Capítulo Cinco - Noah

Finalmente eu consegui dar um jeito na insistência da minha mãe.

― Cara, já faz quase um ano que está namorando essa garota. Por que não a dispensa de uma vez? ― A voz de Gael, meu melhor amigo, CEO da empresa de advocacia que representa minha empresa e meu braço direito no quesito farra, sobrepôs a música ambiente e me tirou de recordações sobre a noite em que encontrei Esperanza e a ideia maluca de fingir um noivado começou a fazer sentido. Estamos em um bar de um colega dele, curtindo o fim da tarde de sexta.

― Não sei por que faria isso. Conhece a minha mãe. Ela só largou do meu pé depois que comecei a “namorar” ― fiz aspas com os dedos ― sua queridinha.

— Ideia minha. Que ainda não agradeceu.

— Se eu agradecer mais você vai ficar me devendo.

Ele ri.

― Não consigo é acreditar que nunca pegou aquela coisinha de jeito. ― A expressão de tarado de Gael foi impagável. Ele era um safado de carteirinha, nenhuma mulher escapava do seu charme.

― Uma virgem sem sal. Não tenho motivos, com tantas outras disponíveis. E seria procurar confusão. Quero liberdade. Se eu comer aquela ali, acordo casado de verdade.

A risada de Gael chamou a atenção de algumas pessoas nas mesas próximas.

― Claro. Quem não iria querer uma noite com o poderoso Noah Pestalozzi?! Não tem porque se arriscar com tantas a sua disposição. ― Ele se curvou na mesa como se fosse contar um segredo. ― Ela nunca tentou?

― Acho que nem pensa nisso. E se deseja, não tem atitude. Estou falando. Se no futuro eu não conhecer uma mulher digna de se tornar a segunda senhora Pestalozzi, aquela garota pode até servir. Um enfeite que agrada a sociedade e a primeira senhora Pestalozzi.

Minhas palavras causaram uma nova onda de risada.

― Você não presta.

― Deve ser por isso que somos melhores amigos ― provoquei.

― Porque opostos se atraem.

Foi a minha vez de gargalhar.

― Porque somos iguais ― decretei.

― Eu quero uma chance com a coisinha linda. ― Gael soltou, me surpreendendo. Achei que estava apenas me “alugando”, nunca imaginei que teria realmente interesse em alguém como minha falsa noiva.

― Como assim?

― Depois que acabar esse seu noivado e você deixar a linda virgem livre, claro... quero permissão. Melhor, passe livre. Por favor, por favor. ― Juntou as mãos teatralmente.

Confesso, me incomodou um pouco seu interesse, mas fingi que não. Afinal, ela não era minha de verdade. Aquela linda morena com cara de anjo não me pertence.

― Não sei. Acho que ela não merece passar pelo mesmo que suas conquistas. É uma garota de família religiosa. O que os pais pensariam dela passar pela sua cama algumas noites e ser descartada?

A expressão dele é séria quando diz:

― Isso só depende dela. Sou um cara de uma mulher só. Apenas não encontrei a escolhida. Meu coração romântico me diz que é a sua noiva.

― Que cafajeste! ― virei um longo gole da cerveja. ― Espero que não pense assim quando for minha noiva de verdade.

Ele arregala os olhos.

― Nunca! Mulher de amigo meu é homem.

― Sei. ― Meu celular vibrou sobre a mesa, me fazendo revirar os olhos ao ver o nome na tela. ― Tenho que ir. Minha noiva me chama. Hoje ela tem que chegar mais cedo na casa dos pais.

― Onde ela fica quando você sai para foder e beber?

Olhei para Gael por alguns segundos. Nesse tempo todo quase não falávamos sobre ela. Ele a viu algumas vezes, se cumprimentaram e só. Esse interesse repentino é estranho e incomoda.

― Vários lugares ― respondi enquanto colocava o celular no bolso, depois de avisar que estava a caminho. ― Biblioteca, museus, teatros, quem sabe? Ela sempre me pede para deixá-la em uma estação do metrô. E sempre a pego no mesmo lugar.

Ele colocou a mão no queixo.

― Suspeito. Muito suspeito.

― Não ligo. Nem um pouco. ― Ligo sim. Sou um cara curioso. Já pensei em segui-la em alguns momentos, mas acabei desistindo. Não era problema meu.

― Amanhã tem a festa do Rafa. Vamos virar a noite. Não esquece de avisar sua noiva.

― Já está avisada. As gêmeas estarão lá. E eu não sou doido de perder um ménage garantido.

Meu amigo só riu balançando a cabeça negando. Acenei e fui em direção ao carro para buscar minha noiva provisória e entregar aos seus pais. Não gosto de deixá-la esperando em um lugar como estações. Talvez seja a hora de mudar os locais de encontro.

Lá estava ela. Cabelos castanhos e lisos soltos ao vento, olhos de um castanho escuro, pele dourada. Confesso, parecia um anjo com seu vestido cor de rosa com rendas nas mangas que iam até seus cotovelos, com uma saia que chegava abaixo do seu joelho. Não tem como negar que é linda. Mas quem trepa com a porra de um anjo? É tão esquisito. Prefiro uma diabinha.

Ela entrou no carro, me cumprimentou e ficou olhando pela janela o caminho todo. Só quando chegamos é que passamos a fingir. Sai do carro e fui entregá-la aos seus pais, de mãos dadas. Os coroas queriam me convencer a ficar para o tão jantar familiar, mas felizmente já tinha prometido essa noite a única mulher da minha vida, minha mãe, aquela que amo tanto ao ponto de me sacrificar nesse falso namoro.

Voltei para minha cobertura, onde morava graças ao meu namoro. Dona Ligia permitiu a mudança.

Por ser um filho ciumento nunca pensei em ver minha mãe com outro depois do meu pai, mesmo mal tendo chegado aos cinquenta, mas vou ter que aceitar que minha mãe não merece a solidão. De uns tempos para cá, comecei a pensar seriamente sobre o assunto. E como bom filho que sou, estou pensando em formas de ajudá-la nessa questão. Essa história de que pais não fodem é pura ilusão, então é melhor cuidar para que minha rainha encontre alguém legal, e não caia na lábia de qualquer um. Ela merece ser feliz no amor novamente.

Em poucos minutos me arrumei. Pensamentos a mil. E, antes das oito, estava conduzindo a rainha da minha vida ao seu restaurante favorito. Era o aniversário do meu pai. Nessas ocasiões sempre doía mais, e criamos o hábito de passar juntos. Era a nossa forma de manter a memória dele viva.

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