Era um absurdo eu aceitar aquele convite inusitado. Onde já se viu uma secretária, recém-contratada, morar com seu chefe?O que as pessoas vão falar, se descobrirem?Ainda estou atordoada com tudo o que aconteceu. Minha vida deu um salto enorme de um dia para o outro, me deixando tonta, sem saber como consertar as coisas. Noah me salvou. Isso eu lhe agradeço. Jamais imaginei que ele, um homem tão reservado e estranho, pudesse me ajudar dessa forma.Noah Novack conseguiu mudar completamente minha percepção sobre ele e... isso mexe comigo. Não sei explicar. Como, de uma noite para outra, ele saiu de chefe arrogante para um verdadeiro cavalheiro? Um lorde, aos meus olhos. Atencioso, cuidadoso.E então Patrick apareceu na minha casa.Por um momento, achei que meu segredo estava prestes a ser revelado. O pavor travou minhas pernas. Se ele já estava sendo um babaca só por me reencontrar, o que faria ao descobrir que temos uma filha?Mas lá estava Noah. Se colocando entre nós, protegendo-me
Acredite, eu não faço ideia do que estou fazendo. As coisas acontecem tão rapidamente. Eu não consigo controlá-las. Não consigo controlar nem mesmo o que faço ou digo. Isso nunca aconteceu antes. Eu sempre fui bom em manter tudo sob controle. O mundo à minha volta. Mas foi só Emma entrar na minha vida que tudo isso mudou.Era irritante e, ao mesmo tempo, bom.Todas as vezes em que estávamos próximos. Quando eu olhava em seus olhos cristalinos, quando ela parecia um anjo na minha frente. Meu instinto era protegê-la. E foi exatamente o que eu fiz. Todas as vezes em que aquele idiota se aproximava dela. E agora, ainda mais.Convidá-la para ir à minha casa? Foi inusitado. Até para mim. Os mais próximos diriam que estou ficando louco. Eu mesmo acho que estou. Mas o problema é que... eu estou gostando dessa loucura.Eu não sabia como ia reorganizar minha vida depois disso. Levar essa mulher para minha casa. Com uma criança. E agora, ali estava eu, segurando Aurora nos braços.Quando a vi na
Eu estava exausta. Não era apenas o cansaço físico de quem andava horas pelas ruas de Nova York, batendo de porta em porta com um currículo nas mãos. Era um cansaço mais profundo, que pesava nos ombros e se infiltrava nos ossos. Um cansaço que vinha da vida, das perdas, das decepções, dos erros.Perdi minha mãe cedo demais. Meu pai? Bem, nem sei quem ele era. Mas minha avó me criou com todo o amor que podia oferecer, e isso me bastou. Fiz de tudo para ser a menina perfeita, para não dar trabalho, para não correr o risco de perder a única pessoa da minha família que restava. Mas, mesmo assim, cometi erros. Um deles me trouxe a pessoinha mais especial do mundo, e hoje, olhando para ela, sei que cometeria esse erro mil vezes se fosse preciso.Só que o pai dela... Ele era um idiota. Um idiota que nem sabia da existência dela e fazia questão de continuar assim. E era melhor que fosse desse jeito. Já bastava tudo o que ele tinha feito comigo, a dor, a decepção, os estragos que deixou para t
Muitas pessoas reclamam do meu jeito, mas não ligo. Sou o filho mais velho-pelo menos, o mais velho da minha mãe-de uma família grande. Meus pais eram o casal perfeito, daqueles que pareciam ter saído de um livro. Amavam os filhos com um amor incondicional, algo que sempre invejei. Minha infância foi perfeita. Nasci em uma família rica, cercado de conforto e privilégios. Tive irmãos adotivos, mas a mais nova, essa sim, era minha lógica.Minha mãe tinha uma história complicada, e talvez por isso fosse tão desconfiada das pessoas. Mas, com o tempo, ela mudou. Se transformou por causa dos filhos. E era invejável. Eu cresci observando o relacionamento dela com meu pai-um amor que só se intensificava com os anos. Meu pai sempre foi meu espelho. Ele protegia a família como um cão de guarda, mas dentro de casa... era outra pessoa. Minha mãe o dominava com um olhar. Tudo o que queria, conseguia com um estalar de dedos ou um silêncio carregado. E ele obedecia. Eu queria ser como ele.Afinal, h
Acordei cansada. Aurora dormira a noite inteira, mas o peso em meu corpo não vinha da falta de sono. Vinha do medo, da exaustão de estar sempre alerta.Despertei quando senti seu corpinho se remexer ao meu lado. Dormíamos na mesma cama porque não tínhamos um colchão extra, não tínhamos móveis supérfluos, nem mesmo lixo acumulado - eu não podia me dar ao luxo de desperdiçar nada. Mas, no fundo, não era só a falta de dinheiro que me fazia querer tê-la tão perto. Era o medo. Medo de que alguém aparecesse no meio da noite, arrombasse a janela e levasse minha menina de mim. Claro, era uma fantasia absurda... Mas, para uma mãe, era um medo real, constante, impossível de ignorar.E talvez esse pavor viesse do próprio pai dela.Eu não sabia que ele era um cafajeste quando o conheci. Não sabia que, por trás dos gestos carinhosos e das palavras doces, se escondia um homem perigoso. Durante meses, ele me tratou como uma rainha, fez eu me sentir especial, desejada, amada. E então, quando já não h
Eu estava completamente nervosa, sentindo como se o peso do mundo estivesse pressionando meus ombros. Aquela era a minha chance - a oportunidade de mudar tudo. Fechei os olhos por um breve segundo e respirei fundo, tentando acalmar o coração acelerado. Eu era grata pelo que tinha, claro. O emprego na lanchonete, por mais desgastante que fosse, pagava o aluguel do meu minúsculo apartamento em Nova York - o que já era uma vitória por si só. Também dava para comprar os remédios da minha avó e colocar comida na mesa. Mas estava longe de ser suficiente.E era por isso que eu estava ali. O cargo de secretária de um executivo significava um novo patamar. Um salário digno. Digno o bastante para me dar um respiro e cuidar da minha filha sem me preocupar se o dinheiro acabaria antes do mês. Eu precisava desse emprego. Não por mim, mas por ela.Me ajeitei na cadeira da sala de espera, alisando inutilmente o tecido amassado da minha saia. O som ritmado do meu salto batendo contra o chão quebrava
Eu não sabia se me sentia empolgada ou assustada - talvez as duas coisas ao mesmo tempo. Saí de casa confiante, cabeça erguida, como se nada pudesse me abalar, mas jamais imaginei que seria tão fácil. Fácil até demais.O problema é que, por dentro, eu estava insegura. Não porque eu achasse que não daria conta do trabalho, mas por causa do meu chefe. Noah Novack. Eu não fazia ideia de que era ele quando entrei naquela sala. Estudei muito sobre famílias influentes em Nova York, sobre empresários poderosos com quem eu poderia vir a trabalhar, mas o Noah... ele era diferente. Sempre foi uma figura misteriosa. Pouquíssimas informações sobre ele, assim como sobre a própria família Novack. Era quase como se vivessem à parte do mundo, escondidos sob um véu que ninguém conseguia atravessar.E o mais estranho? Eles são uma das famílias mais importantes da cidade - do país até. Entrar para aquele círculo parecia algo quase inalcançável. Não que eu quisesse fazer parte do clã Novack, claro, mas h
O dia inteiro foi arruinado por causa daquela mulher. Não queria admitir, mas desde o instante em que esbarramos no corredor, não consegui tirá-la da cabeça. Era irritante. O olhar dela, a forma como me desafiava sem nem saber quem eu era. E, mesmo depois que soube, continuava me encarando da mesma forma, como se não se importasse. Era como se estivéssemos constantemente em choque, faíscas invisíveis cortando o ar entre nós - e, por algum motivo, eu achava isso intrigante.Sempre fui movido por controle. Quando algo fugia das minhas mãos, fazia questão de puxar de volta. Como um touro selvagem que precisava ser domado a qualquer custo. Talvez fosse por isso que a escolhi tão rapidamente, mesmo tendo opções melhores, mais qualificadas. As outras candidatas tinham aquele olhar - o tipo que eu odiava. Brilhavam demais, tentavam demais, encaravam como se o escritório fosse uma vitrine de oportunidades além do trabalho. Emma, por outro lado, me olhava como se não se importasse. E isso... b