O noivado de Amanda deveria ser motivo de felicidade, mas, para mim, era apenas um alerta vermelho piscando incessantemente, um alerta que eu conhecia bem e que ficava evitando, por ela.Carlos Ricci nunca me convenceu com aquele maldito teatro de bom moço. Desde o primeiro momento, eu soube que aquele homem era uma aposta arriscada. Inteligente, persuasivo e, acima de tudo, oportunista. Ele sabia exatamente o que dizer para conquistar as pessoas certas, para fazer com que confiassem nele e Amanda para mim, era só mais uma das vítimas dele. Mas eu? Eu nunca fui um homem fácil de enganar e não ia me deixar enganar por um moleque que nem tinha saído das fraldas, quando eu já tinha assumido o posto do meu pai e me tornado diretor do hospital Saint Louis.Eu o mantive por perto porque Amanda estava feliz. Minha filha sempre teve uma mente aberta demais, e mesmo quando vi pequenos sinais de alerta, preferi confiar em seu julgamento. Afinal, eu já havia perdido um filho por não conseguir en
Eu estava oficialmente sem rumo e mesmo que aquele email da empresa Beaumont tivesse me animado um pouco, eu ainda não tinha me decidido sobre aceitar ou não.Até então, minha carreira estava destruída, minhas opções cada vez mais limitadas, e eu já cogitava me mudar para uma cidade menor, talvez um hospital afastado na Sicília. Ninguém me conhecia lá, e talvez pudesse recomeçar sem a sombra de Carlos Ricci pairando sobre minha cabeça.Foi no meio desse devaneio que meu celular tocou.Olhei para a tela, já esperando mais uma ligação inconveniente, mas o nome desconhecido me fez franzir a testa antes de atender.Carlos seria desocupado o suficiente para me ligar de um número desconhecido? Cheguei a conclusão de que não, ou ao menos, eu esperava que não pelo bem da minha sanidade.— Dra. Adeline Moretti? — A voz feminina era profissional e polida do outro lado da linha.— Sim, quem deseja? — perguntei, desconfiada.— Meu nome é Marina, sou assistente do Sr. Aston Beaumont. Ele gostaria d
A vida era feita de escolhas.E eu estava prestes a fazer uma que poderia mudar completamente o rumo da minha carreira e da minha vida.Aston Beaumont me olhava do outro lado da mesa, a expressão tão relaxada quanto confiante. Ele sabia que havia me jogado uma isca irresistível e que, por mais que eu tentasse negar, uma parte de mim queria agarrar aquela chance com unhas e dentes.E eu queria. Queria tanto que meu orgulho doía.Respirei fundo, segurando o olhar dele. Ele esperava minha resposta. Não havia pressão, não havia desespero, mas eu sabia que ele já tinha certeza do que eu ia dizer e o pior, era que eu também sentia essa certeza.Era Aston Beaumont e seu novo projeto, ou um futuro não tão brilhante. Afinal, se Carlos me queria no fundo do poço, mesmo que eu me esforçasse, eu sabia que ele ia continuar tentando me jogar para baixo, mentindo sobre mim, e minha vingança não seria completa, até ser ele a estar no lugar onde me jogou: sem nada e se sentindo traído.— Se as coisas
Por mais que eu soubesse que era real, uma parte minha quase não conseguia acreditar naquilo. Mas eu realmente consegui.Adeline Moretti disse sim à minha proposta, mesmo que tenha demorado um pouco até enxergar que era a melhor coisa a se fazer, — e eu sequer poderia dizer que não entendia ela.Eu ainda estava digerindo essa realidade quando saí da sala de reuniões. O sol da tarde refletia nas janelas parecia mais claro e eu recebi uma mensagem de Mark em seguida.— Marina, Henry está na empresa? — Perguntei a minha secretária quando a vi e ela negou com a cabeça.— Não, sr. Beaumont. Quer que eu ligue para ele?Neguei.— Não, obrigado. Reagende minhas reuniões de hoje, por favor. Eu vou precisar sair, e pode tirar o resto do dia de folga, — murmurei, — tire um tempo para você.— Obrigada, Sr. Beaumont, — a ouvi dizer com um sorriso e sem esperar, fui direto para o elevador.Se alguém me dissesse, semanas atrás, que eu convenceria Adeline a trabalhar comigo, eu teria rido. Porque, ho
Trabalhar em um hospital grande e respeitável significava que você ficava cercado por alguns dos melhores profissionais da medicina. Mas também significava que fofocas corriam soltas por cada corredor, cada sala de descanso, cada maldito elevador.E ultimamente, o nome de Adeline Moretti estava na boca de todo mundo, mesmo de pessoas que eu sabia que eram bem piores do que os boatos em torno de Adeline.Era um pesadelo. Eu não aguentava mais ouvir os murmúrios, os olhares de pena, os sussurros sobre como "a brilhante chefe de cirurgia do Saint Louis" havia despencado e estava sendo rejeitada por todos os hospitais da região.Toda vez que ouvia um novo absurdo, eu fazia questão de rebater. "Isso é mentira", eu dizia. "Vocês estão repetindo um monte de besteira sem fundamento". Mas convencer as pessoas era outra história. O estrago já estava feito e por mais que eu odiasse admitir, a opinião de uma amiga de Adeline, não faria todos mudarem de ideia sobre ela.E o pior? Elliot Rivera, no
Se alguém tivesse me dito que minha noite terminaria assim, eu teria rido na cara da pessoa.Eu e Clara estávamos sentadas no meu sofá, com uma garrafa de vinho quase vazia entre nós, enquanto eu contava tudo o que tinha acontecido nos últimos dias, desde a minha total falta de vontade de levantar da minha cama, até o email da secretária de Aston Beaumont. Clara me olhava com olhos arregalados, segurando a taça como se fosse um microfone de repórter, era óbvio que ela estava feliz por mim.— Espera, espera, espera — ela interrompeu, gesticulando com a mão. — Você está me dizendo que considerou se enterrar no meio do nada, viver uma vida pacata no interior, tipo aquelas histórias de romance cafona onde a protagonista encontra um fazendeiro gostoso, e então do nada... Aston Beaumont aparece de novo? O garoto com quem você fodeu?Revirei os olhos e bebi mais um gole do vinho.— Primeiro, eu não ia morar no meio do nada. Ia ser uma cidade pequena e tranquila. E acredite, não ia ter nenhum
Depois que Clara foi embora, eu tomei o meu banho, me troquei e fui dormir. E depois de uma noite de sono que finalmente não foi interrompida por crises de ansiedade ou pelo peso sufocante do fracasso, acordei com uma leveza estranha naquela manhã. Talvez fosse o vinho. Ou talvez fosse a conversa com Clara, que sempre conseguia me fazer rir, mesmo quando minha vida parecia estar desmoronando e mesmo quando ela parecia querer me enlouquecer no processo.Mas o motivo principal para eu não estar mergulhada em autocomiseração era outro. Eu tinha uma reunião com Aston Beaumont e isso me fazia lembrar que eu tinha conseguido um emprego.Me arrumei sem pressa, vestindo algo que me fizesse parecer profissional, mas também inatingível. Algo que deixasse claro que eu não estava me dobrando a ele, que isso era apenas negócios. O cabelo preso em um coque firme, maquiagem impecável, postura ereta. Eu não ia dar a ele nenhuma brecha para pensar que tinha alguma vantagem sobre mim e principalmente,
— Podemos estar falando a mesma língua, mas... eu tenho uma última pergunta a te fazer.— Diga, — Aston ronronou e por um momento, eu quase cogitei confiar cegamente naquele rostinho bonito.Mas... eu já tinha quebrado demais a minha cara, para voltar a cometer esse tipo de erro. Eu não sabia que ainda existia espaço para me sentir mais enganada. Depois de tudo que Carlos tinha feito, depois de cada mentira desmascarada, eu pensei que meu limite já tinha sido alcançado. Mas aquele desgraçado sempre dava um jeito de se superar.Eu encarei a tela do tablet de Aston por mais alguns segundos, lendo e relendo aquela merda de matéria como se as palavras fossem mudar. Como se, de alguma forma, tudo aquilo fosse um grande mal-entendido e eu estivesse apenas exagerando.Mas não era um mal-entendido.Carlos Ricci estava noivo.Carlos Ricci estava noivo havia duas semanas.Carlos Ricci estava namorando com Amanda Louis havia seis anos.Meu estômago revirou. Minha visão ficou turva. Meu peito ape