Hoje era para ser um dia perfeito, pelo menos na teoria.
Eu estava empolgada, ansiosa e com borboletas no estômago como não sentia desde a minha adolescência e considerando que eu já tinha 35 anos… isso fazia um bom tempo. Mas o fato era que mesmo depois de tanto tempo juntos, eu ainda sentia aquele friozinho na barriga quando pensava em Carlos. Ele tinha me pedido em noivado no final da residência e desde então, tudo tinha sido uma completa correria. Vida de médico não era fácil e eu sempre soube disso, mas… ele era meu futuro, meu chefe (desde que finalmente conseguiu a promoção que queria como staff no Sant Luis), e claro, meu porto seguro.
Ou pelo menos era o que eu pensava.
Com um sorriso bobo nos lábios, caminhei apressada pelos corredores do hospital depois de finalmente ter encerrado o meu plantão, eu estava segurando a sacola com o presente que eu tinha escolhido com tanto carinho para comemorarmos juntos essa noite, o nosso aniversário de noivado. Um relógio de luxo que ele vinha comentando fazia meses. Não era um presente barato, mas eu não me importava, principalmente porque eu ganhava muito bem. E ele merecia. Afinal, ele estava sempre ocupado, sempre sobrecarregado. Eu queria mostrar o quanto o valorizava.
Mas a vida tem uma forma cruel de esfregar a verdade (aquela que nunca queremos enxergar) bem na nossa cara.
A secretária de Carlos que sempre me via e sorria antes de avisá-lo que eu estava entrando, — não estava lá como de costume e isso já deveria ser o suficiente para me afastar, mas… eu vi a luz acesa na sala dele, vi as persianas ainda fechadas, com frestas iluminadas pela luz forte e branca e sem pensar muito, eu ignorei os sinais de alerta. A estranheza.
Quando cheguei à porta do escritório dele, notei que estava entreaberta. Ouvi risadas abafadas. Meu coração acelerou, e uma pontinha de desconfiança se instalou em meu peito.
Eu não queria pensar besteira. Ele não faria isso comigo. Não depois de tudo e eu certamente já não era uma criança para ficar criando teorias mirabolantes na minha mente.
Mas quando empurrei a porta, minha realidade despencou de uma vez só, porque nada do que pensei que poderia ver, poderia ser pior do que aquela m*****a imagem.
Carlos estava ali. Com outra mulher.
Uma das enfermeiras. Semi nua, sentada sobre a mesa, com as pernas ao redor da cintura dele. Os corpos colados. As bocas grudadas e eu conseguia ver da porta, o pau dele entrando nela.
Não era um mal entendido e muito menos, uma situação que se pudesse explicar. Era uma traição, simples e clara.
O chão desapareceu sob meus pés. O ar sumiu dos meus pulmões. Senti um gosto amargo na boca, como se tivesse engolido veneno.
Ele me traiu.
Ele. Me. Traiu.
O barulho do presente caindo no chão os fez se separarem. A enfermeira arregalou os olhos e tentou cobrir o corpo com as próprias mãos. Já Carlos...
Carlos não teve nem a decência de parecer arrependido.
— Que porra é essa, Adeline?! — ele vociferou, ajeitando a calça como se EU tivesse feito algo errado. — Por que não bateu antes de entrar?!
A audácia desse homem! Até onde iria?
Meus olhos arderam, mas eu me recusei a derramar uma lágrima sequer. Eu não daria esse gostinho para ele. Em vez disso, eu me forcei a rir. Um riso amargo, incrédulo, cheio de raiva.
— Ah, desculpa! — ironizei. — Eu não sabia que precisava marcar horário para flagrar meu suposto noivo me traindo no meio do expediente!
— Você está exagerando! — ele rebateu, como se fosse o absurdo da história, — e não me venha com ironias quando invade o escritório do seu chefe.
— Exagerando? — Minha voz saiu afiada. — Carlos, eu te peguei com essa mulher, no SEU ESCRITÓRIO, e a errada sou eu?!
A enfermeira continuava calada, encolhida no canto, como se quisesse desaparecer. Eu não a culpava. No fim das contas, o errado ali era ele.
Carlos cruzou os braços e me olhou com impaciência.
— Olha, Adeline, você já sabia que nosso relacionamento estava desgastado com toda essa correria, eu precisava me aliviar. Isso não é nada demais. São apenas... coisas que acontecem. Então não crie um grande caso com algo tão bobo. — Ele disse com descaso, — todos sabem que homens como eu… cheios de energia, precisam pegar umas novinhas de vez em quando. Ou você acha mesmo que pode dar conta de alguém como eu, quando já está quase com 40 anos?
Eu ri de novo, incrédula com a cara de pau que ele parecia ter. Como diabos eu nunca reparei nisso? Como não notei essa falta de caráter no homem com quem eu pretendia me casar?
— "Coisas que acontecem"? Cheio de energia? É assim que você justifica sua traição? Francamente Carlos…
— Francamente digo eu! — Ele me cortou, — já disse que não é nada demais, porque diabos você insiste nessa droga de assunto? Chega. Se você quiser fazer caso com essa situação, que faça sozinha. Eu tenho pacientes para atender.
Ele praticamente rosnou aquelas palavras em minha direção e sem pensar muito, abotoar sua camisa e colocou o jaleco, pronto para me abandonar ali sozinha, sem um pingo de peso na consciência ou bom senso.
Meu sangue ferveu. Como ele podia ser tão frio, tão descarado? Meu coração estava despedaçado, minha vida inteira virando de cabeça para baixo, e ele agia como se eu fosse apenas um incômodo passageiro?
Eu inspirei fundo. Me acalmei. Eu não ia gritar. Não ia chorar.
Ia acabar com isso de uma vez.
— Quer saber, Carlos? Vai se foder.
Ele arqueou as sobrancelhas, surpreso.
— Eu estou me demitindo. Agora mesmo. Porque eu não vou passar mais um segundo da minha vida nesse hospital olhando para a sua cara nojenta, enquanto você me faz de palhaça e fode com as enfermeiras pelos cantos.
— Adeline! Você não pode fazer isso! — Ele esbravejou, — não ouse! Você é a porra da minha chefe de cirurgia! Como espera que eu-...
— Isso é um problema seu, — rosnei e sem olhar para trás, saí daquela sala e o larguei falando sozinho.
Eu sabia que ele surtaria, sabia que isso prejudicaria o hospital, mas naquele exato momento, eu não conseguia pensar em absolutamente mais nada. Tudo que me vinha à mente era o fato de que Carlos nunca me mereceu e jamais poderia merecer uma sequer das minhas lágrimas.
O vento frio da noite bateu no meu rosto assim que saí do hospital. Meus passos estavam apressados, meu coração ainda martelando dentro do peito. Eu me sentia traída, humilhada, destruída. E agora… eu também estava desempregada.
Era engraçado como, em questão de minutos, minha vida tinha virado de cabeça para baixo. O que antes era amor, agora era uma ferida aberta, sangrando, pulsando de dor.
Sentei-me no banco da praça em frente ao hospital e passei as mãos pelo rosto. Eu não podia surtar ali. Não podia dar esse gostinho para ninguém. Mas o nó na minha garganta era sufocante.
Meu telefone vibrou dentro da bolsa. Peguei o aparelho e vi o nome de minha melhor amiga, Clara, brilhando na tela.
— Amiga? — ela atendeu na mesma hora. — Você tá bem? O que aconteceu? Richard disse que você saiu praticamente correndo do hospital depois de uma briga com Carlos.
Eu não consegui responder de imediato. Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos.
— Ele me traiu, Clara. — Minha voz saiu rouca, embargada.
O silêncio do outro lado foi cortado por um xingamento.
— Aquele desgraçado! Eu sempre soube que ele não prestava! Onde você está?
— Aqui na frente do hospital. Eu me demiti, Clara. Joguei tudo para o alto.
— Eu estou indo te buscar AGORA. Não sai daí!
Desliguei o telefone e encostei a cabeça no encosto do banco. Eu queria apagar aquele dia. Queria dormir e acordar em uma vida nova, onde Carlos Ricci não existia mais, onde tudo isso não passava de uma brincadeira de mal gosto, de um sonho ruim.
Mas talvez... talvez esse fosse o começo de algo melhor. Eu só não sabia ainda.
Eu não conseguia parar de pensar na cena que tinha acabado de presenciar. Quanto mais eu lembrava, mais eu sentia meu sangue ferver. O som das risadas abafadas, o cheiro barato do perfume daquela enfermeira, a expressão irritada do Carlos, como se eu fosse a errada da história e a cara de pau dele de dizer na minha cara que eu estava ficando “velha” e que era por isso, que ele estava me traindo com uma enfermeira que mais parecia uma ninfeta.Meu coração martelava no peito, e minha cabeça latejava. Eu precisava fazer alguma coisa. Eu precisava esquecer e por mais que Clara tivesse dito que viria me buscar, eu não queria falar com ninguém. Não agora.E se existia um jeito infalível de esquecer uma merda de traição e uma demissão no mesmo dia, esse jeito envolvia muito, mas muito álcool, então, me levantei da droga do banco, peguei minhas chaves e dirigi para longe daquela porcaria de hospital.Girei e girei pelas ruas da Itália até finalmente encontrar um bar que fosse desconhecido par
O gosto do whisky ainda queimava na minha língua quando aquele garoto me empurrou contra a parede do pequeno quarto dos fundos do bar. O lugar era apertado, cheirava a madeira velha e álcool derramado, mas eu não estava me importando nem um pouco. Minha cabeça girava, e eu não sabia se era por causa do álcool ou da forma como as mãos dele deslizavam pelo meu corpo com tanta facilidade, como se já soubesse exatamente onde tocar.— Está com pressa? — provoquei, arfando, sentindo as mãos dele descerem pelas minhas coxas, puxando minha saia para cima.— Você não? — Ele sorriu, aquele maldito sorriso convencido que me fez querer socá-lo e beijá-lo ao mesmo tempo.Eu ri, mas o som virou um suspiro entrecortado quando ele segurou minha cintura e me ergueu. Em um segundo, minhas costas estavam pressionadas contra a porta e minhas pernas estavam enroscadas na cintura dele. A urgência nos nossos movimentos fazia tudo parecer ainda mais insano. Minha cabeça gritava que era loucura, mas meu corpo
A primeira coisa que eu senti ao acordar foi a dor de cabeça. Uma pontada latejante que parecia castigar cada canto do meu cérebro. A segunda coisa foi o peso de um braço desconhecido sobre a minha cintura.Abri os olhos devagar, piscando contra a claridade suave que entrava pela fresta da cortina. Meu corpo inteiro estava dolorido, mas não de um jeito ruim. Um jeito que denunciava exatamente o que aconteceu na noite passada e porra, era óbvio que tinha sido bom.E foi nesse momento que uma terceira coisa me atingiu em cheio.— Ah, merda... — murmurei, minha voz saindo rouca.Minha cabeça virou devagar, como se meu próprio corpo se recusasse a confirmar o que meu cérebro já sabia. Eu tinha feito uma merda sem tamanho.O ninfeto da noite anterior, um garoto que deveria ter no máximo, 27 anos , completamente nú, dormindo ao meu lado como se não tivesse um único problema na vida.A porra do ninfeto que eu jurei ignorar.Respirei fundo, tentando conter o desespero que começava a subir pel
Eu nasci um Beaumont e como tal, não estava acostumado a nada que não fosse, excelência. Mesmo assim, tinha dias que o sobrenome da família pesava e era por isso que aquele bar, existia. No começo era só uma brincadeira de adolescente. Um lugar para beber e relaxar, longe dos paparazzis ou do controle do meu pai. Mas agora? Depois de assumir a empresa da família e me tornar o responsável por tudo, era difícil manter aquele lugar funcionando.— Vai mesmo fechar? — Henry me perguntou com aquela expressão de incredulidade que deixava claro: ele considerava isso um completo absurdo. — Estou pensando. Nós dois sabemos que eu não vou ter tempo de vir aqui.— E? — Ele sorriu, — eu vou. Bufei.A ideia de manter o bar não era ruim, mas… um bar vinculado a família Beaumont? Era plausível quando o dono era o filho da família, um playboy irresponsável. Só que agora… com o meu pai morto, meu tio doente e a empresa no meu colo? O tempo de playboy tinha ido de ralo e eu tinha que me tornar o rost