Eu deveria parar.Sério.Se alguém me visse agora, acharia que eu era um psicopata completo.Porque, sinceramente, ficar olhando o perfil do LinkedIn de Adeline Moretti por mais de três minutos sem piscar definitivamente não era um comportamento normal.Fechei o notebook com força e esfreguei o rosto.— Isso tá indo longe demais.Mas antes que meu cérebro absorvesse essa informação, minha mão já estava abrindo o computador de novo .Só pra verificar uma última vez .Só pra ter certeza de que ela ainda não tinha aceitado nenhuma proposta nova .E lá estava. "Disponível para novas oportunidades."Eu deveria estar preocupado com o fato de que eu sabia essa frase de cor .Mas eu não tinha tempo para crises existenciais agora.Eu ainda era o CEO do Grupo Beaumont, mesmo que há pouco tempo, por conta da morte do meu pai, e tinha um bando de velhos chatos esperando para dizer pela milésima vez que eu não sabia o que estava fazendo.Ótimo.Exatamente o tipo de entretenimento que eu preciso pa
O interfone tocou pela quarta vez naquela manhã.Eu estava no meio de um café que finalmente não tinha gosto de ressentimento quando o som irritante interrompeu minha paz.Respirei fundo. Talvez, só talvez, fosse alguma coisa normal. Tipo um erro de correspondência. Ou um entregador na casa errada. Ou…— Entrega para a senhorita Adeline Moretti.Soltei um suspiro lento.O entregador já sabia. A voz dele tinha aquele tom de quem estava preparado para levar patadas, porque claramente eu já era uma lenda nos corredores das entregas indesejadas.— Por acaso essa entrega vem de um certo Carlos Ricci?O silêncio no outro lado da linha foi resposta suficiente.Apoiei a testa na palma da mão e tentei contar até dez antes de responder.Não adiantou.— Volte para a central e diga a eles para avisarem esse babaca que eu não quero mais nada dele.— Senhora, eu só faço entregas…— Ótimo. Então entregue esse recado.Soltei e simplesmente, desliguei. Eu sabia que o coitado do entregador não tinha cu
O barulho do relógio na parede estava me irritando depois da minha tentativa de manipular Adeline por meio do meu irmão, — falhou, — e claro que nada disso melhorava, quando o velhote do Louis, não saia do meu pé.Tic. Tac. Tic. Tac. Como uma maldita contagem regressiva para o inferno.Meus dedos tamborilavam contra a mesa de mogno do meu escritório, a perna inquieta batendo no chão enquanto minha paciência se esgotava. Eu já sabia que essa conversa viria, já sabia que Nicolas Louis ia querer ter um tête-à-tête comigo depois de tudo que aconteceu. Mas o fato de saber não tornava nada mais fácil.Eu tinha controlado os boatos! Eu tinha feito de tudo para aquele velho maldito não descobrir que eu estava enrolando a filha dele e fodendo com a médica que trouxe renome pro hospital.Adeline era uma fase, claro e no fim, Amanda era com quem eu pretendia me casar, — mas nem Nicolas e nem Adeline, precisavam saber disso.— O doutor Nicolas está esperando o senhor — Ana, minha secretária, me d
O som irritante do celular vibrando pela terceira vez me fez revirar os olhos. Eu já sabia quem era. E também já sabia que não queria ouvir merda nenhuma do outro lado da linha.Eu tinha atendido a ligação de Antony por achar que ele era diferente do irmão (afinal ele sempre pareceu um bom garoto), mas quando vi que esse não era o caso, só decidi que não me daria mais ao trabalho.Mesmo assim, peguei o aparelho de qualquer jeito e vi o nome na tela: Antony Ricci.Suspirei fundo.Primeiro Carlos, agora Antony ficaria insistindo sem parar? Como se eu já não tivesse aturado o suficiente da família Ricci. Por um segundo, considerei atender só para mandar ele ir à merda, mas minha paciência não era infinita, e eu sabia que qualquer conversa com ele ia me render uma dor de cabeça que eu não estava disposta a ter.Apertei o botão de bloquear sem pensar muito e soltei um suspiro de satisfação. Esse era o fim de uma era.Carlos ia descobrir sobre minha demissão a qualquer momento, e quando iss
Eu estava tão puto que minha própria respiração parecia me irritar.Minha mão latejava de tanto socar aquela porta de merda, e a cada segundo que passava sem uma resposta, meu sangue fervia mais. Ela estava lá dentro. Eu sabia que estava.E eu a faria abrir aquela porra de porta ou eu mesmo arrombaria e entraria.Não. Eu estava cansado de toda essa merda. Quem ela achava que era, para tentar foder a minha vida e anos de planejamento, por conta de uma birrinha ridícula como aquela?Depois de ignorar todas as minhas ligações, todas as minhas mensagens, e principalmente depois de me fazer passar pelo pior esporro que Nicolas Louias já me deu na vida, Adeline não tinha o direito de simplesmente fingir que eu não existia. No final, tudo aquilo era culpa daquela mimada!Se não fosse pelo surto de Adeline, nada daquilo estaria acontecendo e eu faria ela entender que não tinha outra opção além de implorar para que eu a aceitasse de volta no hospital.Então eu bati de novo. Mais forte.— Abre
Eu não era exatamente um homem paciente — ou melhor, eu nunca fui. Meu pai costumava dizer que eu era impulsivo, que sempre queria tudo para ontem. E talvez ele estivesse certo. Mas também foi essa impaciência que me fez chegar onde estou.E agora, eu estava diante de uma cena que me fez sentir algo novo. Algo incômodo. Algo irritante que fez a minha garganta queimar junto aos meus pulmões.Adeline Moretti, aquela mulher que me tratou como se eu fosse um qualquer, estava na frente da porta dela, discutindo com um homem que eu reconheceria de qualquer noticiário. Carlos Ricci. O ex-noivo, que claramente só conseguia ser um merda em todos os sentido possíveis — ainda mais agora. Eu ia esperar. Eu ia ficar na minha, deixar ela lidar com isso sozinha. Mas então ele disse aquilo.— Eu posso fazer com que você nunca mais entre em uma sala de cirurgia, Adeline. Eu vou queimar seu nome em todos os lugares possíveis. Meu sangue ferveu, e os meus punhos se cerraram.Lentamente, um sorriso a
Surpresa era pouco para descrever o que eu estava sentindo, na verdade, eu estava completamente em choque ao ouvir aquilo.Que diabos... como isso podia ser possível?Não.Não podia ser sério, o mundo devia estar virando de cabeça para baixo mesmo.Meu corpo travou no instante em que aquelas palavras saíram da boca de Aston. O som do sobrenome Beaumont ecoou na minha mente como um estrondo, embaralhando todas as peças do quebra-cabeça de uma só vez.Meus olhos correram pelo rosto dele. O novinho.Aquele maldito novinho com quem tive o azar de me encontrar na pior noite da minha vida.Isso era algum tipo de castigo divino? Eu estava mesmo sendo punida porque fui irresponsável?O menino com quem eu dormi naquela noite de bebedeira. O mesmo que eu larguei na cama, sem olhar para trás. O mesmo que eu tratei como um desconhecido sem importância e que eu pretendia nunca mais ver na minha vida.E agora, ele estava ali, se revelando como Aston Beaumont. O herdeiro da porra da maior empresa qu
Eu não gostava de ser ignorado.E, definitivamente, não gostava de ser dispensado.Mas lá estava eu, encarando Adeline Moretti enquanto ela fazia exatamente isso, sem sequer pestanejar.— Podemos conversar? — perguntei, tentando manter minha voz neutra.Ela suspirou, os olhos cansados pousando em mim.— Aston, esse é o seu nome, certo? Eu agradeço o que você fez, mas acho que já resolvemos tudo por aqui. — Ela ergueu a sobrancelha. — Certo?Certo?Errado pra caralho.Cruzei os braços, mantendo meu olhar fixo no dela.— Não acho que resolvemos tudo. Na verdade, acho que precisamos conversar sobre o que aconteceu naquela noite e sobre muitas outras coisas na verdade.Adeline não hesitou.— Não temos nada para conversar. — Sua voz foi firme, sem espaço para discussão. — Foi uma noite qualquer depois de muita bebedeira, sei que você é jovem mas tenho certeza que consegue entender isso, não é querido? Já passou.Eu senti minha mandíbula travar.Uma noite. Já passou.Ela realmente... deus c