Começou com uma vontade no meu cérebro e então começou a borbulhar no meu estômago, a gargalhada saiu da garganta com tanta força que tive que cobrir a boca para não chamar a atenção da minha mãe.
— O que está fazendo? — perguntou Draco com o olhar perdido.
Eu não conseguia parar de rir. Tudo fazia sentido, eu reclamava tanto de tédio que o Lion armou essa para mim. Meu Deus, ele deve ter feito a professora Dembry me prender na escola para dar tempo de fazer tudo isso. Eu ia matar ele.
— Eu vou ligar para o Lion — falei para Draco indo em direção ao meu telefone — foi uma ótima sacada da parte dele, quase caí nessa. Vampiro, essa foi boa.
Se não fosse essa fala dramática eu teria acreditado, mas vampiro? Por favor né. Quando cheguei na minha mochila para pegar meu telefone Draco surgiu na minha frente e puxou-a da minha mão. A velocidade impressionante como antes.
— Você é atleta? Porque deveria ser, é muito rápido para uma pessoa normal.
Draco ignorou minha pergunta.
— Não vai ligar para ninguém, Calíope, não pode falar sobre mim para ninguém!
— Ele não vai ficar chateado pela sua performance não ter me enganado, relaxa — o tranquilizei e então me dei conta que a segunda vez que ele me chamava pelo meu nome — Inclusive, você cometeu o erro de me chamar pelo nome inteiro duas vezes. Se você fosse um vampiro que caiu de paraquedas no meu quarto não saberia meu nome, entendeu? Mas tudo bem, eu quase caí, pontos para você.
Tentei pegar minha mochila novamente, mas a jogou na cama e segurou meus ombros, um pouco forte demais.
— Eu não sei do que você está falando, ou de quem, mas eu não estou brincando com você.
— Draco, por favor… só pare.
Eu ia matar o Lion por me fazer passar por isso.
— Pare você, eu falei sério, você não tem escolha e vai ter que me ajudar ou… — ele travou quando o toque do meu celular soou dentro da mochila.
— Deve ser o Lion — expliquei — você quer que eu finja que não descobri? Tudo bem, eu não falo sobre você, mas ele não vai desistir até eu atender.
Draco não me soltou e continuou encarando a mochila com a música ridícula da Taylor Swift que o Lion colocou para tocar quando ele me ligasse.
— Se eu não atender, ele vai vir aqui.
Draco me soltou na mesma hora.
— Não fala sobre mim ou…
— Ou vai me matar, vampiro mau? — zombei.
Ele não respondeu e me deixou ir até o telefone.
— Oi Lion.
— Tudo sob controle por aí? — perguntou, é claro que ele sabia sobre o Draco, era tão óbvio.
— Ah sim, melhor impossível. Nada de estranho acontecendo, nenhum ser sobrenatural no meu quarto.
Que idiotice.
— Porque está falando assim? — a voz dele começou a soar alarmada — Isso é um código? Tem alguma coisa acontecendo?
— Ah para Lion, você é um péssimo ator — deitei na cama com o telefone no ouvido, Draco obcecado em olhar pela janela estava distante, então sussurrei para o celular — eu sei o que você fez e vou te matar amanhã.
— Do que você tá falando?
— Aff, para de ser cínico. E me diz o que eu faço para me livrar desse cara agora porque ele não quer ir embora.
Silêncio.
— Lion?
— Cali, quem está no seu quarto? De que porra você está falando?
O tom de Lion não era de brincadeira e meu amigo não era tão bom ator a ponto de performar um personagem tão alarmado e preocupado se não fosse real. Assim que minha ficha começou a querer cair, Draco foi lançado para longe da janela e nela surgiu um animal.
Primeiro, achei que fosse um cachorro ou um gato, mas era um animal maior. Era preto com rajadas de caramelo e era definitivamente um lobo. Draco se levantou e se moveu naquela velocidade impressionante, o tempo parou para mim. A luta entre os dois poderia ter durado horas ou minutos, ou apenas segundos. Minha mente só tentava entender aquela confusão de garras e os dentes afiados de Draco mordendo loucamente o animal.
Quando o tempo voltou a correr para mim, Draco estava de pé na minha frente me sacudindo, falando algo que eu não conseguia compreender. Havia arranhões pelo seu corpo e muito sangue, mas não era todo dele. O sangue do lobo escorria pelos dentes de Draco e aquele rosto com beleza impressionante se tornou ferozmente assustador.
— Você é realmente um vampiro. Porra!
Tinha um vampiro no meu quarto.
A cena no meu quarto era assoladora, tinha um animal morto aos pés da minha cama. Tinha um vampiro ensaguentado e machucado sujando minha cama e me sacudindo. Então tinha minha mãe batendo loucamente na porta do meu quarto aos gritos querendo saber o que estava acontecendo, mas eu responderia se nem eu mesma sabia? Meu corpo não queria se mover, apenas meus olhos vagavam pelo meu quarto e para o olhar dourado de Draco a fim de tentar entender o que estava acontecendo. Ele estava falando algo, eu via sua boca se mexer mas não conseguia entender o que falava acima do zumbido da adrenalina e do escândalo que minha mãe fazia na porta. Tentei me concentrar para voltar a realidade e escutá-lo. — Cali, você precisa tirar sua mãe daqui, ela não pode ver o que aconteceu… Cali reage merda! Porra eu vou ter que te dar um choque… — Não, calma — gritei para ele, talvez alto demais — estou aqui, voltei a mim. — Fala com a sua mãe, vou dar um jeito no lobo. — Que? — De repente a realidade bat
Enquanto Draco limpava o sangue do meu quarto me toquei que minha mãe deveria ter visto o sangue em direção ao meu quarto pela casa, talvez por isso ela estivesse tão nervosa, não apenas pelo barulho. Amanhã teria que inventar uma desculpa para aquilo, ou não na verdade. Poderia misturar verdade com mentira e contar sobre o lobo que encontrei na floresta, então inventar que me sujei no seu sangue. Faria Draco limpar aquele sangue também. — Você deveria dormir — falou Draco enquanto passava o pano molhado pelo chão e o torcia no balde que peguei para ele. — Enquanto um vampiro assassino reside sob o mesmo teto que eu? Não acho uma boa ideia. Ele riu. Eu estava deitada na minha cama depois de tomar outro banho, embaixo das cobertas como se elas fossem me proteger do mal quando o próprio mal encarnado estava passando pano no meu chão. — Eu não sou um assassino — sua voz saiu baixa, quase amedrontadora, porém mais como se ele não quisesse falar aquilo. — Você acabou de tirar uma
O que isso deveria significar? Continuei o encarando esperando que ele entendesse a pergunta que pairava em minha mente e prosseguisse. O que ele não fez, e quando Draco abaixou a cabeça para encarar suas mãos resolvi perguntar:— Achei que tinha dito que era um vampiro — desdenhei me virando para encarar o teto — agora você é amaldiçoado, se decide aí.— Ser vampiro é uma maldição. A minha maldição.— Você está fazendo parecer algo horrível.Ele emitiu um ruído de irritação que me fez virar para encará-lo novamente. Ele parecia não acreditar no que estava vendo ao olhar para mim, mas acho que tinha mais a ver com o que havia ouvido sair da minha boca. Eu não entendi.— Você está se ouvindo?Dei de ombros e voltei a encarar as rachaduras no gesso do teto.— Posso ter sido influenciado por série e filmes, até mesmo por crepúsculo, mas ser vampiro não me parece uma existência tão ruim assim. Pelo menos não tão entediante quanto a minha nessa cidade. Ele rosnou, baixo e grave.— Você nã
Acordei com a claridade entrando pela minha janela. Minha mente estava letárgica, mas não era uma sensação ruim. Meu corpo embora parecesse lento demais para se mover, não era como se estivesse sonolenta ou cansada com os membros pesados demais. Eu me sentia o oposto disso, eu estava descansada como nunca antes. O ar parecia deslizar graciosamente pelos meus pulmões, minha cabeça não estava cheia com pensamentos demais, eu sequer senti a necessidade de me espreguiçar. Foi o melhor sono da minha vida! O relógio no meu celular marcava seis da manhã, eu costumava acordar às sete e sempre com cada pedaço do meu corpo e mente reclamando. Eu não só tinha acordado bem e disposta como tinha despertado antes do meu horário. Me levantei da cama e procurei por Draco. Não o encontrei de pé na janela, ou na poltrona do outro lado do quarto. Não estava sentado na minha escrivaninha de estudo também. Onde ele tinha se enfiado? Será que eu tinha sonhado com ele? Não, foi real. Eu não sou maluca
— O que você quer? — perguntei. — Diminua esse tom ao falar comigo — exigiu minha mãe. Eu tinha dezessete anos, muitos hormônios e revolta dentro de mim, mas eu sabia que deveria respeitá-la. Só que era complicado fazer isso quando ela tornava tudo tão difícil. — Agora lembrou que é mãe? Que tem uma filha para cuidar e não uma que cuida de você? — Calliope! Chega disso. — Ela respirou fundo e apontou para o sofá na sala — quero ter uma conversa importante com você. Por favor! Uma parte de mim temia sobre o que ela queria falar, se tinha algo a ver com a noite anterior. Outra parte desejava que não fosse a ladainha de sempre. “Vou mudar agora, sem mais bebida.” “ Vamos voltar a ser uma família.” Nunca durava mais que alguns dias suas promessas. Ainda assim fiz o que ela pediu e fui para a sala, nossa casa não era enorme, mas grande o suficiente. A sala era aberta para a cozinha, um sofá de três lugares confortável ficava embaixo de uma das janelas, a estante com TV de frente par
Os olhos castanhos claros de Lion me encaravam com atenção enquanto eu vomitava tudo que havia acontecido na noite anterior. Nesse ponto já estávamos perto da escola, mas havíamos parado na calçada e sentado no meio fio para que eu terminasse de contar sobre a aventura no meu quarto. — Um vampiro? — Questionou Lion, parecendo em choque. — Tem um vampiro nesse exato momento dentro do seu quarto? Ele ainda estava me encarando com os olhos levemente arregalados, me senti um pouco louca para ser honesta. Falar em voz alta sobre isso para outra pessoa fez tudo parecer surreal demais. E talvez realmente fosse.— A não ser que você tenha me pregado uma peça realmente no fim das contas, sim. Tem um vampiro no meu quarto.Eu esperava que meu amigo risse da minha cara. Que zombasse da minha sanidade, mas o que ele fez acendeu um alerta escondido dentro de mim. Ele ficou puto. — Você está louca? O que você pensa que está fazendo Calíope? Você abrigou a porra de um vampiro? — Ele se levanto
— Como assim tudo? Lion me encarou como se não quisesse responder, mas sua boca se moveu mesmo assim. — Me ensinaram desde criança tudo o que é preciso saber sobre vampiros. Então eu apenas sei. Cali… — Me conta o que sabe — pedi, na verdade, meu tom de exigência. Como assim ele foi ensinado? Lion nunca aparentou sequer acreditar em seres sobrenaturais, e agora estava me dizendo que é formado em vampirismo? — Eles são perigosos — Lion respondeu enquanto pegava o celular e mandava mensagem para alguém — São fortes, poderosos física e politicamente no mundo e extremamente persuasivos. São como cobras e você não pode confiar nele, Cali. Meu amigo guardou o celular e seu olhar se perdeu à nossa volta, como se ele estivesse procurando algo ou alguém, mas então o que ele disse penetrou minha mente. — Nele? Você sabe sobre o Draco? Sabia antes de eu te contar? — Lion começa a se balançar parecendo ficar mais nervoso — pra quem você estava mandando mensagem? Antes que ele respondesse
Eu não era uma garota de me intimidar, mas também nunca fui um exemplo de coragem. Minha regra sempre foi: não incomode e não será incomodada. Isso valia para mim e para quem me incomodasse também. E era por isso que meus dias naquele lugar eram sempre neutros e tediosos. A chuva fina caía tão suavemente que parecia neve através da janela do refeitório, eu costumava almoçar lá fora, embaixo da amendoeira no fim do pátio e início do parque florestal. Com a chuva fui obrigada a ficar dentro desse hospício chamado escola, que eu não via a hora de me livrar. Os outros adolescentes gritavam e riam, alguns se pegavam descaradamente, não é como se alguém fosse impedi-los. Até nossas inspetoras eram preguiçosas demais para isso. Todos nessa cidade eram preguiçosos demais. Eu ansiava em viver uma aventura, qualquer coisa seria uma aventura nessa cidade até andar a cavalo na rodovia principal, ou fazer uma trilha a noite… não, isso eu já tentei e não me rendeu nenhuma história legal para