Capítulo 3 - Diana

Com um empurrão, a porta de vidro range enquanto se abre, e o sino toca suavemente acima da minha cabeça, anunciando minha entrada. Adentrei a recepção, sentindo o ar abafado e percebendo que o local estava precisando de uma boa limpeza.

A luz fraca filtrada pelas cortinas meio fechadas deixava a recepção com um ar sombrio e desgastado. O chão de azulejos parecia ter visto dias melhores, coberto por uma fina camada de poeira. O balcão de atendimento estava manchado e com algumas marcas de uso, mostrando que não recebia uma atenção adequada há algum tempo.

Um balcão de madeira, também empoeirado, ocupava o centro da sala, repleta de papéis amontoados e documentos desorganizados. Algumas poltronas estofadas, já desgastadas pelo uso e pelo tempo, se alinhavam contra a parede, convidando os clientes a sentarem enquanto aguardavam atendimento.

Atrás do balcão, havia um pequeno computador com uma tela envelhecida e uma impressora que parecia ser da época em que a recepção ainda estava em melhor estado. Cartazes desatualizados pendurados nas paredes mostravam eventos e informações que já haviam passado da validade.

Apesar da aparência desgastada, um leve sentimento de nostalgia preenchia o ambiente. Era como se o tempo tivesse deixado sua marca naquele lugar, tornando— o único e com uma história para contar.

—  Por quê estamos aqui? —  Noah pergunta com o cenho franzido, claramente incomodado com aquele lugar.

—  Precisamos de um lugar.

—  Um lugar pra quê?

               Antes que pudesse responder a segunda pergunta de Noah, mesmo sabendo que teria outra e mais outra depois, uma mulher aparece atrás do balcão. Aparentava ter seus quarenta anos, acredito que havia errado na tonalidade do cabelo, pois ao invés de estar loiro— claro, estava amarelado; Além de usar uma maquiagem que não a favorecia, assim como o estilo de roupa.

—  O que querem? —  pergunta de forma ríspida.

—  Um quarto —  Ela ergue uma sobrancelha, olhando Noah atentamente.

—  Quantos anos tem?

—  22.

—  Não deveria estar na universidade?

—  Deveria? —  E aquela não era a primeira vez que me faziam perguntas do tipo —  Eu só quero um quarto.

—  Tudo bem —  Ela vai até o velho computador —  Só preciso da sua identidade e do adiantamento —  Solto o ar dos pulmões, pegando minha carteira na bolsa, encontrando ali todas as minhas economias dos últimos anos.

               Ao entrar no quarto do motel, percebi que o estado do lugar era ainda pior do que a recepção. O ar estava impregnado com um leve cheiro de mofo e uma mistura de produtos de limpeza baratos. As paredes desgastadas e mal pintadas davam ao ambiente uma sensação de abandono.

No centro do quarto, estava uma cama de casal com um colchão afundado e lençóis duvidosos, que provavelmente não tinham sido trocados há algum tempo. Eu me aproximei da cama com cuidado, evitando tocar em qualquer superfície desnecessária.

As cortinas desbotadas e rasgadas mal conseguiam bloquear a luz do sol que entrava, criando um jogo de sombras sombrias nas paredes. O carpete velho estava manchado e gasto, tornando difícil distinguir sua cor original.

Ao lado da cama, havia uma pequena mesa de cabeceira de madeira, que rangeu ao meu toque. Um abajur de luz amarelada iluminava fracamente o espaço, lançando uma atmosfera melancólica sobre o quarto.

O banheiro não era melhor, com azulejos rachados e uma luz amarelada que parecia sair de uma cena de filme de terror. A pia tinha manchas de ferrugem e a cortina do chuveiro estava mofada e desgastada.

Embora a condição do quarto fosse desanimadora, eu não podia deixar que isso abalasse meus ânimos. Fiz uma rápida varredura no local para me certificar de que estávamos sozinhos e que não havia nenhum sinal de perigo iminente.

Com cuidado, coloquei minha mochila em cima da cama, sabendo que precisávamos descansar e recuperar as forças para a próxima fase do plano. Eu não podia deixar que as condições precárias do quarto afetassem nossa determinação. Afinal, não estávamos ali para um momento de conforto, mas sim para cumprir nossa missão de encontrar segurança e proteção.

Com a luz amarelada do banheiro lançando uma sombra fraca no quarto, me sentei na beira da cama, pensativa sobre os desafios que tínhamos enfrentado até ali. Eu sabia que ainda havia um longo caminho a percorrer, mas estava decidida a não parar até que estivéssemos a salvo.

 Noah continuava parado no mesmo lugar, olhando ao redor com desconfiança. Claro que olharia, havia tirado ele do pouco conforto que sempre conheceu e jogado ele naquele lugar.

—  Vamos comprar alguma coisa para comer? —  digo tentando animar ele.

—  Posso comprar chocolate?

—  Quer comer isso no café da manhã? —  levanto, arrumando o casaco dele.

—  Posso?  

           Franzo os lábios, fingindo pensar.

—  Só hoje —  Isto faz com que abra um largo sorriso.

            Enquanto saímos do quarto do motel, decidi explorar a região em busca de suprimentos adicionais para nossa jornada. A proximidade de um pequeno mercado me parecia uma oportunidade perfeita para conseguir lençóis novos e alguns alimentos frescos.

Caminhamos pelas ruas, mantendo uma postura discreta e atentos aos arredores. O mercado não estava muito longe, e sua fachada simples e colorida contrastava com a decadência do motel. Era um alívio encontrar um lugar onde pudéssemos comprar itens necessários sem chamar muita atenção.

Ao entrarmos no mercado, fomos recebidos pelo aroma de frutas frescas e produtos recém-assados. As prateleiras estavam repletas de itens diversos, e minha mente estava focada em nossa lista de prioridades. Com cuidado, peguei lençóis novos, garantindo que fossem macios e de tamanho adequado para a cama do quarto do motel.

Depois, seguimos para o corredor de alimentos não perecíveis. Pegamos algumas barras de cereais, pacotes de biscoitos, água engarrafada e algumas enlatados que poderiam nos sustentar por alguns dias. A mochila já estava bem abastecida, mas não custava nada se prevenir para o caso de enfrentarmos algum imprevisto no caminho.

Ao passar pelo caixa, paguei pelas compras de forma discreta, evitando chamar muita atenção. O atendente, ocupado com outras tarefas, mal notou nossa presença. Esse pequeno momento de normalidade e rotina em meio à nossa fuga trouxe um breve alívio, mas eu sabia que não podíamos baixar a guarda.

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