ERIC
Sexta-feira à noite é sempre corrido no restaurante. Final de semana são os dias de maior movimento, muitos clientes atrás de reservas, as vezes chega a formar fila do lado de fora.
Especialmente hoje, Thaís pediu para sair mais cedo, pois tinha um compromisso com o carinha que ela estava saindo, mas deixou tudo encaminhado para o pessoal da cozinha dar conta.
Depois de muito correr de um lado para outro, o expediente chegou ao fim, agradeci aos funcionários e os liberei para irem para suas casas. Tranquei as portas e fui para minha sala.
O silêncio era extremamente bem-vindo depois de toda a agitação, peguei meu celular sobre a mesa e olhei, um alerta de mensagem de um número desconhecido. Quando abri para ler, fiquei surpreso, era de Renata.
"Oi, Eric!
Quanto tempo não nos falamos, nem deve se lembrar de mim, mas a gente namorou a três anos atrás.
Só estou mandando essa mensagem para avisar que estou de volta na cidade e caso queira relembrar os tempos de bonança, é só retornar essa mensagem."
Aquele velho ditado "Quem é vivo sempre aparece", nunca fez tanto sentido na minha vida. Fui até o bar, me servi de uma dose de uísque sem gelo e fiquei pensando em Renatinha. Aquela mulher era mesmo muito bonita e sabia como enlouquecer um homem na cama.
Lembrei do motivo de nosso término, ela me viu conversando com Thaís e Diana no shopping e simplesmente surtou. Depois de uns dias, ela decidiu sair do país, aceitou um trabalho para desfilar em Paris.
Foi pensando nela que verti mais bebida no copo e tomei a segunda dose. Acabei respondendo a mensagem de Renata, afinal, o que eu ia fazer sozinho em casa em plena sexta-feira? Precisava de uma companhia e por que não a Renatinha?
"Estou na minha antiga casa. Você sabe o caminho ou já se esqueceu?"
Mesmo se eu quisesse, jamais conseguiria esquecer o traejeto da casa dela. Certa vez a danada foi me atiçando durante todo o caminho e acabamos no banco de trás e com ela por cima.
"Acho que ainda me lembro."
"Estou te esperando, então!"
Voltei ao meu escritório e peguei o paletó pendurado na cadeira e o vesti, peguei as chaves do carro e saí do restaurante. Meu carro era o único ainda no estacionamento.
Enfiei a chave na ignição e saí. Liguei o rádio e pisei fundo no acelerador. Quando estava a caminho da casa de Renata, recebi uma ligação da minha mãe, achei estranho porque ela nunca me ligava tão tarde.
— Eric... — percebi seu tom de voz aflito.
— Oi, mãe! O que aconteceu?
— Seu pai está passando mal...
— Calma, mãe! O que ele tá sentindo?
— Uma dor forte no peito... Eu acho que ele... Está tendo um infarto
— Já estou a caminho! Não vou demorar a chegar.
— Ok!
Assim que o semáforo ficou verde, fiz o retorno e comecei a voltar para o centro. Em menos de dez minutos eu já estava na frente da casa de meus pais.
Rapidamente saí do carro e subi as escadas, encontrei-os no quarto, pegamos meu pai e saímos rumo ao hospital. No caminho, minha mãe conseguiu ligar para o médico da família e por sorte ele já estava no hospital.
Estacionei o carro numa vaga e entramos rápido, um enfermeiro veio com uma cadeira de rodas e levou meu pai. Enquanto esperávamos, tentei ligar várias vezes para Thaís, mas sempre caía na caixa postal.
Depois de algumas horas de espera, ficamos sabendo que não tinha sido um infarto e que meu pai estava melhor, porém passaria a noite em observação e minha mãe decidiu que ficaria com ele.
Quando cheguei em casa, não tinha nem noção da hora que era, fui até o quarto da minha irmã e ela estava jogada na cama, ainda com a roupa que tinha saído do resturante.
Me aproximei e verifiquei sua pulsação para saber se estava bem e senti o cheiro de álcool. Algo não tinha dado certo por ali, Thaís estava com nariz vermelho e tinha bebido demais.
Tirei seus sapatos e a cobri com o lençol fino. Ela ia sobreviver. Fui para o banheiro e deixei que a água quente escorresse pelo meu corpo. Eu precisava relaxar. O dia tinha sido agitado e meu pai ainda tinha nos dado o maior susto.
Depois de uns bons dez minutos debaixo d'água, me sequei e vesti um short. Logo que me deitei, peguei o celular em cima da mesinha de cabeceira e tinha mais de vinte mensagens de Renata. Droga. Com tudo o que aconteceu, eu tinha esquecido completamente de avisar que não iria mais para a casa dela, agora já era tarde.
Quando acordei pela manhã, fui até a cozinha e preparei um café em forte e liguei para minha mãe. Ela me tranquilizou ao dizer que estavam indo para casa e prometi passar na casa deles antes de ir para o trabalho.
— Veja se consegue trazer aquela desnaturada da Thaís.
— Vou tentar, mãe! A senhora sabe como ela é difícil de lidar.
— Sei sim, ela é igualzinha ao seu pai.
— Preciso desligar! Beijos!
Me servi de uma xícara de café e tomei coragem para enviar uma mensagem para Renata.
"Desculpa por não ter aparecido ontem, mas tive um problema com meu pai. Espero que me entenda e não fique chateada comigo."
Troquei o short por uma roupa mais confortável para caminhar, calcei os tênis, peguei os fones na gaveta da mesinha de cabeceira e saí.
Correr no calçadão da praia pela manhã tem seus benefícios, consigo ver o nascer do sol, são poucas as pessoas que caminham no mesmo horário que eu. Com a praia mais deserta, você pode sentar na areia e descansar, sem correr o risco de levar um banho de areia por conta das crianças.
Ao retornar para o apartamento, verifiquei que Thaís ainda estava adormecida. Peguei o cesto de roupas sujas, que estava transbordando e segui para a lavanderia.
Depois de tentar ligar a máquina umas cinco vezes, me dei conta de que ainda estava com defeito e, para variar, Thaís tinha esquecido de ligar para o técnico e pedir para vir consertar.
Como eu ia lavar toda aquela roupa?
Ainda era cedo e não tinha ninguém disponível para consertar, ainda mais sendo sábado. Então me lembrei de Diana. Fazia tempo que não aparecia por lá para ver minha afilhada.
Que péssimo padrinho eu sou!
Decidido, peguei o cesto de roupas e o sabão, tranquei a porta, entrei no elevador e apertei o botão do andar de baixo.
Torci para que ela já estivesse acordada, caso contrário, ela me mataria por ter acordado a pequena Helena.
Antes de bater à porta, fiquei parado e em silêncio, para tentar ouvir se havia algum barulho do lado de dentro do apartamento dela e ouvi os gritinhos de Helena. Ótimo!
DIANANa manhã seguinte, fui acordada por resmungos baixinhos, estiquei o pescoço para olhar dentro do cercadinho, torcendo para que Helena estivesse apenas sonhando e me desse mais alguns minutos de sono, mas aquele par de olhos azuis estavam me encarando. Os olhos que eu mais amava no mundo.— Bom dia, meu amorzinho!Em resposta ela balbuciou algo incompreensível. Peguei-a no colo e dei um beijo estalado em sua bochecha. Helena segurou meu rosto com as duas mãozinhas e aproximou sua boquinha, me deixando babada.Quando abri a porta do quarto, a luz do sol que entrava pela sala de estar e estava sendo refletida, atingiu meus olhos e me fez recuar alguns passos.Depois de me acostumar a intensidade da luz solar, fomos até a cozinha e a coloquei sentada no cadeirão de alimentação, fiz um mingau rápido e deixei a sua frente.Enquanto Helena batia a colher no pratinho, espalhando mingau para todos os lados, me ocupei em preparar um pouco de café. Ser mãe solteira era gratificante na mesm
ERICDepois que minha irmã e Diana recusaram minha companhia para ir ao shopping, recolhi as roupas da máquina de lavar, me despedi de Helena com um beijo em sua cabecinha e voltei para o meu apartamento, deixando as três sozinhas.Quando enfim entrei em casa, fui estender toda a roupa lavada no pequeno varal de teto e no de chão.Comi uma maçã e tomei um pouco mais de café, depois fui arrumar meu quarto. Odeio casa bagunçada, talvez seja por isso que minha irmã e eu vivemos em pé de guerra.Já eram dez horas e eu ainda tinha que me arrumar e ir para o restaurante, afinal, o estabelecimento não abriria sozinho.Escolhi uma calça jeans preta e uma camisa branca, calcei os tênis, pus o relógio no pulso e arrumei os cabelos.Chegando ao restaurante, vi Oliver encostado em seu carro no estacionamento, parei ao seu lado e pedi desculpas pela demora.Oliver e eu somos amigos desde o ensino médio e eu disse que o apoiaria quando ele decidiu fazer gastronomia, só não esperava que ele fosse se
DIANAAssim que chegamos ao shopping, Thaís conseguiu estacionar na única vaga disponível no primeiro andar, tirei Helena da cadeirinha enquanto minha amiga lutava para conseguir armar o carrinho. Pedi que segurasse minha menininha e armei o carrinho.— Como você consegue fazer isso tão rápido?— Já tenho a prática.Passeamos e entramos em tantas lojas que acabamos exaustas e sentadas na área de alimentação. Helena estava adorando aquele passeio e dava gritinhos de alegria.Assim que fizemos nossos pedidos, dei a mamadeira para Helena e meu celular apitou dentro da bolsa. Pegando o aparelho, dei uma olhada, era uma mensagem do meu pai. Fiquei surpresa porque ele nunca mandava mensagem e rapidamente cliquei para abrir.“Sua mãe já deve ter lhe falado sobre a homenagem e saiba que conto com você ao meu lado. Já confirmei sua presença.”— Você está bem, Diana? — Minha amiga perguntou parecendo preocupada.— Sim! Acho que sim!— O que tem aí para você ficar tão pálida de repente?— Era um
ERICDepois de brincar quase a tarde toda, levei Helena de volta para Diana, a garotinha estava tão chorosa que, sua mãe só lhe ofereceu um pouco de água e depois a chupeta.— Acho que ela está cansada e com fome — Diana comentou.— Então é melhor levar vocês para casa.— Sim!Fechei o carrinho e começamos a ir em direção ao meu carro. Diana prendeu Helena na cadeirinha e logo que saímos do estacionamento e entramos na rua principal, a danadinha caiu no sono.Ao chegamos em nosso prédio, descarreguei as coisas do porta-malas enquanto Diana soltava a cadeirinha.Assim que as portas metálicas se abriram, ela percebeu que não teria como pegar as chaves dentro da bolsa e quando ia me oferecer para que segurasse Helena por um instante, como se tivesse lido meu pensamento, ela já estava me entregando a pequena adormecida.A chave parecia ter entrado num buraco dentro da bolsa e, com isso acabou demorando um pouco para abrir a porta.— Vou colocá-la no berço. — Diana falou enquanto a pegava
DIANA Assim que fiquei sozinha, me joguei no sofá, me sentindo exausta. Peguei o celular e vi que tinha uma mensagem de Thaís, mas decidi que ligaria depois e fui para o meu quarto, separei uma roupa e em seguida entrei debaixo do chuveiro. Milhões de pensamentos passaram pela minha cabeça no pouco tempo que fiquei parada, deixando que a água lavasse a minha alma. Tinha que admitir que a ideia de Thaís não era ruim, Eric já tinha aceitado, eu só tinha que fazer aquilo tudo dar certo. Me vesti e fui ao quarto de Helena. Ao verificar dentro do berço, fui recebida por aqueles belos par de olhos azuis, então fui ao banheiro e preparei um banho bem quentinho para relaxá-la. Minha filha adorava banhos quentinhos junto ao seu fiel amigo, o pato amarelo de borracha. Era risada na certa. Depois que a vesti com o macacãozinho de ursinho, deixei ela brincar no tapete da sala e fui preparar sua sopinha de legumes e carnes. Para mim, eu decidi pedir uma pizza de calabresa. Eram nove e meia da
ERICFui ao banheiro e deixei a água cair sobre a minha cabeça, Fiquei pensando que mesmo eu sendo padrinho de Helena, eu nunca fiquei sabendo da história de vida da Diana, afinal, a amiga dela era Thaís, eu só aparecia de vez em quando e ela nunca teve abertura suficiente para se abrir comigo.Quando já estava deitado, acabei enviando uma mensagem para Diana. Eu sei que ela disse que precisava se sentir preparada para me contar, mas eu precisava que Diana me confirmasse a história que minha irmã tinha me contado, caso contrário continuaria achando que podia ser uma invenção de Thaís.Antes que eu conseguisse pegar no sono, meu celular vibrou ao meu lado, olhei a barra notificações e era Renata. O que ela ainda queria comigo? Depois de tudo o que falei para ela no restaurante.“Você pode ter desistido de mim, mas eu não vou desistir de você porque sei que em algum momento você vai acabar parando na minha cama.”Renata estava pior que cachorro que caiu da mudança. Se bem que eu não pod
DIANA Quando o dia amanheceu, eu me sentia bem melhor e descansada, olhei o celular e havia uma mensagem de Eric. Meu coração quase parou. Pisquei e esfreguei os olhos para ver se era aquilo mesmo que eu estava vendo. Abri rapidamente e comecei a ler: “Bom dia, Di! Espero que me responda assim que vir essa mensagem. Não precisa ficar preocupada, pois não é nada muito importante. OBS: Adorei nossa tarde ontem.” Antes que eu pudesse responder a mensagem, Helena começou a resmungar, desliguei a babá eletrônica e me levantei. Assim que entrei, apaguei o abajur e abri as cortinas, Helena ficou de pé e segurava na grade do berço. — Bom dia, minha bonequinha! — Peguei-a e beijei sua bochecha. — Mã mã mã! — Bateu as mãozinhas. Com Helena no colo, voltei ao meu quarto e peguei meu celular em cima da cama, depois fui para a cozinha, coloquei-a no cadeirão e fui esquentar o leite. Estávamos deitadas no sofá, Helena estava com a cabeça em uma almofada e assitindo um desenho infantil. Pegue
ERIC Deixei Helena junto aos brinquedos e comecei a ajudar. Diana pôs dois lugares à mesa enquanto fui à cozinha pegar as travessas com o arroz cremoso e a quiche já desenformada. Diana colocou Helena sentada no cadeirão e em seguida nos sentamos. Servi um pouco de vinho em duas taças e lhe entreguei uma. Ela serviu um pouco de cada coisa em nossos pratos e antes de comer, dei uma olhada em sua direção. — Tudo parece estar delicioso! — São receitas da avó... As minhas duas comidas prediletas... Levei um pedaço da quiche à boca e fechei os olhos. Uma explosão de sabores e crocância numa única garfada. — E então, gostou? — Ela perguntou, mas dava para perceber a ansiedade em seus olhos. — Isso está divino, Diana! Suas bochechas coraram, afinal, eu nunca tinha provado um prato feito por ela. Talvez ela tivesse um pouco de medo por não me agradar devido ao fato de ser dono de restaurante. — É o tipo de comida que nos leva de volta ao passado, nas férias de verão passadas na casa