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Capítulo Dois - Esperanza

Sempre acreditei que Deus tinha um propósito para mim. Acreditei piamente que minha infância era apenas um teste. Afinal, Ele não dava carga maior do que se pode carregar.

Eu carreguei a carga de ter um pai agressivo e uma mãe submissa, carreguei até não poder mais. Não que meu pai agredisse fisicamente minha mãe, pelo menos nunca vi. Era os gritos constantes, era o carinho forçado diante das pessoas enquanto dentro de casa só se dirigia a sua mulher e sua filha para reclamar, para gritar. As mentiras com as quais convivia me tornava uma pessoa medrosa. Já sabia identificar cada olhar do meu pai. E já sabia como seria o meu dia por esses olhares.

Apesar de já entender desde muito cedo que dias calmos eram raros como um eclipse solar, eu ainda os desejava ardentemente. Nunca achei isso normal. Mas vai saber. As pessoas que olham nossa família jamais diria que somos infelizes. Talvez eu é que espero uma felicidade que não existe. Talvez todas as famílias sejam assim: belas ao olhar e feias no interior.

— VOCÊ NÃO FAZ NADA. SUA ÚNICA OBRIGAÇÃO ERA EDUCAR SUA FILHA. E NEM ISSO CONSEGUIU. INÚTIL!

Enquanto ele grita, nenhum som vem da minha mãe, mas sei que ela está ali. A discussão acontece na frente do meu quarto. Afinal, eu sou o motivo.

M*****a hora em que mencionei que queria permissão para ir ao show dos Newsboys. Não pedi para fazer uma tatuagem, não apresentei um namorado duvidoso, apenas perguntei se podia ir a um show.

Fico imaginando como ele não tem um “treco” com essa agitação toda logo após o jantar. Eu estou prestes a vomitar tudo que comi.

Fico deitada na cama ouvindo tudo. Quando eles finalmente se afastam, recebo uma ligação de vídeo da única pessoa que me liga.

— Oi, Ligia! Tudo bem?

— Péssimo querida. Aquele piralho não me escuta. — Rio da sua expressão emburrada.

Ligia é uma boa amiga. Uma senhora muito mais rica que meu pai, que mora no mesmo condomínio e sempre nos convidava para seus eventos. Nunca íamos. Apenas quando era algo íntimo, sem convidados externos. Eu acabei me tornando amiga dessa senhora. Para dizer a verdade era a minha única amiga. Meu pai dizia que pessoas da minha idade não tem nada na cabeça, que é conveniente conviver com uma senhora. Nem ligo. Gosto muito dela.

Na verdade, ela é a “melhor amiga” da minha mãe, que acabou se tornando minha amiga também. Mas não falamos sobre o relacionamento dos meus pais, esse é o limite para essa amizade dar certo.

— O que ele fez dessa vez? — pergunto.

Vou focar no seu drama familiar e esquecer o meu.

— Preparei um jantar todo especial para ele conhecer a filha da Janete e aquele ingrato trouxe uma garota de programa como convidada. Acredita nessa palhaçada?

Não consigo conter o riso ao imaginar a cena. Meu contato com o tal filho dela é zero praticamente, apenas o vi de vista e conheço sua reputação de CEO poderoso e mulherengo pelas conversas que ouço no condomínio e pelos desabafos da Ligia.

Ela passa algum tempo desabafando sobre as roupas e atitudes vulgares da convidada do filho, e lamentando que perdeu qualquer esperança de um romance entre ele e a filha de Janete.

A garota é outra que tenho contato nulo. Vejo mais em revistas e anúncios de produtos de beleza. Ela é modelo. Uma mulher loira tão linda que qualquer homem gostaria de se casar com ele. Pelo jeito, não Noah. Acho que se minha amiga quiser netos vai ter que fazer outro filho... ou esperar que uma das aventuras dele acabe em um filho não planejado.

— Eu desisto. Desisto — repete bufando. — Você é que devia ser minha filha. Uma pessoa doce e obediente.

— Tenho meu lado rebelde — rebato.

— Mas nada como aquele meu filho ingrato.

Pelos próximos minutos conversamos e ela me faz esquecer meu próprios problemas. E depois que encerramos fico pensando na rebeldia do Noah ao ponto de não conseguir dormir, imaginando se faria alguma diferença se eu fosse um pouco mais como ele... Talvez seja por isso que estou nesse momento me esgueirando para fora da minha casa, apenas com a camisola de algodão por baixo de um casado rosa bebê, que espanta o friozinho desse inverno.

Medo e felicidade mesclam enquanto ando pelas calçadas do condomínio. É madrugada, está vazio. Isso mesmo, fugi de casa escondido e fiquei andando pela rua do condomínio ouvindo as músicas da banda que queria ir ao show.

Cantarolava distraída quando um carro passou por mim em alta velocidade. O veiculo azul brilhante, conversível é do filho de Ligia. Ela já reclamou sobre o quanto o rapaz usa sem ter medo do perigo.

O carro dele passou por mim, e depois deu ré, parou a minha frente.

Tirei os fones. Pelo susto do carro passando tão rápido. E também porque talvez ele tivesse algum recado de Ligia. Mas não... Ele apoiou o braço coberto pela jaqueta de couro no carro e disse a frase mais maluca que poderia sair da sua boca.

― Acho que daria certo.

Eu o ignorei, coloquei os fones de volta. Esse homem deve estar bêbado. Conheço a fama do filho de Ligia. Trabalho, álcool e mulheres. Quase na mesma proporção.

Ele deixou o carro no meio da rua, desceu e puxou os meus fones. O cara puxou meus fones.

― Não me ouviu, anjo?

Revirei meus olhos. É hoje que saio na mão com um bêbado muito maior e mais forte que eu. Certamente meus pais me manterão em um porão para evitar a vergonha.

Novamente o ignorei. Andei alguns poucos passos e sentei na calçada. A esperança era ignorar o bêbado e ele sumir. Deu certo? De jeito nenhum.

Ele sentou ao meu lado.

― Já vi que você é bem difícil. Vai ser perfeita para o cargo.

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