Quando senti que o sono ia me tomar nos braços dele, ainda no sofá, tentei chamar Noah. Ele não acordou. Apenas resmungou palavras desconexas e me apertou contra seu corpo musculoso.
Então, com muito trabalho, me levantei e percebi a bagunça. Ele estava com o pênis fora da calça, e havia sangue nele e no sofá. O membro tão grande que o sangue só pode significar que me rasgou.
Merda. Merda.
Apressada, fechei a calça dele. Meu rosto queimava de vergonha. Ainda bem que o jeans dele era tingido em preto ou o caos seria maior se fosse claro e mostrasse toda bagunça.
Mal acabei de limpar o Noah e conferir que meu vestido estava intacto, e vi um dos bêbados no chão se levantar e cutucar o outro chamando para cair na piscina. Rapidamente me sentei no lugar sujo de sangue, disfarçando. Um dos caras, Gael pelo que me lembrava, arrastou Noah dormindo em direção a piscina. Aproveitei a oportunidade e “limpei” o sangue com vinho. Só assim para disfarçar na droga do sofá branco. Se fosse aparecer a mancha, que fosse de vinho.
Não demorou para Noah passar por mim todo encharcado, proferindo alguns palavrões, e se trancar no quarto. Pensei em chamá-lo para conversar, mas acabei desistindo e me acomodei em um dos quartos de hóspedes.
Como ninguém disse nada, acho que não perceberam o que aconteceu.
Mal dormi, minha mente ficava questionando: “E se ele lembrar?” “E se não lembrar?” Parte minha queria que ele estivesse bêbado demais para recordar o que fizemos. Enquanto a outra parte queria... sei lá... que ao menos ele se lembrasse e que fosse especial. Eu sou uma idiota mesmo, entreguei minha virgindade a um bêbado mulherengo.
Finalmente consegui dormi um pouco. Na manhã seguinte, acordei com Noah expulsando seus amigos.
Antes que eles se fossem, ainda ouvi Gael zoando:
― Quem é a dona dessa calcinha cor de rosa que estava saindo do seu bolso? — ele zomba levantando a minha lingerie, posso ver da porta do quarto.
Lembrei que era eu. Todo sangue sumiu do meu corpo, me deixando gelada.
Noah puxou o tecido da mão do amigo.
― Não sei. Vaza! Vai curtir a ressaca na sua casa.
Quando tive coragem e sai completamente do quarto, ele estava sozinho, e levou um susto ao me ver.
― O que faz aqui?
― Eu... ― encarei a calcinha na sua mão. Ele seguiu meu olhar e guardou o tecido no bolso. ― Você não estava em condições de me levar e achei que teríamos problemas se eu fosse sozinha. ― Olhei minhas mãos que torcia uma na outra. Não conseguia encará-lo.
― Você está estranha. Alguém fez algo? — Ele se aproxima demais, segurando meu queixo e forçando a encará-lo. — Deram em cima de você?
Isso me deixa decepcionada. Significa que ele não recorda... e acabo de perceber que eu queria que lembrasse. 110% de mim queria. 110% de mim queria que seus lábios másculos e bonitos cobrissem os meus agora. Sem sexo, apenas os beijos. Só de pensar em sexo minha intimidade dói.
― Não se lembra de nada de ontem? — questiono baixo, sem desviar o olhar.
― Não. — Ele se afasta e passa as mãos nos cabelos já bagunçados. — Porra! Eu fiz algo? Tentei algo? Sinto muito. Não vai mais acontecer. Não bebo mais perto de você. Não dessa forma. ― Parecia apavorado com a possibilidade de ter me tocado. Isso me magoou muito.
Então ele não lembrava. Talvez fosse melhor assim. Se o assunto espalhasse ele seria obrigado a assumir um compromisso e me odiaria por isso. Tudo que menos quero é que o cara que me ajudou fazendo um acordo para se livrar do casamento, acabe casando comigo por pressão e obrigação.
O melhor é ninguém nunca saber o que aconteceu. Será meu segredo. Só meu.
― Calma. Passei quase a festa toda no quarto de hóspedes. Mal te vi. Ninguém fez nada, nem você.
Ele literalmente suspira.
― Que alívio! Você é uma ótima amiga e uma mulher linda, mas acho que não daríamos certo juntos. Muita diferença — diz como se pedisse desculpas.
― Como um anjo e um demônio. ― Deixei escapar ao lembrar de suas palavras.
Ele coçou a cabeça sem jeito.
― Algo assim.
― Pode me levar para a casa da sua mãe? Daqui a pouco é o horário em que meus pais combinaram de me buscar lá. O que certamente é um pretexto para conferir se dormir com ela mesmo.
― Vou só tomar um banho.
Assinto e espero.
A minha calcinha vai com ele para o quarto. Fico imaginando o que passa na cabeça dele sobre a peça.
Depois de alguns minutos, ele me deixou em minha casa com a desculpa que fez questão de tomar café comigo e sua mãe antes que eu viesse. Meu pai cobrou a data de casamento novamente, ele deu uma de suas desculpas e se foi.
Aquela foi a última vez que o vi por muito tempo.
Faz meses que Esperanza terminou comigo através dos seus pais. Aconteceu pouco após a festa. Aquela festa me deixou com duas questões abertas. Primeira: O que aconteceu com minha “noiva” para ela terminar comigo sem mais nem menos. Segunda: Quem era a dona da calcinha que ainda se encontra na minha gaveta?Às vezes me questiono se Esperanza me pegou no flagra com alguma garota e se sentiu ofendida. Porra! Não lembro de nada.E sinceramente... achei que seria o paraíso, que usaria o término como desculpa para viver na farra sem a minha mãe poder reclamar, mas não foi assim. Me incomodou muito como acabou. Acho que no mínimo ela teria que ter me dito que queria terminar. É a atitude que uma mulher adulta deveria ter.Desde a noite que passou em meu apartamento naquela festa que não mais a vi, nem a minha mãe ela visitou mais. Claro que a senhora Ligia me culpou. Segundo ela, eu devo ter feito algo muito grave para isso acontecer.Às vezes me pergunto se realmente o fiz. Ela estava muito
Um erro. Apenas um erro e toda minha vida foi destruída. Se eu achava que era ruim viver sob as regras absurdas dos meus pais, não sabia o que viria.Ingênua. Burra mesmo. Fugi de Noah. Disse aos meus pais que ainda não estava pronta para me casar, que queria passar alguns anos em uma escola só para mulheres, onde a minha mãe estudou. Claro que eles aceitaram. No fundo acho que não confiavam no meu relacionamento com Noah. Estavam mais que certos.Confirmei a gravidez quando já estava no terceiro mês. Eu não tinha muita informação sobre sexo e fui tola em acreditar que uma vez sem proteção não seria capaz de engravidar. Juntando com minha menstruação desregulada, fui iludida até a verdade bater na minha cara.As responsáveis por mim no colégio me mandaram de volta para casa quando descobriram minha situação.Minhas mãos tremem segurando a mala. Meu pai e minha mãe estão na sala em pé, me olhando com expressões de pura decepção.— Grávida, Esperanza? — a voz do meu pai, mesmo baixa, rev
Quatro meses depois do nascimento do pequeno Sam, era hora de voltar, encarar as consequências e o seu pai. Por dois motivos, Noah merecia conhecer o filho e o dinheiro estava acabando sem que eu conseguisse me estabilizar.Não tenho notícias dos meus pais há meses, confirmei que para eles a imagem era mais importante que a filha. A última notícia que tive foi que eles se mudaram para outro país, literalmente em outro continente. Estavam vivendo com se só tivessem meu irmão como filho. Isso mesmo, eu tenho um irmão mais velho, que segue a linha para ficar igualzinho ao meu pai. Quase não tínhamos contato, mesmo morando na mesma casa. Isso no passado, porque agora não tenho mais contato algum com nenhum deles.Doeu muito saber da partida. Esperava que eles mudassem de ideia e me aceitassem de volta. Esperava mais compreensão. Eram meus pais. Que droga!Ter Sam em meus braços me faz ter a certeza de que perdoaria qualquer erro dele e o ajudaria a se reerguer se preciso fosse. Eu seria u
“Não. Isso é incabível.”Suas palavras bateram em meu coração como pedra. Minha vontade era de socar a cara desse babaca e sumir, mas não podia fazer isso com o meu filho. Se é preciso, me humilho.― Eu vou devolver. Não estou pedindo que me dê nada. Vou pagar, só preciso de tempo para estabilizar. O miserável me encarou como se eu fosse louca. Não acredito que isso está acontecendo. Não acredito que ele vai negar ajuda ao filho.― Sabe que dia é hoje, Esperanza?Estranhei a pergunta fora do assunto.― Domingo, por que?― Hoje é vinte e cinco de dezembro. A minha mãe vai sair do quarto em breve e vamos receber alguns amigos para a ceia de Natal.Ele não quer que sua mãe me veja? Eu realmente não esperava isso. Esperava rejeição de alguma forma, mas não da mesma forma que meus pais. Estou quase sentindo a mão desse homem segurando meu braço e me expulsando.― Essas pessoas não precisam me ver. ― Senti lágrimas queimando meus olhos.― Você pretende se esconder? Ir embora? ― Seu tom er
Estava pronta. Com meu melhor e único vestido vermelho na altura do joelho, sem decote e sem fendas, fiz um coque no cabelo, que em breve Samuel desfaria, e pronto. Sorrio para o meu pequeno na cama com seus olhinhos atentos. As mãozinhas dele adoram puxar mechas de cabelo.Nada de maquiagem ou joias, não tenho nenhuma, vendi tudo que estava comigo para chegar até aqui.Noah veio me buscar no quarto. Ele está lindo com um terno e calça em tom vinho, muito clima de Natal. Sinto seu olhar dos meus pés a cabeça, e engulo seco.— Pronta?Assinto.Descemos com ele carregando um Samuel agitado. O garoto é da noite, é quando fica mais ativo. Ainda estou aprendendo a mudar isso.Vergonha era o que circulava em minhas veias enquanto seguia até minha amiga. Na sala de jantar estavam várias pessoas reunidas em torno da mesa enorme. Todos olharam para nós. Um silêncio mortal se fez presente. A mãe de Noah nos olhava de boca aberta.― Mãe, esse é o Samuel Pestalozzi Quarto, nosso presente. Feliz N
Esperanza estava ainda mais linda do que me lembrava. A maternidade acentuou suas curvas. Ela ainda veste o mesmo tipo de roupa que mexe com minha imaginação, sem fendas, sem decotes e nada curto.Fico puto quando penso que já tive seu corpo em meus braços e não me recordo.Sobre Sam... Nossa! Eu estou completamente apaixonado pelo garotinho. Foi amor a primeira vista. Minha mãe, meu avô, todos se apaixonaram por ele.Sobre Dona Ligia... Se a minha mãe é louca... É bem possível. Aquele quarto estava além do que eu esperava do seu desejo por um neto. Ela pensou em tudo, até colocou uma cama dizendo que seria mais fácil durante o período de amamentação.Depois de um tempo, ela discursando sobre finalmente ter um bebê para viver aqui, minha mãe me puxou para um canto do lugar, perguntando sobre o reencontro. Quando eu disse que Esperanza estava em um quarto de hóspedes, ela me olhou com um monte de perguntas prontas.― Calma, mãe. Ela acabou de chegar. ― Levantei as mãos em um sinal de r
Somente depois que a porta se fechou atrás de Noah foi que tive reação. Andei lentamente até a cama e me sentei.Ele me beijou. E não estava bêbado. Ele quer tentar um relacionamento de verdade. Um casamento de verdade. Uma família de verdade.Sinceramente, não sei o que dizer sobre o dia de hoje. Seria um Natal mágico onde todos os sonhos se realizam?Eu que cheguei a essa casa com medo de que ele nem quisesse contato com o filho, agora estou nesse quarto com a promessa de acordar com uma família que nos deseja.Me encolhi na cama no quarto de Sam e fechei os olhos, rezando.“Meu Deus, eu te peço, que amanhã nada disso tenha sido somente um sonho.”Na manhã seguinte, acordei com choro de Sam.Estávamos no quarto incrível de bebê. Não foi mesmo um sonho. Ele dormiu mais tranquilo essa noite. Deve ter ficado cansado de tanta atenção.Dei um banho usando a banheira infantil que Ligia também havia comprado e o amamentei. Depois de cuidar dele, fui cuidar da minha higiene matinal e coloqu
Tudo que eu menos esperava ganhar de presente de Natal, com meus quase trinta anos, é descobrir um filho de meses. Pior, a mãe é ninguém menos que a namorada que minha mãe sempre desejou ao meu lado e pela qual eu, por um longo tempo, achei que não sentia nada.E agora? Esperanza está na minha frente, desarmada, oferecendo o seu coração ou a minha liberdade. Ela está me dando uma escolha.Tudo que o meu lado libertino quer é pagar a pensão e se manter distante, mas olhando para essa mulher, para o meu filho, não consigo me afastar. Eu já amo esse garotinho. Não consigo me afastar nem dele... nem dela.― Noah? ― ela me chamou e eu percebi que estava há tempo demais encarando-a sem dizer nada.― Vamos fazer isso ― disse, e no segundo seguinte estava com meus lábios selando os seus. Rápido, apenas um pouco mais demorado que o “primeiro”.O que vi no olhar de Esperanza me levou a um nível de excitação surreal.Como poderia me sentir assim com um beijo tão singelo? Vendo que não seria re