DIANA
Quando saí do banho, já estava me sentindo um pouco mais calma. Por estar morrendo de fome, fui à cozinha, dei uma olhada na geladeira, nos armários e acabei optando por fazer um macarrão instantâneo, pois era o mais rápido.
Fui me sentar no sofá da sala, liguei a televisão e deixei passando Friends, minha série preferida, mesmo que já tendo visto tudo umas milhares vezes. Enquanto devorava aquela tigela fumegante de macarrão, senti meu celular começar a vibrar, estiquei um dos braços para alcançá-lo no braço do sofá e olhei a tela. Era Thaís.
— Onde você está, amiga?
— Estou em casa. Por quê?
— Abre a porta para mim então.
— Mas...
— Abre logo, mulher.
Encerrei a ligação, deixei a tigela sobre a mesa de jantar e caminhei até a porta. Olhei pelo olho mágico só para confirmar e Thaís estava mesmo parada em frente ao meu apartamento. Rapidamente destranquei a porta e a deixei entrar.
— Onde está minha afilhada preferida e mais linda do mundo? — perguntou animada.
— Você só tem ela de afilhada!
— Por isso mesmo.
— Ela está dormindo.
— Ah! Melhor assim porque aí podemos beber esse vinho que eu trouxe.
— Mas você não ia para a casa do Gustavo hoje?
— Ele me ligou falando que não ia dar porque os pais estão de visita.
— Não foi dessa vez que você quase conheceu seus sogros, hein.
— Deus me livre, amiga. O Gu é ótima companhia na cama e fora dela, mas só para isso mesmo... Nada de relacionamentos sérios.
Thaís parecia ter aversão a relacionamentos e casamentos, só de pensar nesses dois, ela estremece toda.
— E por que você está toda borocoxô?
— O quê?
— Ah você sabe. Pra baixo, aborrecida.
— Quem te disse que estou... isso aí que você falou?
— São oito horas da noite de uma sexta-feira, você já está de pijama, vendo programa repetido e comendo... — Ela esticou o pescoço para tentar ver o que tinha na tigela.
— Macarrão instantâneo — completei sua frase e ela fez cara de nojo.
— O que está te deixando borocoxô?
— Minha mãe me ligou hoje — admiti porque não adiantava esconder nada de Thaís, uma hora ou outra ela ia acabar descobrindo.
— O que aquela vaca queria? — perguntou enquanto terminava de abrir a garrafa de vinho e servia duas taças.
— Falar que a família vai ser homenageada num evento importante... — Minha voz ficou embargada. — E que sendo a única filha deles, seria bom aparecer por lá.
— Parece que a vaca está se redimindo.
— Aí que você se engana, amiga... Ela disse que tinha uma condição para eu fosse.
— Lá vem a bomba!
— Eu teria que arrumar um "marido" para me acompanhar e se passar por pai de Helena.
— Que ridículo isso! Qual a necessidade de exigir isso?
— Para manter a boa reputação da família.
— E você falou o quê?
— Falei que recusava o convite porque eu não iria onde eu e minha filha não somos aceitas.
— Fez certinho!
— Claro, tenho a melhor professora.
— Eu sei, eu sei! Sou demais mesmo! — Ela jogou o cabelo para trás e acabamos rindo.
— Mas confesso que queria tanto provar para minha mãe que ela está errada e sendo muito antiquada em pleno século XXI.
— E por que não faz?
— Porque eu sou a rainha dos péssimos relacionamentos.
— Estamos no mesmo barco, amiga! — Ela me abraçou.
— Mas você tem o Gustavo! — alfinetei.
Eu soube desde o primeiro momento em que conheci Thaís no elevador, que ela era uma ótima pessoa. Ela e o irmão dividem um apartamento no andar acima e logo que me mudei, eles sempre me socorriam. O que fez com que ela se tornasse muito mais do que só uma amiga, mas também madrinha de Helena.
— Parece que sua mãe faz isso de propósito!
— Disso eu não tenho dúvida!
— Ela não quer reconhecer que você cresceu, tem um ótimo emprego, uma filha linda, tem seu próprio apartamento e não depende de nenhum centavo deles.
— Queria tanto que, pelo menos, meu pai conhecesse Helena... Tenho certeza de que ele adoraria e seria um avô muito babão.
— Seu pai é uma ótima pessoa, mas o problema é que ele vai nas ideias da sua mãe que é uma vaca quadrada.
— Queria que vissem como estou fazendo um ótimo trabalho com a minha filha, mesmo sendo mãe solteira.
— Eles não te merecem, mas se você quiser ir a essa festa, posso fingir ser sua parceria e chocaríamos aquela cidadezinha inteira.
Imaginar a cara que meus pais e todos os convidados fariam ao me ver chegar de braços dados com outra mulher me fez rir.
— Seria uma ótima ideia, mas já falei que não vou a esse evento.
Helena começou a chorar no quarto e tive que deixar a taça sobre a mesinha de centro e fui ao quartinho dela, mas por sorte, ela não demorou a voltar a dormir e eu retornei à sala.
Ainda ficamos conversando por mais algum tempo, a garrafa de vinho já estava pura e então Thaís falou:
— Acho que já está na hora de ir embora e deixar você descansar.
— Ainda é cedo!
— Cedo nada amiga, são quase uma da manhã e estamos parcialmente bêbadas... Ainda bem que só preciso pegar o elevador para chegar em casa.
Thaís se levantou, se despediu saindo do apartamento logo em seguida. Tranquei a porta, recolhi a garrafa e as duas taças de cima da mesinha de centro e levei para cozinha antes de ir me deitar.
Acordei de madrugada, sobressaltada, meu coração estava acelerado, acendi o abajur e olhei o quarto ao meu redor. Tudo estava no lugar. Me levantei da cama e fui até o quarto de Helena, ela ainda dormia feito um anjinho.
Respirei aliviada ao constatar que tudo não tinha passado de um pesadelo. Tudo tinha parecido tão real.
Peguei minha filha no colo, depositei um beijo no topo de sua cabecinha e a levei para o meu quarto, dormiria melhor sabendo que ela estava ao meu lado. Coloquei-a no cercadinho ao lado da minha cama e poucos minutos depois voltei a dormir.
ERICSexta-feira à noite é sempre corrido no restaurante. Final de semana são os dias de maior movimento, muitos clientes atrás de reservas, as vezes chega a formar fila do lado de fora.Especialmente hoje, Thaís pediu para sair mais cedo, pois tinha um compromisso com o carinha que ela estava saindo, mas deixou tudo encaminhado para o pessoal da cozinha dar conta.Depois de muito correr de um lado para outro, o expediente chegou ao fim, agradeci aos funcionários e os liberei para irem para suas casas. Tranquei as portas e fui para minha sala.O silêncio era extremamente bem-vindo depois de toda a agitação, peguei meu celular sobre a mesa e olhei, um alerta de mensagem de um número desconhecido. Quando abri para ler, fiquei surpreso, era de Renata."Oi, Eric!Quanto tempo não nos falamos, nem deve se lembrar de mim, mas a gente namorou a três anos atrás.Só estou mandando essa mensagem para avisar que estou de volta na cidade e caso queira relembrar os tempos de bonança, é só retornar
DIANANa manhã seguinte, fui acordada por resmungos baixinhos, estiquei o pescoço para olhar dentro do cercadinho, torcendo para que Helena estivesse apenas sonhando e me desse mais alguns minutos de sono, mas aquele par de olhos azuis estavam me encarando. Os olhos que eu mais amava no mundo.— Bom dia, meu amorzinho!Em resposta ela balbuciou algo incompreensível. Peguei-a no colo e dei um beijo estalado em sua bochecha. Helena segurou meu rosto com as duas mãozinhas e aproximou sua boquinha, me deixando babada.Quando abri a porta do quarto, a luz do sol que entrava pela sala de estar e estava sendo refletida, atingiu meus olhos e me fez recuar alguns passos.Depois de me acostumar a intensidade da luz solar, fomos até a cozinha e a coloquei sentada no cadeirão de alimentação, fiz um mingau rápido e deixei a sua frente.Enquanto Helena batia a colher no pratinho, espalhando mingau para todos os lados, me ocupei em preparar um pouco de café. Ser mãe solteira era gratificante na mesm
ERICDepois que minha irmã e Diana recusaram minha companhia para ir ao shopping, recolhi as roupas da máquina de lavar, me despedi de Helena com um beijo em sua cabecinha e voltei para o meu apartamento, deixando as três sozinhas.Quando enfim entrei em casa, fui estender toda a roupa lavada no pequeno varal de teto e no de chão.Comi uma maçã e tomei um pouco mais de café, depois fui arrumar meu quarto. Odeio casa bagunçada, talvez seja por isso que minha irmã e eu vivemos em pé de guerra.Já eram dez horas e eu ainda tinha que me arrumar e ir para o restaurante, afinal, o estabelecimento não abriria sozinho.Escolhi uma calça jeans preta e uma camisa branca, calcei os tênis, pus o relógio no pulso e arrumei os cabelos.Chegando ao restaurante, vi Oliver encostado em seu carro no estacionamento, parei ao seu lado e pedi desculpas pela demora.Oliver e eu somos amigos desde o ensino médio e eu disse que o apoiaria quando ele decidiu fazer gastronomia, só não esperava que ele fosse se
DIANAAssim que chegamos ao shopping, Thaís conseguiu estacionar na única vaga disponível no primeiro andar, tirei Helena da cadeirinha enquanto minha amiga lutava para conseguir armar o carrinho. Pedi que segurasse minha menininha e armei o carrinho.— Como você consegue fazer isso tão rápido?— Já tenho a prática.Passeamos e entramos em tantas lojas que acabamos exaustas e sentadas na área de alimentação. Helena estava adorando aquele passeio e dava gritinhos de alegria.Assim que fizemos nossos pedidos, dei a mamadeira para Helena e meu celular apitou dentro da bolsa. Pegando o aparelho, dei uma olhada, era uma mensagem do meu pai. Fiquei surpresa porque ele nunca mandava mensagem e rapidamente cliquei para abrir.“Sua mãe já deve ter lhe falado sobre a homenagem e saiba que conto com você ao meu lado. Já confirmei sua presença.”— Você está bem, Diana? — Minha amiga perguntou parecendo preocupada.— Sim! Acho que sim!— O que tem aí para você ficar tão pálida de repente?— Era um
ERICDepois de brincar quase a tarde toda, levei Helena de volta para Diana, a garotinha estava tão chorosa que, sua mãe só lhe ofereceu um pouco de água e depois a chupeta.— Acho que ela está cansada e com fome — Diana comentou.— Então é melhor levar vocês para casa.— Sim!Fechei o carrinho e começamos a ir em direção ao meu carro. Diana prendeu Helena na cadeirinha e logo que saímos do estacionamento e entramos na rua principal, a danadinha caiu no sono.Ao chegamos em nosso prédio, descarreguei as coisas do porta-malas enquanto Diana soltava a cadeirinha.Assim que as portas metálicas se abriram, ela percebeu que não teria como pegar as chaves dentro da bolsa e quando ia me oferecer para que segurasse Helena por um instante, como se tivesse lido meu pensamento, ela já estava me entregando a pequena adormecida.A chave parecia ter entrado num buraco dentro da bolsa e, com isso acabou demorando um pouco para abrir a porta.— Vou colocá-la no berço. — Diana falou enquanto a pegava
DIANA Assim que fiquei sozinha, me joguei no sofá, me sentindo exausta. Peguei o celular e vi que tinha uma mensagem de Thaís, mas decidi que ligaria depois e fui para o meu quarto, separei uma roupa e em seguida entrei debaixo do chuveiro. Milhões de pensamentos passaram pela minha cabeça no pouco tempo que fiquei parada, deixando que a água lavasse a minha alma. Tinha que admitir que a ideia de Thaís não era ruim, Eric já tinha aceitado, eu só tinha que fazer aquilo tudo dar certo. Me vesti e fui ao quarto de Helena. Ao verificar dentro do berço, fui recebida por aqueles belos par de olhos azuis, então fui ao banheiro e preparei um banho bem quentinho para relaxá-la. Minha filha adorava banhos quentinhos junto ao seu fiel amigo, o pato amarelo de borracha. Era risada na certa. Depois que a vesti com o macacãozinho de ursinho, deixei ela brincar no tapete da sala e fui preparar sua sopinha de legumes e carnes. Para mim, eu decidi pedir uma pizza de calabresa. Eram nove e meia da
ERICFui ao banheiro e deixei a água cair sobre a minha cabeça, Fiquei pensando que mesmo eu sendo padrinho de Helena, eu nunca fiquei sabendo da história de vida da Diana, afinal, a amiga dela era Thaís, eu só aparecia de vez em quando e ela nunca teve abertura suficiente para se abrir comigo.Quando já estava deitado, acabei enviando uma mensagem para Diana. Eu sei que ela disse que precisava se sentir preparada para me contar, mas eu precisava que Diana me confirmasse a história que minha irmã tinha me contado, caso contrário continuaria achando que podia ser uma invenção de Thaís.Antes que eu conseguisse pegar no sono, meu celular vibrou ao meu lado, olhei a barra notificações e era Renata. O que ela ainda queria comigo? Depois de tudo o que falei para ela no restaurante.“Você pode ter desistido de mim, mas eu não vou desistir de você porque sei que em algum momento você vai acabar parando na minha cama.”Renata estava pior que cachorro que caiu da mudança. Se bem que eu não pod
DIANA Quando o dia amanheceu, eu me sentia bem melhor e descansada, olhei o celular e havia uma mensagem de Eric. Meu coração quase parou. Pisquei e esfreguei os olhos para ver se era aquilo mesmo que eu estava vendo. Abri rapidamente e comecei a ler: “Bom dia, Di! Espero que me responda assim que vir essa mensagem. Não precisa ficar preocupada, pois não é nada muito importante. OBS: Adorei nossa tarde ontem.” Antes que eu pudesse responder a mensagem, Helena começou a resmungar, desliguei a babá eletrônica e me levantei. Assim que entrei, apaguei o abajur e abri as cortinas, Helena ficou de pé e segurava na grade do berço. — Bom dia, minha bonequinha! — Peguei-a e beijei sua bochecha. — Mã mã mã! — Bateu as mãozinhas. Com Helena no colo, voltei ao meu quarto e peguei meu celular em cima da cama, depois fui para a cozinha, coloquei-a no cadeirão e fui esquentar o leite. Estávamos deitadas no sofá, Helena estava com a cabeça em uma almofada e assitindo um desenho infantil. Pegue