Eu nasci um Beaumont e como tal, não estava acostumado a nada que não fosse, excelência. Mesmo assim, tinha dias que o sobrenome da família pesava e era por isso que aquele bar, existia.
No começo era só uma brincadeira de adolescente. Um lugar para beber e relaxar, longe dos paparazzis ou do controle do meu pai. Mas agora? Depois de assumir a empresa da família e me tornar o responsável por tudo, era difícil manter aquele lugar funcionando.
— Vai mesmo fechar? — Henry me perguntou com aquela expressão de incredulidade que deixava claro: ele considerava isso um completo absurdo.
— Estou pensando. Nós dois sabemos que eu não vou ter tempo de vir aqui.
— E? — Ele sorriu, — eu vou.
Bufei.
A ideia de manter o bar não era ruim, mas… um bar vinculado a família Beaumont? Era plausível quando o dono era o filho da família, um playboy irresponsável. Só que agora… com o meu pai morto, meu tio doente e a empresa no meu colo? O tempo de playboy tinha ido de ralo e eu tinha que me tornar o rosto do negócio.
Não caia bem.
— Eu preciso pensar, — murmurei e de canto de olho, eu a vi.
Linda.
Cabelo acima dos ombros, loiro, um corte reto que emoldurava seu rosto, olhos profundamente azuis e aquele queixo delicado. Ela tinha um nariz empinado, um ar de superioridade… porra. Era definitivamente a mulher mais linda que eu já tinha visto em toda a minha vida.
— Whisky duplo, — ela disse e sua voz baixa me fez engolir em seco.
— O que foi? — Henry me perguntou e eu sorri.
— Eu te vejo amanhã, — foi tudo que eu falei, porque a incerteza que eu tinha sobre o bar, era oposta a certeza que eu tinha sobre a minha necessidade de ter aquela mulher nos meus braços, principalmente quando notei o ar de decepção em seu olhar.
Era pra ser um flerte qualquer, mas ela era… sedutora sem ao menos tentar. Tive que arrancar o seu nome entre gemidos ofegantes depois de finalmente a provocar até o limite e depois de uma noite intensa e deliciosa… foi o som irritante do despertador do celular que me tirou do sono profundo, mas não foi isso que realmente me acordou. O que me despertou de verdade no dia seguinte, foi a m*****a sensação de vazio ao meu lado na cama.
A cama estava fria. O lado onde ela deveria estar já não tinha mais o calor do corpo dela. Pisquei algumas vezes, tentando afastar a sonolência, e sentei na cama, passando as mãos pelo rosto. Meu cenário estava completo: um quarto bagunçado, roupas jogadas pelo chão e um copo de whisky vazio no criado-mudo. Mas nada dela.
— Sério? — murmurei para mim mesmo, franzindo o cenho.
Foi quando eu vi. No travesseiro, perto do lugar onde a cabeça dela deveria estar, algumas notas de dólar amassadas repousavam como um maldito insulto. Eu pisquei algumas vezes, tentando absorver o significado daquilo. Então a ficha caiu.
Adeline me deixou.
E pior, deixou dinheiro como se eu fosse um maldito ‘serviço pago’.
Ela me tratou como se eu fosse uma puta barata. Me dar conta disso, só me deixou ainda mais puto. A raiva subiu como um soco no estômago. Eu ri, mas não de diversão. Foi um riso amargo, de pura incredulidade. Ela realmente fez isso comigo? Me tratou como uma aventura barata, um capricho de uma noite?
— Filha da puta... — sibilei entre os dentes, pegando as notas amassadas e as encarando como se fossem a maior afronta da minha vida, porque de fato, ERA.
Parte de mim quis jogá-las no lixo, ignorar essa noite e seguir em frente. Eu não precisava disso. Não precisava de uma mulher que claramente só me usou para afogar suas mágoas em um dia ruim e, em seguida, fugiu como se eu fosse um erro.
Mas a outra parte de mim? A parte que odiava perder, odiava ser descartado, odiava a ideia de ser tratado como qualquer um.
Essa parte queria encontrá-la. Nem que fosse apenas para jogar esse dinheiro na cara dela e dizer que eu não sou o tipo de homem para ficar na parte obscura da sua vida ou escolhas. Não. Eu sou um Beaumont e eu faria Adeline entender isso.
Levantei-me de supetão, sentindo o sangue pulsar rápido em minhas veias. Peguei minhas calças do chão e as vesti com raiva, como se cada movimento me ajudasse a traçar um plano.
Eu ia achar essa mulher.
Nem que eu tivesse que olhar todas as câmeras de segurança daquele bar, rastrear a porcaria da placa do carro dela, ou do táxi que ela pegou. Eu ia encontrá-la. E quando eu a encontrasse...
Bom, ela teria que lidar comigo. E eu não era do tipo que esquecia fácil. Muito menos deixava passar algo assim.
A missão de encontrar Adeline agora era uma questão de honra.
Eu estava furioso. Cada passo que eu dava em direção ao banheiro, cada segundo que eu relembrava a forma como ela simplesmente desapareceu, fazia minha mandíbula travar. A água fria do chuveiro escorria pelo meu corpo, mas nem de longe apagava o calor da raiva que queimava dentro de mim.
Como ela ousou?
Pela primeira vez em muito tempo, eu senti algo diferente com uma mulher. Era mais do que apenas sexo. Era intenso, cru, viciante. E ela simplesmente foi embora? Sem nem ao menos me dar a chance de dizer uma única palavra pela manhã?
— Isso não vai ficar assim. — murmurei para mim mesmo, apertando os olhos enquanto deixava a água cair sobre meu rosto.
Depois de terminar meu banho, vesti roupas limpas que tinha deixado no escritório do bar, calcei meus sapatos e peguei as chaves do carro. Se ela achou que podia desaparecer sem deixar rastros, estava muito enganada e certamente não contava com o fato de que aquele bar onde ela resolveu encher a cara, era meu.
Peguei o telefone e disquei para alguém que sabia que poderia me ajudar. Eu tinha as gravações das câmeras de segurança, então, eu tinha o rosto de Adeline e graças ao pagamento com o cartão de crédito, eu também tinha seu nome completo.
— Preciso de um favor. — Minha voz saiu firme, determinada.
— Que tipo de favor? — a voz do outro lado soou preguiçosa.
— Quero que rastreie alguém para mim. Uma mulher. Quero o endereço, trabalho, tudo. — Falei de forma seca.
— Você sabe que isso é ilegal, né? — o cara do outro lado riu, como se estivesse achando graça.
— E desde quando você se importa com esse tipo de coisa?
O silêncio durou alguns segundos antes do desgraçado rir do outro lado da linha.
— Me mande qualquer informação que tiver dela, eu dou um jeito.
— Ela pegou um táxi saindo do meu bar às 10:30 da manhã. Quero a placa rastreada. Tenho as imagens das câmeras de segurança com o rosto dela e o nome completo, Adeline Moretti. Preciso que me mande tudo que souber sobre ela. — Falei com impaciência.
— Você está bem obcecado, hein? — Ele riu novamente. — O que ela fez? Deu um golpe no seu bar ou te tratou que nem puta?
— Apenas faça o que eu estou mandando. — Minha paciência estava se esgotando e o fato dele ter acertado parcialmente, não facilitava nem um pouco.
— Ok, ok. Me dá algumas horas e te envio as informações.
O tempo parecia se arrastar enquanto eu esperava. Meus dedos tamborilavam impacientes no volante enquanto eu estacionava em frente a sede da empresa. Meu olhar analisava a fachada e minha mente revivia cada momento da noite passada.
Eu não sabia dizer o que me irritava mais: o fato de que ela fugiu ou o fato de que eu me importava com isso a ponto de sequer conseguir pensar direito sobre o meu trabalho.
O celular vibrou no meu bolso. Peguei o aparelho e vi a mensagem que tanto esperava.
Meus olhos correram pelas informações anexadas. Endereço. Contatos. Dados de trabalho. Tudo ali, na palma da minha mão.
Um sorriso lento e satisfeito se formou em meu rosto.
Eu faria Adeline Moretti… ver que não se deixava alguém como eu, largado de qualquer forma.
Hoje era para ser um dia perfeito, pelo menos na teoria.Eu estava empolgada, ansiosa e com borboletas no estômago como não sentia desde a minha adolescência e considerando que eu já tinha 35 anos… isso fazia um bom tempo. Mas o fato era que mesmo depois de tanto tempo juntos, eu ainda sentia aquele friozinho na barriga quando pensava em Carlos. Ele tinha me pedido em noivado no final da residência e desde então, tudo tinha sido uma completa correria. Vida de médico não era fácil e eu sempre soube disso, mas… ele era meu futuro, meu chefe (desde que finalmente conseguiu a promoção que queria como staff no Sant Luis), e claro, meu porto seguro.Ou pelo menos era o que eu pensava.Com um sorriso bobo nos lábios, caminhei apressada pelos corredores do hospital depois de finalmente ter encerrado o meu plantão, eu estava segurando a sacola com o presente que eu tinha escolhido com tanto carinho para comemorarmos juntos essa noite, o nosso aniversário de noivado. Um relógio de luxo que ele
Eu não conseguia parar de pensar na cena que tinha acabado de presenciar. Quanto mais eu lembrava, mais eu sentia meu sangue ferver. O som das risadas abafadas, o cheiro barato do perfume daquela enfermeira, a expressão irritada do Carlos, como se eu fosse a errada da história e a cara de pau dele de dizer na minha cara que eu estava ficando “velha” e que era por isso, que ele estava me traindo com uma enfermeira que mais parecia uma ninfeta.Meu coração martelava no peito, e minha cabeça latejava. Eu precisava fazer alguma coisa. Eu precisava esquecer e por mais que Clara tivesse dito que viria me buscar, eu não queria falar com ninguém. Não agora.E se existia um jeito infalível de esquecer uma merda de traição e uma demissão no mesmo dia, esse jeito envolvia muito, mas muito álcool, então, me levantei da droga do banco, peguei minhas chaves e dirigi para longe daquela porcaria de hospital.Girei e girei pelas ruas da Itália até finalmente encontrar um bar que fosse desconhecido par
O gosto do whisky ainda queimava na minha língua quando aquele garoto me empurrou contra a parede do pequeno quarto dos fundos do bar. O lugar era apertado, cheirava a madeira velha e álcool derramado, mas eu não estava me importando nem um pouco. Minha cabeça girava, e eu não sabia se era por causa do álcool ou da forma como as mãos dele deslizavam pelo meu corpo com tanta facilidade, como se já soubesse exatamente onde tocar.— Está com pressa? — provoquei, arfando, sentindo as mãos dele descerem pelas minhas coxas, puxando minha saia para cima.— Você não? — Ele sorriu, aquele maldito sorriso convencido que me fez querer socá-lo e beijá-lo ao mesmo tempo.Eu ri, mas o som virou um suspiro entrecortado quando ele segurou minha cintura e me ergueu. Em um segundo, minhas costas estavam pressionadas contra a porta e minhas pernas estavam enroscadas na cintura dele. A urgência nos nossos movimentos fazia tudo parecer ainda mais insano. Minha cabeça gritava que era loucura, mas meu corpo
A primeira coisa que eu senti ao acordar foi a dor de cabeça. Uma pontada latejante que parecia castigar cada canto do meu cérebro. A segunda coisa foi o peso de um braço desconhecido sobre a minha cintura.Abri os olhos devagar, piscando contra a claridade suave que entrava pela fresta da cortina. Meu corpo inteiro estava dolorido, mas não de um jeito ruim. Um jeito que denunciava exatamente o que aconteceu na noite passada e porra, era óbvio que tinha sido bom.E foi nesse momento que uma terceira coisa me atingiu em cheio.— Ah, merda... — murmurei, minha voz saindo rouca.Minha cabeça virou devagar, como se meu próprio corpo se recusasse a confirmar o que meu cérebro já sabia. Eu tinha feito uma merda sem tamanho.O ninfeto da noite anterior, um garoto que deveria ter no máximo, 27 anos , completamente nú, dormindo ao meu lado como se não tivesse um único problema na vida.A porra do ninfeto que eu jurei ignorar.Respirei fundo, tentando conter o desespero que começava a subir pel