Eu venci.Adeline Moretti estava acabada e era tudo por minha causa. Ela estava onde deveria estar e isso era apenas uma das consequências pelas escolhas horríveis que ela mesma tomou, e era por isso que agora ela estava... destruída.Nos últimos dias, eu acompanhei cada recusa, cada porta fechada, cada hospital que virou as costas para ela. Dez. Quinze. Talvez até mais. Perdi a conta depois da segunda semana. Mas o importante era que a queridinha da cirurgia cardíaca já não estava mais no topo. E isso me dava um prazer indescritível, principalmente depois de me lembrar da forma horrível como ela teve a coragem de me tratar.Acordei naquela manhã com um sorriso no rosto que ia de uma ponta a outra, — porque o Dr. Rivera tinha me ligado a dias para checar sobre o motivo de Adeline estar saindo do Saint Louis, — e claro que eu fiz questão de explicar a ele os motivos. Ele não me disse que a recusaria, mas eu ouvi em seu tom, que ele sequer cogitava empregar ela depois da nossa conversa
Carlos era o homem perfeito.Era isso que eu acreditava desde o primeiro dia em que o conheci. Desde aquele momento em que, ainda no primeiro semestre de medicina, eu o vi atravessar o campus para buscar Antony em uma festa. Alto, charmoso, um verdadeiro cavalheiro.Ele sorriu para mim quando estava voltando com o irmão ao seu lado e eu fiquei encantada. Como poderia não ficar?Carlos era gentil, tinha um sorriso capaz de iluminar qualquer ambiente e a forma como ele falava fazia com que tudo parecesse simples. Ele era inteligente sem ser esnobe, era educado, era atencioso com Antony e com todos à sua volta. Ele tinha o dom de fazer as pessoas se sentirem especiais.Me apaixonei aos poucos, cada vez mais, cada vez mais indo mais fundo nessa admiração que ia crescendo cada vez mais, conforme eu me encontrava com ele. Cada sorriso, cada gesto cortês, cada momento que ele dedicava a mim. Carlos era o homem dos sonhos de qualquer mulher. E ele era meu. Finalmente meu.Por isso, quando vi
Capítulo XXVII - AstonEu sabia que tinha cometido um erro.E olha que isso não era comum.Ou melhor, não dizendo que eu não era impulsivo às vezes, mas até eu tinha que admitir que… ir até o apartamento da Adeline, subornar um porteiro e aparecer na porta dela como um maníaco, não foi a minha melhor decisão de vida.Agora, eu oficialmente podia ser considerado um stalker, (mesmo que esse não fosse mesmo o caso).E sabe o pior? Eu entendia perfeitamente o porquê ela me mandou para o inferno sem nem pensar duas vezes ou me perguntar sobre que diabos eu tinha em mente como proposta pra ela. Se fosse o contrário, eu também acharia aquilo assustador e certamente teria pedido para os seguranças mandarem ela embora da minha casa. Mas porra… minhas intenções eram boas! Eu só queria conversar! E talvez convencê-la de que eu não era um qualquer que podia ser descartado depois de uma noite incrível, (que por sinal foi o que tivemos). O que ela fez foi cruel, mas eu conseguia ver o que fiz de er
O telefone tocava sem parar.Clara estava ligando pela terceira vez naquela noite, mas eu simplesmente não tinha forças para atender. Eu sabia o que ela ia dizer. "Adeline, não desista", "Adeline, você vai encontrar um jeito", "Adeline, vamos beber até esquecer que o mundo é uma merda". E eu amava a minha amiga por isso.Mas hoje? Hoje eu não queria ouvir nada.Hoje eu só queria afundar no meu próprio fracasso e me permitir me sentir péssima pelas escolhas que eu fiz.Olhei para a tela do celular e deixei a chamada cair na caixa postal. A notificação piscava junto com outras mensagens dela, todas com aquele tom otimista. E eu não queria ouvir otimismo. Eu queria socar uma parede, ou de preferência, o rosto do desgraçado do Carlos.Eu queria queimar aquele maldito hospital, queria gritar para o mudno, o quanto nada disso era justo, — mas claro, além disso não ser possível, também não era algo a se fazer, então, eu engoli a droga da minha raiva e fiz tudo que eu podia fazer.Me sentei n
Eu sempre soube que Adeline ia acabar voltando para mim.Ela podia ter surtado, gritado, jogado tudo para o alto, mas no final das contas, a realidade sempre se impunha. Eu tinha conseguido arruinar a carreira que ela construiu, com nada mais que algumas poucas palavras.Agora, eu tinha sido informado que ela tinha conseguido uma entrevista em um hospital de quinta categoria, — um lugar decadente, mas eu sabia que Adeline era o tipo de mulher que não desistiria e claro, ela era bem capaz de levantar aquele lugar. E até mesmo torná-lo em algo aceitável aos olhos dos outros.Então, eu tive que me mexer, — com a ajuda de Amanda, (e uma mentira pequena, sobre uma doação para crianças carentes) eu doei para o hospital uma nova ala e em troca? Eles terminariam de afundar Adeline na lama.Agora... Ela não tinha para onde ir, e isso queria dizer que ela teria que voltar para mim.E finalmente, ela entenderia que o mundo fora do Saint Louis era cruel, e agora ela estava vendo isso com os própr
Eu só queria paz, mas Carlos parecia inimigo da minha paz, — e mesmo quando eu estava no fundo do poço, ele não conseguia me deixar sofrendo sozinha no meu canto.Eu não me mexi de imediato. Permaneci ali, de pé no meio da sala, os braços cruzados sobre o peito, os olhos fixos na porta como se ela fosse de alguma forma me dar respostas.Carlos tinha ido embora.Pelo menos por agora, acompanhado da polícia, como eu disse a ele que seria se não fosse embora por vontade própria e sinceramente? Eu não me importava.Queria que ele ficasse preso pelo resto da vida, mas sabia que ele mal receberia uma maldita multa, nem passaria uma noite na cadeia.Tudo que eu conseguia pensar naquele momento, era que... tudo ficaria bem, se eu mantivesse ele longe da minha vida.Soltei um suspiro longo, sentindo a tensão abandonar meu corpo aos poucos. Minhas pernas protestavam pela forma como eu as mantive rígidas durante todo o embate, e caminhei até o sofá como se estivesse atravessando um campo de bata
O jogo estava mudando, e eu sabia disso.Carlos Ricci fez de tudo para que Adeline Moretti não tivesse outra escolha a não ser se curvar a ele, implorar para que ele a ajudasse ou limpasse seu nome, mas isso sinceramente era algo praticamente impossível de acontecer. Primeiro porque tiraria a “credibilidade” que os outros acreditavam que ele tinha, e segundo, que um maldito orgulhoso como aquele, certamente exigiria demais de Adeline, para sequer cogitar a ideia de ajudá-la a consertar o que ele fez.E eu podia não conhecer Adeline completamente, mas sabia que ela não era o tipo de mulher que abaixava a cabeça e deixava as coisas acontecerem. A ideia de que ele realmente achava que poderia dobrar uma mulher como ela me fazia rir. Mas, ao mesmo tempo, me dava raiva.Porque Adeline não merecia isso. E, mais do que isso, eu sabia que ela nunca se curvaria a ele, mesmo que isso fosse sua última chance.Era por isso que ela precisava de mim.Claro, eu queria Adeline desde aquela noite. Mas
Alec Beaumont e eu sempre fomos parecidos. Crescemos como herdeiros de impérios, criados para seguir regras que não queríamos respeitar, — mas que nos fez aprender como a vida funcionava. Ele, com sua genialidade ousada no ramo farmacêutico, e eu, com minha obstinação em fazer o nome da minha família crescer além da indústria petrolífera, no setor da saúde que parecia tão promissor. Sempre discutimos sobre o futuro da medicina, sobre o impacto que poderíamos causar. Nossos pais esperavam que fôssemos apenas negociantes frios, mas Alec e eu sempre compartilhamos algo mais: uma visão, de como tudo poderia ser diferente, e claro, quando minha mulher desistiu do seu futuro como médica... isso se tornou quase uma obsessão.Mas... Amélia havia falecido antes que eu pudesse fazer alguma coisa a respeito e os planos para um hospital, ficaram ali, como planos, largados em um canto.Alec foi o único a continuar com toda essa base idealista, e agora, depois da morte dele, eu tive que sorrir, por