Capítulo XXVII - AstonEu sabia que tinha cometido um erro.E olha que isso não era comum.Ou melhor, não dizendo que eu não era impulsivo às vezes, mas até eu tinha que admitir que… ir até o apartamento da Adeline, subornar um porteiro e aparecer na porta dela como um maníaco, não foi a minha melhor decisão de vida.Agora, eu oficialmente podia ser considerado um stalker, (mesmo que esse não fosse mesmo o caso).E sabe o pior? Eu entendia perfeitamente o porquê ela me mandou para o inferno sem nem pensar duas vezes ou me perguntar sobre que diabos eu tinha em mente como proposta pra ela. Se fosse o contrário, eu também acharia aquilo assustador e certamente teria pedido para os seguranças mandarem ela embora da minha casa. Mas porra… minhas intenções eram boas! Eu só queria conversar! E talvez convencê-la de que eu não era um qualquer que podia ser descartado depois de uma noite incrível, (que por sinal foi o que tivemos). O que ela fez foi cruel, mas eu conseguia ver o que fiz de er
O telefone tocava sem parar.Clara estava ligando pela terceira vez naquela noite, mas eu simplesmente não tinha forças para atender. Eu sabia o que ela ia dizer. "Adeline, não desista", "Adeline, você vai encontrar um jeito", "Adeline, vamos beber até esquecer que o mundo é uma merda". E eu amava a minha amiga por isso.Mas hoje? Hoje eu não queria ouvir nada.Hoje eu só queria afundar no meu próprio fracasso e me permitir me sentir péssima pelas escolhas que eu fiz.Olhei para a tela do celular e deixei a chamada cair na caixa postal. A notificação piscava junto com outras mensagens dela, todas com aquele tom otimista. E eu não queria ouvir otimismo. Eu queria socar uma parede, ou de preferência, o rosto do desgraçado do Carlos.Eu queria queimar aquele maldito hospital, queria gritar para o mudno, o quanto nada disso era justo, — mas claro, além disso não ser possível, também não era algo a se fazer, então, eu engoli a droga da minha raiva e fiz tudo que eu podia fazer.Me sentei n
Eu sempre soube que Adeline ia acabar voltando para mim.Ela podia ter surtado, gritado, jogado tudo para o alto, mas no final das contas, a realidade sempre se impunha. Eu tinha conseguido arruinar a carreira que ela construiu, com nada mais que algumas poucas palavras.Agora, eu tinha sido informado que ela tinha conseguido uma entrevista em um hospital de quinta categoria, — um lugar decadente, mas eu sabia que Adeline era o tipo de mulher que não desistiria e claro, ela era bem capaz de levantar aquele lugar. E até mesmo torná-lo em algo aceitável aos olhos dos outros.Então, eu tive que me mexer, — com a ajuda de Amanda, (e uma mentira pequena, sobre uma doação para crianças carentes) eu doei para o hospital uma nova ala e em troca? Eles terminariam de afundar Adeline na lama.Agora... Ela não tinha para onde ir, e isso queria dizer que ela teria que voltar para mim.E finalmente, ela entenderia que o mundo fora do Saint Louis era cruel, e agora ela estava vendo isso com os própr
Eu só queria paz, mas Carlos parecia inimigo da minha paz, — e mesmo quando eu estava no fundo do poço, ele não conseguia me deixar sofrendo sozinha no meu canto.Eu não me mexi de imediato. Permaneci ali, de pé no meio da sala, os braços cruzados sobre o peito, os olhos fixos na porta como se ela fosse de alguma forma me dar respostas.Carlos tinha ido embora.Pelo menos por agora, acompanhado da polícia, como eu disse a ele que seria se não fosse embora por vontade própria e sinceramente? Eu não me importava.Queria que ele ficasse preso pelo resto da vida, mas sabia que ele mal receberia uma maldita multa, nem passaria uma noite na cadeia.Tudo que eu conseguia pensar naquele momento, era que... tudo ficaria bem, se eu mantivesse ele longe da minha vida.Soltei um suspiro longo, sentindo a tensão abandonar meu corpo aos poucos. Minhas pernas protestavam pela forma como eu as mantive rígidas durante todo o embate, e caminhei até o sofá como se estivesse atravessando um campo de bata
O jogo estava mudando, e eu sabia disso.Carlos Ricci fez de tudo para que Adeline Moretti não tivesse outra escolha a não ser se curvar a ele, implorar para que ele a ajudasse ou limpasse seu nome, mas isso sinceramente era algo praticamente impossível de acontecer. Primeiro porque tiraria a “credibilidade” que os outros acreditavam que ele tinha, e segundo, que um maldito orgulhoso como aquele, certamente exigiria demais de Adeline, para sequer cogitar a ideia de ajudá-la a consertar o que ele fez.E eu podia não conhecer Adeline completamente, mas sabia que ela não era o tipo de mulher que abaixava a cabeça e deixava as coisas acontecerem. A ideia de que ele realmente achava que poderia dobrar uma mulher como ela me fazia rir. Mas, ao mesmo tempo, me dava raiva.Porque Adeline não merecia isso. E, mais do que isso, eu sabia que ela nunca se curvaria a ele, mesmo que isso fosse sua última chance.Era por isso que ela precisava de mim.Claro, eu queria Adeline desde aquela noite. Mas
Alec Beaumont e eu sempre fomos parecidos. Crescemos como herdeiros de impérios, criados para seguir regras que não queríamos respeitar, — mas que nos fez aprender como a vida funcionava. Ele, com sua genialidade ousada no ramo farmacêutico, e eu, com minha obstinação em fazer o nome da minha família crescer além da indústria petrolífera, no setor da saúde que parecia tão promissor. Sempre discutimos sobre o futuro da medicina, sobre o impacto que poderíamos causar. Nossos pais esperavam que fôssemos apenas negociantes frios, mas Alec e eu sempre compartilhamos algo mais: uma visão, de como tudo poderia ser diferente, e claro, quando minha mulher desistiu do seu futuro como médica... isso se tornou quase uma obsessão.Mas... Amélia havia falecido antes que eu pudesse fazer alguma coisa a respeito e os planos para um hospital, ficaram ali, como planos, largados em um canto.Alec foi o único a continuar com toda essa base idealista, e agora, depois da morte dele, eu tive que sorrir, por
Havia momentos na minha vida em que eu me perguntava se o destino era apenas uma grande piada de mau gosto, e esse era um desses momentos. Eu estava encostado na parede da sala dos Louis, observando Carlos se preparar para pedir Amanda em casamento, e tudo dentro de mim gritava que aquilo era um erro — que eu deveria impedir.— Você realmente acha que essa é a única saída? — Minha voz saiu mais baixa do que eu gostaria.Carlos ajeitou a manga da camisa, sem me olhar.— Essa é a coisa certa. Nós dois sabíamos que, no fim, eu teria que me casar com ela.Cruzei os braços, tentando encontrar alguma hesitação nele. Algum indício de que ele não era completamente podre por dentro. Mas Carlos, como sempre, estava tranquilo. Seguro. Como se estivesse prestes a fechar um negócio qualquer, e não foder a vida de Amanda, ao colocar ela em um casamento sem amor algum.— Mas não é cedo? — insisti, vendo se de alguma forma, eu conseguia adiar aquilo o máximo possível.Ele finalmente me olhou, um sorr
O noivado de Amanda deveria ser motivo de felicidade, mas, para mim, era apenas um alerta vermelho piscando incessantemente, um alerta que eu conhecia bem e que ficava evitando, por ela.Carlos Ricci nunca me convenceu com aquele maldito teatro de bom moço. Desde o primeiro momento, eu soube que aquele homem era uma aposta arriscada. Inteligente, persuasivo e, acima de tudo, oportunista. Ele sabia exatamente o que dizer para conquistar as pessoas certas, para fazer com que confiassem nele e Amanda para mim, era só mais uma das vítimas dele. Mas eu? Eu nunca fui um homem fácil de enganar e não ia me deixar enganar por um moleque que nem tinha saído das fraldas, quando eu já tinha assumido o posto do meu pai e me tornado diretor do hospital Saint Louis.Eu o mantive por perto porque Amanda estava feliz. Minha filha sempre teve uma mente aberta demais, e mesmo quando vi pequenos sinais de alerta, preferi confiar em seu julgamento. Afinal, eu já havia perdido um filho por não conseguir en