhos dourados e foi uma visão estranha, olhos tão incomum fazendo um gesto tão humano.

— Não, e eu também não brilho no sol ou qualquer coisa que a literatura e TV tenha feito você acreditar.

— O que você é então? Me explique por favor.

Seu olhar se tornou sombrio e seu semblante nublou como uma tempestade.

— Eu sou o filho de uma maldição.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App