DIANA
Já era noite quando finalmente cheguei em casa. Encontrei a babá sentada no tapete da sala brincando com Helena. Deixei a bolsa sobre a mesa de jantar e, mesmo cansada, fui me juntar a bagunça. Assim que me viu, minha pequena veio engatinhando e esticou os bracinhos para que eu a pegasse no colo.
— Mãmãmã!
Abracei-a forte e mordisquei uma de suas bochechas gordas, segurei-a no alto e fiz cócegas em sua barriguinha, o que a levou a dar gargalhadas. Não há nada mais gostoso de ouvir do que a risada de uma criança.
Paguei e agradeci Joana por ter ficado um pouco além do horário que tínhamos combinado, mas era culpa do trânsito infernal de sexta-feira a noite.
— Como a senhora avisou que atrasaria, eu já dei a janta.
— Obrigada, Joana!
— Se precisar dos meus serviços, a senhora sabe que é só ligar que eu venho correndo ficar com essa bonequinha. — Ela mexeu com Helena e minha filha abriu um sorriso de orelha a orelha.
Assim que ficamos sozinhas, me sentei no tapete para continuar a bagunça com ela. Alguns minutos depois, Helena começou a ficar enjoadinha e me olhava com cara de quem tinha enchido as fraldas.
Levei-a para o quarto e quando fui trocar as fraldas, vi que a situação estava tão crítica que não tinha outro jeito a não ser dar um banho nela.
A água quentinha sempre foi um ótimo calmante para a minha pequena diabinha da Tasmânia, tanto que quando terminei de vesti-la com o pijama comprido de ursinhos, ela já lutava contra o sono.
— Acho que tem alguém com soninho — falei enquanto a observava esfregar os olhinhos com as mãozinhas gorduchas.
Deixei o quarto iluminado apenas pela baixa claridade vinda do pequeno abajur em cima da cômoda. Dei a chupeta e Helena logo se aninhou em meu colo, então comecei a cantarolar uma canção de ninar.
Esses momentos entre mãe e filha eram os meus preferidos, porque era uma forma de fortalecer nossos laços. Eu me sentia completa quando estava com minha filha em meus braços.
Depois que Helena finalmente foi vencida pelo sono, coloquei-a com cuidado no bercinho para que não acordasse. Eu poderia ficar ali, contemplando minha filha pelo resto da vida, mas decidi ir para o meu quarto, a fim de tomar um banho e descansar um pouco.
Antes que eu conseguisse entrar debaixo do chuveiro, meu celular começou a tocar na sala e saí enrolada na toalha, para desligar antes que acordasse Helena.
Mal pude acreditar no nome que eu vi piscando na tela. Era minha mãe. O que ela poderia querer comigo? Coisa boa eu sabia que não era. Para outras pessoas pode ser normal receber ligação dos pais, mas para mim, não.
Pensei duas vezes antes de atender a chamada. Não importava qual seria a desculpa ou o motivo para a ligação, ela sempre arrumava um jeito de jogar na minha cara que eu tinha feito a maior burrada da minha vida e que homem nenhum iria me querer por conta da minha filha.
— Alô?
— Oi, Diana!
— Oi, mãe! O que você quer?
— Você está em casa?
— Eu estava entrando no banho... Se puder ir direto ao ponto.
— Tudo bem! Eu só liguei para avisar que a nossa família será homenageada num evento muito chique promovido pela prefeitura aqui da nossa cidade e como você é nossa única filha, pensei que...
— Vocês querem que eu vá ao evento... Já entendi.
— Sim, mas temos uma condição para a sua vinda.
Eu sabia que não seria um simples convite, tinha que ter alguma condição rídicula por trás. Não esperava nada menos, ainda mais vindo da minha mãe e por ela me considerar a errada da família.
— E que condição seria essa? — perguntei já revirando os olhos.
— Nós sempre dizemos aos nossos amigos que você se casou e... Por isso você não pode aparecer sozinha por aqui sozinha e com essa criança a tiracolo.
— Essa criança é minha filha e sua neta.
— E para piorar, você não sabe nem quem é o pai.
— Não vou discutir esse assunto com você de novo e...
— O que você acha que as pessoas vão falar se te verem com uma criança e sem um pai do lado?
— Não me importa o que os outros vão falar ou achar.
— Você não entendeu, querida.
— Eu entendi perfeitamente! Você quer que eu compactue com a mentira que você criou e contou para a cidade toda só para manter a aparência da família perfeita.
— Diana! Me respeite porque sou sua mãe!
— Eu te respeitaria se não estivesse mentindo sobre a minha filha.
— Tente arrumar um rapaz para lhe acompanhar... Faça isso pelo seu pai.
— Se essa é a sua condição para que eu vá, então eu recuso o convite.
— Por favor, não faça isso! Seu pai vai ficar arrasado... Será um evento para mais de trezentas pessoas e seria uma vergonha se a nossa única filha não estivesse presente.
— Talvez vocês devessem mentir de novo e dizer que morri.
— Por favor, Diana! Não diga uma coisa horrível dessas.
— Por que não? Vocês vivem como se não tivessem uma filha mesmo.
— Isso é um absurdo!
— Absurdo são vocês me renegarem só porque eu decidi ter uma filha através de inseminação.
— Pensa com carinho sobre a festa. — Ela tentou mudar de assunto.
— Eu não vou a lugares onde eu e minha filha não somos bem-vindas.
Encerrei a ligação tão rápido para não ter que ouvir minha mãe dizer mais nenhuma asneira. Eu já estava de saco cheio de ouvir esses absurdos.
Como posso ser filha de pessoas tão antiquadas que preferem mentir do que apoiar a própria filha?
Minha mãe nunca sequer me ligou para perguntar se eu precisava de alguma ajuda quando estava grávida e nem quando tive minha filha sozinha. Nunca quis saber se Helena estava bem, mas para pedir um absurdo daqueles, ela tinha coragem.
Bufei e joguei o celular sobre o sofá. Voltando para o meu quarto, dei uma olhada em Helena para me certificar de que meu anjinho ainda continuava dormindo.
Prendi o cabelo num coque no alto da cabeça e entrei no box para finalmente deixar que a água quente levasse embora todo o meu cansaço e a minha raiva.
Nunca passou pela minha cabeça, nem nos meus piores pesadelos, que um dia eu estaria numa situação como essa. Era inacreditável que minha própria mãe estivesse exigindo que eu arrumasse um "marido" para que eu parecesse a filha perfeita numa festa da cidade. A mesma cidade que fiz de tudo para sair e jurei nunca mais pisar de novo.
DIANAQuando saí do banho, já estava me sentindo um pouco mais calma. Por estar morrendo de fome, fui à cozinha, dei uma olhada na geladeira, nos armários e acabei optando por fazer um macarrão instantâneo, pois era o mais rápido.Fui me sentar no sofá da sala, liguei a televisão e deixei passando Friends, minha série preferida, mesmo que já tendo visto tudo umas milhares vezes. Enquanto devorava aquela tigela fumegante de macarrão, senti meu celular começar a vibrar, estiquei um dos braços para alcançá-lo no braço do sofá e olhei a tela. Era Thaís.— Onde você está, amiga?— Estou em casa. Por quê?— Abre a porta para mim então.— Mas...— Abre logo, mulher.Encerrei a ligação, deixei a tigela sobre a mesa de jantar e caminhei até a porta. Olhei pelo olho mágico só para confirmar e Thaís estava mesmo parada em frente ao meu apartamento. Rapidamente destranquei a porta e a deixei entrar.— Onde está minha afilhada preferida e mais linda do mundo? — perguntou animada.— Você só tem ela
ERICSexta-feira à noite é sempre corrido no restaurante. Final de semana são os dias de maior movimento, muitos clientes atrás de reservas, as vezes chega a formar fila do lado de fora.Especialmente hoje, Thaís pediu para sair mais cedo, pois tinha um compromisso com o carinha que ela estava saindo, mas deixou tudo encaminhado para o pessoal da cozinha dar conta.Depois de muito correr de um lado para outro, o expediente chegou ao fim, agradeci aos funcionários e os liberei para irem para suas casas. Tranquei as portas e fui para minha sala.O silêncio era extremamente bem-vindo depois de toda a agitação, peguei meu celular sobre a mesa e olhei, um alerta de mensagem de um número desconhecido. Quando abri para ler, fiquei surpreso, era de Renata."Oi, Eric!Quanto tempo não nos falamos, nem deve se lembrar de mim, mas a gente namorou a três anos atrás.Só estou mandando essa mensagem para avisar que estou de volta na cidade e caso queira relembrar os tempos de bonança, é só retornar
DIANANa manhã seguinte, fui acordada por resmungos baixinhos, estiquei o pescoço para olhar dentro do cercadinho, torcendo para que Helena estivesse apenas sonhando e me desse mais alguns minutos de sono, mas aquele par de olhos azuis estavam me encarando. Os olhos que eu mais amava no mundo.— Bom dia, meu amorzinho!Em resposta ela balbuciou algo incompreensível. Peguei-a no colo e dei um beijo estalado em sua bochecha. Helena segurou meu rosto com as duas mãozinhas e aproximou sua boquinha, me deixando babada.Quando abri a porta do quarto, a luz do sol que entrava pela sala de estar e estava sendo refletida, atingiu meus olhos e me fez recuar alguns passos.Depois de me acostumar a intensidade da luz solar, fomos até a cozinha e a coloquei sentada no cadeirão de alimentação, fiz um mingau rápido e deixei a sua frente.Enquanto Helena batia a colher no pratinho, espalhando mingau para todos os lados, me ocupei em preparar um pouco de café. Ser mãe solteira era gratificante na mesm
ERICDepois que minha irmã e Diana recusaram minha companhia para ir ao shopping, recolhi as roupas da máquina de lavar, me despedi de Helena com um beijo em sua cabecinha e voltei para o meu apartamento, deixando as três sozinhas.Quando enfim entrei em casa, fui estender toda a roupa lavada no pequeno varal de teto e no de chão.Comi uma maçã e tomei um pouco mais de café, depois fui arrumar meu quarto. Odeio casa bagunçada, talvez seja por isso que minha irmã e eu vivemos em pé de guerra.Já eram dez horas e eu ainda tinha que me arrumar e ir para o restaurante, afinal, o estabelecimento não abriria sozinho.Escolhi uma calça jeans preta e uma camisa branca, calcei os tênis, pus o relógio no pulso e arrumei os cabelos.Chegando ao restaurante, vi Oliver encostado em seu carro no estacionamento, parei ao seu lado e pedi desculpas pela demora.Oliver e eu somos amigos desde o ensino médio e eu disse que o apoiaria quando ele decidiu fazer gastronomia, só não esperava que ele fosse se
DIANAAssim que chegamos ao shopping, Thaís conseguiu estacionar na única vaga disponível no primeiro andar, tirei Helena da cadeirinha enquanto minha amiga lutava para conseguir armar o carrinho. Pedi que segurasse minha menininha e armei o carrinho.— Como você consegue fazer isso tão rápido?— Já tenho a prática.Passeamos e entramos em tantas lojas que acabamos exaustas e sentadas na área de alimentação. Helena estava adorando aquele passeio e dava gritinhos de alegria.Assim que fizemos nossos pedidos, dei a mamadeira para Helena e meu celular apitou dentro da bolsa. Pegando o aparelho, dei uma olhada, era uma mensagem do meu pai. Fiquei surpresa porque ele nunca mandava mensagem e rapidamente cliquei para abrir.“Sua mãe já deve ter lhe falado sobre a homenagem e saiba que conto com você ao meu lado. Já confirmei sua presença.”— Você está bem, Diana? — Minha amiga perguntou parecendo preocupada.— Sim! Acho que sim!— O que tem aí para você ficar tão pálida de repente?— Era um
ERICDepois de brincar quase a tarde toda, levei Helena de volta para Diana, a garotinha estava tão chorosa que, sua mãe só lhe ofereceu um pouco de água e depois a chupeta.— Acho que ela está cansada e com fome — Diana comentou.— Então é melhor levar vocês para casa.— Sim!Fechei o carrinho e começamos a ir em direção ao meu carro. Diana prendeu Helena na cadeirinha e logo que saímos do estacionamento e entramos na rua principal, a danadinha caiu no sono.Ao chegamos em nosso prédio, descarreguei as coisas do porta-malas enquanto Diana soltava a cadeirinha.Assim que as portas metálicas se abriram, ela percebeu que não teria como pegar as chaves dentro da bolsa e quando ia me oferecer para que segurasse Helena por um instante, como se tivesse lido meu pensamento, ela já estava me entregando a pequena adormecida.A chave parecia ter entrado num buraco dentro da bolsa e, com isso acabou demorando um pouco para abrir a porta.— Vou colocá-la no berço. — Diana falou enquanto a pegava
DIANA Assim que fiquei sozinha, me joguei no sofá, me sentindo exausta. Peguei o celular e vi que tinha uma mensagem de Thaís, mas decidi que ligaria depois e fui para o meu quarto, separei uma roupa e em seguida entrei debaixo do chuveiro. Milhões de pensamentos passaram pela minha cabeça no pouco tempo que fiquei parada, deixando que a água lavasse a minha alma. Tinha que admitir que a ideia de Thaís não era ruim, Eric já tinha aceitado, eu só tinha que fazer aquilo tudo dar certo. Me vesti e fui ao quarto de Helena. Ao verificar dentro do berço, fui recebida por aqueles belos par de olhos azuis, então fui ao banheiro e preparei um banho bem quentinho para relaxá-la. Minha filha adorava banhos quentinhos junto ao seu fiel amigo, o pato amarelo de borracha. Era risada na certa. Depois que a vesti com o macacãozinho de ursinho, deixei ela brincar no tapete da sala e fui preparar sua sopinha de legumes e carnes. Para mim, eu decidi pedir uma pizza de calabresa. Eram nove e meia da
ERICFui ao banheiro e deixei a água cair sobre a minha cabeça, Fiquei pensando que mesmo eu sendo padrinho de Helena, eu nunca fiquei sabendo da história de vida da Diana, afinal, a amiga dela era Thaís, eu só aparecia de vez em quando e ela nunca teve abertura suficiente para se abrir comigo.Quando já estava deitado, acabei enviando uma mensagem para Diana. Eu sei que ela disse que precisava se sentir preparada para me contar, mas eu precisava que Diana me confirmasse a história que minha irmã tinha me contado, caso contrário continuaria achando que podia ser uma invenção de Thaís.Antes que eu conseguisse pegar no sono, meu celular vibrou ao meu lado, olhei a barra notificações e era Renata. O que ela ainda queria comigo? Depois de tudo o que falei para ela no restaurante.“Você pode ter desistido de mim, mas eu não vou desistir de você porque sei que em algum momento você vai acabar parando na minha cama.”Renata estava pior que cachorro que caiu da mudança. Se bem que eu não pod