Eu não gostava de ser ignorado.E, definitivamente, não gostava de ser dispensado.Mas lá estava eu, encarando Adeline Moretti enquanto ela fazia exatamente isso, sem sequer pestanejar.— Podemos conversar? — perguntei, tentando manter minha voz neutra.Ela suspirou, os olhos cansados pousando em mim.— Aston, esse é o seu nome, certo? Eu agradeço o que você fez, mas acho que já resolvemos tudo por aqui. — Ela ergueu a sobrancelha. — Certo?Certo?Errado pra caralho.Cruzei os braços, mantendo meu olhar fixo no dela.— Não acho que resolvemos tudo. Na verdade, acho que precisamos conversar sobre o que aconteceu naquela noite e sobre muitas outras coisas na verdade.Adeline não hesitou.— Não temos nada para conversar. — Sua voz foi firme, sem espaço para discussão. — Foi uma noite qualquer depois de muita bebedeira, sei que você é jovem mas tenho certeza que consegue entender isso, não é querido? Já passou.Eu senti minha mandíbula travar.Uma noite. Já passou.Ela realmente... deus c
Se havia uma coisa que eu sempre soube sobre Aston Beaumont, era que ele não batia bem da cabeça, e claro, como amigo dele, eu também não devia bater muito bem, porque mesmo sendo um Sullivan, eu escolhi trabalhar com o imbecil do meu melhor amigo e praticamente pôr a droga da minha carreira em perigo desde o instante em que Aston assumiu a porra da empresa.Não que isso fosse exatamente uma novidade. Desde moleque, ele sempre teve essa mania de querer tudo do jeito dele, de se fixar em uma ideia e persegui-la até o inferno se fosse necessário. O problema era que, desta vez, ele tinha se fixado em uma mulher! E nem para a porra da mulher ser normal. Não. Aston tinha que se meter logo com uma médica que além de renomada era obviamente difícil de se lidar e com uma vida particular... complexa.E, como seu melhor amigo, eu tinha o dever de lembrá-lo disso, mesmo que ele não gostasse muito do que ia ouvir.— Você deveria parar com isso. — Cruzei os braços, observando Aston tamborilar os d
A primeira coisa que fiz depois que Aston e Carlos finalmente desapareceram foi entrar no meu apartamento, fechar a porta e ligar para a portaria.Eu entendia que acidentes podiam acontecer, mas depois de três meses recebendo presentes indesejados, — eu tinha deixado bem claro que ninguém tinha permissão para subir ao meu apartamento.Ninguém.Essa foi a minha decisão para evitar complicações no entendimento da situação.— Boa noite, senhorita Moretti. — O porteiro atendeu, a voz profissional, mas carregada de cansaço. — Como posso ajudar?Respirei fundo, ainda sentindo a tensão no meu corpo.— Eu quero saber o motivo de não ter sido informada sobre duas visitas para o meu apartamento.— Senhora...— Eu pensei ter pedido anteriormente para não deixar ninguém subir.— Bom... sim, me recordo disso, senhora.— Então, nesse caso, quero que coloquem meu nome na lista de moradores que não aceitam visitantes sem permissão. — Falei devagar, e firme. — Ninguém entra nesse prédio para me ver se
Eu tinha finalmente conseguido me divertir um pouco, — eu tinha me distraído com a comemoração de Clara e graças a ela, tinha conseguido uma reunião com Elliot.Isso era quase como ter uma certeza de vaga, — mas duas semanas? Era muito tempo.Eu não queria desperdiçar.Então, acordei no dia seguinte e tomei o banho mais demorado possível. Aproveitei cada segundo antes de pegar a minha agenda e ver como a minha rotina ficaria.Não havia nada sobre cirurgias ou procedimentos inovadores, — nenhum transplante, (infelizmente), mas... eu sabia que podia ter chances ainda maiores saindo da asa de Carlos.Sentei na mesa da cozinha, com um café forte ao lado e meu laptop aberto, organizando mentalmente as entrevistas que tinha para aquele dia. Três entrevistas. Três hospitais diferentes. Todos renomados, todos interessados no meu histórico impecável e nas minhas descobertas científicas Infelizmente, não foram muitas graças ao tempo que eu perdia com Carlos e seus artigos inacabados, — mas eram
Capítulo 21 | ElliotEu queria contratar Adeline Moretti.Não apenas porque Clara Montero não era do tipo que vinha com uma ideia como aquelas, de querer se demitir, muito menos para insistir na contratação de um cirurgião, mas também porque a ideia de ter Moretti em minha equipe era interessante. Mas eu já sabia disso.Eu já tinha visto Adeline em ação antes. Cinco anos atrás, tínhamos trabalhado juntos em uma cirurgia delicada. Eu nunca esqueci a forma como ela conduziu tudo com precisão absurda, como se aquilo fosse fácil para ela. Como se ela fosse um Deus no centro cirúrgico.E talvez fosse exatamente isso que as pessoas temiam nela.Mas antes que eu pudesse mergulhar fundo demais nesses pensamentos, uma imagem me atingiu como um soco.Clara.Uma lembrança vívida, vinda direto da ressaca que eu ainda carregava desde a noite passada. Bebedeira no bar. Adeline ao longe. Conversa rápida. Riso fácil.E então, Clara me puxando pelo braço e me arrastando até o banheiro.Fodemos ali me
Capítulo XXII - AdelineDepois de uma semana tenebrosa e de tantas recusas, ir a uma entrevista com Elliot era um bom sinal. Não. Era o melhor sinal possível.Então, quando parei meu carro no estacionamento, senti que as coisas finalmente poderiam melhorar de verdade.Quando entrei no hospital me veio uma sensação que há muito tempo eu não experimentava: esperança.A entrevista com Elliot Rivera tinha potencial. O hospital era um dos melhores, e eu sabia que minha experiência falava por si só, mesmo com esses boatos infundados. Eu estava pronta para voltar ao trabalho, pronta para recomeçar de verdade.Entrei na recepção, informei meu nome e logo fui direcionada ao andar onde aconteceria a reunião com Elliot. Minha postura era impecável, os ombros erguidos, o olhar determinado. Hoje era o dia que tudo voltaria ao normal.Ou pelo menos, deveria ser.Eu entrei na sala de Elliot e ele me recebeu de maneira polida, mas algo no seu semblante me fez franzir o cenho. Ele estava... desconfort
Eu já sabia que a minha vida não era um mar de rosas, mas até mesmo para os meus padrões, aquilo era um golpe baixo.Carlos Ricci não podia simplesmente me trair, me humilhar publicamente, jogar quinze anos da minha vida no lixo e ainda assim, decidir que queria controlar o que eu fazia depois disso. Mas olha só, ele estava fazendo exatamente isso. Ele estava conseguindo tudo que queria e eu? Eu tinha me fodido para nada.Fiquei parada ali, encarando Elliot como se ele tivesse acabado de me dizer que o mundo estava prestes a explodir, porque de certo modo, ele tinha acabado de jogar uma bomba no meu mundo.— O quê? — Minha voz saiu mais fria do que eu esperava.— Sinto muito, mas... creio que você entendeu bem. — Elliot cruzou os braços, observando minha reação como quem esperava que eu surtasse a qualquer momento. E não estava errado em esperar. — Ele espalhou essas histórias sobre você. Começou no meio médico, depois chegou ao administrativo. Agora, qualquer hospital que tenha contat
Capítulo XXIV - ClaraEu não queria falar com Elliot Rivera, mas eu precisava, porque Adeline não respondia às minhas mensagens e ele tinha voltado sozinho da cafeteria.E mesmo sem querer admitir, eu sabia que o fato de eu não querer falar com ele, não era porque ele era um chefe exigente, ou porque fazia questão de manter aquela pose de profissional impecável. Mas porque, depois do que aconteceu entre a gente no bar, eu preferia fingir que não conhecia ele e que tudo aquilo, não passava de um trote do meu cérebro. Um daqueles sonhos eróticos estranhos que você tinha depois de ficar exausta mentalmente e completamente na seca. Sim. Eu preferia fingir que nada nunca tinha acontecido.O problema? Ele estava ali, no meio do corredor, e eu não tinha como evitar me lembrar da expressão no rosto dele enquanto me olhava.Porra.O que ele tinha de gostoso, ele tinha de insuportável, — Adeline estava certa sobre isso. Era uma compensação, tinha que ser.Mas já que eu não conseguia evitar