DIANA
Na manhã seguinte, fui acordada por resmungos baixinhos, estiquei o pescoço para olhar dentro do cercadinho, torcendo para que Helena estivesse apenas sonhando e me desse mais alguns minutos de sono, mas aquele par de olhos azuis estavam me encarando. Os olhos que eu mais amava no mundo.
— Bom dia, meu amorzinho!
Em resposta ela balbuciou algo incompreensível. Peguei-a no colo e dei um beijo estalado em sua bochecha. Helena segurou meu rosto com as duas mãozinhas e aproximou sua boquinha, me deixando babada.
Quando abri a porta do quarto, a luz do sol que entrava pela sala de estar e estava sendo refletida, atingiu meus olhos e me fez recuar alguns passos.
Depois de me acostumar a intensidade da luz solar, fomos até a cozinha e a coloquei sentada no cadeirão de alimentação, fiz um mingau rápido e deixei a sua frente.
Enquanto Helena batia a colher no pratinho, espalhando mingau para todos os lados, me ocupei em preparar um pouco de café. Ser mãe solteira era gratificante na mesma proporção que era cansativo.
Enquanto me deliciava com uma xícara de café, agradeci a Deus por ser sábado e não ter que deixar minha pequena e sair correndo para trabalhar.
Helena já estava brincando na sala enquanto eu terminava de limpar toda a sujeira de mingau, quando a campainha tocou, esqueci que estava de pijama e corri para atender.
Assim que abri a porta, me deparei com um homem enorme, porte atlético, quase da altura da porta. Era Eric. Seus cabelos escuros estavam desalinhados e um largo sorriso estampado no rosto. A maneira como me olhou, me fez lembrar que estava vestindo apenas um baby doll rosa claro com um short relativamente curto.
— Bom dia, vizinha!
— Bom dia, Eric!
— Te acordei?
— Não! Helena já fez esse trabalho.
— Será que eu poderia usar sua máquina de lavar? A nossa deu defeito e Thaís esqueceu de chamar o técnico.
— Ah, claro! Pode usar sim.
Abri um pouco mais a porta e permiti que entrasse no apartamento. Ele carregava um cesto enorme debaixo do braço, que até então nem tinha notado.
— Obrigado! — Ele falou enquanto seguia pelo corredor em direção a cozinha.
É lógico que ele sabia onde ficava a lavanderia, todos os apartamentos tinham o mesmo layout. Segui-o até a cozinha e terminei de limpar a sujeira de mingau. Enquanto ele colocava as roupas na máquina, não pude deixar de olhar discretamente em sua direção.
Que bela visão para uma manhã de sábado.
Se alguém entrasse ali, naquele momento e visse Eric tão a vontade na minha lavanderia, certamente pensaria que ele também mora aqui.
Tratei de deviar tais pensamentos, afinal, Eric era irmão de Thaís e padrinho de Helena, não poderia acontecer nada entre a gente.
Deixei-o sozinho na lavanderia e fui até a sala ver o que minha pequena diabinha estava aprontando e deparei-me com ela de pé, segurando com as duas mãozinhas a borda da mesinha de centro e "dançando" de um jeito tão fofo, que comecei a filmá-la.
— Ela está crescendo muito rápido... Já está até treinando para ir a balada dos bebês. — Ouvi uma voz atrás de mim.
— Isso existe?
— Certamente não! Mas é uma ótima ideia de um novo negócio.
— Parece muito promissor — falei com sarcasmo.
— Parece que foi ontem que eu e Thaís fomos buscar vocês duas no hospital.
— Será que posso te pedir um favor?
— Claro, Di!
— Tem como você ficar de olho em Helena só por alguns minutos? Só para eu conseguir tomar um banho.
— Lógico! Pode tomar seu banho tranquila... Até porque tenho que esperar minhas roupas terminarem de lavar.
— Obrigada!
Vou em direção ao quarto, mas resolvo voltar à sala e vejo Eric sentado no tapete e brincando com Helena. Minha filha dá gargalhadas enquanto o padrinho a faz de aviãozinho.
Desisto do celular, pois não quero atrapalhar a diversão deles. Volto ao quarto, arrumo a cama e depois vou para o banheiro.
Me sentindo regenerada, retorno à sala, Eric e Helena estão assistindo Galinha Pintadinha no celular, ele tenta cantar junto, mas é uma verdadeira negação. Thaís está junto, mas assim que ela me vê, rapidamente se levanta e se aproxima.
— Você é doida de deixar o seu bem mais precioso com o doido do meu irmão?
— Eu estou aqui e ouvindo sua ofensa, irmãzinha. — Eric rebateu.
Thaís praticamente me arrastou para a cozinha. Enquanto se servia de um pouco de café, eu fiquei sentada na banqueta junto à bancada de mármore preto.
— O que meu irmão está fazendo sentado na sua sala e ainda sem camisa?
— Brincando com Helena!
— Ok. Vou reformular minha pergunta... O que meu irmão veio fazer aqui no seu apartamento?
— Ele veio pedir para usar a máquina de lavar, já que a de vocês está quebrada. O que você pensou que fosse?
— Ah sei lá. Você solteira, ele também, poderia ter rolado alguma coisa.
— Não! De jeito nenhum!
— Pode confessar que você sente uma atraçãozinha por ele.
— Não!
— Qual é, Diana? Vai negar na minha cara? Até eu acho ele um gato e se não fosse meu irmão, eu pegava.
— Thaís!
— Que foi? — perguntou bancando a desentendida. — Só estou dizendo a verdade.
Tivemos que interromper a conversa porque Eric entrou na cozinha carregando Helena nos ombros e assim que minha filha me viu, esticou os bracinhos para que eu a pegasse.
— Sobre o que as fofoqueiras estavam conversando? — Ele perguntou enquanto dava uma cotovelada na irmã.
— Nada que seja da sua conta!
— O que você vai fazer hoje? — Thaís perguntou mudando o rumo da conversa.
— Não tenho programado, então acho que vou ficar em casa vendo desenho com Helena.
— Ah não! Isso é definitivamente o fundo do poço!
— Não quando se tem uma criança!
— O que acha de irmos dar uma volta no shopping?
— Pode ser!
— Depois podemos levar minha afilhada linda ao parque — falou enquanto beijava a bochecha de Helena e recebia em troca um beijo babado.
— Tem espaço para mais um nesse programação? — Eric perguntou da lavanderia.
— Não! — Minha amiga respondeu curta e grossa.
ERICDepois que minha irmã e Diana recusaram minha companhia para ir ao shopping, recolhi as roupas da máquina de lavar, me despedi de Helena com um beijo em sua cabecinha e voltei para o meu apartamento, deixando as três sozinhas.Quando enfim entrei em casa, fui estender toda a roupa lavada no pequeno varal de teto e no de chão.Comi uma maçã e tomei um pouco mais de café, depois fui arrumar meu quarto. Odeio casa bagunçada, talvez seja por isso que minha irmã e eu vivemos em pé de guerra.Já eram dez horas e eu ainda tinha que me arrumar e ir para o restaurante, afinal, o estabelecimento não abriria sozinho.Escolhi uma calça jeans preta e uma camisa branca, calcei os tênis, pus o relógio no pulso e arrumei os cabelos.Chegando ao restaurante, vi Oliver encostado em seu carro no estacionamento, parei ao seu lado e pedi desculpas pela demora.Oliver e eu somos amigos desde o ensino médio e eu disse que o apoiaria quando ele decidiu fazer gastronomia, só não esperava que ele fosse se
DIANAAssim que chegamos ao shopping, Thaís conseguiu estacionar na única vaga disponível no primeiro andar, tirei Helena da cadeirinha enquanto minha amiga lutava para conseguir armar o carrinho. Pedi que segurasse minha menininha e armei o carrinho.— Como você consegue fazer isso tão rápido?— Já tenho a prática.Passeamos e entramos em tantas lojas que acabamos exaustas e sentadas na área de alimentação. Helena estava adorando aquele passeio e dava gritinhos de alegria.Assim que fizemos nossos pedidos, dei a mamadeira para Helena e meu celular apitou dentro da bolsa. Pegando o aparelho, dei uma olhada, era uma mensagem do meu pai. Fiquei surpresa porque ele nunca mandava mensagem e rapidamente cliquei para abrir.“Sua mãe já deve ter lhe falado sobre a homenagem e saiba que conto com você ao meu lado. Já confirmei sua presença.”— Você está bem, Diana? — Minha amiga perguntou parecendo preocupada.— Sim! Acho que sim!— O que tem aí para você ficar tão pálida de repente?— Era um
ERICDepois de brincar quase a tarde toda, levei Helena de volta para Diana, a garotinha estava tão chorosa que, sua mãe só lhe ofereceu um pouco de água e depois a chupeta.— Acho que ela está cansada e com fome — Diana comentou.— Então é melhor levar vocês para casa.— Sim!Fechei o carrinho e começamos a ir em direção ao meu carro. Diana prendeu Helena na cadeirinha e logo que saímos do estacionamento e entramos na rua principal, a danadinha caiu no sono.Ao chegamos em nosso prédio, descarreguei as coisas do porta-malas enquanto Diana soltava a cadeirinha.Assim que as portas metálicas se abriram, ela percebeu que não teria como pegar as chaves dentro da bolsa e quando ia me oferecer para que segurasse Helena por um instante, como se tivesse lido meu pensamento, ela já estava me entregando a pequena adormecida.A chave parecia ter entrado num buraco dentro da bolsa e, com isso acabou demorando um pouco para abrir a porta.— Vou colocá-la no berço. — Diana falou enquanto a pegava
DIANA Assim que fiquei sozinha, me joguei no sofá, me sentindo exausta. Peguei o celular e vi que tinha uma mensagem de Thaís, mas decidi que ligaria depois e fui para o meu quarto, separei uma roupa e em seguida entrei debaixo do chuveiro. Milhões de pensamentos passaram pela minha cabeça no pouco tempo que fiquei parada, deixando que a água lavasse a minha alma. Tinha que admitir que a ideia de Thaís não era ruim, Eric já tinha aceitado, eu só tinha que fazer aquilo tudo dar certo. Me vesti e fui ao quarto de Helena. Ao verificar dentro do berço, fui recebida por aqueles belos par de olhos azuis, então fui ao banheiro e preparei um banho bem quentinho para relaxá-la. Minha filha adorava banhos quentinhos junto ao seu fiel amigo, o pato amarelo de borracha. Era risada na certa. Depois que a vesti com o macacãozinho de ursinho, deixei ela brincar no tapete da sala e fui preparar sua sopinha de legumes e carnes. Para mim, eu decidi pedir uma pizza de calabresa. Eram nove e meia da
ERICFui ao banheiro e deixei a água cair sobre a minha cabeça, Fiquei pensando que mesmo eu sendo padrinho de Helena, eu nunca fiquei sabendo da história de vida da Diana, afinal, a amiga dela era Thaís, eu só aparecia de vez em quando e ela nunca teve abertura suficiente para se abrir comigo.Quando já estava deitado, acabei enviando uma mensagem para Diana. Eu sei que ela disse que precisava se sentir preparada para me contar, mas eu precisava que Diana me confirmasse a história que minha irmã tinha me contado, caso contrário continuaria achando que podia ser uma invenção de Thaís.Antes que eu conseguisse pegar no sono, meu celular vibrou ao meu lado, olhei a barra notificações e era Renata. O que ela ainda queria comigo? Depois de tudo o que falei para ela no restaurante.“Você pode ter desistido de mim, mas eu não vou desistir de você porque sei que em algum momento você vai acabar parando na minha cama.”Renata estava pior que cachorro que caiu da mudança. Se bem que eu não pod
DIANA Quando o dia amanheceu, eu me sentia bem melhor e descansada, olhei o celular e havia uma mensagem de Eric. Meu coração quase parou. Pisquei e esfreguei os olhos para ver se era aquilo mesmo que eu estava vendo. Abri rapidamente e comecei a ler: “Bom dia, Di! Espero que me responda assim que vir essa mensagem. Não precisa ficar preocupada, pois não é nada muito importante. OBS: Adorei nossa tarde ontem.” Antes que eu pudesse responder a mensagem, Helena começou a resmungar, desliguei a babá eletrônica e me levantei. Assim que entrei, apaguei o abajur e abri as cortinas, Helena ficou de pé e segurava na grade do berço. — Bom dia, minha bonequinha! — Peguei-a e beijei sua bochecha. — Mã mã mã! — Bateu as mãozinhas. Com Helena no colo, voltei ao meu quarto e peguei meu celular em cima da cama, depois fui para a cozinha, coloquei-a no cadeirão e fui esquentar o leite. Estávamos deitadas no sofá, Helena estava com a cabeça em uma almofada e assitindo um desenho infantil. Pegue
ERIC Deixei Helena junto aos brinquedos e comecei a ajudar. Diana pôs dois lugares à mesa enquanto fui à cozinha pegar as travessas com o arroz cremoso e a quiche já desenformada. Diana colocou Helena sentada no cadeirão e em seguida nos sentamos. Servi um pouco de vinho em duas taças e lhe entreguei uma. Ela serviu um pouco de cada coisa em nossos pratos e antes de comer, dei uma olhada em sua direção. — Tudo parece estar delicioso! — São receitas da avó... As minhas duas comidas prediletas... Levei um pedaço da quiche à boca e fechei os olhos. Uma explosão de sabores e crocância numa única garfada. — E então, gostou? — Ela perguntou, mas dava para perceber a ansiedade em seus olhos. — Isso está divino, Diana! Suas bochechas coraram, afinal, eu nunca tinha provado um prato feito por ela. Talvez ela tivesse um pouco de medo por não me agradar devido ao fato de ser dono de restaurante. — É o tipo de comida que nos leva de volta ao passado, nas férias de verão passadas na casa
DIANA Eu fui pega de surpresa quando Eric me beijou. Realmente não imaginei que ele fosse fazer aquilo. Por um lado eu gostei, ele beija tão bem, mas eu também sabia que não devia ter qualquer tipo de envolvimento amoroso com Eric. Sempre achei Eric um homem muito bonito e atraente, mas Thaís sempre deixou claro que ele era um galinha e por isso não valia a pena tentar ter nada com ele. Por muito tempo tentei fingir indiferença quanto a presença dele. A verdade era que, por um tempo, até consegui fingir, mas ultimamente estava ficando bem difícil. Eu não queria ser só mais uma conquista na interminável lista de mulheres de Eric. — Desculpa, Diana! Eu não devia ter feito isso. — Ele falou enquanto se afastava. — Sei que é errado e... — Eric! — Sim? — Não precisa pedir desculpa... Eu gostei. Antes que ele pudesse falar mais alguma coisa e antes que eu me arrependesse, foi a minha vez de unir nossos lábios. Helena resmungou no meu colo e então me afastei e falei que ia colocá-la