Eu fui ao encontro de Noah. Conversamos durante horas. No começo eu achei absurdo a ideia de me passar por sua noiva, mas ele prometeu que assim eu teria liberdade. Como recusar isso?
Acertamos que seria um namoro e noivado falso o mais sem toque possível. O religiosidade dos meus pais serviria como desculpa.
Selamos o pacto com um aperto de mãos que despertou curiosas borboletas em meu estômago. Após isso passamos alguns dias combinando as histórias sobre o falso romance e finalmente contamos para nossas famílias. Foi um choque de ambos os lados, mas aceitaram. Meu pai é mais ganancioso que religioso. Me ter como noiva de Noah encheu seus olhos de brilho.
Então, baseados nas nossas mentiras, nossos pais deram uma festa de noivado poucas semanas depois e passei a carregar uma aliança. Todos nos viam como um casal inusitado. Quando, na verdade, Noah e eu tínhamos um acordo de levarmos esse noivado até quando fosse necessário e depois terminar. Ele usava nossos encontros para sair com outras mulheres e farrear. Não me falava, mas eu sabia.
Da minha parte, eu aproveitava os momentos em que “estava” com meu noivo e passeava por onde bem desejasse. Comecei a ter uma vida.
O motorista dele quase sempre precisava nos buscar ou levar a algum lugar para manter a farsa. Também tínhamos que participar de eventos familiares. Era nesses eventos que eu via o quanto o incomodava ter uma noiva, mesmo falsa. Noah não disfarçada a irritação quando cobravam pelo casamento.
Ele poderia acabar com nossa farsa tão facilmente, ainda bem que o homem era fiel ao nosso acordo, pois eu ainda não estava pronta para perder minha recente liberdade.
E assim passou meses.
Ele sempre vinha me buscar com cara de quem bebeu. E enquanto ele se divertia, eu também o fazia. Pedia para que me deixasse em uma estação de metrô e aproveitava para conhecer a cidade, visitar museus, parques, cinemas... tudo que desejasse. Eu me divertia, mas também via de perto a realidade de pessoas que não tinham os mesmos privilégios que nós. E ajudava como podia. O mundo era injusto. Pessoas como Noah e meus pais com dinheiro sobrando e outros sem ter o que comer, onde dormir.
Queria saber quem inventou as regras. Ai penso que Deus tem um propósito para cada um. Por enquanto o meu é me voluntariar para ajudar essas pessoas nos meus falsos encontros com Noah. Passei a passear menos e a ajudar mais. Participava do máximo de voluntariado possível. Finalmente me sentia útil.
Assim o tempo passava e meu falso noivado com Noah continuava.
Por falar em Noah, meu falso noivo, aconteceu algo muito estranho. Passei a pensar muito nele. Acordo com ele em meu primeiro pensamento, durmo com sua imagem sendo a última na minha mente e ainda aparecendo em meus sonhos. Um atrevimento só. Depois de um tempo entendi os meus sintomas. É isso. Me apaixonei.
Meses de liberdade graças ao meu falso noivo. Nem acredito que aceitei a loucura quando aquele homem me propôs. Mas além de ser o que eu precisava, ainda tinha o fato de que era impossível dizer não olhando naqueles olhos tão azuis quanto o oceano mais hipnotizante... Já disse que me apaixonei. Primeiro amor. Amor platônico. Era a minha mais nova doença. E como sabia que ele acabaria com tudo se me declarasse, resolvi guardar para mim.
Antes do nosso falso noivado, eu raramente o via, apesar de nossos pais serem amigos. Das pessoas que andava com ele só conheci um rapaz chamado Gael, que também era lindo, mas só nos encontramos em raras oportunidades. Não tive tempo para verdadeiramente o conhecer.
Eu sempre ouvia elogios da mãe de Noah, que dizia que devíamos nos casar rápido, que eu era a mulher perfeita para colocar seu filho nos eixos e lhe dar netos lindos. Deve ser dai que ele tirou a ideia de fingirmos. Certamente ela mencionou algo com ele em algum momento antes da sua louca proposta. Não acredito quando ele diz que me viu naquela noite e me achou perfeita para o papel. Pela forma que sua mãe fala sobre mim, acredito que ela o induziu a isso.
Só que sempre levei os elogios dela na brincadeira. Até que, naquele belo dia, ele fez a proposta. E eu, louca para ser livre das exigências dos meus pais, aceitei.
Tudo ia muito bem. Mal ficávamos juntos nos primeiros meses. Porém, depois do quarto mês, nossos pais começaram a cobrar cada vez mais que marcássemos a data do casamento. Noah sempre tinha uma desculpa na ponta da língua. Ai vinha as constantes festas e eventos nas companhias dos nossos pais ou parentes. Não sei, acho que eles desconfiaram que estávamos mentindo. Talvez sim, talvez não.
Nessas festas precisávamos ficar juntos, de mãos dadas, trocando carinhos. Foi impossível não acontecer. Talvez tenha sido em um desses momentos que me apaixonei.
Esperei pacientemente esse sentimento desaparecer.
Não desapareceu.
Pior. Como dizem, a oportunidade faz o ladrão. E confesso que me aproveitei. Tudo aconteceu naquela festa....
Finalmente eu consegui dar um jeito na insistência da minha mãe.― Cara, já faz quase um ano que está namorando essa garota. Por que não a dispensa de uma vez? ― A voz de Gael, meu melhor amigo, CEO da empresa de advocacia que representa minha empresa e meu braço direito no quesito farra, sobrepôs a música ambiente e me tirou de recordações sobre a noite em que encontrei Esperanza e a ideia maluca de fingir um noivado começou a fazer sentido. Estamos em um bar de um colega dele, curtindo o fim da tarde de sexta.― Não sei por que faria isso. Conhece a minha mãe. Ela só largou do meu pé depois que comecei a “namorar” ― fiz aspas com os dedos ― sua queridinha.— Ideia minha. Que ainda não agradeceu.— Se eu agradecer mais você vai ficar me devendo.Ele ri.― Não consigo é acreditar que nunca pegou aquela coisinha de jeito. ― A expressão de tarado de Gael foi impagável. Ele era um safado de carteirinha, nenhuma mulher escapava do seu charme.― Uma virgem sem sal. Não tenho motivos, com t
Naquele dia, ele me buscou no horário. Queria fazer uma festa em seu apartamento e a idiota aqui resolveu que queria ir. Seria à noite e eu não estava a fim de dormir em hotel para fingir que estava com ele. E era uma mentira dupla, porque para os meus pais eu estaria com Ligia. Minha falsa sogra de liberal não tinha nada, mas parece que estava desesperada por um neto e aceitava nos encobrir na esperança de conseguir seu prêmio. Ela nem mesmo desconfiou do rápido envolvimento do seu filho comigo... ou se desconfiou fingiu não ver.Passei a festa toda entre me trancar em um quarto que ele deixou a disposição exclusivamente de sua noiva e me irritar com o ambiente. Era minha primeira festa do tipo. E eu estava morrendo de raiva por ele não me dar atenção. Sem contar que achei que estava bem no meu vestido azul longo, mas isso foi até ver as mulheres em roupas praticamente indecentes. Sem contar os olhares delas em minha direção. Me sentia um animal em um zoológico. O Noah me apresentou
Quando senti que o sono ia me tomar nos braços dele, ainda no sofá, tentei chamar Noah. Ele não acordou. Apenas resmungou palavras desconexas e me apertou contra seu corpo musculoso.Então, com muito trabalho, me levantei e percebi a bagunça. Ele estava com o pênis fora da calça, e havia sangue nele e no sofá. O membro tão grande que o sangue só pode significar que me rasgou. Merda. Merda.Apressada, fechei a calça dele. Meu rosto queimava de vergonha. Ainda bem que o jeans dele era tingido em preto ou o caos seria maior se fosse claro e mostrasse toda bagunça.Mal acabei de limpar o Noah e conferir que meu vestido estava intacto, e vi um dos bêbados no chão se levantar e cutucar o outro chamando para cair na piscina. Rapidamente me sentei no lugar sujo de sangue, disfarçando. Um dos caras, Gael pelo que me lembrava, arrastou Noah dormindo em direção a piscina. Aproveitei a oportunidade e “limpei” o sangue com vinho. Só assim para disfarçar na droga do sofá branco. Se fosse aparece
Faz meses que Esperanza terminou comigo através dos seus pais. Aconteceu pouco após a festa. Aquela festa me deixou com duas questões abertas. Primeira: O que aconteceu com minha “noiva” para ela terminar comigo sem mais nem menos. Segunda: Quem era a dona da calcinha que ainda se encontra na minha gaveta?Às vezes me questiono se Esperanza me pegou no flagra com alguma garota e se sentiu ofendida. Porra! Não lembro de nada.E sinceramente... achei que seria o paraíso, que usaria o término como desculpa para viver na farra sem a minha mãe poder reclamar, mas não foi assim. Me incomodou muito como acabou. Acho que no mínimo ela teria que ter me dito que queria terminar. É a atitude que uma mulher adulta deveria ter.Desde a noite que passou em meu apartamento naquela festa que não mais a vi, nem a minha mãe ela visitou mais. Claro que a senhora Ligia me culpou. Segundo ela, eu devo ter feito algo muito grave para isso acontecer.Às vezes me pergunto se realmente o fiz. Ela estava muito
Um erro. Apenas um erro e toda minha vida foi destruída. Se eu achava que era ruim viver sob as regras absurdas dos meus pais, não sabia o que viria.Ingênua. Burra mesmo. Fugi de Noah. Disse aos meus pais que ainda não estava pronta para me casar, que queria passar alguns anos em uma escola só para mulheres, onde a minha mãe estudou. Claro que eles aceitaram. No fundo acho que não confiavam no meu relacionamento com Noah. Estavam mais que certos.Confirmei a gravidez quando já estava no terceiro mês. Eu não tinha muita informação sobre sexo e fui tola em acreditar que uma vez sem proteção não seria capaz de engravidar. Juntando com minha menstruação desregulada, fui iludida até a verdade bater na minha cara.As responsáveis por mim no colégio me mandaram de volta para casa quando descobriram minha situação.Minhas mãos tremem segurando a mala. Meu pai e minha mãe estão na sala em pé, me olhando com expressões de pura decepção.— Grávida, Esperanza? — a voz do meu pai, mesmo baixa, rev
Quatro meses depois do nascimento do pequeno Sam, era hora de voltar, encarar as consequências e o seu pai. Por dois motivos, Noah merecia conhecer o filho e o dinheiro estava acabando sem que eu conseguisse me estabilizar.Não tenho notícias dos meus pais há meses, confirmei que para eles a imagem era mais importante que a filha. A última notícia que tive foi que eles se mudaram para outro país, literalmente em outro continente. Estavam vivendo com se só tivessem meu irmão como filho. Isso mesmo, eu tenho um irmão mais velho, que segue a linha para ficar igualzinho ao meu pai. Quase não tínhamos contato, mesmo morando na mesma casa. Isso no passado, porque agora não tenho mais contato algum com nenhum deles.Doeu muito saber da partida. Esperava que eles mudassem de ideia e me aceitassem de volta. Esperava mais compreensão. Eram meus pais. Que droga!Ter Sam em meus braços me faz ter a certeza de que perdoaria qualquer erro dele e o ajudaria a se reerguer se preciso fosse. Eu seria u
“Não. Isso é incabível.”Suas palavras bateram em meu coração como pedra. Minha vontade era de socar a cara desse babaca e sumir, mas não podia fazer isso com o meu filho. Se é preciso, me humilho.― Eu vou devolver. Não estou pedindo que me dê nada. Vou pagar, só preciso de tempo para estabilizar. O miserável me encarou como se eu fosse louca. Não acredito que isso está acontecendo. Não acredito que ele vai negar ajuda ao filho.― Sabe que dia é hoje, Esperanza?Estranhei a pergunta fora do assunto.― Domingo, por que?― Hoje é vinte e cinco de dezembro. A minha mãe vai sair do quarto em breve e vamos receber alguns amigos para a ceia de Natal.Ele não quer que sua mãe me veja? Eu realmente não esperava isso. Esperava rejeição de alguma forma, mas não da mesma forma que meus pais. Estou quase sentindo a mão desse homem segurando meu braço e me expulsando.― Essas pessoas não precisam me ver. ― Senti lágrimas queimando meus olhos.― Você pretende se esconder? Ir embora? ― Seu tom er
Estava pronta. Com meu melhor e único vestido vermelho na altura do joelho, sem decote e sem fendas, fiz um coque no cabelo, que em breve Samuel desfaria, e pronto. Sorrio para o meu pequeno na cama com seus olhinhos atentos. As mãozinhas dele adoram puxar mechas de cabelo.Nada de maquiagem ou joias, não tenho nenhuma, vendi tudo que estava comigo para chegar até aqui.Noah veio me buscar no quarto. Ele está lindo com um terno e calça em tom vinho, muito clima de Natal. Sinto seu olhar dos meus pés a cabeça, e engulo seco.— Pronta?Assinto.Descemos com ele carregando um Samuel agitado. O garoto é da noite, é quando fica mais ativo. Ainda estou aprendendo a mudar isso.Vergonha era o que circulava em minhas veias enquanto seguia até minha amiga. Na sala de jantar estavam várias pessoas reunidas em torno da mesa enorme. Todos olharam para nós. Um silêncio mortal se fez presente. A mãe de Noah nos olhava de boca aberta.― Mãe, esse é o Samuel Pestalozzi Quarto, nosso presente. Feliz N