Finalmente eu consegui dar um jeito na insistência da minha mãe.
― Cara, já faz quase um ano que está namorando essa garota. Por que não a dispensa de uma vez? ― A voz de Gael, meu melhor amigo, CEO da empresa de advocacia que representa minha empresa e meu braço direito no quesito farra, sobrepôs a música ambiente e me tirou de recordações sobre a noite em que encontrei Esperanza e a ideia maluca de fingir um noivado começou a fazer sentido. Estamos em um bar de um colega dele, curtindo o fim da tarde de sexta.
― Não sei por que faria isso. Conhece a minha mãe. Ela só largou do meu pé depois que comecei a “namorar” ― fiz aspas com os dedos ― sua queridinha.
— Ideia minha. Que ainda não agradeceu.
— Se eu agradecer mais você vai ficar me devendo.
Ele ri.
― Não consigo é acreditar que nunca pegou aquela coisinha de jeito. ― A expressão de tarado de Gael foi impagável. Ele era um safado de carteirinha, nenhuma mulher escapava do seu charme.
― Uma virgem sem sal. Não tenho motivos, com tantas outras disponíveis. E seria procurar confusão. Quero liberdade. Se eu comer aquela ali, acordo casado de verdade.
A risada de Gael chamou a atenção de algumas pessoas nas mesas próximas.
― Claro. Quem não iria querer uma noite com o poderoso Noah Pestalozzi?! Não tem porque se arriscar com tantas a sua disposição. ― Ele se curvou na mesa como se fosse contar um segredo. ― Ela nunca tentou?
― Acho que nem pensa nisso. E se deseja, não tem atitude. Estou falando. Se no futuro eu não conhecer uma mulher digna de se tornar a segunda senhora Pestalozzi, aquela garota pode até servir. Um enfeite que agrada a sociedade e a primeira senhora Pestalozzi.
Minhas palavras causaram uma nova onda de risada.
― Você não presta.
― Deve ser por isso que somos melhores amigos ― provoquei.
― Porque opostos se atraem.
Foi a minha vez de gargalhar.
― Porque somos iguais ― decretei.
― Eu quero uma chance com a coisinha linda. ― Gael soltou, me surpreendendo. Achei que estava apenas me “alugando”, nunca imaginei que teria realmente interesse em alguém como minha falsa noiva.
― Como assim?
― Depois que acabar esse seu noivado e você deixar a linda virgem livre, claro... quero permissão. Melhor, passe livre. Por favor, por favor. ― Juntou as mãos teatralmente.
Confesso, me incomodou um pouco seu interesse, mas fingi que não. Afinal, ela não era minha de verdade. Aquela linda morena com cara de anjo não me pertence.
― Não sei. Acho que ela não merece passar pelo mesmo que suas conquistas. É uma garota de família religiosa. O que os pais pensariam dela passar pela sua cama algumas noites e ser descartada?
A expressão dele é séria quando diz:
― Isso só depende dela. Sou um cara de uma mulher só. Apenas não encontrei a escolhida. Meu coração romântico me diz que é a sua noiva.
― Que cafajeste! ― virei um longo gole da cerveja. ― Espero que não pense assim quando for minha noiva de verdade.
Ele arregala os olhos.
― Nunca! Mulher de amigo meu é homem.
― Sei. ― Meu celular vibrou sobre a mesa, me fazendo revirar os olhos ao ver o nome na tela. ― Tenho que ir. Minha noiva me chama. Hoje ela tem que chegar mais cedo na casa dos pais.
― Onde ela fica quando você sai para foder e beber?
Olhei para Gael por alguns segundos. Nesse tempo todo quase não falávamos sobre ela. Ele a viu algumas vezes, se cumprimentaram e só. Esse interesse repentino é estranho e incomoda.
― Vários lugares ― respondi enquanto colocava o celular no bolso, depois de avisar que estava a caminho. ― Biblioteca, museus, teatros, quem sabe? Ela sempre me pede para deixá-la em uma estação do metrô. E sempre a pego no mesmo lugar.
Ele colocou a mão no queixo.
― Suspeito. Muito suspeito.
― Não ligo. Nem um pouco. ― Ligo sim. Sou um cara curioso. Já pensei em segui-la em alguns momentos, mas acabei desistindo. Não era problema meu.
― Amanhã tem a festa do Rafa. Vamos virar a noite. Não esquece de avisar sua noiva.
― Já está avisada. As gêmeas estarão lá. E eu não sou doido de perder um ménage garantido.
Meu amigo só riu balançando a cabeça negando. Acenei e fui em direção ao carro para buscar minha noiva provisória e entregar aos seus pais. Não gosto de deixá-la esperando em um lugar como estações. Talvez seja a hora de mudar os locais de encontro.
Lá estava ela. Cabelos castanhos e lisos soltos ao vento, olhos de um castanho escuro, pele dourada. Confesso, parecia um anjo com seu vestido cor de rosa com rendas nas mangas que iam até seus cotovelos, com uma saia que chegava abaixo do seu joelho. Não tem como negar que é linda. Mas quem trepa com a porra de um anjo? É tão esquisito. Prefiro uma diabinha.
Ela entrou no carro, me cumprimentou e ficou olhando pela janela o caminho todo. Só quando chegamos é que passamos a fingir. Sai do carro e fui entregá-la aos seus pais, de mãos dadas. Os coroas queriam me convencer a ficar para o tão jantar familiar, mas felizmente já tinha prometido essa noite a única mulher da minha vida, minha mãe, aquela que amo tanto ao ponto de me sacrificar nesse falso namoro.
Voltei para minha cobertura, onde morava graças ao meu namoro. Dona Ligia permitiu a mudança.
Por ser um filho ciumento nunca pensei em ver minha mãe com outro depois do meu pai, mesmo mal tendo chegado aos cinquenta, mas vou ter que aceitar que minha mãe não merece a solidão. De uns tempos para cá, comecei a pensar seriamente sobre o assunto. E como bom filho que sou, estou pensando em formas de ajudá-la nessa questão. Essa história de que pais não fodem é pura ilusão, então é melhor cuidar para que minha rainha encontre alguém legal, e não caia na lábia de qualquer um. Ela merece ser feliz no amor novamente.
Em poucos minutos me arrumei. Pensamentos a mil. E, antes das oito, estava conduzindo a rainha da minha vida ao seu restaurante favorito. Era o aniversário do meu pai. Nessas ocasiões sempre doía mais, e criamos o hábito de passar juntos. Era a nossa forma de manter a memória dele viva.
Naquele dia, ele me buscou no horário. Queria fazer uma festa em seu apartamento e a idiota aqui resolveu que queria ir. Seria à noite e eu não estava a fim de dormir em hotel para fingir que estava com ele. E era uma mentira dupla, porque para os meus pais eu estaria com Ligia. Minha falsa sogra de liberal não tinha nada, mas parece que estava desesperada por um neto e aceitava nos encobrir na esperança de conseguir seu prêmio. Ela nem mesmo desconfiou do rápido envolvimento do seu filho comigo... ou se desconfiou fingiu não ver.Passei a festa toda entre me trancar em um quarto que ele deixou a disposição exclusivamente de sua noiva e me irritar com o ambiente. Era minha primeira festa do tipo. E eu estava morrendo de raiva por ele não me dar atenção. Sem contar que achei que estava bem no meu vestido azul longo, mas isso foi até ver as mulheres em roupas praticamente indecentes. Sem contar os olhares delas em minha direção. Me sentia um animal em um zoológico. O Noah me apresentou
Quando senti que o sono ia me tomar nos braços dele, ainda no sofá, tentei chamar Noah. Ele não acordou. Apenas resmungou palavras desconexas e me apertou contra seu corpo musculoso.Então, com muito trabalho, me levantei e percebi a bagunça. Ele estava com o pênis fora da calça, e havia sangue nele e no sofá. O membro tão grande que o sangue só pode significar que me rasgou. Merda. Merda.Apressada, fechei a calça dele. Meu rosto queimava de vergonha. Ainda bem que o jeans dele era tingido em preto ou o caos seria maior se fosse claro e mostrasse toda bagunça.Mal acabei de limpar o Noah e conferir que meu vestido estava intacto, e vi um dos bêbados no chão se levantar e cutucar o outro chamando para cair na piscina. Rapidamente me sentei no lugar sujo de sangue, disfarçando. Um dos caras, Gael pelo que me lembrava, arrastou Noah dormindo em direção a piscina. Aproveitei a oportunidade e “limpei” o sangue com vinho. Só assim para disfarçar na droga do sofá branco. Se fosse aparece
Faz meses que Esperanza terminou comigo através dos seus pais. Aconteceu pouco após a festa. Aquela festa me deixou com duas questões abertas. Primeira: O que aconteceu com minha “noiva” para ela terminar comigo sem mais nem menos. Segunda: Quem era a dona da calcinha que ainda se encontra na minha gaveta?Às vezes me questiono se Esperanza me pegou no flagra com alguma garota e se sentiu ofendida. Porra! Não lembro de nada.E sinceramente... achei que seria o paraíso, que usaria o término como desculpa para viver na farra sem a minha mãe poder reclamar, mas não foi assim. Me incomodou muito como acabou. Acho que no mínimo ela teria que ter me dito que queria terminar. É a atitude que uma mulher adulta deveria ter.Desde a noite que passou em meu apartamento naquela festa que não mais a vi, nem a minha mãe ela visitou mais. Claro que a senhora Ligia me culpou. Segundo ela, eu devo ter feito algo muito grave para isso acontecer.Às vezes me pergunto se realmente o fiz. Ela estava muito
Um erro. Apenas um erro e toda minha vida foi destruída. Se eu achava que era ruim viver sob as regras absurdas dos meus pais, não sabia o que viria.Ingênua. Burra mesmo. Fugi de Noah. Disse aos meus pais que ainda não estava pronta para me casar, que queria passar alguns anos em uma escola só para mulheres, onde a minha mãe estudou. Claro que eles aceitaram. No fundo acho que não confiavam no meu relacionamento com Noah. Estavam mais que certos.Confirmei a gravidez quando já estava no terceiro mês. Eu não tinha muita informação sobre sexo e fui tola em acreditar que uma vez sem proteção não seria capaz de engravidar. Juntando com minha menstruação desregulada, fui iludida até a verdade bater na minha cara.As responsáveis por mim no colégio me mandaram de volta para casa quando descobriram minha situação.Minhas mãos tremem segurando a mala. Meu pai e minha mãe estão na sala em pé, me olhando com expressões de pura decepção.— Grávida, Esperanza? — a voz do meu pai, mesmo baixa, rev
Quatro meses depois do nascimento do pequeno Sam, era hora de voltar, encarar as consequências e o seu pai. Por dois motivos, Noah merecia conhecer o filho e o dinheiro estava acabando sem que eu conseguisse me estabilizar.Não tenho notícias dos meus pais há meses, confirmei que para eles a imagem era mais importante que a filha. A última notícia que tive foi que eles se mudaram para outro país, literalmente em outro continente. Estavam vivendo com se só tivessem meu irmão como filho. Isso mesmo, eu tenho um irmão mais velho, que segue a linha para ficar igualzinho ao meu pai. Quase não tínhamos contato, mesmo morando na mesma casa. Isso no passado, porque agora não tenho mais contato algum com nenhum deles.Doeu muito saber da partida. Esperava que eles mudassem de ideia e me aceitassem de volta. Esperava mais compreensão. Eram meus pais. Que droga!Ter Sam em meus braços me faz ter a certeza de que perdoaria qualquer erro dele e o ajudaria a se reerguer se preciso fosse. Eu seria u
“Não. Isso é incabível.”Suas palavras bateram em meu coração como pedra. Minha vontade era de socar a cara desse babaca e sumir, mas não podia fazer isso com o meu filho. Se é preciso, me humilho.― Eu vou devolver. Não estou pedindo que me dê nada. Vou pagar, só preciso de tempo para estabilizar. O miserável me encarou como se eu fosse louca. Não acredito que isso está acontecendo. Não acredito que ele vai negar ajuda ao filho.― Sabe que dia é hoje, Esperanza?Estranhei a pergunta fora do assunto.― Domingo, por que?― Hoje é vinte e cinco de dezembro. A minha mãe vai sair do quarto em breve e vamos receber alguns amigos para a ceia de Natal.Ele não quer que sua mãe me veja? Eu realmente não esperava isso. Esperava rejeição de alguma forma, mas não da mesma forma que meus pais. Estou quase sentindo a mão desse homem segurando meu braço e me expulsando.― Essas pessoas não precisam me ver. ― Senti lágrimas queimando meus olhos.― Você pretende se esconder? Ir embora? ― Seu tom er
Estava pronta. Com meu melhor e único vestido vermelho na altura do joelho, sem decote e sem fendas, fiz um coque no cabelo, que em breve Samuel desfaria, e pronto. Sorrio para o meu pequeno na cama com seus olhinhos atentos. As mãozinhas dele adoram puxar mechas de cabelo.Nada de maquiagem ou joias, não tenho nenhuma, vendi tudo que estava comigo para chegar até aqui.Noah veio me buscar no quarto. Ele está lindo com um terno e calça em tom vinho, muito clima de Natal. Sinto seu olhar dos meus pés a cabeça, e engulo seco.— Pronta?Assinto.Descemos com ele carregando um Samuel agitado. O garoto é da noite, é quando fica mais ativo. Ainda estou aprendendo a mudar isso.Vergonha era o que circulava em minhas veias enquanto seguia até minha amiga. Na sala de jantar estavam várias pessoas reunidas em torno da mesa enorme. Todos olharam para nós. Um silêncio mortal se fez presente. A mãe de Noah nos olhava de boca aberta.― Mãe, esse é o Samuel Pestalozzi Quarto, nosso presente. Feliz N
Esperanza estava ainda mais linda do que me lembrava. A maternidade acentuou suas curvas. Ela ainda veste o mesmo tipo de roupa que mexe com minha imaginação, sem fendas, sem decotes e nada curto.Fico puto quando penso que já tive seu corpo em meus braços e não me recordo.Sobre Sam... Nossa! Eu estou completamente apaixonado pelo garotinho. Foi amor a primeira vista. Minha mãe, meu avô, todos se apaixonaram por ele.Sobre Dona Ligia... Se a minha mãe é louca... É bem possível. Aquele quarto estava além do que eu esperava do seu desejo por um neto. Ela pensou em tudo, até colocou uma cama dizendo que seria mais fácil durante o período de amamentação.Depois de um tempo, ela discursando sobre finalmente ter um bebê para viver aqui, minha mãe me puxou para um canto do lugar, perguntando sobre o reencontro. Quando eu disse que Esperanza estava em um quarto de hóspedes, ela me olhou com um monte de perguntas prontas.― Calma, mãe. Ela acabou de chegar. ― Levantei as mãos em um sinal de r