Com um empurrão, a porta de vidro range enquanto se abre, e o sino toca suavemente acima da minha cabeça, anunciando minha entrada. Adentrei a recepção, sentindo o ar abafado e percebendo que o local estava precisando de uma boa limpeza.
A luz fraca filtrada pelas cortinas meio fechadas deixava a recepção com um ar sombrio e desgastado. O chão de azulejos parecia ter visto dias melhores, coberto por uma fina camada de poeira. O balcão de atendimento estava manchado e com algumas marcas de uso, mostrando que não recebia uma atenção adequada há algum tempo.
Um balcão de madeira, também empoeirado, ocupava o centro da sala, repleta de papéis amontoados e documentos desorganizados. Algumas poltronas estofadas, já desgastadas pelo uso e pelo tempo, se alinhavam contra a parede, convidando os clientes a sentarem enquanto aguardavam atendimento.
Atrás do balcão, havia um pequeno computador com uma tela envelhecida e uma impressora que parecia ser da época em que a recepção ainda estava em melhor estado. Cartazes desatualizados pendurados nas paredes mostravam eventos e informações que já haviam passado da validade.
Apesar da aparência desgastada, um leve sentimento de nostalgia preenchia o ambiente. Era como se o tempo tivesse deixado sua marca naquele lugar, tornando— o único e com uma história para contar.
— Por quê estamos aqui? — Noah pergunta com o cenho franzido, claramente incomodado com aquele lugar.
— Precisamos de um lugar.
— Um lugar pra quê?
Antes que pudesse responder a segunda pergunta de Noah, mesmo sabendo que teria outra e mais outra depois, uma mulher aparece atrás do balcão. Aparentava ter seus quarenta anos, acredito que havia errado na tonalidade do cabelo, pois ao invés de estar loiro— claro, estava amarelado; Além de usar uma maquiagem que não a favorecia, assim como o estilo de roupa.
— O que querem? — pergunta de forma ríspida.
— Um quarto — Ela ergue uma sobrancelha, olhando Noah atentamente.
— Quantos anos tem?
— 22.
— Não deveria estar na universidade?
— Deveria? — E aquela não era a primeira vez que me faziam perguntas do tipo — Eu só quero um quarto.
— Tudo bem — Ela vai até o velho computador — Só preciso da sua identidade e do adiantamento — Solto o ar dos pulmões, pegando minha carteira na bolsa, encontrando ali todas as minhas economias dos últimos anos.
Ao entrar no quarto do motel, percebi que o estado do lugar era ainda pior do que a recepção. O ar estava impregnado com um leve cheiro de mofo e uma mistura de produtos de limpeza baratos. As paredes desgastadas e mal pintadas davam ao ambiente uma sensação de abandono.
No centro do quarto, estava uma cama de casal com um colchão afundado e lençóis duvidosos, que provavelmente não tinham sido trocados há algum tempo. Eu me aproximei da cama com cuidado, evitando tocar em qualquer superfície desnecessária.
As cortinas desbotadas e rasgadas mal conseguiam bloquear a luz do sol que entrava, criando um jogo de sombras sombrias nas paredes. O carpete velho estava manchado e gasto, tornando difícil distinguir sua cor original.
Ao lado da cama, havia uma pequena mesa de cabeceira de madeira, que rangeu ao meu toque. Um abajur de luz amarelada iluminava fracamente o espaço, lançando uma atmosfera melancólica sobre o quarto.
O banheiro não era melhor, com azulejos rachados e uma luz amarelada que parecia sair de uma cena de filme de terror. A pia tinha manchas de ferrugem e a cortina do chuveiro estava mofada e desgastada.
Embora a condição do quarto fosse desanimadora, eu não podia deixar que isso abalasse meus ânimos. Fiz uma rápida varredura no local para me certificar de que estávamos sozinhos e que não havia nenhum sinal de perigo iminente.
Com cuidado, coloquei minha mochila em cima da cama, sabendo que precisávamos descansar e recuperar as forças para a próxima fase do plano. Eu não podia deixar que as condições precárias do quarto afetassem nossa determinação. Afinal, não estávamos ali para um momento de conforto, mas sim para cumprir nossa missão de encontrar segurança e proteção.
Com a luz amarelada do banheiro lançando uma sombra fraca no quarto, me sentei na beira da cama, pensativa sobre os desafios que tínhamos enfrentado até ali. Eu sabia que ainda havia um longo caminho a percorrer, mas estava decidida a não parar até que estivéssemos a salvo.
Noah continuava parado no mesmo lugar, olhando ao redor com desconfiança. Claro que olharia, havia tirado ele do pouco conforto que sempre conheceu e jogado ele naquele lugar.
— Vamos comprar alguma coisa para comer? — digo tentando animar ele.
— Posso comprar chocolate?
— Quer comer isso no café da manhã? — levanto, arrumando o casaco dele.
— Posso?
Franzo os lábios, fingindo pensar.
— Só hoje — Isto faz com que abra um largo sorriso.
Enquanto saímos do quarto do motel, decidi explorar a região em busca de suprimentos adicionais para nossa jornada. A proximidade de um pequeno mercado me parecia uma oportunidade perfeita para conseguir lençóis novos e alguns alimentos frescos.
Caminhamos pelas ruas, mantendo uma postura discreta e atentos aos arredores. O mercado não estava muito longe, e sua fachada simples e colorida contrastava com a decadência do motel. Era um alívio encontrar um lugar onde pudéssemos comprar itens necessários sem chamar muita atenção.
Ao entrarmos no mercado, fomos recebidos pelo aroma de frutas frescas e produtos recém-assados. As prateleiras estavam repletas de itens diversos, e minha mente estava focada em nossa lista de prioridades. Com cuidado, peguei lençóis novos, garantindo que fossem macios e de tamanho adequado para a cama do quarto do motel.
Depois, seguimos para o corredor de alimentos não perecíveis. Pegamos algumas barras de cereais, pacotes de biscoitos, água engarrafada e algumas enlatados que poderiam nos sustentar por alguns dias. A mochila já estava bem abastecida, mas não custava nada se prevenir para o caso de enfrentarmos algum imprevisto no caminho.
Ao passar pelo caixa, paguei pelas compras de forma discreta, evitando chamar muita atenção. O atendente, ocupado com outras tarefas, mal notou nossa presença. Esse pequeno momento de normalidade e rotina em meio à nossa fuga trouxe um breve alívio, mas eu sabia que não podíamos baixar a guarda.
O telefone em cima da minha mesa toca e o atendo quase no mesmo instante.— Diana Singer está aqui, Sr. Luchese — Ouço a voz firme da secretária do outro lado da linha.— Pode mandar ela entrar — Coloco o telefone de volta no gancho. Ao chegar na empresa naquela manhã, senti o peso da responsabilidade sobre meus ombros. Prometer a Abby que resolveria os trâmites da barriga de aluguel era algo que deveria levar muito a sério, pois sabia o quão significativo era para nós construirmos nossa família. A ansiedade e a determinação caminhavam lado a lado enquanto me preparava para enfrentar o desafio burocrático que tinha pela frente.Iniciei o processo logo de manhã, buscando informações e contatos necessários para dar andamento à questão. Sabia que não seria uma tarefa fácil, mas estava disposto a fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para tornar esse sonho realidade.Após algumas ligações e trocas de informações, finalmente consegui o número da pessoa certa, aquela que
Com o som ensurdecedor do aspirador de pó zumbindo em meus ouvidos, estava concentrada em concluir logo o meu trabalho. Mesmo tendo chegado algumas horas atrasada, eu estava determinada a compensar o tempo perdido e fazer um ótimo trabalho.Caminhava de um lado para o outro, movendo o aspirador com agilidade para garantir que cada canto do ambiente ficasse limpo e impecável. O barulho me incomodava, mas eu mantinha o foco na tarefa, sabendo que a eficiência era essencial para que eu pudesse terminar o mais rápido possível.Enquanto aspirava o carpete, observava o acúmulo de poeira e sujeira sendo sugado pela máquina. Cada passo que dava era uma pequena vitória, uma conquista rumo à conclusão da limpeza. Eu sabia que não podia relaxar até que tudo estivesse perfeitamente limpo e organizado.O tempo parecia voar enquanto trabalhava, e o som do aspirador de pó já se tornara uma espécie de fundo constante, quase hipnotizante. Mas eu não deixava que isso me distraísse. Cada segundo contav
Enquanto me aproximava de Abby, a observei pelo espelho do banheiro. O robe cintilante na cor gelo envolvia seu corpo de forma elegante e delicada, refletindo a pouca luz do ambiente. O brilho suave do tecido quase a fazia parecer etérea, como se estivesse envolta em um aura luminosa.Ela parecia perdida em seus próprios pensamentos, os olhos fixos no reflexo que o espelho lhe mostrava. Seus lábios se curvavam em um leve sorriso, talvez por se pegar distraída em algum pensamento agradável.Meu coração se encheu de amor ao vê-la ali, tão bela e serena. Sua pele translúcida, iluminada pelo brilho do robe, era como uma obra de arte. Tive vontade de abraçá-la e dizer o quanto a amava, o quanto ela era especial para mim, mas ao mesmo tempo, não queria interromper sua introspecção.Com passos lentos e suaves, me aproximei ainda mais, sem fazer barulho para não perturbar sua tranquilidade. Parei atrás dela, apreciando a imagem que o espelho refletia, um momento íntimo e único entre nós dois
— Diana! — diz Noah assim que passo pela porta do quarto do motel. Ao ver Noah correr em minha direção, um sorriso se formou em meus lábios. Ele me abraçou pela cintura com entusiasmo, e eu retribuí o gesto, sentindo uma onda de alívio e alegria por vê-lo bem e feliz. O quarto bagunçado e as embalagens vazias de alimentos indicavam que ele havia tido um dia normal e comum, como qualquer outra criança.— Ei, meu campeão! Como foi o seu dia? — perguntei, acariciando seus cabelos com carinho.Ele sorriu e disse empolgado:— Foi muito legal! Eu assisti a desenhos na TV, brinquei com os brinquedos que trouxemos e comi um montão dessas coisas gostosas!Aponta para as embalagens de comida espalhadas pelo quarto, e eu ri suavemente. Era bom saber que, apesar de todas as nossas dificuldades, Noah ainda podia se divertir e aproveitar as coisas simples da vida.— Fico feliz que você tenha se divertido, querido. — respondi, abraçando— o mais uma vez. — Mas agora é hora de arrum
Naquela manhã, minha mente estava mergulhada nos pensamentos sobre a nossa barriga de aluguel, e a perspectiva de ter que participar de uma reunião não era nada animadora. Cada minuto gasto naquela sala de conferências parecia uma eternidade, e eu mal conseguia me concentrar nas discussões que ocorriam ao meu redor.Enquanto os outros falavam, minha mente vagueava para nossos planos e sonhos, para a expectativa de formarmos nossa família e finalmente realizarmos o desejo de sermos pais. Cada detalhe sobre a barriga de aluguel era como uma película que se desenrolava em minha mente, e eu me pegava pensando nas etapas que viriam pela frente. Estar em uma reunião quando o coração e a mente estão ocupados com pensamentos tão significativos pode ser desafiador. Eu queria estar ao lado de Abby e talvez até mesmo pesquisando mais sobre o processo de barriga de aluguel juntos.Os minutos se arrastavam, e tentava me manter presente e focado nas discussões, mas era uma tarefa árdua. Por dentr
Com o corpo ainda levemente trêmulo, sabia que o nervosismo persistia após a consulta na clínica de fertilização. A lembrança da sala branca e gélida, dos profissionais ao meu redor e das informações compartilhadas durante a consulta ecoavam em minha mente.— Você só precisa seguir essas recomendações e logo estará nova em folha — diz a atendente, me entregando um papel com tudo que deveria ser feito e o que não deveria ser feito.— Obrigada — digo baixo, que já sabendo que ficar no mood descanso não seria possível. Tinha que trabalhar.Eu me sentei em um banco próximo à clínica, respirando fundo e tentando acalmar os pensamentos que me invadiam. A decisão de vender meus óvulos, não deveria ser significativa e nem envolver inúmeras emoções.Enquanto seguia para o trabalho, ainda não conseguia me livrar do que havia acabado de acontecer, mas a necessidade havia falado mais alto e cumprir minhas responsabilidades era mais forte.Na empresa, troco minha roupa por um un
— Ares — diz Abby séria — Você pode ir. Eu estou bem! Após a alta do hospital, embora Abby estivesse feliz pela notícia da inseminação, minha preocupação com ela permanecia presente. Ver sua alegria não era suficiente para aliviar completamente a preocupação que sentia em relação à sua saúde. Ao voltarmos para casa, me mantive atento a qualquer sinal. Preparava sua comida preferida, garantia que ela descansasse o suficiente e a lembrava de tomar os medicamentos prescritos pelos médicos. Abby sabia da minha preocupação e apreciava o cuidado, mas também me lembrava que estava se sentindo melhor e que os médicos a tinham liberado para voltar às atividades normais.No entanto, a sensação de responsabilidade estava sempre presente. Eu não queria que ela tivesse uma recaída ou enfrentasse qualquer desconforto durante esse o tão importante de nossas vidas. Naquele dia, mesmo com uma parte de mim desejando ficar em casa para acompanhar e cuidar de Abby, percebi que e
Com um olhar atento, observo a atendente do motel contar lentamente as notas de dinheiro que havia acabado de entregar. Aquelas notas representavam a garantia de mais alguns dias em um lugar temporário, onde eu e Noah poderíamos ficar até encontrarmos uma opção mais adequada para nós.Enquanto ela contava, me mantive calma e paciente, sabendo que cada centavo contava. Cada noite naquele modesto quarto de motel era mais um passo em direção ao nosso objetivo de estabilidade e segurança.Após terminar a contagem, a atendente assenti, forçando um sorriso e me entrega um recibo.— Podemos comprar donuts? — Noah pergunta, assim que saímos da recepção do motel.— Está tentando comer açúcar antes do jantar? — Ele me olha por trás de seus óculos com atenção, sorrindo, quando finalmente aparece um sorriso em meu rosto — Que tal irmos no parque? Com o coração apertado, eu me esforçava para garantir que Noah sentisse que tudo estava bem, mesmo quando nosso mundo parecia desmorona