Cap. 1
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— Já haviam se passado três meses, mas a dor ainda era cruelmente fresca para Lavínia. Por fora, ela mantinha a compostura impecável, mas, por dentro, sentia-se devastada, como se uma parte de si mesma tivesse sido arrancada à força. A possibilidade do que poderia ter sido — e do que havia perdido — a assombrava em silêncio, após ter enfrentado um dos piores momentos de sua vida.
Foi para Zara que Lavínia ligou, com a voz entrecortada de desespero, pouco antes de perder a consciência no chão frio. Zara chegou a tempo de socorrê-la, sem entender o que havia acontecido e por que havia tanto sangue e machucados.
O aborto foi um golpe devastador, mas o peso das mentiras que contou para proteger a si mesma parecia ainda mais sufocante.
Agora, Lavínia se agarrava à carreira como uma tábua de salvação. Cada sorriso forçado, cada reunião bem-sucedida era uma armadura cuidadosamente polida para esconder o trauma. Mas Zara sentia o peso que a amiga carregava, mesmo que Lavínia nunca se abrisse para aliviar o que a atormentava. Para tentar ajudá-la, Zara fazia de tudo para distraí-la — e, naquele dia, preparava uma de suas ideias mais extremas.
— Isso vai dar mesmo certo? — uma das moças que Zara levou para ajudar perguntou, receosa.
— Claro. Só me ajude a tirá-la daquele escritório, ou vamos acabar perdendo nossos empregos se ela não conseguir relaxar — respondeu Zara, pisando no acelerador.
— Como uma mulher com menos de trinta anos pode ser tão louca? — outra comentou, encolhida no banco, preocupada.
— É para o bem dela. Hoje, Lavínia vai esquecer os problemas e relaxar um pouco.
Assim que chegaram à empresa, o novo prédio ainda parecia um labirinto para elas. Logo, porém, estavam no andar superior, diante da sala de Lavínia. As paredes de vidro revelavam a figura esbelta e elegante da mulher andando de um lado para o outro, seus cabelos castanhos ondulados esvoaçando enquanto ela ia de estante em estante, pegando folhas e mais folhas e formando uma pilha.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Lavínia perguntou, confusa.
— Vamos! — Zara disse, aproximando-se e pegando Lavínia pelo braço, puxando-a para fora. As outras moças ajudaram, arrastando-a para fora do prédio, sem dar tempo para explicações. Zara continuava a puxá-la até que ela estivesse dentro do carro.
— O que você está aprontando desta vez? — Lavínia questionou, desconfiada, conhecendo bem a amiga.
— Nunca mais dançamos, bebemos ou nos divertimos! Eu planejei uma festa para comemorar a mudança da nossa empresa. Compramos um prédio famoso e agora somos uma empresa de grande porte! — Zara discursava com entusiasmo. — Isso não merece comemoração?
— Bom... — Lavínia olhou o relógio de maneira meticulosa. — Está tendo um jantar da empresa agorinha.
— Sem jantar. Vamos a uma festa bem melhor — asseverou Zara, pisando fundo no acelerador.
— Que tipo de festa? — Lavínia perguntou, mas Zara apenas aumentou o som, ignorando a curiosidade da amiga, enquanto as outras moças no banco de trás riam e cantavam junto.
A música suave preenchia o ambiente, e Lavínia observava o reflexo no espelho do carro. Seu semblante, marcado pelo cansaço, tentava esconder a inquietação.
— Vai me contar agora ou só quando chegarmos? — perguntou Lavínia, arqueando uma sobrancelha.
— Se eu contar, estrago a surpresa. Só relaxa. Você precisa disso — respondeu Zara, animada, sem tirar os olhos da estrada.
Lavínia suspirou, ajustando o casaco que escondia sua figura um pouco pálida, marcada pela ausência de apetite e pelas noites mal dormidas.
Quando chegaram ao local, Lavínia se surpreendeu. Suspirou aliviada ao perceber que estavam indo para um prédio familiar. Mas, ao entrar no elevador, sua sensação de alívio deu lugar à desconfiança. Assim que abriram a porta da suíte presidencial, a música alta e as luzes intensas quase a cegaram.
— Surpresa! — gritaram em coro.
Lavínia congelou, olhando ao redor. Um grupo de mulheres aguardava na entrada, todas com taças nas mãos e roupas de festa. Zara a arrastou para dentro, acompanhada pelas outras.
— O que é isso? — Lavínia perguntou, atônita, mas sua voz foi abafada pela música.
— Hoje é o dia de você esquecer os problemas! — Zara respondeu, já começando a dançar.
Era a última coisa que Lavínia queria naquele momento. Mas, conhecendo Zara, sabia que seria difícil parar a amiga agora que ela havia começado.
Cap:2Tinha tantas pessoas ao redor, dançando e aproveitando a festa, que Lavínia mal encarava a amiga demonstrando toda a sua frustração após ter sido levada ate um canto e obrigada a se sentar no sofá com uma mesa a sua frente com todos os tipos de bebidas. O espaço em que ela estava foi envolto em uma aura fria e pouco amigável, afastando até mesmo olhares para não atrair seu mau-humor dela para a festa.— A ignorem! Mesmo que sejamos funcionários dela, hoje é o dia em que podemos curtir sem nos preocupar com a ranzinza nos dando bronca. — sua amiga gritou, tentando quebrar o desconforto dos convidados. Em poucos segundos, a música estava alta e todos bebiam e se divertiam, exceto Lavínia que tentava buscar uma forma de sair dali sem chamar atenção.Ainda assim, mesmo com todos os distraídos, sua intenção de fuga era sempre frustrada, já que sua amiga a impedia barrando sua passagem a fazendo voltar ao seu lugar então ela não teve outra alternativa a não ser se sentar e relaxar e
Cap: 3— Está falando sério? — Zara perguntou com os olhos brilhando. Lavínia engoliu em seco e confirmou mais uma vez.— Ah... Está mentindo, eu te conheço. — Zara asseverou, percebendo a oscilação da amiga.— Você está me chamando de mentirosa? — Lavínia perguntou, cética, se afastando da amiga enquanto dava de ombros, seguindo em direção ao rapaz distraído, encostado na parede próxima à sua porta.Ele se virou por acaso e franziu o cenho ao ver Lavínia vindo em sua direção com um olhar determinado e um sorriso de canto.— Eu te ligo daqui a pouco, parece que está acontecendo alguma situação nova. — Ele avisou rapidamente antes de encerrar a ligação.— Ah... Você esperou muito? Conseguiu encontrar o quarto rapidamente. Por que não me esperou lá dentro? — Ela perguntou, sorrindo desconcertada, enquanto o encarava com olhos alarmados, praticamente implorando por ajuda, enquanto Zara observava curiosa.Lavínia segurou no braço do rapaz, ao mesmo tempo em que ele tentava entender o que e
Cap: 4— Não estou tentando te atingir, afinal eu não disse nada alem da verdade, deixa eu pensar... — ele murmurou, olhando ao redor com desinteresse, fingindo estar impressionado. — Pelo que eu ouvi, sua amiga fez essa festa para você, e agora você está nesse quarto de luxo... E... — Ele parou de falar ao ver o porta-retrato de formatura com Zara e Lavínia de alguns anos atrás. — Ah... você é a amiga pobre da amiga rica, que pode usufruir das festas e do apartamento de luxo dela. — deduziu ao mesmo tempo que fixou seu olha no retrato antigo de Lavínia por alguns segundos como se tivesse vendo algo familiar.— Ah... — Lavínia perdeu as palavras, encarando-o surpresa. — É exatamente isso. Então não pense que estou desesperada, estou apenas querendo fugir disso e ir embora. — Ela disse, gaguejando, fazendo-o rir.— Pelo que ouvi... A forma como ela falava, você deve ser bem amarga, a ponto de ela preparar uma festa com vários homens para te seduzir. — Ele debochou mais uma vez, deixando
Capítulo 5: Após o deslizeQuando Zen abriu os olhos, o sol já estava se pondo. Ele pulou da cama, olhando para Lavínia, que ainda dormia profundamente, sem esboçar nenhuma reação. Ele passou a mão pelos cabelos, incrédulo com o que havia acontecido. Ficou ainda mais perplexo ao verificar as horas, soltando um suspiro pesado de preocupação.— Estou ferrado... — sussurrou, encarando a tela do celular.Recolheu suas roupas e se vestiu rapidamente. Antes de sair, avistou um envelope no chão, próximo à porta de entrada. A amiga de Lavínia havia passado seu pagamento por debaixo da porta. Ele sorriu de forma irônica enquanto olhava ao redor.— Queria ver a sua cara... dona arrogante — murmurou, pegando uma caneta e escrevendo uma breve nota. Deixou-a sobre a mesa da cozinha, ao lado de um copo de água e uma jarra, sabendo que isso a atrairia depois da noite intensa e da provável ressaca com que ela acordaria.Zen saiu do quarto quase como se estivesse fugindo, enquanto tentava, repetidamen
Capítulo 6: Saiam da frente!— O que ela faz aqui? A mamãe não pode sair assim! — Lavínia asseverou, indo se trocar. Rapidamente ficou pronta e seguiu com Zara, como se estivessem indo para um funeral.— Ela está no salão onde aconteceu a festa. Desculpa, Lavínia...As duas hesitaram ao abrir a porta, mas, assim que o fizeram, encontraram a mãe de Lavínia de pé, com uma expressão imparcial.— Quem era aquele homem? — a mãe perguntou, antes mesmo de elas dizerem "bom dia".— É alguém sem importância! — Zara tentou responder.— Não é isso! Ele não é sem importância, ele... nós... — Lavínia balbuciava, sem conseguir responder direito.— Estamos nos conhecendo já faz alguns meses! — ela disse, desconcertada, enquanto Zara a olhava, petrificada.— Você já está em um novo relacionamento? — sua mãe perguntou surpresa. — Pensei que ainda estivesse com aquele desgraçado.— Mas isso já acabou faz tanto tempo... — Lavínia desviou o olhar, balbuciando. — Enfim, eu sinto muito que tenha presenciad
Cap. 7: Caminhos ligadosLavínia fixou seu olhar no homem em meio à surpresa e se agachou, tentando se esconder rapidamente após reconhecer que era o mesmo da noite passada.— O que está fazendo, senhorita? — o motorista da ambulância perguntou.— Ele está vindo? Ele não pode me ver! — ela rangeu entre os dentes.— Na verdade, ele está pedindo aos carros para se afastarem. — ele disse com o olhar fixo no rapaz.Então Lavínia se levantou e avistou Zen já a alguns metros, batendo na lateral de cada carro, avisando para abrirem caminho. O trânsito estava caótico, os carros buzinando freneticamente. A sirene da ambulância cortava o ar, um som estridente que ecoava pelas ruas. O motorista finalmente pôde seguir viagem enquanto Lavínia observava Zen até passar por ele, mas ele não tinha visto que ela estava na ambulância.Assim que chegaram ao hospital, houve tempo do pai de Lavínia ser atendido e finalmente estar fora de risco de vida. Naquele momento, ela estava sentada na recepção, pres
Cap. 8: a chefa vira funcionário?— Bom dia a todos! — começou Samuel a discursar. — Sejam bem-vindos à Alpha Corp Advogados, uma das empresas mais prestigiadas. Como vocês sabem esse prestígio não é de graça, e temos critérios rigorosos. Por isso, as avaliações já começam no momento em que vocês entram na empresa. — Ele comentou, encarando Zen, que se mantinha com postura ereta e séria, demonstrando indiferença. — Por isso, o candidato Zen Obedon pode se aproximar, por favor. — Ele chamou, sem saber qual dos candidatos era. Então, Lavínia viu o mesmo rapaz dar um passo à frente e percebeu que ele seria desclassificado.— Sim? — Zen disse ao passar na frente de todos, seguindo de forma despreocupada. A maioria já estava segurando o riso, sabendo qual seria o resultado.— Bom… você se atrasou… — Samuel arrastou a voz quando viu Lavínia dando pulos silenciosos com a mão estendida, balançando o dedo negativamente. — Você sabe que há punições para quem se atrasa. Tenha cuidado… neste mome
Cap. 9: Gato e Rato.Lavínia ficou constrangida por ter se alterado, em seguida se sentou sorrindo desconcertada e pedindo desculpas a todos, ao mesmo tempo que Zen continuava concentrado em seus papéis.— Se ela o ajudar, ele não vai passar no teste. — Samuel respondeu os observando com atenção.— Ele está fazendo sozinho sem nem prestar atenção nela, só não sei o que está acontecendo, ela claramente está desconfortável e irritada.— Relaxa, quando tudo isso acabar eu te conto, você vai ficar surpreso com a fofoca. — Zara sussurrou para Samuel.— O que está acontecendo? Lavínia deveria estar aqui na frente. — um dos homens pergunta impaciente se levantando junto com mais outros dois que demonstram indignação.— Senhores, vocês podem conversar lá fora se tiverem alguma dúvida, eu posso fiscalizar enquanto vocês resolvem qualquer problema. — o chefe de RH avisou então eles saíram imediatamente, mal perceberam seu olhar sombrio em direção a Lavínia e Zen.Quando saíram, Zara inventou um