“Perfeita para que cargo?” Esse homem não parece estar batendo bem das ideias.
Irritada pela presença inesperada, me virei para ele. E quase enfartei ao encarar seus hipnotizantes olhos azuis. Não havia possibilidade de existir algo tão perfeito quanto os olhos desse homem. E a boca vermelha? Deus, olhar sua boca despertou uma parte minha que não devia, um ponto bem específico entre minhas pernas. Malditos hormônios de virgem!
Passaram alguns segundos antes que eu pudesse reagir. Tive que limpar a garganta e desviar o olhar desse rosto que exala pecado.
― Posso ajudá-lo? — questionei.
Isso, garota, mantenha a voz firme. Não é a primeira vez que encontra esses olhos. Mas é sempre a mesma reação de quem está diante de algo surreal. Encarar o filho de Ligia me deixa meio zonza. Minha sorte é raridade de o ver... e tão perto assim nunca aconteceu.
― É Esperanza, certo? — ele devolve minha pergunta com outra.
― Sim — respondo e balanço a cabeça.
― Melhor amiga da minha mãe, mesmo tendo idade para ser filha dela. ― Não era uma pergunta.
― Eu gostaria de ser filha dela. ― Deixei escapar e logo em seguida me arrependi.
Ele entorta a boca em um sorriso que só pode ser chamado de sacana.
― Se fosse, meus planos não dariam certo.
― Escuta, não estou com humor para bêbados agora. Quero curtir a minha música em paz, pode ser?
Como resposta ele pegou um dos fones e colocou em si.
― Essa não é a banda que está se apresentando hoje aqui perto?
― É ― respondi secamente. Nem me dei ao trabalho de perguntar como ele sabia, já que não parecia ser o seu tipo de música. O primeiro show está acontecendo hoje, seriam dois.
― Por que não foi?
Dei de ombros. Foi um caos pedir para ir no próximo, imagino que seria pior se falasse se tratar de algo hoje mesmo.
Ele levantou.
― Ainda dá tempo. Vamos?
Minha expressão era pura interrogação em direção ao homem de jeans e camisa branca, parado.
― Não quer ir ao show? — insistiu.
Uma adrenalina estranha percorreu o meu corpo. Eu queria ir. E não pensei muito quando esse homem com o qual mal tenho contato me estendeu a mão. Toquei meus dedos nos seus, sentindo um corrente misteriosa despertando minhas veias.
Confesso que eu sempre fui uma garota curiosa e meio rebelde. Talvez por causa disso tenha aceitado tão facilmente o louco convite do filho da Ligia. Minha primeira chance de pelo menos experimentar liberdade.
A raiva por meu pai ter gritado por um tempão quando poderia apenas dizer um simples não me fez aceitar cometer uma loucura com o maluco que surgiu do nada.
Me levantei e o segui até o carro. Ele dirigiu até o show e logo estávamos em uma área vip.
Era como se eu fosse espectadora do que acontecia.
E se antes eu já queria ser livre, experimentar só atiçou ainda mais esse desejo. As portas se abriam para o rapaz. Ao ponto de me deixar frente a frente com a banda, tirar fotos e ainda orar com eles desejando que meus sonhos se tornassem reais.
Se Noah Pestalozzi Terceiro se divertiu, não sei. Estava mergulhada em um êxtase só meu.
Quando acabou, ele me levou de volta até o lugar onde me encontrou e foi embora sem dizer nada. Só um “boa noite” seco.
Eu voltei para casa sem que meus pais notassem que sai. Foi minha melhor noite de sono na minha vida toda. Só foi estranho os sonhos românticos com o filho de Ligia, mas tratei de ignorar. Romance não tem nada a ver com o que aconteceu.
Na verdade, achei que não teria mais contato com ele, que foi apenas um evento, como um eclipse raro, porém no dia seguinte recebi uma mensagem de texto.
Esse é o meu número. Se gostou de ontem, me liga. Tenho uma proposta que pode te interessar.
Eu liguei para o número da mensagem. Sabia que era Noah. E estava curiosa por saber o que ele tinha em mente. Quando ouvi fiquei desacreditada que ele realmente pretendia fazer algo assim. A proposta era louca, mas era tudo que eu precisava. Meus pais andavam se queixando que eu estava em uma idade difícil, que eu devia me casar. Se soubessem que fugi para o show que não tinha permissão...
— Ainda está ai? — ele pergunta. E percebo que fiquei tempo demais em silêncio.
— Você realmente me propôs fingir ser sua noiva?
— Essa proposta também será benéfica para você. Percebi que gostou de ontem, e todos sabem como seus pais praticamente a mantem em cativeiro.
— Mas...
— Me encontra meia noite no mesmo lugar de ontem. Trataremos de negócios.
Assim que ele termina de falar, desliga na minha cara.
— Sem educação! — resmungo.
Passo o resto do tempo até a meia noite pensando em quais são os planos desse maluco. Será que ele deseja mesmo um noiva falsa ou está brincando comigo?
Eu fui ao encontro de Noah. Conversamos durante horas. No começo eu achei absurdo a ideia de me passar por sua noiva, mas ele prometeu que assim eu teria liberdade. Como recusar isso?Acertamos que seria um namoro e noivado falso o mais sem toque possível. O religiosidade dos meus pais serviria como desculpa.Selamos o pacto com um aperto de mãos que despertou curiosas borboletas em meu estômago. Após isso passamos alguns dias combinando as histórias sobre o falso romance e finalmente contamos para nossas famílias. Foi um choque de ambos os lados, mas aceitaram. Meu pai é mais ganancioso que religioso. Me ter como noiva de Noah encheu seus olhos de brilho.Então, baseados nas nossas mentiras, nossos pais deram uma festa de noivado poucas semanas depois e passei a carregar uma aliança. Todos nos viam como um casal inusitado. Quando, na verdade, Noah e eu tínhamos um acordo de levarmos esse noivado até quando fosse necessário e depois terminar. Ele usava nossos encontros para sair com o
Finalmente eu consegui dar um jeito na insistência da minha mãe.― Cara, já faz quase um ano que está namorando essa garota. Por que não a dispensa de uma vez? ― A voz de Gael, meu melhor amigo, CEO da empresa de advocacia que representa minha empresa e meu braço direito no quesito farra, sobrepôs a música ambiente e me tirou de recordações sobre a noite em que encontrei Esperanza e a ideia maluca de fingir um noivado começou a fazer sentido. Estamos em um bar de um colega dele, curtindo o fim da tarde de sexta.― Não sei por que faria isso. Conhece a minha mãe. Ela só largou do meu pé depois que comecei a “namorar” ― fiz aspas com os dedos ― sua queridinha.— Ideia minha. Que ainda não agradeceu.— Se eu agradecer mais você vai ficar me devendo.Ele ri.― Não consigo é acreditar que nunca pegou aquela coisinha de jeito. ― A expressão de tarado de Gael foi impagável. Ele era um safado de carteirinha, nenhuma mulher escapava do seu charme.― Uma virgem sem sal. Não tenho motivos, com t
Naquele dia, ele me buscou no horário. Queria fazer uma festa em seu apartamento e a idiota aqui resolveu que queria ir. Seria à noite e eu não estava a fim de dormir em hotel para fingir que estava com ele. E era uma mentira dupla, porque para os meus pais eu estaria com Ligia. Minha falsa sogra de liberal não tinha nada, mas parece que estava desesperada por um neto e aceitava nos encobrir na esperança de conseguir seu prêmio. Ela nem mesmo desconfiou do rápido envolvimento do seu filho comigo... ou se desconfiou fingiu não ver.Passei a festa toda entre me trancar em um quarto que ele deixou a disposição exclusivamente de sua noiva e me irritar com o ambiente. Era minha primeira festa do tipo. E eu estava morrendo de raiva por ele não me dar atenção. Sem contar que achei que estava bem no meu vestido azul longo, mas isso foi até ver as mulheres em roupas praticamente indecentes. Sem contar os olhares delas em minha direção. Me sentia um animal em um zoológico. O Noah me apresentou
Quando senti que o sono ia me tomar nos braços dele, ainda no sofá, tentei chamar Noah. Ele não acordou. Apenas resmungou palavras desconexas e me apertou contra seu corpo musculoso.Então, com muito trabalho, me levantei e percebi a bagunça. Ele estava com o pênis fora da calça, e havia sangue nele e no sofá. O membro tão grande que o sangue só pode significar que me rasgou. Merda. Merda.Apressada, fechei a calça dele. Meu rosto queimava de vergonha. Ainda bem que o jeans dele era tingido em preto ou o caos seria maior se fosse claro e mostrasse toda bagunça.Mal acabei de limpar o Noah e conferir que meu vestido estava intacto, e vi um dos bêbados no chão se levantar e cutucar o outro chamando para cair na piscina. Rapidamente me sentei no lugar sujo de sangue, disfarçando. Um dos caras, Gael pelo que me lembrava, arrastou Noah dormindo em direção a piscina. Aproveitei a oportunidade e “limpei” o sangue com vinho. Só assim para disfarçar na droga do sofá branco. Se fosse aparece
Faz meses que Esperanza terminou comigo através dos seus pais. Aconteceu pouco após a festa. Aquela festa me deixou com duas questões abertas. Primeira: O que aconteceu com minha “noiva” para ela terminar comigo sem mais nem menos. Segunda: Quem era a dona da calcinha que ainda se encontra na minha gaveta?Às vezes me questiono se Esperanza me pegou no flagra com alguma garota e se sentiu ofendida. Porra! Não lembro de nada.E sinceramente... achei que seria o paraíso, que usaria o término como desculpa para viver na farra sem a minha mãe poder reclamar, mas não foi assim. Me incomodou muito como acabou. Acho que no mínimo ela teria que ter me dito que queria terminar. É a atitude que uma mulher adulta deveria ter.Desde a noite que passou em meu apartamento naquela festa que não mais a vi, nem a minha mãe ela visitou mais. Claro que a senhora Ligia me culpou. Segundo ela, eu devo ter feito algo muito grave para isso acontecer.Às vezes me pergunto se realmente o fiz. Ela estava muito
Um erro. Apenas um erro e toda minha vida foi destruída. Se eu achava que era ruim viver sob as regras absurdas dos meus pais, não sabia o que viria.Ingênua. Burra mesmo. Fugi de Noah. Disse aos meus pais que ainda não estava pronta para me casar, que queria passar alguns anos em uma escola só para mulheres, onde a minha mãe estudou. Claro que eles aceitaram. No fundo acho que não confiavam no meu relacionamento com Noah. Estavam mais que certos.Confirmei a gravidez quando já estava no terceiro mês. Eu não tinha muita informação sobre sexo e fui tola em acreditar que uma vez sem proteção não seria capaz de engravidar. Juntando com minha menstruação desregulada, fui iludida até a verdade bater na minha cara.As responsáveis por mim no colégio me mandaram de volta para casa quando descobriram minha situação.Minhas mãos tremem segurando a mala. Meu pai e minha mãe estão na sala em pé, me olhando com expressões de pura decepção.— Grávida, Esperanza? — a voz do meu pai, mesmo baixa, rev
Quatro meses depois do nascimento do pequeno Sam, era hora de voltar, encarar as consequências e o seu pai. Por dois motivos, Noah merecia conhecer o filho e o dinheiro estava acabando sem que eu conseguisse me estabilizar.Não tenho notícias dos meus pais há meses, confirmei que para eles a imagem era mais importante que a filha. A última notícia que tive foi que eles se mudaram para outro país, literalmente em outro continente. Estavam vivendo com se só tivessem meu irmão como filho. Isso mesmo, eu tenho um irmão mais velho, que segue a linha para ficar igualzinho ao meu pai. Quase não tínhamos contato, mesmo morando na mesma casa. Isso no passado, porque agora não tenho mais contato algum com nenhum deles.Doeu muito saber da partida. Esperava que eles mudassem de ideia e me aceitassem de volta. Esperava mais compreensão. Eram meus pais. Que droga!Ter Sam em meus braços me faz ter a certeza de que perdoaria qualquer erro dele e o ajudaria a se reerguer se preciso fosse. Eu seria u
“Não. Isso é incabível.”Suas palavras bateram em meu coração como pedra. Minha vontade era de socar a cara desse babaca e sumir, mas não podia fazer isso com o meu filho. Se é preciso, me humilho.― Eu vou devolver. Não estou pedindo que me dê nada. Vou pagar, só preciso de tempo para estabilizar. O miserável me encarou como se eu fosse louca. Não acredito que isso está acontecendo. Não acredito que ele vai negar ajuda ao filho.― Sabe que dia é hoje, Esperanza?Estranhei a pergunta fora do assunto.― Domingo, por que?― Hoje é vinte e cinco de dezembro. A minha mãe vai sair do quarto em breve e vamos receber alguns amigos para a ceia de Natal.Ele não quer que sua mãe me veja? Eu realmente não esperava isso. Esperava rejeição de alguma forma, mas não da mesma forma que meus pais. Estou quase sentindo a mão desse homem segurando meu braço e me expulsando.― Essas pessoas não precisam me ver. ― Senti lágrimas queimando meus olhos.― Você pretende se esconder? Ir embora? ― Seu tom er