Trabalhar em um hospital grande e respeitável significava que você ficava cercado por alguns dos melhores profissionais da medicina. Mas também significava que fofocas corriam soltas por cada corredor, cada sala de descanso, cada maldito elevador.E ultimamente, o nome de Adeline Moretti estava na boca de todo mundo, mesmo de pessoas que eu sabia que eram bem piores do que os boatos em torno de Adeline.Era um pesadelo. Eu não aguentava mais ouvir os murmúrios, os olhares de pena, os sussurros sobre como "a brilhante chefe de cirurgia do Saint Louis" havia despencado e estava sendo rejeitada por todos os hospitais da região.Toda vez que ouvia um novo absurdo, eu fazia questão de rebater. "Isso é mentira", eu dizia. "Vocês estão repetindo um monte de besteira sem fundamento". Mas convencer as pessoas era outra história. O estrago já estava feito e por mais que eu odiasse admitir, a opinião de uma amiga de Adeline, não faria todos mudarem de ideia sobre ela.E o pior? Elliot Rivera, no
Se alguém tivesse me dito que minha noite terminaria assim, eu teria rido na cara da pessoa.Eu e Clara estávamos sentadas no meu sofá, com uma garrafa de vinho quase vazia entre nós, enquanto eu contava tudo o que tinha acontecido nos últimos dias, desde a minha total falta de vontade de levantar da minha cama, até o email da secretária de Aston Beaumont. Clara me olhava com olhos arregalados, segurando a taça como se fosse um microfone de repórter, era óbvio que ela estava feliz por mim.— Espera, espera, espera — ela interrompeu, gesticulando com a mão. — Você está me dizendo que considerou se enterrar no meio do nada, viver uma vida pacata no interior, tipo aquelas histórias de romance cafona onde a protagonista encontra um fazendeiro gostoso, e então do nada... Aston Beaumont aparece de novo? O garoto com quem você fodeu?Revirei os olhos e bebi mais um gole do vinho.— Primeiro, eu não ia morar no meio do nada. Ia ser uma cidade pequena e tranquila. E acredite, não ia ter nenhum
Depois que Clara foi embora, eu tomei o meu banho, me troquei e fui dormir. E depois de uma noite de sono que finalmente não foi interrompida por crises de ansiedade ou pelo peso sufocante do fracasso, acordei com uma leveza estranha naquela manhã. Talvez fosse o vinho. Ou talvez fosse a conversa com Clara, que sempre conseguia me fazer rir, mesmo quando minha vida parecia estar desmoronando e mesmo quando ela parecia querer me enlouquecer no processo.Mas o motivo principal para eu não estar mergulhada em autocomiseração era outro. Eu tinha uma reunião com Aston Beaumont e isso me fazia lembrar que eu tinha conseguido um emprego.Me arrumei sem pressa, vestindo algo que me fizesse parecer profissional, mas também inatingível. Algo que deixasse claro que eu não estava me dobrando a ele, que isso era apenas negócios. O cabelo preso em um coque firme, maquiagem impecável, postura ereta. Eu não ia dar a ele nenhuma brecha para pensar que tinha alguma vantagem sobre mim e principalmente,
— Podemos estar falando a mesma língua, mas... eu tenho uma última pergunta a te fazer.— Diga, — Aston ronronou e por um momento, eu quase cogitei confiar cegamente naquele rostinho bonito.Mas... eu já tinha quebrado demais a minha cara, para voltar a cometer esse tipo de erro. Eu não sabia que ainda existia espaço para me sentir mais enganada. Depois de tudo que Carlos tinha feito, depois de cada mentira desmascarada, eu pensei que meu limite já tinha sido alcançado. Mas aquele desgraçado sempre dava um jeito de se superar.Eu encarei a tela do tablet de Aston por mais alguns segundos, lendo e relendo aquela merda de matéria como se as palavras fossem mudar. Como se, de alguma forma, tudo aquilo fosse um grande mal-entendido e eu estivesse apenas exagerando.Mas não era um mal-entendido.Carlos Ricci estava noivo.Carlos Ricci estava noivo havia duas semanas.Carlos Ricci estava namorando com Amanda Louis havia seis anos.Meu estômago revirou. Minha visão ficou turva. Meu peito ape
Voltei para casa depois daquele encontro com Aston com a cabeça fervendo. Cada passo que eu dava no meu apartamento só aumentava a raiva que eu sentia por Carlos. O desgraçado não só tinha me traído por seis anos inteiros como também teve a audácia de mentir sobre cada detalhe da vida dele. E não era qualquer mentira – não, ele não se contentava com pequenos segredos. Ele forjou uma história inteira. Fez com que eu me apaixonasse por um homem que simplesmente não existia.Só de lembrar disso, meu estômago revirava. E o pior de tudo? Ele me enganou tão bem que eu teria continuado cega se Aston não tivesse jogado essa bomba no meu colo.Amanda Louis. Filha do grande Nicolas Louis. A mulher com quem Carlos estava há seis anos. SEIS. E eu, como uma idiota, achando que éramos algo especial.Me joguei no sofá, soltando um suspiro pesado.O que eu mais queria era acabar com aquele canalha. Mas antes de qualquer coisa, eu queria minha vida de volta. Queria recuperar minha carreira, a minha im
Carlos Ricci me dava nos nervos, não somente porque ele era um mau caráter, mas pela cara de pau dele. Ele era o tipo de homem que me fazia acreditar que a pena de morte, era uma coisa boa — e pior ainda, justificável.Cada novo fato que eu descobria sobre ele, cada merda que ele fazia para tentar manter Adeline debaixo do controle dele, apenas aumentava a vontade de acabar com aquele desgraçado de uma vez, de forma lenta e completamente humilhante.E eu não era o único que estava de saco cheio.— Você precisa parar com isso — Henry disse do outro lado da sala, cruzando os braços enquanto me olhava como se eu fosse um caso perdido. — De verdade, Aston, isso já passou do ponto. Você está obcecado por essa mulher e eu tenho certeza que isso não vai acabar bem. Eu sei que você me trata como se eu fosse o chato aqui, mas convenhamos, eu tenho razão.Revirei os olhos, largando os papeis sobre a mesa. Fotos, mensagens, documentos, tudo que provava que Carlos era um rato imundo. Henry tambor
Eu reconheceria aquele olhar em qualquer lugar.O olhar de um Beaumont quando encontra algo que realmente deseja, eu o conhecia bem até demais.Eu vi esse mesmo olhar no rosto de Alec quando conheceu Camille. Vi quando ele decidiu que faria dela sua esposa, que a teria ao seu lado, independente do que o resto do mundo pensasse e nem mesmo o velhote do pai dele, conseguiu fazer o bastardo mudar de ideia, nem mesmo quando ameaçou tirar dele todo o seu dinheiro. E agora? Agora, eu via esse olhar em Aston Beaumont, enquanto ele observava Adeline Moretti falar.Era interessante.Eu nunca vi Aston levar nada muito a sério, mas agora, ele parecia completamente envolvido na conversa, absorvendo cada palavra que Adeline dizia, como se cada sílaba saindo da boca dela fosse um dado valioso para ele. E talvez fosse mesmo. Porque Aston queria Adeline no hospital dele. Ele queria o nome dela, queria a genialidade dela, queria a competência dela... e, se eu fosse apostar, diria que ele a queria de o
Sim.Eu tinha tido a droga de um sonho erótico com Aston Beaumont.O mesmo Aston Beaumont que estava prestes a se tornar o meu chefe? Exatamente.Mas... agora eu não podia pensar nisso.Eu tinha algo mais importante para lidar. Quando Aston veio me buscar para irmos até Mark Sullivan, eu demorei para acreditar que aquilo ia mesmo acontecer. Mas aconteceu. Nós encontramos ele e finalmente, eu vi que era real.A sensação era como respirar ar puro depois de meses sufocando.Eu tinha passado tanto tempo sendo jogada de um lado para o outro, vendo portas se fecharem antes mesmo que eu pudesse bater, que agora, sentada na minha sala, com uma pilha de livros e artigos médicos à minha frente, eu finalmente sentia que estava de volta ao controle.Mark Sullivan era um homem astuto. Ele enxergava as coisas de um jeito que poucos enxergavam. Quando ele sugeriu que eu expandisse meu nome na área de pesquisa, eu sabia que aquilo fazia sentido. A minha carreira sempre foi baseada no que eu fazia den