Capítulo 2 | Adeline

Eu não conseguia parar de pensar na cena que tinha acabado de presenciar. Quanto mais eu lembrava, mais eu sentia meu sangue ferver. O som das risadas abafadas, o cheiro barato do perfume daquela enfermeira, a expressão irritada do Carlos, como se eu fosse a errada da história e a cara de pau dele de dizer na minha cara que eu estava ficando “velha” e que era por isso, que ele estava me traindo com uma enfermeira que mais parecia uma ninfeta.

Meu coração martelava no peito, e minha cabeça latejava. Eu precisava fazer alguma coisa. Eu precisava esquecer e por mais que Clara tivesse dito que viria me buscar, eu não queria falar com ninguém. Não agora.

E se existia um jeito infalível de esquecer uma merda de traição e uma demissão no mesmo dia, esse jeito envolvia muito, mas muito álcool, então, me levantei da droga do banco, peguei minhas chaves e dirigi para longe daquela porcaria de hospital.

Girei e girei pelas ruas da Itália até finalmente encontrar um bar que fosse desconhecido para mim, o que queria dizer que também era desconhecido pelas pessoas com quem eu convivia e principalmente… por Carlos.

Entrei no bar. Era um daqueles lugares pequenos, com luzes baixas e cheiro de cigarro misturado com bebida cara. Perfeito. Era o que eu precisava. Me sentei no balcão e pedi um whisky duplo, sem gelo. O barman me lançou um olhar curioso, mas não disse nada. Eu não queria conversa, então para mim, isso era perfeito. Eu queria beber até esquecer o nome daquele desgraçado e principalmente, que eu tinha dedicado grande parte da minha vida, a ele e a um relacionamento fracassado.

O primeiro gole queimou minha garganta, mas eu não parei. O segundo desceu mais fácil. O terceiro começou a esquentar meu corpo. E quando cheguei no quinto, já sentia aquele torpor agradável me envolver.

— Bebendo sozinha? — Uma voz masculina interrompeu meus devaneios.

Olhei para o lado e vi um homem. Não um homem qualquer. Ele era jovem, muito jovem. Talvez uns 24 ou 25 anos? Alto, ombros largos, cabelo perfeitamente penteado para trás e um sorriso de quem jurava que sabia exatamente o que estava fazendo. Um daqueles tipos que você olhava e já sabia que ele não prestava.

— E se eu estiver? O que você tem a ver com isso? — retruquei, sem paciência alguma para brincar com aquela criança que jurava que era um adultinho.

Ele riu, parecendo se divertir, e puxou a cadeira ao meu lado sem pedir permissão. Eu bufei.

— Meu nome é Aston. E o seu?

— O que te faz pensar que eu quero conversar com você, criança?

— Nada. Mas você está aqui, bebendo como se quisesse esquecer alguma coisa. E eu sou ótimo em ouvir e também… — eu senti seu olhar queimar sobre minha pele, — sou ótimo em ajudar as pessoas a esquecerem de coisas das quais não querem se lembrar.

Revirei os olhos. Era exatamente do que eu não precisava: um garotão convencido achando que podia me seduzir com duas frases bem montadas. O barman me serviu outro whisky duplo e o bonitinho não parecia disposto a desistir.

— Que original — murmurei, virando mais um gole, sem muita paciência a essa altura do campeonato.

— Sabe o que eu acho? — Ele ignorou minha ironia. — Acho que você teve um dia de merda. E também acho que já bebeu o suficiente para pelo menos considerar sair daqui comigo.

Eu ri. Não porque achei engraçado, mas porque o álcool estava fazendo efeito e a audácia dele era quase divertida.

— Quer saber? — Apoiei o cotovelo no balcão e encarei ele nos olhos. — Você tem cara de problema, criança.

— E você tem cara de quem precisa de um problema para te ajudar a se distrair.

Nossa, ele era bom. Arrogante, confiante, e completamente inconsequente. Mas depois da quinta dose de whisky, eu já tinha bebido demais para me importar. O que eu tinha a perder? Meu emprego já foi para o ralo. Meu relacionamento, também. Minha dignidade? Bom, essa estava por um fio desde o instante em que vi uma ninfeta fodendo com o meu ex-noivo em cima da mesa de mogno que eu mesma tinha comprado para ele de aniversário a 3 anos atrás.

Então eu fiz a única coisa que parecia fazer sentido naquele momento: puxei aquele garoto inconsequente pelo colarinho e beijei ele.

E para minha total surpresa… ele retribuiu.

O beijo não foi delicado, não foi romântico. Foi intenso, desesperado, cheio de desejo acumulado e raiva reprimida. As mãos dele seguraram minha cintura com firmeza, puxando-me mais para perto, enquanto minha cabeça girava—e eu não sabia se era pelo álcool ou pela forma como os lábios dele se moviam contra os meus.

Em algum momento, acabamos encostados em uma parede escura do bar, longe dos olhares curiosos. As mãos dele exploravam minhas costas, e as minhas seguravam os cabelos dele com força. Eu não sabia mais onde terminava o gosto do whisky e começava o gosto dele.

— Você beija bem para alguém que parecia tão resistente — ele murmurou contra minha boca, com aquele sorriso convencido.

— Cala a boca e continua — resmunguei, puxando-o para mais um beijo, meu ar parecia faltar a essa altura e eu vi ele sorrir antes de destrancar uma porta e me puxar com ele, parecia um quarto, talvez uma sala, quem sabe?

Eu não sabia o que diabos estava fazendo. Mas, eu não queria me importar, não dessa vez, não hoje.

Eu não me lembrava da última vez que tinha sentido aquele tipo de liberdade, aquela sensação de não precisar pensar em nada além do presente. Carlos estava longe, o hospital estava longe, e ali, naquela bolha de álcool e adrenalina, nada mais importava.

Havia uma boca quente descendo pelo meu pescoço, mãos fortes segurando meus quadris e eu sabia bem onde aquilo ia parar, — eu só não sabia, que aquela noite, aquela sensação e aquele par de olhos que não pareciam desfocar dos meus, mudariam completamente o meu futuro, meu mundo inteiro e tudo que eu considerava como certo até o presente momento. 

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App