ERIC
Depois que minha irmã e Diana recusaram minha companhia para ir ao shopping, recolhi as roupas da máquina de lavar, me despedi de Helena com um beijo em sua cabecinha e voltei para o meu apartamento, deixando as três sozinhas.
Quando enfim entrei em casa, fui estender toda a roupa lavada no pequeno varal de teto e no de chão.
Comi uma maçã e tomei um pouco mais de café, depois fui arrumar meu quarto. Odeio casa bagunçada, talvez seja por isso que minha irmã e eu vivemos em pé de guerra.
Já eram dez horas e eu ainda tinha que me arrumar e ir para o restaurante, afinal, o estabelecimento não abriria sozinho.
Escolhi uma calça jeans preta e uma camisa branca, calcei os tênis, pus o relógio no pulso e arrumei os cabelos.
Chegando ao restaurante, vi Oliver encostado em seu carro no estacionamento, parei ao seu lado e pedi desculpas pela demora.
Oliver e eu somos amigos desde o ensino médio e eu disse que o apoiaria quando ele decidiu fazer gastronomia, só não esperava que ele fosse se tornar um chef renomado e conhecido no mundo todo.
Aos sábados Oliver sempre vem ao meu restaurante para cozinhar suas comidas chiques e diferentes. É o dia do Oliver. Ele assume a cozinha e dita o cardápio.
— Aconteceu alguma coisa? — Ele perguntou assim que me viu.
— Foi uma noite de cão, irmão.
— Se precisar conversar, sabe que pode se abrir comigo.
— Foi só o meu pai que passou mal ontem a noite e acabei ficando até tarde no hospital, fazendo companhia a minha mãe.
— Sei como é difícil! Quando meu pai faleceu, eu estava longe e fiquei mal por uma semana.
— Eu me lembro.
— Mas ele tá bem, agora?
— Foi para casa hoje de manhã, fiquei de passar lá antes de vir, mas acabei me atrasando e nem consegui.
Enquanto eu abria o restaurante, ele foi direto para a cozinha, guardou suas coisas nos armários de funcionários e depois veio me encontrar em minha sala.
— Eu pensei em um cardápio especial para hoje — falou enquanto se sentava na cadeira à frente da minha mesa.
— E o que serviremos?
Oliver começou a me mostrar diversos pratos itaianos que tinha aprendido a cozinhar na última especialização que fizera em Veneza.
— De entrada teremos Grissini acompanhado de Patê de azeitonas e queijo, Caponata de Berinjela e Bruschettas... Prato principal será Sopa de capelleti, risoto 4 queijos, Nhoque e Rondelli com almôndegas e as sobremesas pensei em Tiramissú, Panna Cota e Cannolis.
— Uau! Achei que italianos só comiam massas — falei com sarcasmo.
— Sua visão está um pouco equivocada, meu caro amigo.
— Você acha que conseguirá dar conta disso tudo com a minha equipe?
— Claro! Adoro seus funcionários... Inclusive quando eu abrir meu restaurante, vou contratá-los.
— Nem por cima do meu cadáver!
Oliver saiu da minha sala e foi se reunir com os funcionários que já começavam a chegar. Assim que fiquei sozinho, comecei a olhar os papéis da contabilidade e o meu celular apitou em cima da mesa. Era uma mensagem de Renata.
"Não sei se devo acreditar em você, mas não se preocupe vou te dar um voto de confiança desta vez."
"Obrigado!"
Liguei para minha mãe para saber como meu pai estava e aproveitei para informar de que eu levaria o almoço para eles.
— Conseguiu falar com sua irmã?
Como eu ia explicar para minha mãe que eu tinha esquecido de falar com a doida da minha irmã sobre o acontecimento da noite?
— Desculpa, mãe! Eu nem vi Thaís.
— Já tentei ligar várias vezes, mas não estou conseguindo.
— Vou mandar uma mensagem para ela.
— Depois me dê notícias dela.
— Pode deixar, mãe!
O restaurante foi aberto algumas horas depois e não demorou muito para que os primeiros clientes começassem a chegar.
Indo até a cozinha para falar com Oliver sobre o almoço de meus pais, passei pelo salão que já estava em fervorosa.
Um dos garçons me comunicou que uma cliente em especial desejava falar comigo, então o segui e tive uma baita surpresa ao ver Renata.
— O-oi Renata!
O garçom nos deixou a sós e então ela ficou de pé e me abraçou. Fiquei um pouco confuso, pois da última vez que nos vimos pessoalmente, ela parecia que ia me matar.
— Não vai se sentar comigo?
— É que estou em horário de trabalho.
— O que vim para te falar... não vai demorar.
Acabei me sentando na cadeira de frente para ela. Estava ansioso e preocupado com o que ela poderia falar.
— Esse lugar não mudou nadinha e pelo visto, o dono também não.
— Pode ser direta, pois preciso voltar ao trabalho.
— Eu só queria falar que... Senti sua falta. Senti falta da gente, do que sentíamos um pelo outro...
— A decisão de ir embora foi sua!
— Eu sei, mas...
— Foi você que surtou quando me viu com minha irmã e a mãe da minha afilhada.
— Eu sei, Eric! Mas eu mudei e estou disposta a dar outras chance para a gente.
— Outra chance? — Ri e passei a mão pelos cabelos. — Você acha que é simples assim, Renata?
— Pode ser simples, basta você querer e você bem que queria ontem.
— Você não pode voltar anos depois e esperar que eu ainda tenha o mesmo sentimento em relação a você.
— Então você está dizendo que não sente mais nada por mim?
— Estou dizendo que sofri muito com o nosso término, mas que agora já não sou mais o mesmo bobo que você namorou... Nós mudamos, mas não vai rolar mais porque você quebrou a confiança que eu tinha em você.
— Mas isso é fácil resolver.
— Para você pode até ser, mas para mim não... Com licença, pois preciso voltar ao trabalho.
— Então a mensagem de ontem a noite não representou nada? — Ela tentou a última cartada.
— Eu estava bêbado e nem sei porquê fui te responder.
Saindo de perto da mesa, me encaminhei até obalcão, peguei o almoço dos meus pais e saí do restaurante. Quando já estava acaminho da casa deles, enviei uma mensagem para Thaís falando a respeito donosso pai.
DIANAAssim que chegamos ao shopping, Thaís conseguiu estacionar na única vaga disponível no primeiro andar, tirei Helena da cadeirinha enquanto minha amiga lutava para conseguir armar o carrinho. Pedi que segurasse minha menininha e armei o carrinho.— Como você consegue fazer isso tão rápido?— Já tenho a prática.Passeamos e entramos em tantas lojas que acabamos exaustas e sentadas na área de alimentação. Helena estava adorando aquele passeio e dava gritinhos de alegria.Assim que fizemos nossos pedidos, dei a mamadeira para Helena e meu celular apitou dentro da bolsa. Pegando o aparelho, dei uma olhada, era uma mensagem do meu pai. Fiquei surpresa porque ele nunca mandava mensagem e rapidamente cliquei para abrir.“Sua mãe já deve ter lhe falado sobre a homenagem e saiba que conto com você ao meu lado. Já confirmei sua presença.”— Você está bem, Diana? — Minha amiga perguntou parecendo preocupada.— Sim! Acho que sim!— O que tem aí para você ficar tão pálida de repente?— Era um
ERICDepois de brincar quase a tarde toda, levei Helena de volta para Diana, a garotinha estava tão chorosa que, sua mãe só lhe ofereceu um pouco de água e depois a chupeta.— Acho que ela está cansada e com fome — Diana comentou.— Então é melhor levar vocês para casa.— Sim!Fechei o carrinho e começamos a ir em direção ao meu carro. Diana prendeu Helena na cadeirinha e logo que saímos do estacionamento e entramos na rua principal, a danadinha caiu no sono.Ao chegamos em nosso prédio, descarreguei as coisas do porta-malas enquanto Diana soltava a cadeirinha.Assim que as portas metálicas se abriram, ela percebeu que não teria como pegar as chaves dentro da bolsa e quando ia me oferecer para que segurasse Helena por um instante, como se tivesse lido meu pensamento, ela já estava me entregando a pequena adormecida.A chave parecia ter entrado num buraco dentro da bolsa e, com isso acabou demorando um pouco para abrir a porta.— Vou colocá-la no berço. — Diana falou enquanto a pegava
DIANA Assim que fiquei sozinha, me joguei no sofá, me sentindo exausta. Peguei o celular e vi que tinha uma mensagem de Thaís, mas decidi que ligaria depois e fui para o meu quarto, separei uma roupa e em seguida entrei debaixo do chuveiro. Milhões de pensamentos passaram pela minha cabeça no pouco tempo que fiquei parada, deixando que a água lavasse a minha alma. Tinha que admitir que a ideia de Thaís não era ruim, Eric já tinha aceitado, eu só tinha que fazer aquilo tudo dar certo. Me vesti e fui ao quarto de Helena. Ao verificar dentro do berço, fui recebida por aqueles belos par de olhos azuis, então fui ao banheiro e preparei um banho bem quentinho para relaxá-la. Minha filha adorava banhos quentinhos junto ao seu fiel amigo, o pato amarelo de borracha. Era risada na certa. Depois que a vesti com o macacãozinho de ursinho, deixei ela brincar no tapete da sala e fui preparar sua sopinha de legumes e carnes. Para mim, eu decidi pedir uma pizza de calabresa. Eram nove e meia da
ERICFui ao banheiro e deixei a água cair sobre a minha cabeça, Fiquei pensando que mesmo eu sendo padrinho de Helena, eu nunca fiquei sabendo da história de vida da Diana, afinal, a amiga dela era Thaís, eu só aparecia de vez em quando e ela nunca teve abertura suficiente para se abrir comigo.Quando já estava deitado, acabei enviando uma mensagem para Diana. Eu sei que ela disse que precisava se sentir preparada para me contar, mas eu precisava que Diana me confirmasse a história que minha irmã tinha me contado, caso contrário continuaria achando que podia ser uma invenção de Thaís.Antes que eu conseguisse pegar no sono, meu celular vibrou ao meu lado, olhei a barra notificações e era Renata. O que ela ainda queria comigo? Depois de tudo o que falei para ela no restaurante.“Você pode ter desistido de mim, mas eu não vou desistir de você porque sei que em algum momento você vai acabar parando na minha cama.”Renata estava pior que cachorro que caiu da mudança. Se bem que eu não pod
DIANA Quando o dia amanheceu, eu me sentia bem melhor e descansada, olhei o celular e havia uma mensagem de Eric. Meu coração quase parou. Pisquei e esfreguei os olhos para ver se era aquilo mesmo que eu estava vendo. Abri rapidamente e comecei a ler: “Bom dia, Di! Espero que me responda assim que vir essa mensagem. Não precisa ficar preocupada, pois não é nada muito importante. OBS: Adorei nossa tarde ontem.” Antes que eu pudesse responder a mensagem, Helena começou a resmungar, desliguei a babá eletrônica e me levantei. Assim que entrei, apaguei o abajur e abri as cortinas, Helena ficou de pé e segurava na grade do berço. — Bom dia, minha bonequinha! — Peguei-a e beijei sua bochecha. — Mã mã mã! — Bateu as mãozinhas. Com Helena no colo, voltei ao meu quarto e peguei meu celular em cima da cama, depois fui para a cozinha, coloquei-a no cadeirão e fui esquentar o leite. Estávamos deitadas no sofá, Helena estava com a cabeça em uma almofada e assitindo um desenho infantil. Pegue
ERIC Deixei Helena junto aos brinquedos e comecei a ajudar. Diana pôs dois lugares à mesa enquanto fui à cozinha pegar as travessas com o arroz cremoso e a quiche já desenformada. Diana colocou Helena sentada no cadeirão e em seguida nos sentamos. Servi um pouco de vinho em duas taças e lhe entreguei uma. Ela serviu um pouco de cada coisa em nossos pratos e antes de comer, dei uma olhada em sua direção. — Tudo parece estar delicioso! — São receitas da avó... As minhas duas comidas prediletas... Levei um pedaço da quiche à boca e fechei os olhos. Uma explosão de sabores e crocância numa única garfada. — E então, gostou? — Ela perguntou, mas dava para perceber a ansiedade em seus olhos. — Isso está divino, Diana! Suas bochechas coraram, afinal, eu nunca tinha provado um prato feito por ela. Talvez ela tivesse um pouco de medo por não me agradar devido ao fato de ser dono de restaurante. — É o tipo de comida que nos leva de volta ao passado, nas férias de verão passadas na casa
DIANA Eu fui pega de surpresa quando Eric me beijou. Realmente não imaginei que ele fosse fazer aquilo. Por um lado eu gostei, ele beija tão bem, mas eu também sabia que não devia ter qualquer tipo de envolvimento amoroso com Eric. Sempre achei Eric um homem muito bonito e atraente, mas Thaís sempre deixou claro que ele era um galinha e por isso não valia a pena tentar ter nada com ele. Por muito tempo tentei fingir indiferença quanto a presença dele. A verdade era que, por um tempo, até consegui fingir, mas ultimamente estava ficando bem difícil. Eu não queria ser só mais uma conquista na interminável lista de mulheres de Eric. — Desculpa, Diana! Eu não devia ter feito isso. — Ele falou enquanto se afastava. — Sei que é errado e... — Eric! — Sim? — Não precisa pedir desculpa... Eu gostei. Antes que ele pudesse falar mais alguma coisa e antes que eu me arrependesse, foi a minha vez de unir nossos lábios. Helena resmungou no meu colo e então me afastei e falei que ia colocá-la
ERIC Quando entrei em casa com um baita sorriso estampado no rosto, percebi que Thaís estava sentada no sofá da sala e distraída mexendo no celular. Achei que ela me ignoraria depois da cena que fiz com o namoradinho dela, mas para minha surpresa, ela virou em minha direção e perguntou: — Onde você estava e por que esse sorriso grande no seu rosto? — Estava almoçando na casa da Diana. Por quê? Minha querida irmã se levantou do sofá num pulo e agarrando meu braço, praticamente me arrastou para o sofá. — Para que isso tudo, Thaís? — Você e a Diana almoçando juntos? Pode ir me contando tudo. — Não tenho nada a contar. — E por que nem pensaram em me chamar? — Foi só um almoço de negócios. — Negócios? Eu sei o tipo de negócios que um homem e uma mulher fazem. — Não aconteceu nada do que essa sua mente suja está pensando. — Você não me engana, irmãozinho. — Então por que não vai lá e pergunta para sua amiga? — É exatamente o que eu vou fazer — disse ela se levantando do sofá.