Tudo para te conquistar, senhora Bayer
Tudo para te conquistar, senhora Bayer
Por: Cristina Cristey
1: Perda

Introdução.

Cedrick tinha catorze anos e, em todos esses anos de vida, conhecia apenas uma existência complicada, apesar de pertencer a uma família poderosa. Agora, mais uma vez, estava preso em seu quarto, cansado das punições de seu pai. Ele passava a vida tentando proteger sua mãe, mesmo sendo rejeitado e desprezado por ela desde a infância. Ela nunca demonstrava compaixão, nem mesmo quando ele era castigado por defendê-la dos ataques do marido.

Após três dias preso sem comida, Cedrick finalmente foi liberado, embora estivesse tão fraco que mal conseguia andar. Todos poderiam imaginar que ele iria direto para a cozinha, mas ele desviou o caminho, indo em direção a um quarto no final do corredor. Ao chegar lá, hesitou antes de girar a maçaneta, como se tivesse medo do que pudesse encontrar. Respirando fundo, bateu suavemente na porta e esperou por uma resposta. Logo ouviu algo sendo arremessado contra a madeira e soltou um suspiro de alívio.

— Herdeiro Romanov, você precisa se alimentar. Seu pai disse que, assim que saísse do quarto, era para levá-lo diretamente à cozinha. Não pode ver a senhora. — A criada segurou o braço de Cedrick, que estava pálido e sem forças, com a cabeça apoiada na porta.

Ele foi então levado à cozinha e, contra a própria vontade, obrigado a se alimentar. Passou o restante da manhã até o anoitecer em seu quarto, deitado na cama e sendo cuidado pelos empregados. Cedrick já havia perdido a conta de quantas vezes fora confinado ali — ao menos três ou quatro vezes por mês, sempre por três dias de isolamento.

Apesar das ordens severas de seu pai de não intervir nas brigas entre ele e sua mãe, Cedrick insistia em defendê-la todas as vezes que era humilhada ou agredida. Sua intervenção resultava em novas punições, a ponto de mal conseguir ficar de pé.

Quando a noite chegou, os empregados vieram buscá-lo, todos com a mesma expressão de insegurança e temor ao encarar o rapaz magro e debilitado.

— Senhor Romanov ordenou que você se arrumasse. Há um jantar especial; ele quer lhe apresentar uma pessoa. — Um dos empregados anunciou, desviando o olhar.

Cedrick percebeu a expressão de desconfiança nos rostos deles e soube, de imediato, que havia algo errado. Os empregados o ajudaram a se arrumar. As roupas que escolheram indicavam que o evento naquela noite seria memorável.

Cedrick foi acompanhado até o salão de jantar. Os outros empregados estavam alinhados ao longo da grande mesa, frente a frente com o senhor Romanov e sua esposa.

— Sente-se. Tenho um anúncio a fazer. — O senhor Romanov ordenou, enquanto Cedrick, confuso, permanecia em silêncio. Apesar de ser seu pai, ele sentia pavor e desprezo pelo homem.

— Não fique chateado comigo. Tudo que ensino é para o seu bem. Precisa entender que não deve defender quem o maltrata. — Comentou, com frieza.

— Eu posso defender minha mãe, quantas vezes for necessário. Eu vou defendê-la. — Cedrick murmurou baixinho.

— Enfim... esta será a nova senhora Romanov. Ela também espera um novo herdeiro Romanov, então você não será filho único. — Declarou, batendo a colher levemente contra a taça para que os empregados servissem a mesa.

— Como assim "nova senhora"? Onde está minha mãe? Você está casado com ela e agora diz que esta mulher é a nova senhora? — Perguntou, a respiração irregular, com medo do que seu pai poderia ter feito à sua mãe.

— Está com medo que eu tenha me livrado dela? Não se preocupe, não vou lhe dar o gostinho de me ver livre.

— E onde ela está? — Insistiu Cedrick, enquanto seu pai sorria, observando uma empregada entrar na sala com uma bandeja.

Cedrick ficou sem reação ao ver que a mulher era sua mãe, vestida como uma empregada. Ela se aproximou, evitando olhar para eles, sem expressão alguma; até mesmo seus olhos pareciam vazios.

— Mãe... — murmurou Cedrick, enquanto ela colocava a bandeja na mesa. Suas mãos trêmulas fizeram com que derrubasse tudo no chão, inclusive a garrafa de vinho.

— Parece que você só me serviu para me dar um filho, não é? — O senhor Romanov murmurou, impaciente, enquanto ela ficava ali, paralisada, apertando os olhos de medo. — Sabe quanto custa essa garrafa de vinho? Como vai pagar? — Perguntou, agora irritado.

— Você me deve muito mais. O valor de uma vida não tem preço, seu desgraçado! — Ela gritou, recebendo um tapa que a fez cair no chão. Cedrick se levantou, empurrando o pai, criando mais um motivo para sua irritação.

— Você nunca vai aprender? Quer morrer!? — Asseverou o pai, esbofeteando Cedrick, que já não tinha forças para enfrentá-lo.

— Querido, por favor... não é o momento de brigar. — A nova senhora Romanov tentou intervir, assustada com a agressividade do homem.

— Eu não sou seu filho. Estou cansado dessa vida. Se quer uma nova mulher, deixe a minha mãe em paz, liberte-a e nos deixe ir embora. — Cedrick suplicou, mas o pai apenas riu.

— Você não vai a lugar algum. Ainda mais sendo meu sucessor. Prepare-se para assumir meu lugar e, para isso, vai precisar abrir mão de defender essa mulher! — Afirmou com firmeza.

— Nem morto. Não vou desprezar minha mãe. Você é a única coisa que eu desprezo. — Cedrick afirmou, resoluto.

— Se não me for útil, em breve terá um destino pior que o dela.

— Vai mandar seus capangas me matarem? Eu não quero suceder o seu posto na máfia, nem herdar suas empresas. Quero que você caia em desgraça... — Sua voz foi interrompida por um tapa, e seu pai hesitou, quase socando-o antes de se controlar.

Senhor Romanov conteve sua raiva, observando a fraqueza do filho, que insistia incansavelmente em defender a mãe, e saiu da sala levando sua nova esposa.

Cedrick ficou sentado no chão, enquanto sua mãe começava a recolher os cacos de vidro.

— Eu te ajudo. — Disse Cedrick, pegando os pedaços de vidro.

— Por que não cuida da sua vida? — Ela perguntou, com a voz cansada.

— Só quero te proteger.

— Proteger? Eu vivo esse inferno por sua causa. Nunca quis ter você. Por que não me deixa em paz? Nunca te amei. Vivo escondendo a verdade: você veio de um abuso, de uma união forçada e humilhante. Ele matou minha família para ficar comigo, enganou minha irmã até levá-la ao suicídio. Ele trouxe ruína à minha família apenas pelo desejo de poder. — Ela falava com desprezo, enquanto Cedrick, chocado, ouvia, incapaz de conter as lágrimas.

— O que está dizendo? — Perguntou, a voz falha, as lágrimas escorrendo.

— Você é um maldito bastardo nascido de um abuso. Desde o dia que nasceu, eu só queria que você morresse. Olhar para você é me lembrar de tudo que passei. — Ela respondeu, com repulsa. — Você nunca será um filho para mim. Então, pare de se colocar no meio. Acha que eu ficaria triste se você morresse? Na verdade, só de pensar nisso, me sinto feliz.

— Chega! — Ele gritou, levando as mãos à cabeça, enquanto o mundo parecia desmoronar ao seu redor.

Desesperado e arrasado, Cedrick passou pela sala onde seu pai o esperava, com uma expressão divertida no rosto.

— Eu não quero nada seu, eu odeio essa família! Nunca mais voltarei a esse lugar! — asseverou Cedrick, e, quando os seguranças tentaram segurá-lo, seu pai fez um sinal para que o deixassem ir.

Ao sair da mansão, Cedrick não fazia ideia do perigo de estar sozinho. Com seu pai sendo um chefe de máfia influente e odiado por muitos, ele se tornava um alvo fácil. Caminhava sem rumo, perdido em pensamentos, até perceber que estava sendo seguido. Em um beco deserto, sentiu uma dor excruciante nas costas, e uma quantidade assustadora de sangue escorreu, enquanto uma voz furiosa murmurava:

— Seu bastardo! Morra! — o homem vociferou.

Logo em seguida, Cedrick ouviu o grito agudo de uma mulher, e o agressor se afastou abruptamente, caindo ao seu lado. A última imagem que ele viu antes de tudo escurecer foi o rosto de uma jovem, que o segurava e tentava mantê-lo acordado.

Após ser socorrido e ficar entre a vida e a morte, Cedrick despertou cinco dias depois, ainda com muitas dores. A única lembrança vívida era o rosto da mulher que o salvara.

Ela nunca mais apareceu, e, ao longo dos dez anos que se passaram, ele passou a considerá-la um "anjo" que o resgatara naquela noite.

Tentando seguir em frente, ele relegou o ataque ao passado, sem nunca entender a razão da violência ou o destino do agressor.

Enquanto isso, a mulher que o salvara também enfrentava as marcas daquele dia fatídico. Nos anos que se seguiram, a vida dela se tornou uma montanha-russa de sorte e azar, mas, recentemente, as ondas de infortúnio pareciam cada vez mais intensas.

Naquela noite, em seu apartamento, ela acordou de repente no chão, com uma dor aguda dilacerando-lhe o abdômen. A dor era tão avassaladora que a impedia de se mover, deixando-a praticamente imóvel. Com esforço, estendeu uma mão trêmula em direção ao celular, que estava ao seu lado, sua única esperança de pedir ajuda.

/ Preciso de ajuda... — ela balbuciou com dificuldade em seguida a ligação foi abruptamente interrompida.

Cinco minutos tortuosos se passaram, uma eternidade para ela, que se sentia cada vez mais fraca e desesperada.

De repente, o barulho ensurdecedor da porta sendo arrombada a tirou de seus devaneios.em razão de segundos ela viu vultos de homens entrando em seu apartamento, reconheceu logo após ser bombeiros e ficou aliviada, mesmo que a situação fosse preocupante, ela não tinha percebido a poça de sangue que tinha se forçado embaixo dela.

O branco do quarto do hospital era ofuscante, contrastando com a visão embaçada de Lavínia. O bip constante do aparelho a lembrava da situação desesperadora que se enfiou. Aos poucos, sua consciência retornava, trazendo consigo a lembrança do acidente e a angústia daqueles momentos. Seus olhos se encontraram com os de sua amiga, que a observava com preocupação.

— Você está bem? — a amiga perguntou, sua voz carregada de emoção. Lavínia tentou sorrir, mas a dor a impediu.

— Por que não me contou? — ela perguntou, a voz carregada de reprovação, e em seguida se virou, demonstrando sua inquietação.

— O que aconteceu? — Lavínia questionou, confusa, tentando entender a gravidade da situação.

— O que aconteceu? Como assim? Porque não contou que estava grávida? porque só vim saber disso quando já estava com três meses de gestação? E ainda pior, quando perdeu o bebê? — sua amiga disse sem cautela, a voz embargada. Lavínia sentiu o chão se abrir sob seus pés. O mundo ao seu redor começou a girar.

— Está dizendo que... — ela não conseguiu completar a frase. A pressão em seu peito aumentou, e seus olhos se fecharam. As lágrimas continuaram a escorrer pelo seu rosto, enquanto ela desmaiava novamente.

Ao abrir os olhos, a escuridão a envolveu como um manto pesado. A dor latejava em suas têmporas, um martelo insistente martelando suas têmporas. A memória da noite anterior, fragmentada e aterrorizante, retornava aos poucos, trazendo consigo a amargura da perda e a angústia da incerteza. A notícia da perda do filho a atingiu como um soco no estômago. A dor física era intensa, mas a emocional a consumia por inteiro. Sentiu-se despedaçada, um quebra-cabeça com peças faltantes.

[...]

— Tenho que sair, desde ontem que meus pais ligam, preciso saber o que está acontecendo. — Lavínia avisou, a voz embargada pela emoção. Sabia que deveria descansar que sua amiga tinha razão, mas uma força interior a impulsionava para fora.

— Não mesmo! Eles que precisam saber o que está acontecendo com você agora! Além do fato de que você não contou realmente o que aconteceu, eu não acredito que você tenha se machucado assim com uma queda. — sua amiga insistiu, os olhos marejados de preocupação.

Lavínia a encarou, a determinação nos olhos. Sabia que sua amiga tinha razão, mas a necessidade de enfrentar seus pais era mais forte.

Respirando fundo, levantou-se da cama, a dor no tornozelo latejando a cada movimento. Vestiu o sobretudo, cobrindo as marcas em seus braços, e saiu do quarto ignorando sua amiga.

Com cada passo, sentia a dor se intensificar, mas ignorava-a. O frio da noite a envolveu como um abraço gélido, Abaixou a cabeça, tentando esconder o rosto pálido e os olhos inchados. Por trás dos óculos escuros, ninguém poderia ver a fragilidade que a consumia, naquele momento ela sentia uma enorme vontade de ver seus pais como uma criança desesperada e sem saída.

Assim que ela entrou no jardim e seguiu ao encontro de seus pais, seu brilho se apagou ao ver suas caras, sua mãe estava emburrada e seu pai com cara de desânimo, ela suspirou pesadamente e parou na frente deles se mantendo forte.

— O que esta acontecendo? — ela perguntou sentindo o peito apertar sem ânimo para mais uma discussão.

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