Capítulo 3: Amely

Acordei em um pulo com o despertador gritando em meus ouvidos. Amo dar aulas, mas acordar cedo não é meu forte. Olhei as horas e já eram quase seis da manhã, teria que correr se não quisesse chegar atrasada na escolinha.

Graças aos céus, a escola onde eu trabalho é só uns 20 minutos da minha casa ou então eu teria que acordar pelo menos as 05h00min da manhã se não quisesse chegar atrasada e levar chamada da coordenação (que deixemos claro aqui, odeio Martina silva, minha coordenadora) coisa eu odeio.

Tomei um banho rápido e me arrumei mais rápido ainda, minhas aulas começam 07h15min, mas tenho que estar na escola 15 minutos antes das 07h00min para deixar tudo pronto para a chegada dos pequenos.

Tomei apenas um café preto, já que não consigo raciocinar sem ele, o café é meu combustível. Não gosto de comer muito cedo pela manhã, então terminei meu café, peguei minha bolsa, fechei minha casa e parti rumo ao meu trabalho. As 6:50 já estava no portão da escola.

— Bom dia, Antônio. — cumprimento o porteiro da escola.

— Bom dia, Amely. Como passou um fim de semana?

— Passei muito bem seu Antônio. Sai para a balada e ainda arrumei um boy para me ajudar a desestressar.

Ele sorri de forma genuína e eu o acompanho.

— Está certa, minha filha tem que aproveitar a juventude. Eu também namorei muito antes de me apaixonar pela minha Rosa. — seus olhos brilham ao falar de sua esposa. Queria eu ter um amor assim.

— Mande um beijo para dona Rosa e diga que estou com saudades. Vou entrar que meus pequenos já, já chegam.

Entro na escola e vou direto para minha sala, quero deixar o cantinho da leitura pronto para a primeira aula. Já tenho todo o cronograma da semana pronto, teremos muitas atividades lúdicas e a semana se encerrará com uma feira de ciências. Os trabalhos estão sendo feito por toda a escola.

Ouço o sinal tocar e fico na porta para receber meus alunos. Um por um vão chegando e sentando em suas cadeiras. Para dar mais autonomia as crianças, seus pais ou responsáveis as deixam no portão e elas entram sozinhas para suas respectivas salas.

Espero todos se sentarem e cumprimento a todos.

— Bom dia, turma.

Eles me saúdam com um sonoro.

— BOM DIAAAA.

— Vejo que chegaram animados hoje em — sorriu para eles.

— Como foi o final de semana? — pergunto-lhes e cada um responde de uma forma singular.

Acho importante ter essa conversa antes de iniciar a aula, pois faz com que eles extravasem seu falatório e se sintam importantes na sala. Muitos pais não conversam com seus filhos e os pequenos sentem falta disso, por mais que às vezes eles não demonstrem. E essa atenção dada a eles faz toda a diferença na hora de aprender.

Após o momento do falatório e exposição de seus finais de semana, contei uma história e cantamos algumas cantigas infantis. Como eles só têm 3 e 4 anos, sua fala e aprendizado se dar dessa forma?

— Tia Amely — Helena me chama toda saltitante. Estamos na hora do intervalo.

— Sim, meu anjinho — falo brincando com seus cachos.

— Eu queria te perguntar algo.

— Pode perguntar.

— Você tem namorado? — quase me engasgou com o suco que estava tomando.

— De onde tirou isso, meu bem? E eu não tenho namorado.

— Meu tio Henrique disse que papai precisa arrumar uma. Ele precisa?

— Bom, eu não sei se seu pai precisa de uma namorada, mas se seu tio disse, talvez ele precise — tento explicar da melhor forma possível para que ela consiga entender.

— Meu papai é muitão de bonito sábia? Você não quer namorar ele, não pof. Amely.

— Ah! Meu bem. Senta aqui nas pernas da tia. — a coloco em meu colo.

— Não é assim que as coisas acontecem. Eu nem conheço seu pai, e sem falar que estou bem feliz sendo solteira.

— É que eu gosto muito da senhora e também queria ter uma mamãe como as outras meninas — ela fala com os olhos cheios de lagrimas fazendo meu coração apertar.

— Você já tem uma mamãe Helena, ela só está viajando, mas logo estará com você.

— Ela nem liga para falar comigo. — minha raiva por essa mulher só aumenta.

— Bom, tenho certeza que ela te ama e vai trazer muitos presentes das viagens. Agora vai brincar, a Bianca está te chamando

— Ela é bem apegada a você. Não sei como uma mãe pode abandonar uma coisa preciosa como ela — Natália, a professora da outra turma, fala ao se sentando ao meu lado.

— Também não entendo. E é por isso que eu penso muito quando o assunto são filhos, não quero por um mundo sem estar preparada para tal responsabilidade.

— Penso da mesma forma que você. — ela fala olhando as crianças brincarem.

O sinal tocou e começamos mais uma rodada de aulas: pinturas, desenhos e músicas para aprender os números. Assim se seguiu até o final de mais uma manhã.

Na hora da saída, Helena pegou na minha mão para ir embora, ao chegar ao portão me deparei com nada mais nada menos que o idiota/babaca da balada que eu jurava nunca mais ver na minha frente.

E pasmem: ele é o muitão de bonito, pai de Helena Ferreira.

O mundo é mesmo muito pequeno!

[...]

Saio da escola direto para o restaurante no qual a Duda me esperava. Ele não era tão longe, por isso resolvi ir andando.

Nem sempre tenho tempo de praticar exercício físico, pois meu dia a dia é bem corrido, então sempre que posso faço uma caminhada, seja até a escola ou o restaurante próximo a ela. Até porque o restaurante é italiano, então posso comer um prato de lasanha sem culpa.

— E aí, gatinha — a cumprimento assim que chego ao restaurante.

— Morrendo de fome, amiga — ela responde sorrindo — sem falar que o dia tá bem corrido hoje. Tenho que voltar correndo para a revista, tenho uma sessão de fotos para essa tarde.

— Seu dia está sempre corrido, amiga, isso não é novidade — falo rindo e ela concorda sorrindo também.

Duda é fotógrafa e trabalha em uma revista de moda, a PradaFashion. Ela é uma fotógrafa maravilhosa e está sempre sendo requisitada para tirar as fotos de modelos famosas. Ela já me pediu para tirar algumas fotos como modelo plus size, contudo, por mais que eu me aceite gorda, ainda não tiver coragem para fazer tal coisa. Quem sabe um dia?

Entramos no restaurante e escolhemos uma mesa no térreo, minutos depois o garçom vem nos trazer o cardápio. Coisa que nem precisa, já que sempre almoçamos aqui.

— Vou querer uma lasanha a bolonhesa com suco de laranja e pudim de sobremesa– digo para o garçom que esta anotando nosso pedido.

— Eu vou querer um fettuccine de camarão com coca cola e sorvete de chocolate de sobremesa — Maria Eduarda pede seu prato favorito.

— Combinação estranha essa em amiga — comento rindo e ela me da língua. Bem madura, ela eu sei.

Nossos pedidos chegam e começamos a comer

— Tenho uma coisa para te contar... — faço suspense.

— Já deveria estar contando — sempre sem paciência. Ela é um amor, só que não.

— Adivinha quem eu encontrei hoje?

— Amiga, sem rodeios.

— Chata.

— Você me ama — lhe dou língua.

— O babaca/idiota da balada — ela faz cara de surpresa — e o mais inacreditável... Ele é o pai da Helena.

— Não. Daquela sua aluna que você é bem apegada? — pergunta e eu confirmo com a cabeça.

— Sim. Dela mesma, ele a estava esperando na saída da escola e ainda foi rude comigo por eu estar com a filha dele — reviro os olhos ao falar de como ele é babaca.

— Que mundo pequeno em amiga — ela começa a rir e eu quero bater nela.

— Quem diria que o idiota que te tirou tanto do sério aquele dia, seria o pai da sua, aluna preferida.

— Ela não é a preferida, gosto por igual dos meus alunos — tento me defender e ela me olha levantando uma sobrancelha como se dissesse 'há tá'.

— Tá bom, ela é a preferida, mas em minha defesa ela é um amor de menina e muito inteligente.

— Eu quero saber do pai dela, sei que ele e babaca, porém um babaca lindo e muitooo gostoso — fala fazendo cara de safada e não resistimos. Gargalhamos chamando a atenção das mesas próxima à nossa.

— Ele é gostoso mesmo, mas sem noção e se acha muito. E isso não é o pior da história, Helena veio me perguntar se eu não queria me casar com o pai dela.

Soltei de uma vez e Duda quase se engasga com a garfada de macarrão que tinha posto na boca.

— O quê? Como assim casar? Eu já amo essa menina — começou a rir como uma doída.

— Para, amiga, não tem graça. Ela colocou na cabeça que me quer como mãe dela e eu não sei o que fazer.

— Nossa, amiga, que complicado em.

— Sim, ela queria que eu fosse almoçar com eles, contudo consegui fugir dessa sai justa. Eu tenho vontade de dar na cara do babaca do pai dela, como iria almoçar com eles.

— Pelo visto você ganhou um cupido — fala voltando a rir da minha cara.

Resolvi ficar calada e terminar meu almoço, não era uma situação boa para mim, eu não fui feita para namorar ou amar alguém.

Ela após parar de rir fez o mesmo. Nos despedimos após pagar a conta, ela voltou para a revista e eu fui para casa, já que não daria mais aula naquele dia.

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