Capítulo XXII - AdelineDepois de uma semana tenebrosa e de tantas recusas, ir a uma entrevista com Elliot era um bom sinal. Não. Era o melhor sinal possível.Então, quando parei meu carro no estacionamento, senti que as coisas finalmente poderiam melhorar de verdade.Quando entrei no hospital me veio uma sensação que há muito tempo eu não experimentava: esperança.A entrevista com Elliot Rivera tinha potencial. O hospital era um dos melhores, e eu sabia que minha experiência falava por si só, mesmo com esses boatos infundados. Eu estava pronta para voltar ao trabalho, pronta para recomeçar de verdade.Entrei na recepção, informei meu nome e logo fui direcionada ao andar onde aconteceria a reunião com Elliot. Minha postura era impecável, os ombros erguidos, o olhar determinado. Hoje era o dia que tudo voltaria ao normal.Ou pelo menos, deveria ser.Eu entrei na sala de Elliot e ele me recebeu de maneira polida, mas algo no seu semblante me fez franzir o cenho. Ele estava... desconfort
Eu já sabia que a minha vida não era um mar de rosas, mas até mesmo para os meus padrões, aquilo era um golpe baixo.Carlos Ricci não podia simplesmente me trair, me humilhar publicamente, jogar quinze anos da minha vida no lixo e ainda assim, decidir que queria controlar o que eu fazia depois disso. Mas olha só, ele estava fazendo exatamente isso. Ele estava conseguindo tudo que queria e eu? Eu tinha me fodido para nada.Fiquei parada ali, encarando Elliot como se ele tivesse acabado de me dizer que o mundo estava prestes a explodir, porque de certo modo, ele tinha acabado de jogar uma bomba no meu mundo.— O quê? — Minha voz saiu mais fria do que eu esperava.— Sinto muito, mas... creio que você entendeu bem. — Elliot cruzou os braços, observando minha reação como quem esperava que eu surtasse a qualquer momento. E não estava errado em esperar. — Ele espalhou essas histórias sobre você. Começou no meio médico, depois chegou ao administrativo. Agora, qualquer hospital que tenha contat
Capítulo XXIV - ClaraEu não queria falar com Elliot Rivera, mas eu precisava, porque Adeline não respondia às minhas mensagens e ele tinha voltado sozinho da cafeteria.E mesmo sem querer admitir, eu sabia que o fato de eu não querer falar com ele, não era porque ele era um chefe exigente, ou porque fazia questão de manter aquela pose de profissional impecável. Mas porque, depois do que aconteceu entre a gente no bar, eu preferia fingir que não conhecia ele e que tudo aquilo, não passava de um trote do meu cérebro. Um daqueles sonhos eróticos estranhos que você tinha depois de ficar exausta mentalmente e completamente na seca. Sim. Eu preferia fingir que nada nunca tinha acontecido.O problema? Ele estava ali, no meio do corredor, e eu não tinha como evitar me lembrar da expressão no rosto dele enquanto me olhava.Porra.O que ele tinha de gostoso, ele tinha de insuportável, — Adeline estava certa sobre isso. Era uma compensação, tinha que ser.Mas já que eu não conseguia evitar
Eu venci.Adeline Moretti estava acabada e era tudo por minha causa. Ela estava onde deveria estar e isso era apenas uma das consequências pelas escolhas horríveis que ela mesma tomou, e era por isso que agora ela estava... destruída.Nos últimos dias, eu acompanhei cada recusa, cada porta fechada, cada hospital que virou as costas para ela. Dez. Quinze. Talvez até mais. Perdi a conta depois da segunda semana. Mas o importante era que a queridinha da cirurgia cardíaca já não estava mais no topo. E isso me dava um prazer indescritível, principalmente depois de me lembrar da forma horrível como ela teve a coragem de me tratar.Acordei naquela manhã com um sorriso no rosto que ia de uma ponta a outra, — porque o Dr. Rivera tinha me ligado a dias para checar sobre o motivo de Adeline estar saindo do Saint Louis, — e claro que eu fiz questão de explicar a ele os motivos. Ele não me disse que a recusaria, mas eu ouvi em seu tom, que ele sequer cogitava empregar ela depois da nossa conversa
Carlos era o homem perfeito.Era isso que eu acreditava desde o primeiro dia em que o conheci. Desde aquele momento em que, ainda no primeiro semestre de medicina, eu o vi atravessar o campus para buscar Antony em uma festa. Alto, charmoso, um verdadeiro cavalheiro.Ele sorriu para mim quando estava voltando com o irmão ao seu lado e eu fiquei encantada. Como poderia não ficar?Carlos era gentil, tinha um sorriso capaz de iluminar qualquer ambiente e a forma como ele falava fazia com que tudo parecesse simples. Ele era inteligente sem ser esnobe, era educado, era atencioso com Antony e com todos à sua volta. Ele tinha o dom de fazer as pessoas se sentirem especiais.Me apaixonei aos poucos, cada vez mais, cada vez mais indo mais fundo nessa admiração que ia crescendo cada vez mais, conforme eu me encontrava com ele. Cada sorriso, cada gesto cortês, cada momento que ele dedicava a mim. Carlos era o homem dos sonhos de qualquer mulher. E ele era meu. Finalmente meu.Por isso, quando vi
Capítulo XXVII - AstonEu sabia que tinha cometido um erro.E olha que isso não era comum.Ou melhor, não dizendo que eu não era impulsivo às vezes, mas até eu tinha que admitir que… ir até o apartamento da Adeline, subornar um porteiro e aparecer na porta dela como um maníaco, não foi a minha melhor decisão de vida.Agora, eu oficialmente podia ser considerado um stalker, (mesmo que esse não fosse mesmo o caso).E sabe o pior? Eu entendia perfeitamente o porquê ela me mandou para o inferno sem nem pensar duas vezes ou me perguntar sobre que diabos eu tinha em mente como proposta pra ela. Se fosse o contrário, eu também acharia aquilo assustador e certamente teria pedido para os seguranças mandarem ela embora da minha casa. Mas porra… minhas intenções eram boas! Eu só queria conversar! E talvez convencê-la de que eu não era um qualquer que podia ser descartado depois de uma noite incrível, (que por sinal foi o que tivemos). O que ela fez foi cruel, mas eu conseguia ver o que fiz de er
O telefone tocava sem parar.Clara estava ligando pela terceira vez naquela noite, mas eu simplesmente não tinha forças para atender. Eu sabia o que ela ia dizer. "Adeline, não desista", "Adeline, você vai encontrar um jeito", "Adeline, vamos beber até esquecer que o mundo é uma merda". E eu amava a minha amiga por isso.Mas hoje? Hoje eu não queria ouvir nada.Hoje eu só queria afundar no meu próprio fracasso e me permitir me sentir péssima pelas escolhas que eu fiz.Olhei para a tela do celular e deixei a chamada cair na caixa postal. A notificação piscava junto com outras mensagens dela, todas com aquele tom otimista. E eu não queria ouvir otimismo. Eu queria socar uma parede, ou de preferência, o rosto do desgraçado do Carlos.Eu queria queimar aquele maldito hospital, queria gritar para o mudno, o quanto nada disso era justo, — mas claro, além disso não ser possível, também não era algo a se fazer, então, eu engoli a droga da minha raiva e fiz tudo que eu podia fazer.Me sentei n
Eu sempre soube que Adeline ia acabar voltando para mim.Ela podia ter surtado, gritado, jogado tudo para o alto, mas no final das contas, a realidade sempre se impunha. Eu tinha conseguido arruinar a carreira que ela construiu, com nada mais que algumas poucas palavras.Agora, eu tinha sido informado que ela tinha conseguido uma entrevista em um hospital de quinta categoria, — um lugar decadente, mas eu sabia que Adeline era o tipo de mulher que não desistiria e claro, ela era bem capaz de levantar aquele lugar. E até mesmo torná-lo em algo aceitável aos olhos dos outros.Então, eu tive que me mexer, — com a ajuda de Amanda, (e uma mentira pequena, sobre uma doação para crianças carentes) eu doei para o hospital uma nova ala e em troca? Eles terminariam de afundar Adeline na lama.Agora... Ela não tinha para onde ir, e isso queria dizer que ela teria que voltar para mim.E finalmente, ela entenderia que o mundo fora do Saint Louis era cruel, e agora ela estava vendo isso com os própr