Capítulo Um - Noah

Antes 

Dezenove anos. Essa foi a idade em que tive que abandonar a liberdade da juventude para encarar a responsabilidade de trabalhar a frente da Noah Corporation, a referência quando o assunto é tecnologia.

O nome não fui eu quem escolhi, claro. Jamais usaria algo tão obvio. Eu sou apenas o Noah Pestalozzi Terceiro. Sim, tem o “terceiro” registrado. Poderia ser qualquer nome louco. Quem ousaria dizer não ao meu pai ou meu avô? Eu não conheço ninguém. Os Pestalozzi sempre foram referência em poder. Desde muito cedo acreditaram e investiram em inovação, o que vem enchendo nossas contas bancárias initerruptamente.

A empresa da família foi herdada pelo meu pai logo que meu avô fez sessenta anos e decidiu se aposentar. Era para acontecer o mesmo comigo, mas a vida é traiçoeira. Uma fatalidade levou meu pai jovem demais.

E lá fui eu, ser treinado pelo meu avô para continuar o legado. Mesmo com toda a dor que essa perda causou em nossa família, conseguimos manter o império. As custas de muitas noites sem dormir, convites para baladas recusados, da minha juventude.

Por ser filho único de mãe grudenta, perdi muitas liberdades para cuidar dos interesses da família. Quando meu pai morreu eu tinha apenas dezenove anos, e tive que assumir muitas responsabilidades. Quase não tive tempo para diversão. Agora, faltando alguns meses para chegar aos vinte e sete, chegou o meu momento. E tudo que mamãe quer é casamento e netos...

— Mãe, já falamos sobre isso. Por que insiste tanto em netos? A senhora é tão jovem para ser avó.

— Não tente me engambelar, seu manipulador. — Ela me aponta o dedo, séria. — A partir de hoje vou te apresentar as filhas das minhas amigas...

— Mãe!

— Pelo menos conheça as garotas, meu filho. Ficar transando com malucas desconhecidas só vai fazer seu pau cair.

Abro a boca em choque. Depois de tantos anos ainda me assusto com a boca suja dessa doce e pequena mulher.

— Vou fingir que não ouvi.

— Ah garoto, deixa de palhaçada. Você acha que a cegonha te trouxe? Seu pai e eu trabalhamos muito para fazer você. — Ela ri da minha cara de ultraje.

Me levanto e deixo o jantar inacabado. Ainda preciso resolver algumas coisas no escritório aqui de casa antes de ir curtir uma balada com meu melhor amigo.

— Vou embora. Não sou obrigado a ouvir isso. Pais não transam.

Afasto dela repetindo que “pais não transam”.

— Quero ver afirmar isso quando sua mulher estiver grávida. — Ela ri alto. — E não pense que vai fugir das minhas escolhidas.

Finjo que não ouvi suas últimas palavras, mesmo sabendo que isso não vai mudar muita coisa. Minha mãe sempre foi muito ligada a família, depois que meu pai morreu praticamente é apenas nós dois. Ela estava satisfeita com isso, apenas até suas amigas e amigos começarem a casar todos os filhos. Puta merda! Parece que foi aberta a temporada de casamento e bebês. Agora ela acha que sua vida não faz sentido sem um neto.

O engraçado é que quando menciono a possibilidade dela se apaixonar e casar é como se eu estivesse falando uma blasfêmia, mas quando o caso inverte o errado sou eu novamente.

Preciso dar um jeito nisso. Gael vai ter que me ajudar a pensar em um jeito de driblar a senhora Pestalozzi ou nossas noitadas estarão com os dias contados.

*

— Você é um imprestável, Gael! — bato o copo vazio sobre o balcão. O som eletrônico alto não impede que ele ouça e ria.

Meu amigo aproxima e aperta meu ombro.

— Aproveita seus últimos dias de solteiro. E quando estiver preso a reclamações e fraudas, eu cuido das suas gostosas e das minhas.

— Não dá conta nem das suas, idiota. E lembre que só pega elas por ser meu amigo.

— Presunçoso!

Rimos. E é nesse momento que duas garotas exatamente iguais e vestidas com roupas também iguais se aproximam com sorrisos cheios de segundas intenções.

— Rapazes! Que prazer revê-los. Sentimos falta — uma fala.

— Viemos aqui só pela possibilidade de rever os melhores da cidade — a outra diz.

Cada uma se aproxima de um lado nosso, segurando sugestivamente nossas camisas.

O assunto plano para impedir casamento fica jogado de lado. Vamos para a pista de dança com as duas gostosas que se exibem e dançam sugestivamente. São duas safadas que se viciaram depois de uma noite de troca em uma casa de swing. Mas essa noite a brincadeira vai ser separada.

Depois de danças e drinks, acabo em um motel com as duas, porque Gael encontrou uma ex e escolheu reviver os velhos tempos.

Azar o dele. Transar com gêmeas é algo de todo homem precisa experimentar pelo menos uma vez na vida.

Foi uma noite perfeita. O que estraga é acordar em pleno sábado com uma mensagem da minha mãe me intimando para um encontro com uma de suas “meninas escolhidas.” Preciso pensar em um jeito de escapar do seu cerco urgente. Ou vou acabar casado.

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